Som
Quando Neil Young achou discos piratas seus numa loja

Nos anos 1970, tinha muito artista que ficava extremamente puto ao encontrar um bootleg (disco pirata) seu numa loja. Peter Grant, empresário do Led Zeppelin, pegava vinis piratas do grupo na mão grande sem o menor constrangimento – quando não quebrava na frente do vendedor. Neil Young, visitando uma loja em 1972 em busca de uns LPs, deparou com um álbum de Crosby, Stills, Nash & Young, e com outro só de Crosby & Nash. Ambos bootlegs. Foi reclamar com o vendedor, deixou um bilhete para o dono do estabelecimento com seu telefone, avisando que ia levar os discos sem pagar e saiu porta afora.
Parece brincadeira, mas tá filmado. Em meio às preparações do filme malucão Journey through the past, que ele dirigiu – e lançou em 1974 – Neil Young foi a uma loja de discos e passou por essa situação. Olha aí.
Em meio a uma execução em altíssimo volume do disco Magical mystery tour, dos Beatles, no toca-discos da loja, Neil Young e o vendedor discutem sobre discos piratas e sobre o fato de um músico não ganhar nem um centavo pela gravação que está no álbum. O cantor pergunta a opinião do funcionário e quer saber onde a chefia da loja achou aqueles LPs.
“Não sei, o chefe que compra”, diz o vendedor. O papo até que transcorre civilizadamente. Neil é convencido pelo vendedor a voltar à loja e conversar com o proprietário por telefone. Debate com ele e acaba levando os discos. Isso foi muitas décadas antes de declarar que a “internet é o novo rádio” e de liberar o acesso a quase todo o seu catálogo na web.
Crítica
Ouvimos: Die Spitz – “Something to consume”

RESENHA: O Die Spitz une punk e metal em Something to consume, disco intenso e ruidoso, cheio de peso, emoção e surpresas sombrias.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Third Man Records
Lançamento: 12 de setembro de 2025
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Tem quem já se prepare para comparar o Die Spitz, grupo formado por quatro mulheres, com bandas como Amyl and The Sniffers, por causa do nível de ruído feito por elas. Só que tem bem mais aí: em Something to consume, as quatro se comportam como catedráticas do barulho, unindo vários estilos musicais em nomes dos decibéis.
Pop punk anthem (Sorry for the delay) até engana na abertura, trazendo algo de emo e de hardcore, mas envolto em sombras, e em climas emotivos e intensos. Daí para a frente, o som flerta descaradamente com o metal em Throw yourself to the sword, cai na intensidade doom em Sound to no one e ganha um aspecto tão sombrio em Go get dressed, que a música parece ranger.
- Ouvimos: Algernon Cadwallader – Trying not to have a thought
Em boa parte de Something to consume, o Die Spitz é um monstrengo punk + metal, unindo o melhor dos dois estilos, como no guitar rock American porn, na cavalar e sussurrada-gritada Rod 40 e na quebradeira de Riding with my girls. Punishers tem melodia muito bem feita e bonita, mas com peso e distorção na medida.
No final de Something to consume, as surpresas: a pegada punk + girl group de Down on it, e a perdição nas sombras noturnas de A strange moon/Selenophilia. Ouça hoje mesmo.
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Crítica
Ouvimos: Naïf – “Trópicos úmidos” (EP)

RESENHA: Banda paraense Naïf estreia com Trópicos úmidos, EP de pós-punk com raízes locais e poesia sobre a vida urbana.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Zero Açúcar
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Tita Padilha (voz e omnichord), Rodrigo Sardo (guitarra), Lucas Padilha (baixo) e Erik Lopes (bateria e programações) são os integrantes da banda Naïf, de Belém (PA). Trópicos úmidos, EP de estreia, fala basicamente de mudanças pessoas e existenciais que vêm do contato com a vida urbana, do reconhecimento do outro, do dia a dia da capital. O som é basicamente pós-punk com raízes brasileiras e paraenses, além de inquietações pessoais, sociais e políticas transformadas em poesia.
- Ouvimos: Azul Azul – Azul Azul
A faixa-título, com letra imagética e concretista, é um som distorcido com ritmo incomum – parece um samba que vai sendo construído e entortado na frente do ouvinte. Mãe ganha clima psicodélico por causa do órgão da abertura, e a melodia se desenvolve em torno de algo entre marcha e reggae.
Parda, que vem na sequência, une cores, valores e dores, num som com filiação sessentista e lembranças de antigos girl groups e das produções de Phil Spector. No final, algo de PJ Harvey nos vocais de Tita e na melodia de A cidade, quase um dream pop com ascendência latina e paraense.
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Crítica
Ouvimos: Borealis – “Lostwaves”

RESENHA: No novo disco Lostwaves, o Borealis mistura shoegaze, dream pop e rock britânico em faixas cheias de ironia, psicodelia e referências noventistas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Scream & Yell
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Músico e jornalista, Marco Antonio Barbosa criou o Borealis de forma experimental, como um projeto caseiro feito no computador. Lostwaves, novo disco do Borealis, soa um pouco mais acessível que os outros álbuns do projeto – até por mexer numa sonoridade que está em evidência, e que vem sendo usado como template até para produções de maior alcance (tá aí o disco do Wisp, shoegaze feito em clima de superprodução, que não me deixa mentir).
A capa de Lostwaves traz uma print de uma matéria chamada “O que aconteceu com o shoegaze?”, publicada em setembro de 1992 pela Melody Maker. Era uma reportagem que aproveitava o gancho do primeiro álbum da guitar banda britânica Moose para perguntar se haveria sobrevivência numa cena secreta, que parecia existir apenas porque os músicos jogavam confete uns nos outros (a famosa “cena que celebra a si própria”) e se contentavam com público restrito.
- Ouvimos: Beige Walls And No Roof – Dual liquid hands
Ironicamente, o Moose mal chegaria ao século 21, e hoje mal é lembrado como influência ou referência – por outro lado, as demais bandas entrevistadas (Idlewild, Telescopes e nada menos que o Blur) ainda circulam por aí e deixaram um legado que dá pra ver de longe. Essas contradições, tão comuns em estilos associados ao underground, acabam marcando Lostwaves, dividido em um lado “gaze” e um lado “shoe”. O primeiro lado tem clima de dream pop sujo, com teclados voando e música quase formando uma imagem distorcida no ar, como rola em Celebrates itself, Sleep apnea e Sad & sorry scene. I’m thinking of ending things, por sua vez, soa como um trecho do Metal machine music (disco de Lou Reed, 1975) com um beat leve.
O lado “shoe” é mais associável ao rock britânico dos anos 1980/1990, com Rise again trazendo algo que lembra Cabaret Voltaire, Baggy! (Police disco lights) recordando a união disco-rock-rap e Play 2 press unindo referências de Primal Scream, Inspiral Carpets e Stone Roses – embora haja um sample da bateria inicial de Smells like teen spirit, do Nirvana. A extensa Loveyoutoo põe psicodelia e dança hipnótica na receita. Já a impagável 365 day party people une a loucura de Manchester em 1988 ao ritmo da Macarena.
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