Cultura Pop
Um papo com Daniel Couri, do blog Porcos, Elefantes e Doninhas


O POP FANTASMA, como você já viu outras vezes, anda investigando o que é que essa turma aí que curte cultura pop e adora escrever anda fazendo, planejando e pensando.
Não dá para dizer que somos uma espécie de Projeto Draft dos sites de cultura pop porque, ora bolas, a gente sabe que o cenário é bem complicado. Trabalha-se por prazer, com pouca grana, e com a maior vontade de produzir aquilo que a gente mesmo gostaria de ler. Nem sempre é fácil, mas sempre é recompensador.
Logo assim que eu tive a ideia de fazer esse tipo de matéria, uma das primeiras coisas que eu quis fazer foi bater um papo com o Daniel Couri. Nascido em Muriaé (MG), ele mora em Brasília desde 2000, já escreveu dois livros sobre sua banda preferida, o Abba (o mais recente é Mamma Mia!, de 2008). Seu blog, o Porcos, Elefantes e Doninhas, é – sem sacanagem – um dos inspiradores do POP FANTASMA.
Primeiro porque o cara é um dos raros exemplos de site no estilo “curadoria de material” que vive basicamente de material inédito e exclusivo. Volta e meia rolam entrevistas, e muita coisa que vem de coisas guardadas por ele há vários anos (revistas, jornais, etc). Daniel é fã de filmes de televisão, de antigas edições de filmes que saíram apenas em VHS e ninguém lembra mais, e volta e meia dá para achar lá a primeira vez em que determinado filme foi exibido na televisão brasileira.
Também dá para achar lá curiosidades bem malucas como o post cheio de informações (e bem fornido de fotos) sobre Vamos cantar disco baby, filme que trazia o trio infantil As Melindrosas e Gretchen num enredo sequelado envolvendo um orfanato, espíritos da floresta e uma velhinha assustadora que dá o dom do sucesso às protagonistas.

Tem muita coisa sobre novela no blog. Um dos posts mais memoráveis, vindo de uma noite de muita observação e ginástica no controle remoto, observa que um disco ao vivo do Village People apareceu em várias ocasiões diferentes na novela Baila comigo, reprisada no Canal Viva. Essa pesquisa “por acaso” do Daniel rendeu três posts (uma das imagens buscadas por Daniel tá na foto láááá de cima).
Aqui você confere uma das obsessões do blog: novelas obscuras. No caso, esse post é sobre tramas dos anos 1990.
Vale muito passar algumas horas por dia dando uma viajada nas descobertas do Porcos, Elefantes e Doninhas, que é bem eficiente em descobrir coisas que ninguém imaginava que existiam. Mas antes, segue aí o papo com Daniel.
O maior combustível do POP FANTASMA é a ideia de que existe uma espécie de cultura pop outsider, nem sempre reportada. Vale épocas pouco enfocadas de artistas conhecidos, gente não tão conhecida, filmes e séries ignorados, etc. Qual você acha que é o combustível de seu blog?
DANIEL COURI: Você já deu a resposta: “Épocas pouco enfocadas de artistas conhecidos, gente não tão conhecida, filmes e séries ignorados. Um pouco de tudo isso. Algumas vezes, até coisas conhecidas, mas que andam esquecidas há tempos. E principalmente obscuridades. Coisas que fazem parte do meu dia a dia, mas que pouca gente conhece, curte ou se lembra. Não existe um ‘critério’. Ou talvez o critério seja meu gosto pessoal mesmo.
Você visualiza algum tipo de público pra ele? Geralmente quem comenta ou me manda mensagens são saudosistas ou nerds. Tem gente acima dos 50 que se empolga com as coisas que desenterro, ficam felizes ao relembrar. E tem também a turma mais jovem, entre 25 e 35, que curte aquelas coisas, mas que não chegou a viver grande parte delas. Gente que ficou conhecendo determinado filme ou disco, por exemplo, por meio do blog, e que se identificou. Mas nunca planejei nada. Tanto que nos primeiros anos do blog, as postagens eram bem primárias. Eu não sabia sobre o quê queria escrever. Apenas colocava ou reproduzia coisas que me atraíam. Com o passar dos anos, fui moldando o blog, criando certa regularidade, inter-relacionando um assunto a outro. Passei a enxergar que eu gostava de coisas de um universo específico e meio obscuro, mas nem por isso menos interessante ou curioso.
O quanto seu blog deve à existência dos telefilmes? É um tipo de produção pelo qual você se diria apaixonado? Sim, sou um apaixonado por telefilmes. Principalmente os das décadas de 1970 e 1980. Como falei antes, não houve um planejamento. Só comecei a visualizar esse meu gosto com mais clareza depois dos primeiros anos do blog. Pensei: “Já que eu gosto tanto de telefilmes, por que não escrevo sobre eles com mais frequência?” E foi assim, por hobby mesmo. Tanto que às vezes fico meio sumido, depois me empolgo com as postagens, depois sumo de novo. Gostaria muito de fazer isso profissionalmente. Manter uma regularidade certa, fazer disso o meu dia a dia, o ganha-pão (ou pelo menos algo perto disso).
O quanto a Sessão da Tarde foi marcante no seu interesse pela cultura pop? Muito marcante. Cresci em frente à TV. Desde novinho assistia aos filmes da Sessão da Tarde (e outros também, claro). E nos anos 1980, quando comecei a assistir, ainda exibiam muitos filmes antigos, dos anos 1960, por exemplo. Clássicos da Disney, telefilmes datados etc. Comecei a gostar de diretores, atores e atrizes de “antigamente”, das trilhas sonoras, de músicas antigas etc. E no meio disso tinha minhas obscuridades também. Aqueles filmes que eram muito reprisados e que depois desapareceram, por exemplo.
Você sempre fala dos recortes de jornal que guardava desde criança. Alguns rendem posts bem legais. Consegue lembrar o que se passava na sua cabeça quando recortava e guardava essas coisas? Só sei dizer que me sentia compelido a guardá-los. Eu não tinha consciência do motivo. Não sabia o que faria com eles, mas sabia que ‘precisava’ mantê-los. Me dava prazer. Eu olhava, lia, relia… Isso começou quando eu estava com uns 10 ou 11 anos. Gostava de fantasiar que eu era arqueólogo e que aqueles recortes tão banais eram pequenos tesouros. Um dia eu faria alguma coisa com eles, embora não soubesse o quê. Muitos eu guardo até hoje. Outros tantos se perderam, infelizmente.
Você é um colecionador ou acumulador de alguma coisa? Tenho essa tendência muito forte em mim. Hoje me forço a não guardar mais, não comprar. Com o tempo, a gente começa a exercitar o tal do desapego. Me desfiz de muitos CDs, fitas, discos, livros, revistas… Junto tralha DEMAIS. O apartamento onde eu morava, em Brasília, era minúsculo. Mas pela quantidade de coisas que saíram lá de dentro (livros, revistas, jornais, LPs, CDs, DVDs, fitas de vídeo, pastas, papéis) parecia que eu morava em um imenso sebo. Fora as coleções de caixinhas de fósforo, marcadores de livros, postais antigos… Mas fui me desfazendo aos poucos. Acho que esse processo vai durar a vida toda. Como sou muito organizado, me incomoda ver as coisas bagunçadas. Gosto das minhas tralhas muito bem guardadas e organizadas. Consigo achá-las até no escuro.
O blog tem posts memoráveis, como a história do disco do Village People que você viu em diversas situações na novela Baila Comigo. Como reparou nisso? Boa pergunta! Sempre fui observador e detalhista para coisas sem importância. Cenários de novelas ou filmes, roupas dos personagens, cabelos, música de fundo… Acho que eu já tenho um ‘radar’ pra essas coisas. Não é algo que me exija esforço. O disco do Village, por exemplo, eu já conhecia de longa data e também o tinha na estante do apartamento onde morava. Gosto muito dessas novelas do final dos anos 1970 e começo dos 1980, sou apaixonado por tudo daquela época: o som, a estética, as roupas, os modismos etc. Fico sempre atento às estantes dos cenários de novelas antigas. Eu fazia isso em Água Viva também, mas nunca tinha pensado em fazer um post. Quando comecei a notar com muita frequência o LP do Village em Baila comigo, pensei: “Agora não dá mais pra ficar quieto. Vou ter que escrever!” (E ainda devo fazer outro post, pois o tal do disco continua rodando por todos os cenários da novela hahaha).
Que post do seu blog você acha que é o melhor? Sinceramente não sei dizer. Mas gostei muito de escrever os posts sobre trilhas sonoras não oficiais de novelas e também de posts sobre alguns filmes pelos quais sou apaixonado, tipo Saturday night fever, Festim diabólico, Uma jovem tão bela como eu… Também gosto bastante de posts com listas de filmes, ou sobre filmes obscuros, como o das Melindrosas. Esses me divertiram bastante enquanto eu pesquisava/escrevia.
Textos sobre novelas e trilhas dão muita visualização? São os que mais dão visualização. Tanto de pessoas mais velhas quanto de jovens. Porque novela e trilha de novela têm um público muito amplo. E hoje, com o canal Viva e a internet, muita gente consegue acompanhar as novelas antigas, baixar ou comprar as trilhas.
Você já fez entrevistas com alguns atores e até com o neto da Gracinda Freire, que atuou em Dancin’ Days. Como se sentiu podendo dar voz para esse pessoal, que muitas vezes não é lembrado? Achei um barato! Porque eu sabia que eram pessoas que dificilmente seriam entrevistadas por outros blogs ou sites. No caso do neto da Gracinda, foi a primeira vez (e única, creio). E acho bacana que tenham sido entrevistas “exclusivas” do blog, porque são a cara do blog.
Pensa em alguma novidade para o blog em 2019? Muita gente cobra novas atualizações? Gosto muito do lance dos telefilmes. Queria fazer uma postagem semanal sobre telefilmes. Mas ainda nao tenho regularidade. Como falei antes, tem épocas em que me empolgo, depois esfrio. E como não são assuntos que despertam o interesse de um público grande, quem cobra novas atualizações são os leitores cativos, aqueles que são bem fiéis ao blog e que o acompanham apesar dos hiatos que eu deixo.
Além do blog, onde mais as pessoas podem ler você? Na internet, pelo blog. Mas também estou no twitter, facebook, instagram (embora não seja propriamente de escrever muito nas redes sociais). Ou então nos meus livros… Tem também matérias de jornal soltas, de freelas que fiz, perdidas pela internet.
Fala um pouco do seus livros sobre o Abba e de como surgiu a banda na sua vida. Tentarei resumir. Conheci o ABBA aos 13 anos, quando vi o comercial do LP ABBA gold na TV e fiquei fascinado. Imediatamente pedi o disco de presente naquele Natal (1993). Era um LP duplo e caro na época. (O CD ainda não havia se tornado tão popular, estava bem no começo). Não parei mais de ouvir. Era ABBA dia e noite lá em casa, meus pais e meu irmão ficaram doidos, hahaha.
Nos encartes do álbum vinha a biografia do grupo, em inglês. Fiquei desesperado para saber a história. Naquela época, não havia absolutamente NADA sobre o ABBA em português (a não ser notinhas curtas e cheias de erros, naquelas revistinhas antigas de cifras de violão ou outras revistas que eu garimpava em sebos). Eu ia de porta em porta nas casas, perguntando se tinham disco do ABBA, ia às rádios, fuçava nos arquivos, era obcecado mesmo. Até que resolvi entrar num curso de inglês porque precisava ler a história do ABBA. Fiquei craque no inglês e comecei a traduzir os encartes. Depois a internet veio surgindo ainda timidamente e eu devorava tudo que aparecia sobre o ABBA. Pesquisava, fazia contato com fãs estrangeiros, mandava cartas para fã-clubes na Europa, Austrália etc. Publicava anúncios em revistas, pedindo para me comunicar com outros fãs do ABBA.
Na época era o único jeito. ABBA era execrado e eu não conhecia ninguém que se interessasse. Depois de alguns anos juntando uma coisinha aqui e outra ali, traduzindo encartes e textos da internet, pesquisando e trocando cartas com alguns fãs, consegui reunir uma quantidade considerável de informações, que eu ia reescrevendo em português, adicionando informações, curiosidades etc. E o texto (que eu escrevia por hobby) foi crescendo cada vez mais. Até que pensei: “Puxa, isso até que poderia virar um livro”. Ao final de dez anos, comecei a escrever para editoras, falando da minha ideia de uma biografia do ABBA em português.
Na época (2004 ou 2005), ninguém deu a menor bola. ABBA não despertava interesse no Brasil. Até que o Sandro, um editor de Curitiba, independente, resolveu apostar na ideia. Não teríamos lucro algum, mas pelo menos meu projeto ia virar realidade. E em 2008 o primeiro livro, Made in Suécia – O paraíso pop do ABBA, foi publicado pela Página Nova Editorial. Foi algo totalmente despretensioso. Eu e Sandro fizemos a divulgação sozinhos. Mas foi o primeiro livro em português sobre o ABBA. Até então não havia biografia do grupo publicada no Brasil. O livro não chegou a vender muito, mas agradou bastante aos fãs. Muitos fãs europeus compraram, por se tratar de “collector’s item”. A revista Rolling Stone fez uma crítica positiva, o que me deixou bem contente. Na época as redes sociais e a facilidade de acesso à internet não eram tão corriqueiras como hoje.
Em 2010, o Marcelo Duarte, da Panda Books, me procurou e pediu que eu escrevesse um outro livro, uma versão ‘melhorada’ e mais ajustada do primeiro. Ele queria aproveitar a estreia da montagem brasileira do musical Mamma mia! em São Paulo. (Daí o título ter sido também Mamma mia!”). Àquela altura, depois do sucesso de Mamma mia! No cinema, gostar do ABBA já era bem mais aceito mundialmente, inclusive aqui no Brasil. E foi assim que os dois livros foram publicados. Depois outros livros sobre o ABBA foram traduzidos para o português e lançados aqui no Brasil. Fiquei feliz por ter aberto o caminho.
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
***
Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
***
E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
***
Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
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