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Crítica

Ouvimos: Pink Turns Blue, “Black swan”

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Ouvimos: Pink Turns Blue, “Black swan”

Formado em 1985 na Alemanha, o Pink Turns Blue surgiu numa das primeiras ondas em seu país de rock gótico, darkwave e sons afins. Evocando desde o comecinho bandas como Killing Joke e Joy Division, suas inspirações não vieram apenas do pós-punk trevoso. O nome da banda foi tirado de uma canção do Hüsker Dü, as linhas vocais simples e diretas do PTB lembram grupos como Teardrop Explodes e Echo and The Bunnymen, e a sonoridade inclui células de dream pop, graças aos teclados.

Mantidos numa espécie de “série ouro” do pós-punk europeu oitentista, eles tiveram um hiato entre 1994 e 2003, mas logo retomaram a produção. Black swan, 13º álbum do Pink Turns Blue, mantém a sonoridade do começo do grupo, de discos como a estreia Two worlds kiss (1987), investindo em sons que, no começo, parecem que vão descambar para algo sorumbático – e que em seguida ganham batidas dançantes, baixo-e-bumbo na onda de bandas como The Cars e Buzzcocks (e Pixies), e teclados que funcionam como sombras musicais, intensificando a beleza das melodias.

O cantor e guitarrista Mic Jogwer investe, em quase todo o álbum, em vocais que lembram levemente os de Richard Butler (Psychedelic Furs). Faixas como Follow me, Can’t do without you e a balada I can read your name in the stars são também marcadas por um baixo que sustenta a melodia (mesmo quando se trata de uma canção mais tranquila) e por uma onda gótica e lírica que faz lembrar bandas como House Of Love e The Church. Fight for the right side abre com um piano belo e contemplativo, que descortina uma faixa dançante e pesada. A faixa-título, mais próxima do brit pop, mostra que, mesmo quando soa triste, o Pink Turns Blue parece mais sublime do que depressivo.

Entre os outros destaques do disco, Like we all do faz recordar o Julian Cope solo de discos como Saint Julian (1987), Please don’t ask me why tem ares de uma perversão indie do U2, e Stay for the night tem teclados que soam robóticos dentro de um som orgânico. Uma banda de tempos clássicos, e pouco citada, para conhecer.

Nota: 8,5
Gravadora: Orden Records
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Véspera – “Nada será como era antes”

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Rock triste e esperançoso do Véspera mistura britpop, post-rock e shoegaze para falar de mudanças, perdas e recomeços.

RESENHA: Rock triste e esperançoso do Véspera mistura britpop, post-rock e shoegaze para falar de mudanças, perdas e recomeços.

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O Véspera vem de São Gonçalo (RJ) e no álbum Nada será como era antes, o segundo do grupo, fala basicamente sobre mudanças: ventos que viram de uma hora para outra, relacionamentos que acabam, amizades que esfriam, reencontros azedos e momentos em que, mais do que tudo, você precisa se esforçar para enfrentar o caos e manter a sanidade.

A vibe musical do grupo vem do lado mais tristonho e reflexivo do britpop – eles citam nomes como Terno Rei, Raça e Coldplay como referências. Climas quase ambient tomam conta da faixa-título e As coisas levam tempo, cabendo viagens quase progressivas em Vou tentar, um lado meio sombrio em Quando viver a esquina (com Jadidi no vocal) e um blues shoegaze em Dia puxado (“será que você liga se eu for / aquele estranho da família / que cresce e não se dá bem?”, diz a letra).

O álbum ganha peso em faixas como Apesar disso – com emanações de Bush – e Até onde dá, que tem algo de bandas como Yard Act e Franz Ferdinand. Também ganha uma cara o mais pop possível em Deve ser coisa da idade, que chega a lembrar até Samuel Rosa, mas numa onda mais sombria. No final, Ainda existe em nós e Nem tudo vai se perder inserem sombras musicais análogas ao post-rock, com toques gélidos de guitarra, ruídos e tristeza nos acordes e na voz. Rock triste e esperançoso de uma cidade cuja vocação industrial já evocou comparações com a poluída Manchester.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Downstage
Lançamento: 27 de junho de 2025

  • Ouvimos: Yard Act – Where’s my utopia?
  • Ouvimos: Franz Ferdinand – The human fear
  • Ouvimos: Vitor Brauer – Tréinquinumpára 06: Porto Velho

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Crítica

Ouvimos: Hayley Williams – “Ego”

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Hayley Williams manda recados bem endereçados nas 17 faixas de seus novos singles - que, coletivamente, estão sendo chamados por fãs e jornalistas de Ego. E musicalmente, tudo se sustenta muito bem.

RESENHA: Hayley Williams manda recados bem endereçados nas 17 faixas de seus novos singles – que, coletivamente, estão sendo chamados por fãs e jornalistas de Ego. E musicalmente, tudo se sustenta muito bem.

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Bom, pra começar, não existe nenhum disco de Hayley Williams chamado Ego. O nome – originalmente usado numa tintura de cabelo lançada em tiragem limitada pela empresa dela, Good Dye Young – está sendo usado pelos fãs da cantora do Paramore (e por alguns jornalistas) para chamar a coleção de 17 singles que ela soltou de repente.

O lançamento dos singles é um trabalho que merece nota 10 em marketing e vendas, enfim. Hayley abusou do senso de comunidade, soltando primeiro as faixas de graça no site dela – quem era cliente da Good Dye Young teve acesso a uma senha de acesso, depois compartilhada por eles com os outros fãs. O material chegou só bem depois, com uma qualidade sonora melhor (e capas), às plataformas.

No todo, a história aponta para vários lados: mistério (o que era a tal mensagem em áudio que havia na pasta com as músicas?), quentinho no coração (para o lançamento, o site de Hayley ganhou um visual de desktop bagunçado dos anos 1990, com direito a Winamp), vendas (as músicas estão associadas a uma tintura e são um presente da Good Dye Young!), convergência (em tempo de algoritmos, ora vejam só: uma estratégia que envolve e-mail, site e senhas espalhadas por fóruns).

Também aponta para um, vá lá, respeito à experiência dos fãs: ouça as faixas como bem entender, não é um álbum com um programa de audição fixo. Nem sequer há um hit single porque tudo é single. Já musicalmente, o conjunto de faixas atualmente conhecido como Ego tem um conceito, ou quem sabe, vários – e todos se misturam com o lado business da coisa. Hayley agora é uma artista independente, faz pop enrockado em tempos de indie pop e de som-de-quarto, e nunca se sentiu tão à vontade para dizer o que vai pela cabeça.

  • Ouvimos: Halsey – The great impersonator
  • Ouvimos: Suki Waterhouse – Memoir of a sparklemuffin

Vai daí que na faixa Ice in my OJ, Hayley faz questão de falar de “um monte de idiotas filhos da puta que eu enriqueci”, da mesma forma que faz uma canção de amor aos antidepressivos na ótima Mirtazapine, esbraveja contra a América do Norte cristã e racista em True believer (dos versos “aja como se deus não estivesse olhando / mate a alma, tenha lucro” e “eles dizem que Jesus é o caminho, mas então eles deram a ele um rosto branco / para que eles não tenham que rezar para alguém que consideram menor que eles”).

Hayley também solta montes de frases ácidas em Brotherly hate – que (há quem diga) é uma zoeira cruel com os irmãos Josh e Zac Farro, ex-integrantes do Paramore – e homenageia/desomenageia sua terra natal Nashville em Ego death at a bachelorette party, na qual avisa que “sou a maior estrela no bar deste cantor country racista”. Discovery channel, que traz uma bizarra interpolação de The bad touch, hit de 1999 da Bloodhound Gang (cujo refrão fazia referência ao canal), virou uma pérola das relações abusivas, com uma letra que tanto pode falar de sexo quanto de gravadoras adeptas da suruba econômico-corporativa (“vinte e poucos anos atrás, começamos a jogar um joguinho / e agora vamos todos sentar e terminar, e adivinha? / sua vez, a dor está escondida”).

Levando em conta que Hayley batizou seu selo como Post Atlantic, tudo em Ego tem endereço certo. Já musicalmente, ela e seu parceiro-produtor Daniel James apostam em climas análogos ao dream pop (Zissou é bem isso), visitam a mesma onda glam-sixties de Suki Waterhouse e Halsey (True believer, Brotherly hate), proporcionam novos horizontes ao soft rock (Won’t quit on you, Love me different), recordam a barulheira dos anos 1990 (Kill me, Mirtazapine e a alanismorissettização de Different man) e jogam no time do indie pop (Ego death, Blood bros, Negative self talk e todo o repertório). O conjunto todo acaba soando bem mais instigante do que se fosse apenas um álbum.

Se você nunca ouviu nada de Hayley Williams ou do Paramore, ouça Ego correndo. Se já ouviu tudo, resista à tentação de comparar Ego com o raivoso Petals for armor (lançado por ela em 2020) e ouça como se nem soubesse quem é Hayley.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10 (vou tratar como álbum)
Gravadora: Post Atlantic
Lançamento: 1 de agosto de 2025

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Crítica

Ouvimos: The Yagas – “Midnight minuet”

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A atriz Vera Farmiga lidera o The Yagas, banda que mistura metal gótico, pós-punk e hard rock em Midnight minuet.

RESENHA: A atriz Vera Farmiga lidera o The Yagas, banda que mistura metal gótico, pós-punk e hard rock em Midnight minuet.

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Atriz elogiadíssima por Martin Scorsese, presente no elenco tanto da franquia Invocação do mal quanto da série Bates Motel, Vera Farmiga, quem diria, tem uma banda de metal gótico. The Yagas tirou seu nome da figura mística do Baba Yaga, presente no folclore da Rússia, Ucrânia, Polônia e países vizinhos, e presente também na capa de Midnight minuet, primeiro álbum do tal grupo – que já saiu tem um tempinho, em abril, e surge com atraso aqui no Pop Fantasma.

Mas e aí, funciona? Pra começo de conversa, o The Yagas – cuja formação ainda inclui Renn Hawkey (teclados), Jason Bowman (bateria), Mark Visconti (guitarra) e Mike Davis (baixo) – não faz metal purinho, e não é chegado a exibições excessivas de peso. Músicas como The crying room têm clima mais próximo do hard rock, e faixas como Pullover, Anhedonia e Charade têm muito de pós-punk, com emanações de bandas como T.S.O.L., The Cult, Garbage e Siouxsie and The Banshees.

  • Ouvimos: The Armed – The future is here and everything needs to be destroyed
  • Ouvimos: Hard Life – Onion

Life of a widow, por sinal, tem clima gélido e certa vibe eletrônica – vale citar que uma das ondas do grupo é fazer bons refrãos, mesmo quando o peso cromado toma conta de vez, em faixas como I am e Pendulum. Bridle é metal com cara grunge e algo de Alice In Chains. Já She’s walking down lembra um drum’n bass metálico, com teclados e vocais aparecendo na frente da massa de som em vários momentos, e refrão quase screamo.

Vera Farmiga, vale citar, é uma ótima cantora. Está ainda precisando caprichar mais no controle vocal nas notas altas, mas mantém o clima de terror e as vibes góticas na linha de frente. Ela e a banda encaram até uma vibração diferente na faixa-título, que encerra o disco em compasso quase ternário, mas com clima stoner. Vale a audição.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 25 de abril de 2025

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