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Crítica

Ouvimos: Nyron Higor, “Nyron Higor”

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Ouvimos: Nyron Higor, “Nyron Higor”

Nyron Higor é um cantor e compositor de Maceió que já havia estreado com Fio de lâmina (2022), álbum de jazz-MPB de quarto, feito em casa, e sem nenhum planejamento além do “oba, tenho um disco!”. Nyron Higor, segundo álbum, é praticamente sua estreia, já que tem aparecido em sites de resenhas, ganhou um esquema de turnês, como se não bastasse, tem lançamento internacional – sai pelo selo inglês Far Out Recordings.

Ainda que a sonoridade pareça música brasileira bedroom em alguns momentos, não se trata de um registro caseiro – Bruno Berle e Batata Boy produziram o trabalho e ajudaram a fazer de Nyron Higor um disco que, em sua maior parte, poderia ter saído do estúdio da Odeon nos anos 1970. Uma MPB ligada no jazz, em climas baileiros e em percussões contemplativas. Tudo isso aí junto forma o cerne de faixas como Ciranda, Louro cantador (com violão, baixo e órgão na frente, ruídos de mata que remetem a Naná Vasconcellos e uma vibe Ed Lincoln) e Estou pensando em você.

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Esta última, por acaso, é trilhada numa espécie de futurismo passadista, ou passadismo futurista – soa como se Johnny Alf, João Donato e Marcos Valle, lá por 1973, já tivessem acesso a uma tecnologia que ninguém tinha ainda. Essa linha do tempo esticada na frente do ouvinte é a cara de faixas como Demo love, que insinua algo moderno e setentista, simultaneamente). Ou São só palavras – mais MPB estilo Odeon, mas com micropontos de funk e trap, vocal com autotune, e participação de Berle e da cantora Alici. E Maravilhamento, repleta de magia nos teclados, e com uma musicalidade que poderia ter sido tramada pelo Som Imaginário.

Curiosamente, o/a ouvinte de Nyron Higor é devolvido para a contemporaneidade conforme o álbum vai seguindo, graças ao boogie sombrio de Som 24, a vinheta de baixo e teclados Pizzicato e a balada de violão Eu te amo – que lembra o conterrâneo músico mais ilustre de Nyron (Djavan) e poderia até entrar numa trilha de novela. No fim, a beleza de Me vestir de você, uma balada pop-MPB oitentista, com piano Rhodes e tom contemplativo e calmo. Ouça tudo várias vezes, porque há muito para descobrir neste disco.

Nota: 10
Gravadora: Far Out Recordings.
Lançamento: 31 de janeiro de 2025

Crítica

Ouvimos: Basia Bulat, “Basia’s palace”

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Ouvimos: Basia Bulat, “Basia’s palace”

O tecnobrega invadiu o alt-pop-country canadense! E a responsável por esse encontro inusitado é Basia Bulat, uma cantora cuja carreira já soma duas décadas, e cujo instrumento de devoção é o autoharp – uma espécie de harpa-cítara de mão que volta e meia é usada no country.

A bem da verdade, Basia mal deve saber que encostou na cena pop paraense, mas Basia’s palace, seu novo disco, tem a gozada Disco polo – que na prática é um rock country com batidinha dançante, que faz referência a uma velha mania musical de seu pai, fã da improvável mistura de ritmos da dance music polonesa (!).

A música, single de Basia’s palace, tem lá seus cruzamentos com os alegres tons sintetizados do tecnobrega. E representa bem o que é o novo disco da cantora, com um pé na beleza country (os arranjos de cordas são lindos, por exemplo) e o outro pé numa noção pop que passa até por Madonna, Fleetwood Mac e ABBA – os três audíveis como referências em faixas como o r&b bubblegum My angel, o soft rock dançante de Baby e Spirit, e até na balada Right now, que abre com um piano no estilo John Lennon e tem certo clima beatle.

É por aí que Basia’s palace segue, trilhado também em corredores como progressivo pop de FM (The moon), pós-punk ambient e robotizado (Laughter) e até sons que lembram diretamente a tristeza do Radiohead (Daylight e o encerramento com Curtain call). No fim das contas, um disco sensível e cheio de lembranças, verdades e cicatrizes, mas que não esfrega a tristeza na cara do ouvinte de forma tão intensa – até porque as melodias e os arranjos garantem mais contemplação do que depressão.

Nota: 9
Gravadora: Secret City Records
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Baths, “Gut”

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Ouvimos: Baths, “Gut”

Após quase uma década, Will Weisenfeld retoma o nome Baths e entrega Gut, um álbum que não apenas expande seu espectro sonoro – do eletropop aos sons acústicos – mas também sua franqueza emocional. Se sua discografia sempre foi marcada por experimentação e coragem, aqui ele dá um passo além: expõe sua verdade sem filtros, explorando seu cotidiano e sua vivência como homem queer. Sexo, desejo, relacionamentos enrolados, inveja de amores tranquilos, carências, homofobia – tudo está ali, abordado com honestidade quase desconcertante.

Em uma entrevista à newsletter Last Donut of the Night, Will lamentou que músicas sobre sexo costumem ser enxergadas de maneira “sexy”. Seu objetivo em Gut era ser assertivo, direto, sem romantizações. “Esta é a maneira como uma pessoa gay moderna interage com o mundo por meio da atividade sexual”, afirmou, dando a medida da franqueza que buscava. Letras como a de Governed traduzem bem essa abordagem crua: “ator, cronicamente atuando / eu fodo sem honestidade / tenho tido menos amigos em minha cama do que a maioria dos homens gays”. Já Homosexuals escancara seu manifesto: “por favor, me devore / que a massa de todos nós digeridos / seja camaradagem”.

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O álbum se encerra com The sound of a blooming flower, um épico dream pop de sete minutos que começa melancólico no piano e cresce em intensidade. No refrão, Will entrega uma confissão devastadora: “alguma beleza simplesmente aniquila completamente / passei um ano suspirando por alguém cego para mim / comportando-me como se habitasse algum tipo de monstruosidade”.

Se as letras já chocam pela franqueza, a diversidade sonora de Gut também impressiona. Há beats inventivos mesclados com folk e chamber pop (Eyewall, American mythos, Homosexuals, Sea of men), além de faixas etéreas e introspectivas (Eden, Peacocking). Cedar stairwell, uma das poucas canções que exploram um amor gay tranquilo, traz um instrumental contemplativo de cordas, mas ainda assim é uma balada R&B com ares de pop adulto dos anos 1980. Já Chaos soa como um Queen-ABBA sombrio, enquanto Governed aposta num rock eletrônico com vocais graves e quase falados.

De modo geral, mesmo o que não funciona de cara em Gut, ou tem absorção difícil, acaba instigando. No mais, as verdades ditas nas letras levam quem ouve o disco a encarar suas próprias verdades – o que já garante pontos.

Nota: 9
Gravadora: Basement’s Basement
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025

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Crítica

Ouvimos: Father John Misty, “I love you honeybear demos etc”

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Ouvimos: Father John Misty, “I love you honeybear demos etc”

I love you, honeybear (2015), o segundo disco de Father John Misty (codinome usado pelo músico Josh Tillman, você deve saber), costuma disputar com Pure comedy, de 2017, o título de “melhor disco dele” – particularmente achamos que Mahashmashana, lançado ano passado, merece entrar na briga. As demos de Honeybear começaram a circular em K7 oficial da Sub Pop/Bella Union quase ao mesmo tempo que o álbum, e agora chegam finalmente às plataformas digitais.

Não é nada que vá ultrapassar o disco oficial em termos de qualidade. Basicamente são os esqueletos das canções do álbum, em versões bem cruas – algumas delas, parecendo que FJM tinha acabado de compor as músicas, ou estava tocando simultaneamente ao processo de composição. Violões vindo “lá de longe” surgem em I luv U honeybear (com quase 30 segundos de silêncio no fim), Chateau/First time (primeira passada da nupcial Chateau lobby $4 – In C for Two virgins) e True affection, que fica parecendo mais uma canção ambient dos anos 1970, ou uma faixa de um disco de BGs de rádio.

Holy shit volta com o nome de Past is a nightmare I’m trying to wake up from, e mais parece uma demo de algum nome cabisbaixo dos anos 1970, como Stu Nunnery ou John Denver. Como bônus da nova edição, Heart shaped box, do Nirvana, ressuge em voz e violão, com interpretação OK e sem dramaticidade – e junta-se à versão de Nobody’s Nixon, de Cass McCombs, que já fazia parte do K7.

No fim, é basicamente o disco original soando como se viesse de alguma gaveta que não era remexida desde 1981, com estalidos e sons de fundo – sem cordas, sem o clima grandiloquente, etc. É para fãs, e tem seu charme.

Nota: 7,5
Gravadora: Sub Pop/Bella Union
Lançamento: 25 de janeiro de 2025.

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