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Crítica

Ouvimos: Laura Carbone, “The cycle”

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Ouvimos: Laura Carbone, "The cycle"
  • The cycle é o quarto álbum (terceiro de estúdio) da cantora alemã Laura Carbone, que sai duplo no formato vinil e tem produção de Laura ao lado de Mark Eric Lewis.
  • As letras são de Laura. As melodias são dela, em colaboração com o time de músicos, que inclui Brodie Myles White (baixo, guitarra), Mark Eric Lewis (guitarra, teclados), Jeff Collier (bateria, percussão), André Leo (guitarra, ruídos) e Lisa Jeck (piano).
  • Num texto sobre o disco publicado no instagram, ela explica que The cycle veio de transformações pessoais. “Fui encorajada a deixar ir camadas que pensei serem para me proteger (…) E assim, você vê a essência da minha transformação. Que este álbum inspire você a confiar em seus próprios ciclos”.

Se a única coisa que você conhece de Laura Carbone é seu jovial primeiro álbum, Sirens (2015), que une um lado meio pós-punk e outro mais voltado para o power pop, a carreira dela andou vários passos adiante disso. Empty sky (2018), o segundo disco, juntava post-rock, shoegaze e sons mais ruidosos à moda dos Swans (com quem ela colaborou). Lançado quase dez anos após a estreia, The cycle, o terceiro, é mais equilibrado. A sonoridade é sombria, por vezes associada ao folk, ou ao art punk, com vocais trabalhados e clima quase mágico, de passagem de ciclos musicais.

Em The cycle, há canções com enorme dramaticidade, como Red velvet fruit, levada adiante com piano e lap steel (e microfonias e ruídos no cenário) e cantada por Laura com vocais bem abrangentes, partindo do mais grave e assustador. No mesmo esquema, tem a mântrica Mourning each day away, a funkeada e soturna RunOh Rosalie, uma balada meio 50’s meio pós-punk, com guitarras unidas a riffs sintetizados, com vocais lembrando uma mescla de Chrissie Hynde e Roy Orbison. Algo entre Patti Smith (aparentemente, a grande referência nos vocais de todo o disco, ao lado de Elizabeth Frazier, dos Cocteau Twins) e Velvet Underground surge na marcial Silver rain, em Phoenix rise e em (You’re) A star.

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Mesmo que The cycle tenha um tom até meio nostálgico em algumas canções, como no bolerinho folk Horses, ou no folk rock soturno (You’re) A star, o principal do disco é unir tranquilidade e clima noturno, com ecos nos vocais, distorções e microfonias lado a lado com guitarras lap steel e violões. É o que rola em músicas como Run, cheia de vocais sussurrados e solos distorcidos, e no clima mágico de Season without light e The good. Ou nos violões quase zeppelianos de I miss the soft touch of rain – que voltam a um lado rock-clássico que muita gente já associava ao começo do trabalho dela.

Nota: 8,5
Gravadora: Cosmic Dreaming

Crítica

Ouvimos: Peter Doherty – “Felt better alive”

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Ouvimos: Peter Doherty - "Felt better alive"

RESENHA: Peter Doherty renasce no country rock em Felt better alive, disco de histórias rurais, faroeste psicodélico e gratidão pós-caos.

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Peter Doherty, o líder dos Libertines, é o sobrevivente mais jovem do rock. Enganou a morte por uma gota – e estamos falando de uma pessoa que costumava se divertir com ninguém menos que Amy Winehouse, e que no meio de uma rebordosa de drogas, simplesmente resolveu assaltar o apartamento de seu colega de banda Carl Barat.

Felt better alive, seu quinto disco solo, traz o som de alguém que se sente grato e feliz por ter conseguido escapar do pior – mas que se divertiu muito enquanto curtia os frutos proibidos da vida. Peter escolheu o country, estilo musical eternamente associado a contadores errantes de histórias, para balizar o disco – e o repertório associa-se também a seu atual estado de morador da área rural da Normandia, pai de três filhos (Billie Mae, a mais nova, é homenageada na doce e suingada Pot of gold, com emanações tanto de Bob Dylan quanto de Red Hot Chili Peppers), socialista, limpo e livre de vícios ilegais desde 2019.

  • Fizemos resenha do disco mais recente dos Libertines, All quiet on the eastern esplanade.

Felt better alive é um disco, na real, de country rock, com cordas que dão um ar bonito e triste a faixas como Calvados, Out of tune balloon (na cola tanto de Bob Dylan quanto de Tom Waits) e a música-título (que tem uma baita cara de música de faroeste). A nata da malandragem ganha homenagem em Poca Mahoney’s, uma curiosa mistura de canção francesa com tema punk – que vira um curioso hardcore no fim.

Por sinal, sons do país onde Doherty está atualmente morando dão as caras também em Stade océan, quase um blend de Serge Gainsbourg e os álbuns solo de John Frusciante, e o faroeste não-estadunidense de Prêtre de la mer. E até David Bowie é convocado como referência em Fingee, som estiloso, acústico, blueseiro, com cara sonhadora e levemente psicodélica. Um disco de música e histórias, onde Peter arrisca-se a se tornar um menestrel punk-country, a seu estilo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Strap
Lançamento: 16 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: TVOD – “Party time”

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Ouvimos: TVOD - "Party time"

RESENHA: TVOD mistura punk e pós-punk em Party time, disco barulhento e introspectivo sobre solidão, abuso e amores fracassados.

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O título Party time pode parecer convite para uma festa insana, mas o terceiro disco da banda nova-iorquina TVOD (“television overdose”) vai além do porre coletivo. Punk e pós-punk de boas guitarras, com clima espacial e um synth apitando para avisar que a festa ali é para quem dança na pista, mas também viaja sozinho pelos cantos.

Os temas abordados nas letras também estão bem longe do clima “festeiro”: quase sempre, Party time fala de abusos, acidentes, amores cagados, morte, solidão – embora a faixa-título fale de uma festa bêbada e nudista que vai até altas horas. De modo geral, Party time é um disco introspectivo com coração barulhento – como se a Gang of Four encontrasse os Buzzcocks numa pista meio vazia, cheia de luzes piscando.

Uniform abre os trabalhos com um riff bêbado de sintetizador. Já Car wreck surfa em guitarras com wah-wah e clima voador, com algo de Syd Barrett. Pool house cruza The Cars e Pixies no meio do caminho entre o punk e o pop sombrio. Em Empty boy, o som cresce em camadas psicodélicas, enquanto Super spy chega a lembrar o U2 em começo de carreira – só que ganhando vocais falados na cola do Sonic Youth. A viagem continua com Mud, que parece o B-52’s em órbita. Wells fargo mistura o cima ríspido e nervoso do The Fall com viradas sessentistas, sons rangendo e clima de garagem. Alcohol desacelera num clima sombrio que remete à fase atual dos Pixies.

No mais, Take it all away traz guitarra econômica e eficaz. Bend ganha batida quase cigana no início, e conclui levando a argamassa sonora dos Pixies para o espaço. E no final, tem a faixa-título, com clima herdado de The Cars, um theremin possuído, guitarras ruidosas e vocais falados lembrando Talking Heads. Um disco coeso, sujo e sentimental.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Mothland
Lançamento: 9 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Cristian Dujmović, “Atisbo” (EP)

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Ouvimos: Cristian Dujmović, "Atisbo" (EP)

RESENHA: Cristian Dujmović mistura pós-punk, bossa e MPB setentista no inventivo EP Atisbo.

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Cantor e compositor formado entre os sons da Argentina e da Espanha, Cristian Dujmović herdou muito da magia do rock argentino na construção de melodias e arranjos, voltando-se para um som ligado ao pós-punk e para algumas doses de experimentalismo musical.

Segundo lançamento após o álbum Desde acá (resenhado aqui), o EP Atisbo abre com as inseguranças e ansiedades de Shock, repleta de riffs simples e bem bolados, de climas entre o luminoso e o sombrio, e apresentando algo de bossa nova na melodia. A mesma vibe, por sinal, surge no jogo de acordes da sinuosa Sin cuerpo.

Já a bela Animal tem algo de rock gaúcho (Nenhum de Nós, Cidadão Quem), e simultaneamente, uma musicalidade que une anos 1990 e 1980. No final, a abolerada Destello ganha uma cara musical próxima da MPB setentista (Beto Guedes, Flávio Venturini), e Quemar tem tom ambient na abertura, emendando com um pós-punk vigoroso e levado adiante por baixo e bateria bem marcados.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de maio de 2025.

 

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