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Crítica

Ouvimos: Hifi Sean & David McAlmont, “Daylight”

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Ouvimos: Hifi Sean & David McAlmont, "Daylight"
  • Daylight é o segundo disco da dupla de música eletrônica Hifi Sean & David McAlmont. Hifi é Sean Dickson, vocalista e guitarrista dos Soup Dragons (lembra daquela releitura dance de I’m free, dos Rolling Stones, que estourou no Brasil no começo dos anos 1990?). David é cantor de soul, ex-integrante da dupla londrina Thieves – teve também outros dois trabalhos em duo, com Bernard Butler (Suede) e o compositor britânico Michael Nyman.
  • A dupla estreou em 2023 com Happy ending, e com Daylight abre sequência de discos sazonais, seguindo as estações do ano na Inglaterra. O álbum novo sai pouco após o começo do verão britânico, e o terceiro disco, Twilight, é previsto para fevereiro de 2025 (inverno).
  • Uma das paixões que a dupla Hifi & David tem em comum é a paixão por trilhas de filmes indianos. McAlmont descobriu os filmes de Bollywood quando morou na terra de sua mãe, Guiana (retornou à Inglaterra em 1987). Dickson alugava esses filmes em videolocadoras quando ainda morava em sua terra natal – Glasgow, Escócia.
  • Não custa lembrar que os Soup Dragons voltaram ano passado para alguns shows no Reino Unido, e saiu até um single novo do grupo, Love is love.

É uma grande demonstração de coragem abrir a discografia com um álbum mais introspectivo e mostrar seu lado mais “pra cima” só no segundo disco. No caso da dupla Hifi Sean & David McAlmont, é tudo junto e misturado: Happy ending (2023), estreia da dupla, era mais introvertido, mas é um disco ensolarado e cheio de alma – como naqueles álbuns que realmente servem de conforto quando necessário. Já Daylight, o novo álbum, tem lá seus lados de introspecção, mas é realmente um álbum que fala, musicalmente, sobre as primeiras horas do dia, sobre o nascer do sol. E faz isso por intermédio de um mergulho profundo em tendências que vigoram na música eletrônica faz tempo, indo do trance à house music. Passa também por climas que lembram algo da disco music e até do namoro oitentista entre pós-punk e rock – só que tudo devidamente reembalado.

Mais do que a estreia da dupla, o novo disco serve como uma linha do tempo, esticada na cara do ouvinte. Também é um disco conceitual a seu modo, começando com o eletrônico lento e achegado do gospel da faixa-título, seguida pelo som psicodélico, luminoso e quase marcial de Sun come up e pelo pós-punk sintetizado de Coalition. Para quem curte novelas, um trio que soa como faixas candidatas à trilha sonora internacional de um eventual remake de Sol de verão, de Manoel Carlos (1982). Aquele tipo de som que dá vontade de sonhar com um passeio de bike no calçadão mesmo que você deteste praia, ou more a quilômetros dela.

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Daylight prossegue frenético, urbano e noturno, no clima hi-NRG de You are my, no pós-punk de Meantime – que soa como uma canção do lado B de Unknown pleasures, estreia do Joy Division (1979), só que com vocais cheios de alma -, a acid house de Golden hour e o soul eletrônico de Sad banger. Na segunda metade do disco, Hifi e David só fazem aperfeiçoar sua sonoridade eletrônica e lisérgica, em músicas como USB-USC (perfeita para fãs de Justice), a feliz Summery, a pós-disco Celebrate (com acompanhamento de palmas e clima semelhante ao de I feel love, de Donna Summer, só que mais lenta). E, no fim, o ritmo intermitente de The show, fazendo recordar de Kraftwerk aos hitmakers sumidos do Automat.

Nota: 9
Gravadora: Plastique Recordings

Crítica

Ouvimos: Lô Borges – “Céu de giz – Lô Borges convida Zeca Baleiro”

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Em Céu de giz, Lô Borges e Zeca Baleiro unem harmonias mineiro-britânicas e letras poéticas em um disco pop, psicodélico e afetivo.

RESENHA: Em Céu de giz, Lô Borges e Zeca Baleiro unem harmonias mineiro-britânicas e letras poéticas em um disco pop, psicodélico e afetivo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 22 de agosto de 2025.

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Céu de giz é um (bom) encontro de peculiaridades: as harmonizações de Lô Borges casaram muito bem com as letras de Zeca Baleiro, dando à poesia dele sonoridades bem diferentes das habituais – são dez faixas, todas feitas pelos dois em parceria. Tanto que o repertório tem o clima britânico-mineiro-beatle comum à obra de Lô, mesmo nas faixas em que os dois cantam juntos, que por sinal acabam se tornando desafios para dois cantores com tons diferentes.

Na faixa de abertura, Antes do fim, um verdadeiro encontro de sonhos em melodia e palavras, Zeca tem que rebolar para alcançar o tom de Lô – enquanto na faixa-título, que é a música mais britpop do álbum, Baleiro resume-se a fazer vocais graves, no seu estilo habitual. Olhos cansados, outra faixa cantada pelos dois, aproveita bem as diferenças vocais, num rock brincalhão que parece feito em cima de I am the walrus, dos Beatles.

  • Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!

A junção das duas musicalidades acha seu maior equilíbrio em faixas como Zumbis (que lembra Secos & Molhados), na beatle-pinkfloydiana Santa Teresa – com recordações do bairro boêmio de BH –, na psicodelia mágica e contemplativa de Ao sair do avião, no country-rock Tá tudo estranho demais e na onda pop-folk de Seda, cujo baixo remete à melodia de um hit antigo de Lô, O vento não me levou. No final, o rock anos 1960/1970 Donos do mundo remete a Rita Lee & Tutti Frutti, e ficaria bem na voz de Erasmo Carlos.

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Crítica

Ouvimos: Cleozinhu – “Fragmentos de estrela”

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Cleozinhu mistura emo, trap, folk e cloudrap em Fragmentos de estrela, álbum hipnótico que explora estilos e emoções em faixas conectadas.

RESENHA: Cleozinhu mistura emo, trap, folk e cloudrap em Fragmentos de estrela, álbum hipnótico que explora estilos e emoções em faixas conectadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 11 de setembro de 2025

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Integrante de bandas como Duo Chipa, Manobra Feroz e Guandu, Cleozinhu está acostumado a misturar estilos como emo, trap, hip hop e folk em seus trabalhos. Fragmentos de estrela, seu segundo álbum solo, acha seu caminho na experimentação e na criação de músicas que fazem mais sentidos unidas num mesmo álbum – e ouvidas na ordem – do que separadas em singles. São fragmentos que viraram canções, girando em torno de estilos como emocore, trap e cloudrap (rap etéreo e cheio de mumunhas psicodélicas), às vezes tudo junto numa mesma música.

Com participação de uma turma de amigos cujos gêneros vão do cloudrap ao dream pop, Fragmentos une folk, trap e defeitos especiais em faixas como Continuar e Sob a lua, e mexe com criação totalmente artificial de sons em Dias frios. Teclados e programações tomam conta de Trem, e um dream pop que vira trap ganha espaço em pop_squishy. Cacto chega a parecer um pagode na abertura, por causa do violão, ganhando em seguida uma batidinha dance leve.

  • Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
  • Ouvimos: Cleozinhu – Cle01

Fragmentos de estrela vai sendo organizado entre luzes e sombras na medida que as músicas vão se seguindo. Contando segundos diz que “talvez eu tenha mudado todos os meus planos”, num trap sombrio que parece surgido do riff de Heroin, do Velvet Underground. Foda-se tem teclados, beat pesado e som de videogame. Afundar soa como uma melodia tradicional que virou rap experimental, em meio a samples da Suíte dos pescadores, de Dorival Caymmi, e a versos como “navegando essas águas sem ter pra onde voltar / sem saber se vou voltar”.

Além disso, neuroses e decisões de grande espreitam o rap trevoso de Remédios e o shoegaze calmo de Rap de mensagem, que avisa que “as contas não esperam / ninguém vai te salvar”, mas alivia: “ei, meu amigo / não mata seu sonho não”. O negócio de Fragmentos de estrela é Música hipnótica, em letra e melodia.

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Ouvimos: Elephant Green – “Here’s everything”

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Criado na França, mas com brasileiros na formação, o Elephant Green estreia com Here’s everything, disco que mistura britpop, power pop e psicodelia.

RESENHA: Criado na França, mas com brasileiros na formação, o Elephant Green estreia com Here’s everything, disco que mistura britpop, power pop e psicodelia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 2 de outubro de 2025

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Banda do Sul da França com brasileiros na formação – o vocalista e compositor Thiago Pedalino integrou a banda indie carioca Ramirez – o Elephant Green não mente quando cita Oasis, Beatles e Teenage Fanclub em seu texto de apresentação nas plataformas digitais. Here’s everything, o primeiro álbum, une características dessas três bandas, embora seja o Oasis que saia na frente como referência. Rola nos vocais de boa parte do disco, e especialmente em faixas como Electric life, One way to go, Fake heroes, Always alive e a estradeira Outcasts – esta, com um esquema riff + virada de bateria bastante ligado a Don’t look back in anger, da banda dos Gallagher.

Ainda desenvolvendo sua maneira própria de atacar o britpop do anos 1990, o Elephant Green migra também para o power pop em Going alone, para uma vibração setentista e blues-rock em Too busy to mind, e para uma vibe que lembra a fase anos 2000 do Skank em In shamble – além de unir britpop, indianismo e psicodelia na ótima On our own.

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