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Crítica

Ouvimos: Biig Piig, “11:11”

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Ouvimos: Biig Piig, "11:11"

Talvez 11:11 não seja a estreia mais aguardada do ano, mas representa um passo decisivo para Jess Smyth, a mente por trás do Biig Piig. Desde que lançou o projeto, em 2016, ela vinha se contentando com singles, EPs e uma mixtape — Bubblegum (2023) — enquanto testava diferentes sonoridades, de forma independente, e depois sob o contrato com a RCA (assinado em 2017).

Seus primeiros lançamentos passaram por paisagens sonoras que iam do hip hop ao pop de quarto, passando por beats eletrônicos frenéticos. Em 11:11, ela reaparece mergulhada na cultura clubber — uma influência real, como a própria artista já admitiu em entrevistas e como fica evidente em alguns momentos do disco. Ainda assim, Jess hesita entre seguir a linha dos revisionistas do pop dançante, como Jessie Ware, ou conduzir 11:11 por um caminho mais introspectivo, à la Billie Eilish.

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Tentando equilibrar as duas vertentes, ela mescla baixo à la Kim Deal e indie pop em faixas como 4 AM, Ponytail e Cynical (que soa quase como uma paródia de Physical, clássico de Olivia Newton-John). Já Favourite girl e Decimal (com versos em espanhol) trazem uma pegada sinuosa de dance music quase oitentista. Em Silhouette, ela arrisca uma fusão de soft rock e indie pop, enquanto I keep losing sleep e Stay home adicionam uma pitada de psicodelia à mistura.

Há espaço também para experimentações bacanas, como a pós-disco distorcida de 9-5 — uma faixa criativa sobre dependência emocional, onde o título faz referência ao expediente tradicional de trabalho e a letra sugere que a dedicação ao parceiro é tão intensa que ele vira um “meu 9 às 5”. No desfecho do álbum, One way ticket aposta num R&B indie de violão e efeitos etéreos, enquanto Brighter day flerta com britpop e trip hop.

Nesta última, Jess canta com um timbre finíssimo na introdução, como se tivesse inalado gás hélio — epa, moda entre doidões. Enfim, 11:11, estreia do Biig Piig, é um disco marcado por essa dualidade entre o pop extrovertido e uma sonoridade mais intimista. Mas é a vocação para a introspecção que, quase sempre, acaba levando a melhor.

Nota: 7,5
Gravadora: RCA
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Kerub – “Aphantasia”

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Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.

RESENHA: Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.

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“Sonhos são para aqueles que não os deixam de lado”, afirma o artista canadense Kerub em Dreams, canção eletrônica e hipnótica desse Aphantasia, seu segundo álbum. Um disco em que o envolvimento trance serve quase como um subtexto sonoro, com faixas que soam como fantasias musicais, repletas de efeitos, ecos, ambientações, experimentalismos.

Com raízes no conceito de Eterno Retorno de Nietzsche, e em sensações pessoais experimentadas quando mudou-se para Toronto, Kerub fez de Aphantasia um disco cujos lados mais acessíveis apontam para as fases mais vanguardistas de artistas conhecidos. O David Bowie da fase Berlim e o dos anos 1990 pairam sobre quase todo o disco, que ainda faz lembrar a primeira fase do Ultravox em faixas como Ankle monitor, Bottles (repleta de psicodelia nos vocais e teclados) e Calm. Essa última, um relato de depressões, perdas e constatações (“resiliência é um mito feito por nós / estaria eu com medo da mudança?”, se pergunta), em meio a noites mal-dormidas e tentativas de juntar os pedaços.

  • Ouvimos: Ethel Cain – Willoughby Tucker, I’ll always love you
  • Ouvimos: Lutalo – The academy (versão deluxe)
  • Ouvimos: Alex G – Headlights

Marathon é um ambient que chega a dar nervoso – o barulho de alguém respirando forte após correr uma maratona – note o título, enfim – é o “som de fundo” em alguns momentos). Cicadas é drum’n bass com interferências nos vocais e climas perturbadores. Acid rain soa como um time-lapse do fim do mundo – ganha uma cara dançante depois, mas é um baile no apocalipse. Atavism tem algo que não encaixa totalmente – seria a delicadeza da melodia ou o peso da batida? Ou a combinação de ambos?

No final, Salivary glands e Airport traffic trazem mais sons hipnóticos. A primeira, funcionando como um tema dance; a última soando como uma brincadeira sonora etérea, quase um som de videogame, que até traz leveza para um disco em que eletrônica e existência andam de mãos dadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Kopi Records
Lançamento: 24 de julho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Astrofella – “Love ever young”

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Astrofella estreia com Love ever young: eletrônica gelada, krautrock sensível e pop espacial vindo de Istambul via Berlim.

RESENHA: Astrofella estreia com Love ever young: eletrônica gelada, krautrock sensível e pop espacial vindo de Istambul via Berlim.

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O Astrofella é uma banda secretíssima que vem de Istambul, mas que se baseou em Berlim. O som deles é autodefinido como “a personificação de um astronauta melodramático, falando consigo próprio em órbita”. Love ever young, primeiro disco deles, é uma surpresa bem curiosa, misturando tecladeira gélida, guitarras climáticas econômicas e ocasionalmente, percussões e beats variados – sempre apostando na viagem sonora eletrônica.

A Berlin vacation, faixa de abertura, vai subindo para o espaço com órgão, ruídos eletrônicos e guitarra com um só acorde. Segue com uma vibe de pop francês em Modern wedding, com guitarra e bateria patinantes, sintetizador kraftweriano e argamassa de krautrock sensível – e os vocais de Danae Palaka. For Charlotte tem batida afropop e sonoridade minimalista, com um teclado que cresce aos poucos. She just wants to disappear, com vocal feminino que remete a Nina Hagen, vai do meditativo ao tenso.

  • Ouvimos: Plonki – Kicking ate my heels (EP)
  • Ouvimos: Lau e Eu – Feroz comum silêncio entre nós…

Love ever young ainda tem climas mais apocalípticos e sombrios em Old times’ sake (canção de ritmo torto, quase jazzístico, e clima oriental) e na sintetizada Time. No Bandcamp, além das músicas, há ainda um vídeo mostrando como a capa de Love ever young, realizada de modo artesanal, foi feita.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Dana and Alden – “Speedo”

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Speedo, estreia dos irmãos Dana e Alden McWayne, mistura jazz, psicodelia, política e grooves diversos em 18 faixas luminosas e surpreendentes.

RESENHA: Speedo, estreia dos irmãos Dana e Alden McWayne, mistura jazz, psicodelia, política e grooves diversos em 18 faixas luminosas e surpreendentes.

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Demoramos um pouco para resenhar esse disco, lançado em junho. Vindos do Oregon, os irmãos Dana (sax) e Alden McWayne (bateria) fazem em Speedo, seu primeiro álbum, uma espécie de jazz mágico, que não cabe em quase nenhuma definição comum, porque as faixas trazem às vezes várias referências. Norm, a faixa de abertura, parece uma espécie de easy listening espiritualista, como as músicas de Todd Rundgren, e evolui para um jazz voador e bombástico, com beats eletrônicos e tímpanos dando o ritmo. Lisbon in rain ameaça um jazz-fusion na abertura, mas o que vem na sequência são sons que se alternam e brilham como luzes. Já a curta Wyckoff Deli Chicken over rice leva o idioma do jungle para o som da dupla.

Vibes psicodélicas e quase lo-fi, comuns em todo o álbum, vão surgindo aos poucos em faixas como Melange, o funk de garagem Don’t run, a bossa floydiana Fisherman’s dream, o jazz ruidoso e luminoso Charif’s Place, os temas de séries imaginárias Childhood crush e Super Beaver full moon love song, e o soul-reggae de faroeste Obsidian. Além disso, o material de Speedo une música, política e anti-imperialismo, com duas faixas, a já citada Norm e o jazz psicodélico e elegante Leila, feitas em homenagem a ativistas pró-Palestina (Norman Finkelstein e Leila Khaled, respectivamente).

  • Ouvimos: Yves Jarvis – All cylinders
  • Ouvimos: Portugal. The Man – uLu selects vol. #2

Disco extenso – dezoito faixas, 50 minutos – e cheio de recantos musicais, Speedo invade também as áreas da guitarrada hispânica (Rick Pablo), do dream pop solar (Who do you even talk to me, Daydrinking in Springfield), do easy listening clássico e elegante (Kelp Forest Place) e do jazz-soul latino (Cacio e Pepe, cheia de detalhes psicodélicos e sons que rangem). A faixa-título, melódica, sinuosa e romântica, tem algo do som esparso do Khruangbin, só que reduzido a saxofone, baixo e bateria. No fim, o som voador e luminoso de Babe, you’re gonna miss that plane. Uma ótima surpresa.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Concord Jazz
Lançamento: 27 de junho de 2025

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