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Crítica

Ouvimos: Anohni and The Johnsons, “My back was a bridge for you to cross”

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  • My back was a bridge for you to cross é o quinto disco de Anohni and The Johnsons. É o primeiro desde Swanlights, de 2010. Na capa do álbum, uma foto da ativista dos direitos LGBTQIAP+ Marsha P. Johnson, que é a inspiradora do nome da banda, e a quem Anohni conheceu em 1992 (por sinal pouco antes de Marsha ser encontrada morta).
  • Sliver of ice, um dos singles do disco, foi inspirada numa conversa que Anohni teve com Lou Reed pouco antes dele morrer. No papo, Lou falava sobre a ocasião em que lhe colocaram um cubo de gelo na boca, e ele teve uma percepção diferente da água fria.
  • Num papo com o The Atlantic, Anohni falou sobre questões como militância gay e trans, e sobre a aversão que estes segmentos provocam em determinados setores da sociedade. “A diferença entre este disco e o último é que estou tentando introduzir, em minha própria vida, um senso de misericórdia e autoperdão nessa conversa sobre cumplicidade. Vamos precisar de um pouco de ternura se quisermos suportar a verdade sobre quem somos, o que fizemos e para onde estamos indo”, disse.

Sim: o clima mágico das gravações de Nina Simone paira, nada silencioso, sobre o disco novo de Anohni – o primeiro com os Johnsons em mais de uma década. Com um pouco de criatividade e abstração, dá para dizer que reside ali muito do clima ora desencantado, ora misterioso, de discos nacionais como Apresentamos nosso Cassiano, de Cassiano, e Dracula I love you (Tuca).

My back… é um disco feito para figurar numa trilha sonora de filme ou até de novela, com canções entre o jazz, o soul e o blues, com pouco interesse para roqueiros radicais e fãs de purismos. Antes de mais nada, Anohni nunca cantou tão bem e o repertório é totalmente construído em torno de vivências pessoas, dores e intensidades depositadas nas melodias e vocais. Não é um álbum para ser ouvido a qualquer momento na vida e (como já acontecia com a obra anterior de Anohni) pede bastante introspecção.

Os temas não são fáceis de absorver rapidamente: Sliver of ice fala de finitude e já abre com o verso “agora que já estou quase partindo”, usando a imagem do pedaço de gelo na língua para um universo de descobertas de novos sentimentos. Em alguns casos, a moldura faz com que o conteúdo soe diferente. There wasn’t enough chega perto da união de folk e rock progressivo, mas é mais que isso: uma canção quase sacra, na qual a voz da cantora parece que vai se despedaçar, inserindo muita emoção numa letra que fala em perdas e desencontros amorosos.

O soul estradeiro Can’t, lembrando um misto da própria Nina Simone com Tracy Chapman, reproduz a conversa de Anohni com alguém que fugiu de um relacionamento intenso e optou por caminhos ainda mais longe de qualquer curva (“não posso parar com isso, querido, continua sendo real/não quero que você morra”). Distorções e ruídos marcam a curta e dramática Go ahead (“você é um viciado/vá em frente, odeie a si mesmo/eu não posso te parar”).

Chegando mais para o final, o disco parece mais ainda influenciado pelos descaminhos e perdas do mundo, num estranho samba-soul deprê e auto-explicativo, Why am I alive now (“eu não quero ser testemunha/vendo toda a angústia/doente do nosso mundo”) e no folk dolorido You be free, estranhas trilhas sonoras para o contato com um mundo em constante mutação – e nem sempre para melhor.

Gravadora: Secretly Canadian
Nota: 9

Foto: Reprodução do YouTube

Crítica

Ouvimos: Joe Jonas – “Music for people who believe in love”

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Ouvimos: Joe Jonas - "Music for people who believe in love"

RESENHA: Joe Jonas encara o pós-divórcio em Music for people who believe in love, disco solo com eletrorock confessional, altos e baixos, e ecos de britpop e hyperpop.

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Dizem por aí que é preciso viver e sofrer antes de abraçar a criação artística e exercê-la de maneira profissional. Joe Jonas que o diga, já que Music for people who believe in love, seu primeiro projeto solo em 14 anos, foi feito depois de se casar e se divorciar da atriz Sophie Turner.

O irmão do meio dos Jonas Brothers aproveitou para jogar todas as suas ansiedades e medos dos últimos anos nas músicas do álbum – com direito a versos como “eu senti cada medo até o medo acabar” (na bacana Constellation) e “mesmo que esses olhos comecem a chorar, mesmo que eu esteja beijando raios / dançando em uma gaiola com leões / eu ficarei bem” (Parachute).

Em termos de som, Music… tem boas qualidades e é basicamente um disco de eletrorock, em faixas como Work it out, o quase emo Only love e o clima herdado de Smiths de Heart by heart e Honey blonde – esta, com os violões corridos que marcavam faixas dos Smiths e do The Cure nos anos 1980, e certa herança do britpop. Já Velvet sunshine dá tratamento hyperpop para o som originalmente associado aos Strokes. E You got the right abre com uma gravacao feita em arquivo de celular, e depois vira um indie pop de respeito.

  • Ouvimos: Kali Uchis – Sincerely,
  • Ouvimos: Bad Bunny – Debí tirar más fotos
  • Ouvimos: FKA Twigs – EUSEXUA
  • Ouvimos: Charli XCX – Brat
  • Ouvimos: Addison Rae – Addison

Nem tudo é tranquilidade: a partir de uma dada altura, Music for people who believe in love começa a alternar músicas boas e umas canções mais repetitivas e anódinas. Tem o clima apagadinho e breguinha de My own best friend, a enjoadinha Sip your wine, a bossa nova de bolso What we are (com Luisa Sonza nos vocais). Mas rola uma recuperada com os tecnopops What this could be, Constellation e Water under the bridge, que fecham o disco – seguidas, na edição deluxe, por mais três versões ao vivo.

Vale citar que o clima miserento de boa parte das letras (enfim, é um disco-de-pé-na-bunda) pode dar uma assustada, igualmente. Mas tudo indica que Joe, que geralmente parece meio apagadinho em relação ao irmão Nick (mas atualmente tem mais ouvintes que ele no Spotify), está fazendo a transição para algo mais sólido no próximo álbum.

E, bom, o próximo álbum individual deve demorar um pouco: os Jonas Brothers embarcam em agosto numa turnê gigantesca, levando com eles o DJ Marshmello e as bandas All American Rejects e Boys Like Girls. E lançam no dia 8 do mesmo mês o sétimo álbum, Greetings from your hometown.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Republic/UMG
Lançamento: 27 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Cliffords – “Salt of the Lee” (EP)

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Ouvimos: Cliffords - "Salt of the Lee" (EP)

RESENHA: O segundo EP dos Cliffords, Salt of the Lee, mistura britpop adulto, elementos de folk e guitarras com peso para falar de luto, cidade natal e relações difíceis.

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Vindos de Cork, na Irlanda, os integrantes dos Cliffords falam dos lados bons, ruins e mais ou menos de sua cidade em seu segundo EP, Salt of the Lee. Aparentemente, a ideia do grupo foi tentar soar “adulto” fazendo rock com heranças da era britpop – todo o material do EP parece feito para bombar numa rádio voltada para consumidores de música pop que ouvem rock e andam lá pelos 35, 40 anos.

Esse lado amadurecido ecoa em R&H Hall, aberta com piano e seguida com vocal bem cuidado e ruídos de guitarra. My favourite monster é um som tristonho, baladeiro, com cara folk. Bittersweet tem algo de shoegaze nas paredes de guitarra, mas o clima é outro, com efeitos de guitarra que dão um design mágico e espacial para o som. No final, a emocionante Dungarvan Bay tem aquele tom clássico de rock britânico com emanações folk – e vai progredindo até aumentar o som.

Nas letras, a banda junta o dia a dia da cidade com histórias pessoais. Em Dungarvan Bay, a cantora Iona Lynch fala sobre o luto por um amigo de faculdade que morreu. R&H Hall usa como imagem os antigos silos de uma empresa de grãos (a R&H Hall do título), reduzidos depois a escombros. Já a misteriosa My favourite monster fala sobre ódio, desentendimento e bullying escolar – muito embora Iona explique que a ideia era fazer uma carta de amor “a alguém com quem nunca me darei bem, mas acho que de alguma forma nos entendemos”.

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 8
Gravadora: Soil To The Sun / Relentless Records
Lançamento: 30 de maio de 2025

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Crítica

Ouvimos: Gabre – “Arquipélago de Ilhas Surdas”

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Ouvimos: Gabre - "Arquipélago de Ilhas Surdas"

RESENHA: Gabre traz indie pop experimental em Arquipélago de Ilhas Surdas, misturando lo-fi, ambient, dream pop e sons do Brasil e Portugal.

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Músico brasileiro radicado em Portugal, Gabre esteve no Brasil recentemente para uma turnê que foi do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro, mostrando o repertório de Arquipélago de Ilhas Surdas. Um disco que ele define como indie pop, mas com um clima bem mais próximo do indie que do pop, na escolha de samples e no direcionamento para uma estética quase ambient, em que as canções se desenvolvem em determinados cenários.

Nessa onda, ruídos de fundo e clima lo-fi dão o toque em Chinese classics e Lisboa completamente debaixo d’água. São músicas com letras e melodias que dão sensação de estranheza, até por misturarem realidades (o som de Portugal, a bossa do Brasil, o clima da música eletrônica) e por terem letras existenciais que quase sempre, soam apenas como se fossem mencionadas, enterradas em meio às melodias. I’m just like soa como se tivessem achado uma gravação de rádio estrangeira, com uma música típica de algum país – que traz emanações de hinos nacionais, ao mesmo tempo em que aponta para a psicodelia e o som derretido.

Músicas como Crime e carinho, Jesus is not around, Nós vamos te amar pra sempre e Matter is divine and light is a kiss são dream pop com ênfase no sonho, no clima de que algo bem irreal está acontecendo – já que misturas sonoras com tecnopop, sons indianos, bateria de escola de samba e até funk carioca surgem texturizadas e misturadas no arranjo. O tempo é delicado, por sua vez, responde pelo lado mais pós-punk do disco, com eco nos vocais e nos instrumentos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Maternidade
Lançamento: 16 de maio de 2025.

  • Ouvimos: Pic-Nic – Volta
  • Ouvimos: Manco Capac – Bom jantar (EP)
  • A Última Gangue: supergrupo lança EP ao vivo exclusivo no Bandcamp
  • Ouvimos: Moptop – Long day

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