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Cultura Pop

Os clipes mais estranhos da música pop (Parte II, anos 1990)

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Os clipes mais estranhos da música pop (Parte II, anos 1990)

Os clipes dos anos 1980 foram politicamente incorretos e tiveram exageros nos figurinos e cenários. Já nos 1990… Bom, a década destacou-se pelas produções um tanto mais minimalistas, mas não menos estranhas. Os clipes eram cheios de provocações e de excesso de permissividade – este, bem proposital. Nos anos 1990, a MTV aterrissava no Brasil em 20 de outubro de 1990 – o primeiro vídeo foi um clipe da cantora Marina Lima, a versão dela para Garota de Ipanema.

Ao contrário dos clipes dos ingênuos anos 1980 que só mostravam “peitcholas” ou insinuavam homossexualidade, na década de 1990 os momentos políticos e sociais – com o fim das eras Reagan e Thatcher, somados com os ventos da democracia no Brasil – permitiram mensagens explícitas nas letras e clipes. Tudo a ver com uma nova sociedade, bem mais liberal. Ou não?

“HE’S MY THING” – BABES IN TOYLAND (1990): A cena grunge sempre foi marcada pela despretensão: no figurino, nos arranjos musicais. Mas foi um período inegavelmente criativo. Mesmo tendo baixo orçamento, uma das melhores bandas de rock alternativo de Minneapolis – composta somente por garotas – conseguiu fazer um vídeo memorável, de uma música extraída de seu primeiro álbum Spanking machine.

Mas, atenção: Se você sofre de automatonofobia – medo ou aversão a bonecos, ventríloquos etc. – este clipe não é para você! Dirigido pelos diretores Phil Harder e Mark Etoll, a energia dos vocais de Kat Bejlland parece transpor-se pelos inúmeros bonecos macabros que aparecem neste clipe, com direito a momentos a la “Chucky” com faca e tudo. Também, pudera, a letra fala sobre proteger o que é meu (no caso, o homem) das concorrentes… Este clipe foi muito exibido pela programação da MTV Brasil, no programa Lado B, apresentado pelo jornalista Fábio Massari. Que estes bonecos do clipe dão um medinho, isso é fato.

“PURE MORNING” – PLACEBO (1998): Este clipe tem uma temática bastante forte. Nos dias de hoje com certeza seria considerado pesado demais para ser exibido na MTV. Filmado em Londres, na região da Savoy Street e dirigido por Nick Gordon, o enredo retrata um jovem suicida (o vocalista Brian Molko) no parapeito de um prédio, indeciso entre se jogar ou não. Vestido de preto, maquiado, descalço e com unhas pintadas de preto, o potencial suicida é observado por bombeiros, policiais, jornalistas e transeuntes que assistem – perplexos – ao seu salto para a morte.

Entretanto, um final surpreendente: o vocalista anda pelas paredes. Embora tenha um, er, final feliz, o clipe é deveras soturno e, muito provavelmente, seria banido, editado ou até modificado atualmente uma vez que poderia induzir os jovens ao suicídio. Entretanto, na época de lançamento, ele foi aclamado pela crítica e exibido normalmente pelos canais musicais como MTV e VH1.

“HAPPINESS IN SLAVERY” – NINE INCH NAILS (1992): Uma das bandas mais “banidas” da MTV Americana, Nine Inch Nails teve seu estranho clipe exibido na íntegra pelo programa Lado B na MTV Brasil. Dirigido por Jon Reiss, ele foi inspirado em um romance francês do século 19, Os jardins dos suplícios, de Octave Mirbeau. A obra tratava de um período decadente e crítico da literatura e da arte francesa, em que a sociedade da época e o colonialismo eram postos em xeque com enredos e pinturas que descreviam belos cenários – porém com personagens mutilados, empalados e ensanguentados.

Com uma inspiração destas, não poderia ser surpresa um clipe rodado em preto e branco cujo protagonista – o artista performático Bob Flanagan – entra em uma sala com um altar cheio de flores e velas, passa por uma espécie de esteira mecânica em queas máquinas começam a despi-lo e, também, a retirar sua pele! Enquanto isso, o vocalista, Trent Reznor, faz a performance cantando no interior de uma cela. Ao sair, vai parar na mesma sala e, embora não haja repetição do mesmo ritual, subentende-se que ele também será despido e esfolado vivo…

Questionado pela imprensa da época sobre o estilo violento da gravação, Trent Reznor garantiu que nunca quis chocar com a violência, mas chamar a atenção para os problemas da sociedade da época, que continuavam incomodando. Infelizmente, o clipe é considerado tão violento que foi banido do YouTube definitivamente, mas um canal fez o upload do clipe. Bastante editado, por sinal. Só quem viveu os anos 1990, parece, é que pode tirar as conclusões ainda hoje. Como eu fui espectadora do Lado B MTV e assisti ao clipe em seu lançamento neste icônico programa, posso dizer que sim, era um clipe violento e algumas pessoas mais sensíveis realmente ficariam bem chocadas.

“SENDING ALL MY LOVE” – LINEAR. Filmado em Fort Lauderdale, Flórida, no início de 1990, o clipe do Linear, uma banda de freestyle (aquele tipo de som que rolava direto em bailes funk entre os anos 1980 e 1990), é aquele típico de baixo orçamento. Além de muito, mas muito cafona.

Os integrantes Charles Pennachio, Joey Restivo e Wyatt Pauley eram todos trabalhados no mullet – o corte de cabelo, aliás, era de deixar Chitãozinho e Xororó verdes de inveja. Com muitos passinhos pra frente, passinhos pra trás, um lado e para o outro, jaquetas de couro e faixas no cabelo, camiseta branca, umbiguinho (masculino) de fora, dancinhas coreografadas, piruetas e mortaizinhos, o clipe vai se desenrolando com cenas românticas. E muita interação do vocalista Charles com uma modelo, fazendo caras e bocas deitado sobre muitas cartas de amor. Filmado em praias da Flórida, o clipe foi dirigido e financiado pelo produtor da banda, Tolga Katas, em conjunto com Charlie – assim como o LP de lançamento do Linear.

Duas curiosidades sobre Sending all my love: 1) a música ganhou uma versão indiana, feita para Ishq, filme de Indra Kumar; 2) esteve na trilha de Mico preto, novela da Globo.

“THE BAD TOUCH” – BLOODHOUND GANG (1999). Pense em um vídeo escatológico e de contexto puramente sexual, politicamente incorreto ao extremo. Pois é, provavelmente foi The bad touch, que fez um baita sucesso por aqui há vinte anos, que veio na sua mente. Embora a música seja bem dançante, a banda americana da Pensilvânia é considerada de rock alternativo. Foi formada no começo dos anos 1990 por James Moyer Franks e Michael Bowe, com o acréscimo do baixista Jared Hennegan em 1994. O grupo passou a tocar no lendário clube CBGB, em Nova York, Sem muitas pretensões, a Bloodhound Gang sempre alegou que era 100% influenciada pelo grupo nova-iorquino Beastie Boys.

A escatologia e o mau gosto correram soltos nesta música e também no clipe. Lançado em maio de 1999 e dirigido por Richard Reines, o vídeo começa com os integrantes da banda fantasiados de ratos gigantes, com orelhas desproporcionais. Gravado em locais turísticos de Paris, o vídeo sem censura já mostra dois macacos “copulando” e dois integrantes da banda fazendo a mesma representação de um sexo gay selvagem. Depois, o nonsense de modelos caminhando em vestidos pretos e curtos, desmaiando quando são atingidas por zarabatanas e depois carregadas pelos integrantes da banda.

Os músicos fazem gestos meio obscenos, subentendendo que vai rolar sexo selvagem com aquelas mulheres desacordadas. Ah, sim, tem a letra: “let’s do it like they do it on the Discovery Channel” (“vamos fazer sexo como os animais fazem no Discovery Channel”). Se não bastasse o fim da picada de representar mulheres como presas, o clipe ainda traz dois atores com boinas típicas francesas num restaurante em Paris – como se representassem um casal gay, que é atingido por dois integrantes da banda com salames!

Hoje em dia isso seria considerado homofobia nível hard, claro. Mas, calma: não para por aí. No final, dois dos músicos simulam uma diarreia e despejam nas caras um do outro um material mole e marrom. Na época em que o clipe foi exibido pela MTV Brasil, os integrantes da banda disseram que o tal material era só chocolate. Vendo o clipe, é bom a gente pensar assim.

Diante de tanta polêmica, o clipe e a música fizeram sucesso estrondoso na Europa, sobretudo no Reino Unido, Noruega, Bélgica, Suécia e na Alemanha. O clipe é censurado até hoje mundialmente e a música tem uma versão com uma letra mais polida para se tocar nas rádios mais conservadoras. Nos dias de hoje, não há dúvidas que seriam criticados à exaustão pelas feministas e pelo público LGBT (na época, inclusive, choviam críticas).

“SMACK MY BITCH UP”- PRODIGY (1997): Um dos vídeos mais controversos de todos os tempos, feito em primeira pessoa, como se fosse um youtuber numa noitada daquelas – com direito a muita bebida, drogas pesadas, sexo, violência e baixaria. Dirigido por Jonas Akerlund, o clipe foi rodado em várias locações em Londres, mais especificamente na região do Soho. O clipe começa pela perspectiva de alguém que acorda muito tarde, levanta da cama, vai ao banheiro, troca de roupa, dá uma cafungada na cocaína e sai pra balada. E sai causando por onde passa: toma todas, assedia as mulheres arrumando briga numa casa noturna, destrói as pick-ups do DJ. Não satisfeita, a personagem em primeira pessoa vomita no banheiro, local onde também dá um pico de heroína.

Achou demais pra você? O comportamento antissocial continua. Noiado e vomitando as tripas para todos os lados como se não houvesse amanhã, o personagem segue para uma casa de strip tease. Começa a molestar as strippers. Uma delas (uma atriz pornô que curiosamente se chama Teresa May – sem o “h”) é seduzida e começa a putaria, ainda na casa noturna. Seguem em direção ao carro. Bebendo todas e dirigindo, a personagem principal do clipe ainda atropela uma pessoa no caminho sem prestar socorro! De volta ao quarto, a possibilidade é de muito rala e rola, só que (um escândalo na época), a personagem que fez aquele tumulto todo não é um homem. Foi uma mulher que causou todo aquele fuzuê!

O clipe é maravilhosamente bem executado, muito bem dirigido, fotografia impecável. O roteiro está dentro do contexto da música, que repete apenas um refrão o tempo todo: “change my pitch up/smack my bitch up”. Talvez por isso tenha rendido tantos prêmios, apesar das polêmicas e acusações de que a música e o clipe são misóginos, violentos, induzem os jovens às drogas e a comportamentos antissociais, etc. Smack my bitch up foi banido da MTV americana e, nos demais países (como o Brasil), só era exibido depois das 23 h. Volta e meia ele some do YouTube, mas por enquanto podemos ver a versão sem cortes.

https://www.youtube.com/watch?v=79iqeItl4SE

44 anos. Gosta de Cultura Pop, Moda, Literatura, Sociologia, Cinema, Fotografia e é movida à Música desde que se entende por gente. Bacharel em Direito, enveredou-se para as Relações Internacionais e atualmente encontra-se em fase de mudanças profissionais.

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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Cultura Pop

Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

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Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação

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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.

No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.

Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.

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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.

O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.

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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.

“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela

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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.

“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.

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