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Cultura Pop

O country psicodélico de Legendary Stardust Cowboy

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O country psicodélico de Legendary Stardust Cowboy

O texano Norman Carl Odam, mais conhecido como Legendary Stardust Cowboy, tem um lugar todo especial no indispensável New book of rock lists, lançado em 1994 e escrito por Dave Marsh e James Bernard. Seu anti-hit Paralyzed é considerado pela dupla de jornalistas como “a pior canção já lançada por uma gravadora grande”. Os escritores consideram o Cowboy “uma one-man band incapaz de tocar qualquer instrumento, cantar afinado ou entrar no ritmo, até mesmo quando toca sozinho”.

Maldade da dupla. Mas tire suas próprias conclusões ouvindo aí Paralyzed, lançada em 1968 pela Mercury. E também o seu lado B, Who’s knocking at my door, praticamente uma canção de voz e bateria (tem um violão mal mixado lá no fundo). Dessa vez, você vai desistir de achar que Philosophy of the world, das Shaggs, é o disco mais maluco que você já ouviu na vida.

LEGENDARY STARDUST COWBOY

Aparentemente, Paralyzed tem uma letra, que inclui versos como “aí vou eu, para o show” e o nome “Caroline” berrado intermitentemente. A música fazia parte de um conceito que vinha surgido na música de Norman Carl desde quando ele era um garoto de Lubbock, no Texas (nasceu em 1947), que se interessava por viagens espaciais, dançava quadrilha, tentava arrumar namoradas escrevendo cartas para todas as meninas de sua região e atazanava amigos tocando paródias de canções populares.

O nome Stardust Cowboy foi adotado na adolescência, justamente por causa desse interesse por viagens interestelares. O “Legendary”, acrescentado posteriormente, leva até hoje os fãs a chamarem o Cowboy de “The Ledge”. Aliás, “peraí, Legendary Star Dust… LSD?”, você deve estar pensando. Tudo mera coincidência, diz o cantor. Ele adotou esse nome em 1961, quando o LSD ainda nem era moda entre artistas e intelectuais. Ainda assim, olha aí o segundo single do artista, lançado em 1968 pouco depois de Paralyzed. O nome é I took a trip (On a gemini spaceship).

PROGRAMA DE HUMOR

A gravação mais conhecida de Paralyzed fez parte de um rol de 50 (!) canções gravadas por Legendary Stardust Cowboy durante um horário ocioso num estúdio em Fort Worth, no Texas. O cantor soltou a voz, tocou violão dobro e soprou num clarim. O produtor da faixa, o então iniciante T-Bone Burnett, tocou bateria.

A música tinha sido feita para o concurso de talentos de uma rádio e foi bastante executada na região. Mas segundo o próprio Legendary nessa entrevista aqui, algumas rádios locais receberam uma primeira gravação de Paralyzed, em fita de rolo, com o Cowboy tocando gaita, violão, pente com papel e tábua de lavar roupa. “Eles ouviram, mas disseram que não se encaixava no formato. Adivinha? Depois que meus discos começaram a sair na Mercury, passaram a tocar a canção”, contou.

Pouco antes de Paralyzed sair, a vida do Cowboy andava numa complicação dos diabos. Ele trabalhava o dia inteiro num depósito, escrevia canções e mandava cartas para o cantor Tiny Tim pedindo a ele que o ajudasse a aparecer na TV. A música chegou a ganhar uma edição em single independente, por um selinho montado por Stardust, Psycho-Suave. Em 1968, aos 21 anos, o cantor se mandou para Nova York para procurar lugares para cantar. Lembra que “os caras me descobriram” e e ele acabou conseguindo um contrato coma Mercury. Aliás, também apareceu num programa de humor famoso na época, o Laugh-In.

BOWIE ERA FÃ

Aliás, o Cowboy influenciou ninguém menos que David Bowie. Se você tinha achado que o “Stardust” do nome dele lembrava alguma coisa, acertou. Foi de lá que veio o nome do personagem Ziggy Stardust.

Numa cena do filme Stardust, de Gabriel Range, que está em cartaz na Mostra de Cinema de São Paulo – e que conta justamente a gênese do líder dos Spiders From Mars – Bowie recebe o single de Paralyzed das mãos de seu divulgador americano na Mercury, Ron Oberman (Marc Maron). O executivo define o Cowboy como nada mais que um berrador insano, mas Bowie se interessa pela história.

Aliás, bem depois disso, Bowie gravou I took a trip (On a gemini spaceship) no disco Heathen, de 2002. Em 2007, o Cowboy tocou no festival High-Line, em Nova York, a convite do próprio Bowie, criador do evento.

No vídeo abaixo, Bowie aparece no programa Later withe Jolls Holland falando sobre quando conheceu o som do Cowboy. Não que ele tenha adorado de início. “Era a pior canção que eu já tinha escutado”, brincou. Em 2001, Bowie já havia falado que se apaixonou mais pela “ideia” da música do Cowboy do que por suas canções.

RETORNO

Após gravar um terceiro single pela Mercury em 1968, Kiss and run, o Legendary Stardust Cowboy passou a se concentrar mais em shows e lançou compactos por selos pequenos. Suas primeiras gravações passaram a ser tidas como precursoras do psychobilly. No fim dos anos 1980, rolou um retorno que envolveu o lançamento de novos singles e até de um documentário, Cotton pickin’ smash! The story of the Legendary Stardust Cowboy (nunca lançado comercialmente, mas disponível no YouTube). Em 1992, quando o CD já era o formato principal de lançamentos, o Cowboy soltou um compacto bem afrontoso, I hate CDs.

E HOJE?

Hoje, o Cowboy esta bem distante do Texas e vive em San Jose, na Califórnia. No fim dos anos 1990, ele retornou aos palcos com uma banda chamada The Altamont Boys. O grupo incluía músicos como Klaus Flouride (baixista dos Dead Kennedys) e Jay Rosen (guitarrista dos The Better Beatles, uma paródia bizarra dos Beatles que chegou a gravar discos, da qual o POP FANTASMA já falou).

Em 2010, o Legendary Stardust Cowboy interpretou a si próprio num documentário de mentira chamado Rainbows end, que contava a  história de uma banda que saíra do Texas para a Califórnia. E no ano seguinte, o selo Cherry Red lançou uma coletânea dupla, For Sarah, Raquel, and David: An anthology. Os três nomes fazem referência a fãs famosos: a Duquesa de York, Sarah Ferguson, a atriz Raquel Welch e… David Bowie.

Aliás, o Cowboy gravou também nada menos que Space oddity, de David Bowie. Do jeito dele, mas gravou.

Via Chicago Reader, Virtual Ubbock, Metroactive, além do próprio site (fora do ar) do Cowboy. Tem uma matéria história sobre ele muito boa na Vice.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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