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Mark Lanegan: pare tudo e ouça agora!

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Mark Lanegan: pare tudo e ouça agora!

Mark Lanegan parecia imortal – à maneira de Keith Richards, Iggy Pop e outros poucos. O ex-vocalista dos Screaming Trees teve problemas inacreditáveis com drogas, mas estava sóbrio há mais de uma década. Conheceu a fundo a deprê da música do Noroeste Pacífico dos EUA. Foi amigo de nomes como Kurt Cobain (Nirvana) e Layne Staley (Alice In Chains). E compôs sobre dramas existenciais aos quais um ser humano comum não aguentaria ser exposto (seu segundo disco solo, Whiskey for the Holy Ghost, de 1994, é quase uma imersão na dor). Infelizmente chegou a hora: o músico de 57 anos, que recentemente vinha alternando as carreiras de cantor e escritor, saiu de cena na Irlanda, na manhã de terça (22). Vinha fazendo bastante coisa: em 2021, lançou um livro de memórias, Devil in a coma, na qual narrava as experiências (pavorosas) que teve após contrair covid-19.

A lista de projetos e discos gravados por Mark é bastante numerosa: o cantor começou com os Screaming Trees, gravou solo, alternou álbuns com seu nome e outros sob a alcunha “Mark Lanegan Band”, fez colaborações com vários amigos. Há muito o que descobrir, mas para começar, segue aí uma lista pequena (e compreensivelmente incompleta) das canções de Lanegan.

“I SEE STARS” (do disco Clairvoyant, dos Screaming Trees, 1986). O primeiro disco da banda de Lanegan é tido como tendo “o verdadeiro Screaming Trees” por muita gente séria. Essa canção, uma das melhores, une rock de garagem e psicodelia. Mark, nessa época, era apenas um dos integrantes, e não era exatamente o líder do grupo (todas as faixas foram compostas coletivamente).

“WALK THROUGH TO THIS SIDE” (do disco Invisible lantern, dos Screaming Trees, de 1988). É possível soar parecido simultaneamente com Jesus & Mary Chain, Velvet Underground, Lou Reed solo e The Byrds? Lanegan e seus camaradas bem que tentaram fazer isso, nesse barulhentíssimo disco, o terceiro da banda.

“UNDERTOW” (do disco The winding sheet, de Mark Lanegan, 1990). Indo um pouco além do som mais garageiro de sua banda, Lanegan estreava solo com um álbum cujas canções, em sua maioria, foram feitas ao lado do amigo Mike Johnson (Dinosaur Jr, Snakepit). O som unia blues, folk e pós-punk na mesma medida.

“NEARLY LOST YOU” (do disco Sweet oblivion, dos Screaming Trees, de 1992). Os Screaming Trees foram uma das primeiras bandas da região de Washington a conseguirem um contrato (com a Sony, no caso). O grande hit deles dessa época foi impulsionado por um clipe dirigido por Eric Zimmerman (e gravado no gramado do Ellensburg Rodeo, point de cowboys da cidade da banda, Ellensburg) e pelo uso na trilha sonora do filme Vida de solteiro, de Cameron Crowe.

“BORRACHO” (do disco Whiskey for the Holy Ghost, de Mark Lanegan, 1994). Entre o primeiro e o segundo disco solo, Mark ficou ocupadíssimo com as turnês dos Screaming Trees e precisou jogar o trabalho para as horas vagas. O álbum que viria unia country, blues e canções desesperadas – como na segunda faixa, um relato de perdas e excessos. Durante as gravações, bateu clima ruim: o produtor Jack Endino precisou impedir Mark de jogar as fitas master (nas quais havia trabalhado durante quatro anos) num rio.

“CARNIVAL” (do disco Whiskey for the Holy Ghost, de Mark Lanegan, 1994). Tema folk com violinos – tocados por Dave Krueger, um dos compositores de nada menos que (You drive me) Crazy, de Britney Spears. Linda de tão sombria, foi inspirada (segundo o próprio Mark) por Van Morrison. Mas a letra poderia ser assinada por outro Morrison, o Jim.

“MAX AND WELLS” (do disco Ball-hog or tugboat?, de Mike Watt, 1995). O primeiro disco do ex-Minutemen e fIREHOSE era uma festa de arromba do rock indie, com vários convidados – na faixa Against the 70’s, tinha até Krist Novoselic e Dave Grohl tocando juntos pela primeira vez depois da morte de Kurt Cobain. Lanegan soltava a voz em Max and Wells, que tinha também J. Mascis (Dinosaur Jr) na guitarra, além do anfitrião no baixo.

“I’M ABOVE” (do disco Above, do Mad Season, 1995). A estreia do projeto paralelo de Mike McCready (guitarra, Pearl Jam) e Layne Staley (voz, Alice In Chains), com Lanegan cantando em algumas faixas.

“I’LL TAKE CARE OF YOU” (do disco I’ll take care of you, de Mark Lanegan, 1999). Disco de covers de Mark, preenchendo uma gama ampla de artistas, que inclui o pós-punk angeleno do Gun Club, a banda indie californiana Leaving Trains e o cantor e compositor de soul Eddie Floyd. A faixa-título foi tirada do repertório do produtor, compositor e cantor Brook Benton, popular nos primórdios do rock.

“FOUR CORNERS” (do disco A drug problem that never existed, do Mondo Generator, 2003). Lanegan tinha excelentes relações com a turma do stoner rock – cantou com Queens Of The Stone Age e Masters Of Reality, por exemplo. Ficamos com essa participação dele no segundo disco do Mondo Generator, um clássico da deprê.

“RAMBLIN MAN” (do disco Ballad of the broken seas, de Isobel Campbell e Mark Lanegan, 2005). A parceria de Mark com Isobel, do Belle & Sebastian, durou três álbuns (compostos por ela). O cantor dos Screaming Trees apareceu mostrando um leque de outras influências e referências nos vocais (lembra Nick Cave, Iggy Pop e Leonard Cohen em vários momentos) e soltou a voz com destaque nessa versão de Hank Williams.

“GOD’S CHILDREN” (do disco Saturnalia, dos Gutter Twins, 2008). Gutter Twins era a dupla formada por Mark e Greg Dulli (Afghan Wighs). Brincando ou não, Dulli diz que a colaboração começou de maneira inusitada: Mark, um dia, falou sobre a dupla a um jornalista. O repórter ligou para Dulli, que não sabia de nada e foi praticamente alertado de que ele estava colaborando com Lanegan. Pena que só rendeu um álbum e um EP.

“DISORDER” (com Mark Lanegan, Jack Bates, Jeff Schroeder e Shane Graham, 2020). Peter Hook (Joy Division/New Order) uniu-se à organização inglesa Sweet Relief, que arrecadou fundos para a turma que trabalha na produção de shows durante a pandemia. O baixista uniu forças a vários amigos e colaboradores, e um dos frutos foi essa versão de Disorder, do Joy Division – sem Hook, com seu filho Jack Bates no baixo e com Lanegan nos vocais.

Crítica

Ouvimos: Miley Cyrus – “Something beautiful”

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Ouvimos: Miley Cyrus - "Something beautiful"

RESENHA: Miley Cyrus lança Something beautiful, um disco pop irregular, com ótimos momentos, mas um tanto quanto bagunçado na direção criativa.

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Ouvir e entender esse novo disco de Miley Cyrus pelo que ele é de verdade pede calma. Ainda mais se você ficou animada/animado com a promessa de um disco pop revolucionário e psicodélico, “inspirado no The wall, do Pink Floyd”, como ela própria anunciou. É preciso lembrar que nem todo pop precisa ser “conceitual” para ser bom. Nem todo mundo é David Bowie, George Michael ou Lady Gaga, e tá tudo bem. E até mesmo The wall tinha furos conceituais, e momentos que desafiavam a paciência de qualquer um. Vai por aí.

Com uma lista de colaboradores enorme – que inclui Danielle Haim, Flea, Cole Haden (Model/Actriz), Brittany Howard, Adam Granduciel (The War On Drugs) e mais uma porrada de gente – Something beautiful, novo disco de Miley, não é “progressivo”, não é psicodélico e nem mesmo é um disco conceitual. A começar pelo fato de “conceitual” ser uma palavra pra lá de desgastada, enfim. É um disco pop com momentos de contação de histórias e elementos de sujeira, como no aspecto lo-fi da faixa-título, no som anos 1980 de More to lose e no tecnopop pretensamente lisérgico (e bom) de Pretend you’re god – que combina sons de teremim, guitarras com distorção e texturas estranhas.

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  • Ouvimos: Model/Actriz – Pirouette
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Essas músicas mais “difíceis” (em tese) do disco é que dão mais graça a ele, porque Something beautiful tem pelo menos dois pecados sérios justamente na área pop. Que são a caidinha End of the world (com vibe meio Elton John meio Coldplay) e o tom não-disse-a-que-veio de Every girl you’ve ever loved, uma imitação do ABBA com participação de Naomi Campbell – que mais parece um remix de algum hit oitentista, como aqueles remixes do Kid Abelha que tocavam o dia todo no rádio no fim dos anos 1990.

Por outro lado, tem a ótima Easy lover, pop com cara de anos 1970-1980, com piano Rhodes e algo das faixas solo de Stevie Winwood. E duas faixas em que dá para perceber o quanto Miley vem sendo influenciada por Stevie Nicks – o soft rock Golden burning sun e a disco Walk of fame, a tal faixa com Brittany Howard. Encerrando o disco, tem Give me love, pop grandiloquente com clima gratiluz e meio hippie, com final aterrorizante – e que deixa a impressão de que se não fosse uma música perdida num disco perdido, faria mais sentido.

No fim das contas, Something beautiful tem momentos legais e nem de longe é um disco ruim. Mas se é preciso um gerente ou um diretor criativo para dar organizar as ideias num disco pop cheio de colaboradores, deu bagunça na gerência.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: MCEO/Columbia/Sony Music
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: D4vd – “Withered”

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RESENHA: D4vd estreia com Withered, pop lo-fi com ecos de emo e pós-britpop. Começou fazendo trilhas pra vídeos de Fortnite. Hoje canta o fim do amor.

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O começo de carreira do novaiorquino David Anthony Burke, ou simplesmente D4vd, foi bem, digamos, prafrentex. Ele na verdade queria ser gamer e jogar profissionalmente o jogo-mania Fortnite – daí teve a ideia de divulgar vídeos no YouTube com montagens de suas partidas. Prosseguiu nessa até levar um gancho da plataforma por causa das trilhas dos jogos. Da ideia inicial de criar suas próprias trilhas, usando o app BandLab, e do sucesso que seus vídeos com músicas autorais passaram a fazer, nasceu uma carreira musical.

Daí que Withered, primeiro álbum de D4vd, 20 anos, não nega esse começo, muito menos sua geração. É um disco de pop-de-quarto, fluido, lo-fi, e que muitas vezes vai para um som reduzido a seu mínimo conhecido como pop. Isso rola no som imaginativo de Atomic land, no soft rock Sky, na corneira britpop (com guitarra parecendo vir de uma fita velha) You left me first e no discurso “como posso te chamar de amiga, se já te chamei de amor?” de Friend again, pop com evidente origem emo.

Leia também:

  • Ouvimos: Kali Uchis – Sincerely,
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O disco tem dez produtores (o próprio D4vd entre eles), um número considerável de co-autores, e uma participação de peso – Kali Uchis, que solta a voz na balada blues Crashing. E felizmente ninguém tentou transformar D4vd em algo diferente do que ele sempre foi, ou algo do tipo. Mas e as letras? Bom, Withered é o retrato de um jovem em frangalhos, influenciado tanto pela solidão do bedroom pop, quanto pela vibe choramingas do emo e do pós-britpop. E que está tendo que acompanhar a seu modo um mundo em que os relacionamentos não vão pra frente e, às vezes, só uma das partes está namorando de verdade.

A mescla musical inclui referências do trap e do hip hop, como no vocal autotunado de Where’d it go wrong?. No meio dessa salada sonora (bem feita, vale deixar claro) há emanações de bandas como Coldplay e Starsailor em Somewhere in the middle, punk pop em What are you waiting for, pop sinuoso com agudinho em Feel it,  e até shoegaze (!) em Unrequited (faixa bônus da edição deluxe). Além de uma despedida das mais esquisitas na faixa final, Afterlife: “e quando eu morrer (você está segurando a faca) / eu te amarei da vida após a morte”. Eita.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Deathroom / Interscope
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: The Tubs – “Cotton crown”

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Ouvimos: The Tubs - "Cotton crown"

RESENHA: The Tubs mistura jangle pop e punk em Cotton crown, disco intenso sobre luto e memória, com letras afiadas e peso emocional evidente.

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A capa de Cotton crown, segundo disco da banda galesa The Tubs, mostra o vocalista Owen Williams ainda bebê, sendo amamentado num cemitério (!) por sua mãe — a escritora, jornalista musical e compositora Charlotte Greig, que tirou a própria vida em 2014.

A imagem, por si só, carrega um peso simbólico e emocional considerável. E no caso de Owen, o luto acabou ocupando um espaço central em sua vida criativa. Muito antes de começar a trabalhar em Cotton, ele decidiu escrever um romance que orbitava a morte da mãe — livro este que, por sinal, chegou a ser pré-editado por seu pai e sua madrasta, ambos também escritores.

Mas a obra nunca chegou a ser publicada. “Uma grande agente quase o aceitou, mas desistiu assim que chegou à segunda metade. Disse que era muito estranho. Que eu não escrevia sobre traumas com empatia”, contou em sua newsletter. “Eu tinha sido escrupuloso em conter qualquer dor ou anseio, guardando tudo para as duas últimas frases, que eu esperava que fossem um vislumbre de um mundo subterrâneo de luto. Mas isso exigia chegar ao fim”.

Owen aparentemente ficou tão desgostoso com as recusas que preferiu nem sequer tentar uma autopublicação. De qualquer jeito, uma parte do livro acabou surgindo em Cotton crown, novo disco do The Tubs – que basicamente apresenta-se como uma banda entre o jangle rock e o punk do Clash, o que corta qualquer sensação estranha vinda das letras e da capa.

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  • A fase final do Hüsker Dü no podcast do Pop Fantasma
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Pelo que dá para perceber por algumas letras de Cotton crown, o músico queria tentar escrever sobre o assunto com um despojamento digno das canções de bandas como Replacements e Hüsker Dü. Ou seja: aquele tipo de música que só vinte anos depois você percebe que falava sobre depressão, ou sobre algum tema bem mais complexo.

Faixas como The thing is, Freak mode e Illusion nao chegam a tocar no assunto da capa – mas deixam entrever um clima de vazio, de desassociação (“quando olho no espelho / às vezes, tudo o que vejo é um espaço vazio”). Narcissist, uma das faixas mais melódicas do disco, prega que “Jane diz que você é um (ou uma) narcisista / bem, eu quero ver / você deveria fazer isso comigo”.

Entre punk rocks melódicos e faixas que soam como um encontro entre The Clash e Big Star, o grupo impressiona pelos vocais intensos e combativos, no melhor estilo Joe Strummer, emoldurados por violões bem marcados. One more day transita entre o jangle pop do R.E.M., a melancolia dos Smiths e a sombra do Joy Division, puxada por vocais graves e uma atmosfera soturna. A letra fala de um sonho com alguém que se foi, e gira em torno de uma súplica: “você poderia me dar mais um dia”.

No final, tem Strange – uma faixa solar, ligada ao country-rock e com ritmo ligeiramente funkeado. Poderia ser uma música do Capital Inicial no estilo de Não olhe pra trás, se a banda brasiliense topasse inserir uma ligeira paredinha de guitarras em suas canções. A letra, sem rodeios, recorda o momento em que Owen leu sobre a morte da mãe no jornal.

“No velório, alguém pegou meu braço / disse que você poderia escrever uma música para homenagear sua mãe / disse que a banda poderia escrever uma música”, canta Owen. Um tom que, de fato, soaria estranho em livro – mas que em canção, dá a impressão de uma dor contida, de quem ainda não teve tempo de ver a ficha cair, e acaba sendo forçado a encarar a realidade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Trouble In Mind Records
Lançamento: 7 de março de 2025.

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