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Cultura Pop

Jim Capaldi reeeditado e relembrado

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Jim Capaldi reeeditado e relembrado

Muita gente não sabe disso, mas existe uma escola de música com o nome de um conhecido roqueiro inglês em Vicente de Carvalho, bairro da Zona Norte do Rio. O Centro Musical Jim Capaldi, criado pelo ex-baterista do Traffic, já ultrapassou uma década dando aulas de canto, cavaquinho, percussão, violão e prática de conjunto para crianças do entorno do bairro – lugares como Conjunto Residencial do Ipase, Morro do Juramento, Jardim do Saco, Morro do Trem, Jardim do Carmo e Morro da Fé. O centro é parte integrante  da Associação Beneficente São Martinho.

Jim Capaldi (1944-2005), muita gente deve saber, tinha relações reais com o Brasil: casou-se com uma carioca, Anna Capaldi, e morou no Brasil por alguns anos, a partir do fim da década de 1970. Além do Traffic, manteve uma carreira solo repleta de lançamentos, alguns deles gravados no Brasil. Chegou a manifestar preocupação com a situação do país em canções como Favella music, lançada em 1981.

Anna vem tocando o centro com a ajuda das filhas, Tabitha e Talullah (a caçula, nascida no Rio). A mais velha, Tabitha, também ajuda a tocar o legado do pai (que, aliás, faria 77 anos hoje, dia 2 de agosto de 2021). Ela recentemente percebeu que um dos discos mais significativos de Jim, Short cut draw blood, o terceiro, lançado originalmente pela Island em 1975, estava fora das plataformas digitais, apesar de já ter sido reeditado em CD. Lutou pelo relançamento digital do álbum, repleto de letras críticas em relação à maneira como os povos oprimidos sçao tratados. E cuja ficha técnica traz super musicos como Steve Winwood (teclados, guitarra, baixo), Remi Kabaka, Rebop Kwaku Baah (ambos percussão) e Chris Spedding (guitarra).

Tabitha também vem tocando projetos como o site de Jim (que estará devidamente reformado em setembro) e o instagram do artista. Trabalha também num filme sobre o Traffic e na volta aos palcos de um ex-colega de banda do pai, Steve Winwood, que retorna em turnê ao lado do Steely Dan em 2022. Batemos um papo com Tabitha sobre os novos projetos, sobre a escola de música (que precisa de doações – saiba mais aqui) e sobre a infância dela, cercada de música e de histórias envolvendo nomes como George Harrison e David Gilmour.

Nunca tinha escutado o Short cut draw blood e fiquei impressionado com as letras. A faixa-título poderia ter sido feita hoje. O disco não estava disponível no digital, então?

Não, lançamos agora. É essa a grande questão. A gente tem uma empresa, Freedom Songs, que meu pai criou, e administramos parte do catálogo dele, que é nosso. Tem certos discos que estão com majors, esse especificamente é da Island Records, uns outros com a Warner. Era um trabalho que a gente estava fazendo, mas digital a gente nunca prestou atenção. Minha mãe estava administrando esse catálogo havia muitos anos, depois que meu pai morreu em 2005 ela estava à frente disso. Era um trabalho mais de discos físicos, box sets, mas o digital foi esquecido. Recentemente eu estou tomando mais à frente.

Desde quando você cuida dessa parte?

Comecei ano passado, 2020. Eu sempre trabalhei com direito autoral, fiquei onze anos na BMI (sociedade arrecadadora). Trabalhava com gravadoras pequenas em Londres. Eu ajudava minha mãe nesse lado, vendo tudo. E descobri que esse disco nunca tinha sido lançado, foi um erro muito grande da gravadora. Entrei em contato com o novo chefe da Island, que eu havia conhecido quando trabalhava na indústria – é o Louis Bloom, o pai dele era integrante da banda 10cc (o Graham Gouldman). O Louis até pediu desculpas pelo disco não ter saído.

Você não quis nunca ser musicista?

Muita gente até perguntava isso, porque tendo pai músico, é uma influência. Tive um pai com ele, vivi uma vida como a que eu vivi, cercada de grandes músicos… Mas eu me sentiria muito intimidada. É muito difícil crescer nesse mundo. Conheço muita gente assim, até aqui no Brasil você tem filhos de músicos, como o Pedro Baby (filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes), mas é um caminho muito difícil, você tem que ser fantástico, está sempre sendo comparada com seu pai. Eu já entendi desde cedo que não iria para essa área.

Meu pai nem incentivou muito a mim e a minha irmã a entrar em nada na música. Era tipo “ah, vira médica, advogada” (risos). Bom, claro que se eu quisesse ser artista ele teria apoiado. Mas eu queria ficar perto da música e fui para a indústria.

Já andaram saindo box sets do Jim em vinil, certo?

Em 2019 saiu uma box set de vinil do Traffic, seis discos de vinil. Foi primeiro box do Traffic, até pela trilha dos Vingadores, que fez sucesso. Teve um box set em 2020, Dear Mr Fantasy, que foi um trabalho feito ao lado do selo Cherry Red. E um chamado Open your heart, com os discos em vinil, inclusive o Short cut draw blood. Em breve vão sair os vinis individualmente, que eu acho que são um produto bem legal. Estamos muito felizes com isso.

Aliás você deve ter crescido cercada de vinis…

Eu fui cercada de muita música, era algo até meio irritante: “Oh, seu pai é um músico famoso!”. Cresci entendendo música a fundo, estava cercada de música desde pequena, sempre ouvindo. Lembro do meu pai me levando pra ver o The Who, acho que foi um dos primeiros shows que vi na vida, no Hammersmith Apollo, começo dos anos 1970. Cresci em Henley-on-Thames, um lugar pequeno em Londres, e George Harrison morava do lado, a cinco minutos de lá. E ainda tinha David Gilmour que morava também do lado. Era uma área cheia de músicos. Eu ia para a escola, tinha amigos normais, mas voltava para casa e estavam o George Harrison ou o David Gilmour sentados à mesa lá em casa (risos). Era fantástico.

Vocês iam muito às casas deles?

Lembro de ir à casa do George Harrison porque ele e meu pai eram amigos próximos. Cresci ao lado do Deep Purple, Jon Lord e Ian Paice eram amigos do meu pai, bem próximos da minha família. Passávamos muito tempo juntos e havia muitas jam sessions. Você ia na casa do George e tinha uns cem ukeleles. Ele te dava um na porta e todo mundo tinha que tocar. Eu vivia nesse meio, via todo mundo tocando e era meio estranho para uma criança. Perguntavam “o que você fez no fim de semana com sua família?”. Falavam: “Ah, eu fui no parque com a minha mãe”. Eu respondia: “Ah, fiz uma jam com Ringo Starr e Ian Paice” (risos). Uma vez na casa do George, Ravi Shankar estava lá, eu tinha 16 anos. O Billy Preston estava no piano, sabe o Billy Preston?

Claro!

Pois é, eu estava sempre cercada de músicos e volta e meia me perguntavam se eu queria ser cantora, musicista. Não dá, isso é muito intimidador. Mas era uma vida incrível para se ter à minha volta. Eu tinha muita música em casa, alias eu tinha uma jukebox em casa. Meu pai era fanático por música, havia música no carro no caminho da escola, na jukebox quando acordávamos, ou no aparelho de som, ou no estúdio em casa. Ele estava sempre ouvindo alguma coisa, ou escrevendo alguma coisa. Ele era definitivamente um “old guy”, um cara que curtia coisas antigas.

Quando eu estava crescendo nos anos 1990, eu entrei na onda de techno, drum’n bass, era uma coisa da minha geração. Lembro que o primeiro selo no qual trabalhei foi uma gravadora de drum’n bass. Conversava com ele e ele “o que é isso? Isso é música de máquina?”. Acho que foi difícil para ele se adaptar, a gente teve muitas conversas sobre isso. Ele era muito apaixonado por soul music, Motown, Ray Charles, Sam Cooke, Otis Redding. Eu aprendi muito sobre música quando bem pequena, tinha muito vinil em casa, mas depois minha “coisa” passou ser o hip hop, quando eu tinha uns 13 anos. Depois na BMI tinha que trabalhar com outros selos, tinha que assinar com Bloc Party, Amy Winehouse, Arctic Monkeys, trabalhei com montes de pessoas, tinha que ver gigs. Mas vi Ray Charles, The Who, isso explodiu minha mente. Quando você é criança nem entende quem são esses artistas. Uma vez cheguei em casa e quem estava lá era o (tenista) John McEnroe, que era fã do meu pai. Meu pai era fã de esportes e no Brasil, se apaixonou por futebol.

Jim Capaldi reeeditado e relembrado

Jim Capaldi e Tabitha

Você nasceu no Brasil?

Não, eu nasci em Londres e vim para o Brasil em 1978, 1979. Minha irmã nasceu aqui. Cheguei aqui com um ano de idade. E morei aqui até os seis anos. Voltamos para Londres acho que em 1984, e passei minha infância no Brasil. Meu pai já tinha vindo ao Brasil, ele conheceu minha mãe em Londres em 1975, quando ela foi para lá estudar inglês. Eles se conheceram e em três meses se casaram e ela já estava grávida de mim! (risos) Tenho lembranças legais do Brasil, da praia, e de quando voltei para a Inglaterra que foi um choque, por causa do frio. Mas durante o período em que vivemos aqui, ele estava sempre viajando muito, gravando outros discos. Estava sempre na estrada, longe, ficava um tempo sem vê-lo. Mas era minha vida. Eu chegava a pensar que queria que ele trabalhasse num banco ou algo do tipo. “Será que você não pode ter um emprego normal?”, eu falava.

Além de ser um grande baterista, ele também foi um cantor e um letrista habilidoso e informado – tanto que o disco fala de ecologia, preocupação com os povos indígenas… Isso era discutido em casa com vocês?

Ele era interessado nisso sim. Meus avós eram italianos, meu avô tocava acordeom, ambos eram músicos. Minha avó cantava. Eles se encontraram porque a família da minha avó tinha um circo. Eles faziam turnês, davam shows, então meu pai teve um background bem musical. Ele não chegou a fazer uma faculdade, aprendeu muito vivendo com o Traffic na estrada. Mas o primeiro instrumento que ele estudou, na verdade, foi piano. Meu pai estudou música justamente porque meus avós eram músicos.

Ele aprendeu piano antes e já era um cantor antes mesmo de ser baterista e trabalhar com o Traffic. E já estava compondo e cantando antes da banda. Se você lê as letras percebe o quanto meu pai era um letrista, ele escreveu todos os versos do Traffic. Ele tinha um envolvimento muito grande com a questão da ecologia, adorava ler a National Geographic, ler sobre antropologia, era fanático por isso. Ele tinha muitos livros, a educação dele veio dos livros, e o disco inteiro é uma expressão dos sentimentos dele. Há vários tipos de canções nesse disco, até mesmo canções sobre ecologia, mas há outras músicas. Ele queria sempre dizer alguma coisa, queria deixar um statement.

Bob Dylan era a maior bíblia dele, representava tudo o que ele queria dizer. Meu pai era brilhante como letrista. Tem muitas obras que ele escreveu que são bem pop. Mas tinha o lado dele de querer falar dos pontos mais importantes da vida.

E como vai a escola de música Jim Capaldi? Como está sendo nessa época de pandemia?

Então, hoje estamos passando um momento ruim. Eles precisaram reduzir equipes no Instituto São Martinho. Estamos enfrentando um furacão nesse momento, em que está tudo muito difícil para várias ONGs. Somos baseados em doações, isso caiu muito nesse último ano, e tivemos uma redução de 90% de equipe, praticamente. É algo enorme para a gente, estamos vendo como vamos sobreviver. Não temos apoio do governo, nossa parte é a escola de música que faz parte do São Martinho. A gente pessoalmente – a família Capaldi – doa todo ano para poder segurar e manter os custos, que são 50% da escola. E além disso, fazemos nosso trabalho, pedindo doação. Tivemos uma doação maravilhosa de instrumentos para a escola no ano passado, que foi emocionante para a gente, mas tá sendo muito difícil sim.

É uma pena, mas estamos tentando fazer o que dá, dentro das possibilidades. Tem muitas pessoas pedindo, e não é só o Brasil. Mas o Brasil está enfrentando um problema sério, de desemprego, falta de acesso à comida, uma loucura. É inacreditável pensar que pessoas que ganhavam com seu trabalho hoje nem têm isso. Gente que pagava as próprias contas e que nem consegue mais fazer isso hoje. As doações que pedimos nem são para a escola, são de comida para as famílias que frequentam a escola. Estamos buscando apoio com pessoas, lançando o novo site do meu pai. Tem site, instagram, muita coisa nova vindo aí. Enfim, como meu pai dizia, keep on tryin.

Voltando a Short cut, esse disco saiu pouco antes de você nascer. Você tinha uma relação de infância com ele? Como é a relação sua com a música do disco? 

Eu amo esse disco. Quando você cresce com música, estabelece um relacionamento com ela. Lembro do meu pai tocando muita música, e lembro muito desse disco de quando ia crescendo. Aliás me lembro de ouvi-lo pouco antes do meu pai morrer. Há muitas fases na nossa vida, mas esse disco em particular eu acho fenomenal. Ele também pe cheio de significado por causa daquela época da Inglaterra, aquele monte de greves acontecendo, Margaret Thatcher vindo aí, um tempo bem horroroso. E tem significado hoje também. Acho que esse disco tem que ser ouvido! O selo no começo estava com a ideia de apenas jogar nas plataformas, mas eu quis fazer uma campanha e eles nem sabiam que ia dar no que deu.

Ele foi gravado no Muscle Shoals Sound Studios (estúdio lendário no Alabama), a gravação faz com que ele seja um disco especial, além das pessoas que trabalharam nele. O disco é uma celebração. Meu pai teve uma leva fantástica de músicos no disco. Eu tenho a ideia de fazer vídeos para as músicas, um making of do disco. Acho que isso nunca nem foi feito. Tinha nomes como o Remi Kabaka, que foi um dos primeiros músicos africanos a tocar rock, e que tocou com todo mundo. Tenho falado bastante sobre isso com o filho dele, Remi Kabaka jr (produtor e músico, conhecido pelo trabalho com a banda virtual Gorillaz).

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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