Lançamentos
It’s the Ocean: delicadeza musical no single “Girassol”

Apesar do nome em inglês, It’s The Ocean é um projeto musical feito no Brasil, e é o codinome de Thiago Alves, que atua como poeta, músico, produtor, escritor e educador. O novo trabalho é definido por ele como “uma declaração artística e um levante contra a insensibilidade e seus males, trazendo à tona reflexões profundas e emotivas sobre a vida e a conexão humana”. Além do It’s The Ocean, ele atua também numa banda chamada Ciel Blue, que está em hiato no momento, e já prepara um álbum para sair pela gravadora Dona Dete Records.
O It’s The Ocean já rendeu alguns singles de 2023 para cá: Rio sem janeiro, Sentimental, Inverta o fim… e o mais recente é Girassol, que chegou às plataformas em outubro. Uma canção que ele define como “a reflexão sobre uma partida”, composta em vinte minutos no violão, e que tem a cantora, compositora e multi-instrumentista Pauline nos backing vocals.
O som mistura elementos de MPB, indie e lo-fi (o texto de lançamento conta que Thiago e os produtores ouviram a música repetidas vezes até perceber que elementos poderia tirar ou acrescentar) e tem influências que vão da música do Clube da Esquina a Elliott Smith – é algo bastante perceptível na música, uma canção minimalista aberta com voz e violão e que, na letra, faz várias perguntas sobre amor e perdas.
Conheça It’s The Ocean aí.
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Lançamentos
Radar: Cristian Dujmović, Bobatahki, Stefan Certic e outros sons da Groover

O Pop Fantasma tá na Groover! Por lá, artistas independentes mandam seus sons pra uma rede de curadores – e a gente faz parte desse time.
O que tem chegado até nós? De tudo um pouco, mas, curiosamente (ou nem tanto), uma leva forte de bandas e projetos mergulhados no pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e afins.
Aqui embaixo, separamos alguns nomes que já passaram pelo nosso filtro e ganharam espaço no site. Dá o play, adiciona na sua playlist e vem descobrir coisa nova!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Cristian Dujmović): Divulgação
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CRISTIAN DUJMOVIC, “FIN DE UN MUNDO”. Esse cantor da Espanha, dedicado ao pós-punk, já havia aparecido outras vezes no Pop Fantasma. Dessa vez, retorna com um single espacial, ambient e triste, que fala sobre uma realidade que todo mundo um dia vai ter que enfrentar: os mundos como a gente conhece, um dia, acabam. E a gente precisa estar sempre se preparando para o fim de uma era, e o começo de outra.
BOBATAHKI, “INSANE”. Compositor, músico e técnico de som, Paul L Jensen decidiu dar uma nova jornada para sua vida musical e montou o Bobatahki, basicamente um projeto punk que fala sobre loucura e violência – no estilo dos projetos antigos de Steve Albini, e do começo do grunge – e que ele define como “música para o seu amigo imaginário”. Insane é o primeiro single, e lembra grupos como Melvins e Tad, com aquela mesma mescla de pós-punk e Black Sabbath.
ESCAPE WITH ROMEO, “YOU NEED THE DRUGS”. Banda bastante misteriosa da Alemanha, o Escape With Romeo fala em seu novo single, You need the drugs, sobre manhãs difíceis de encarar, e de pessoas que não conseguem escapar dos próprios vícios. A argamassa sonora é de hard rock eletrônico, do tipo que pode tocar tanto na noite quanto num festival de metal – mas o som que o grupo mostra em lançamentos como o álbum Suspicious bliss (2024) é um pós-punk bastante centrado em peso e em riffs.
STEFAN CERTIC, “IN MY SKIN”. “Com o lançamento dessa última música, uma história se desenrolou. Você pode tentar decifrar do que se trata – ou sentir do seu jeito”, conta esse músico vindo da Sérvia, que acaba de lançar o álbum World of mine, cuja história foi contada a partir de várias faixas lançadas em singles, uma após a outra. O som é synthpop e darkwave, às vezes em climas solares, às vezes envolto no total mistério.
STEVE LIEBERMAN, “RESISTANCE AGAINST HATE”. Esse músico judeu norte-americano que já gravou mais de 90 álbuns (!) e toca um sem-número de instrumentos, volta agora com um tema ruidoso contra o antissemitismo e contra as guerras. Letra equilibrada, melodia nem tão equilibrada assim, já que são oito minutos de puro barulho.
JEREMY SERWER, “HORNS AND STARS”. Esse cantor e compositor de San Francisco, Califórnia, não tem nada a ver com os climas ensolarados da região – o negócio dele é pós-punk com vibes aterrorizantes. Ele define seu novo disco, The nines, como “uma jornada caleidoscópica de 18 faixas inspirada em filmes de terror, bizarrices da ficção científica e nos absurdos surreais da vida moderna. Horns and stars fala de um demônio bem atraente, que dirige um Lincoln Continental preto 1961. O som lembra bastante The Damned.
BRIAN MICHAEL HENRY, “FAMILY STYLE”. “E se o Leatherface do filme O massacre da serra elétrica levasse o namorado pra conhecer a família?”, pergunta-se Brian, um cantor e compositor de Nova York que acaba de lançar o álbum Jokes for angels, gravado em seu apartamento, e que tem uma abordagem bem interessante de pós-punk e punk – com melodias ganchudas inspiradas por David Bowi e vocais no estilo de Roy Orbison. A faixa Family style conta o que acontece no tal encontro.
Crítica
Ouvimos: Bruce Springsteen – “Tracks II: The lost albuns” (box set)

RESENHA: Caixa Tracks II: The lost albuns mostra os desafios e projetos secretos de Bruce Springsteen a partir dos anos 1990 – além de um álbum secreto “de garagem” dos anos 1980.
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Tem um detalhe que você vai perceber de cara quando começar a ouvir Tracks II: The lost albums, a nova caixa de Bruce Springsteen, cheia de álbuns que ele deixou gravados durante os anos 1980, 1990 e após. Não é uma caixa complexa de ouvir: você vai querer chegar até o final bem rápido como quem lê um livro excelente. E – caso raro nesse tipo de lançamento – a audição pode ser recomendada até a quem conhece bem pouco da obra de Bruce. São 83 faixas que passam voando.
O mergulho de Bruce em seu material antigo trouxe pela primeira vez, por exemplo, LA Garage Sessions ’83, álbum que faz a ponte entre o clima sombrio e introspectivo de Nebraska (1982) e a porrada arenística de Born in the USA (1984). Um som orgânico, cheio de silêncios, que mostra Bruce numa onda quase lo-fi – evidentemente não com as mesmas intenções e ideias da turma lo-fi de hoje em dia, mas isso nem precisava explicar. Faixas como a estilingada One love (que chega a lembrar Ramones) e Unsatisfied heart (rock gospel country com componente sombrio), são lições de simplicidade musical. Além da beleza de My hometown, que apareceria em Born in the USA (1984), e do protesto anti-KKK de The klansman, quase um pós-punk, dominado por sintetizadores.
- Relembrando: Keith Richards – Talk is cheap (1988)
- Ouvimos: Bruce Springsteen & E Street Band – Land of hope & dreams (EP)
LA Garage Sessions ’83, por sinal, é o único disco do box que traz o Bruce pré-We are the world, jovem e quase 100% confiante. Uma boa parte da caixa foi feita nos anos 1990, época que trouxe muitas dúvidas para o cantor. Logo no começo da década, Bruce se viu numa sinuca de bico, quando lançou dois discos simultâneos (Human touch e Lucky town, de 1992) sob olhares feios dos executivos da Columbia, que achavam que o catálogo de Bruce estava perdendo força. Foram só três discos na década e o melhor deles foi The ghost of Tom Joad (1995), acústico e sombrio – volta e meia comparado a Nebraska, mas o astral não é o mesmo e há integrantes da E Street Band participando.
Dois discos da caixa são assombrados (ai) por Tom Joad. Um deles é Somewhere North of Nashville, disco gravado quase ao mesmo tempo que ele, e que oscila entre o country e o rock antigo – chegando a lembrar em alguns momentos o lado mais vintage de Talk is cheap, primeiro disco solo de Keith Richards (1988). Não seria um grande destaque da carreira de Bruce se fosse lançado na época. E na real, esse disco só faria sentido se o astro de Born in the USA não fosse um artista de quem de se espera projetos grandiloquentes e vendagens astronômicas. Músicas como Repo man, Poor side of town (hit imortalizado por Johnny Rivers) e a releitura country de Janey, don’t you lose heart soam mais como distrações, enquanto Bruce tentava entender a década.
O outro é The streets of Philadelphia sessions, de 1994, feito antes da reunião de Bruce com a E Street Band, e que no imaginário dos fãs sempre foi o “disco eletrônico” do cantor, rebocado pelo tema do filme Philadelphia, gravado por ele em 1993. Bom, Blind spot, logo na abertura, parece um rascunho de Streets of Philadelphia, Between heaven and Earth, que vem bem depois, também. O batidão dance Maybe I don’t know iria assustar vários fãs da antiga, caso fosse lançado como single. O quase r&b Secret garden, idem.
The streets só não é o disco mais fora do padrão de Tracks II porque Bruce ainda resgatou Faithless, trilha sonora de um “faroeste espiritual” que nunca foi feito, em que seu som vai do ambient ao gospel, cabendo nada menos que três temas instrumentais – nesse disco, destaque para a beleza de All god’s children. E ainda inciuiu na caixa Inyo, um dos discos mais “chupa Trump!” do set, com mariachis, temas mexicanos e músicas sobre as fatias mais prejudicadas de toda e qualquer pirâmide da economia nos EUA.
- Lembra do Arc, do Neil Young?
Tracks II guarda mais duas surpresas. Uma delas é Twilight hours, álbum gravado em 2019 (ao mesmo tempo em que o disco Western stars era feito), com Bruce transformado em cantor e compositor de pop norte-americano clássico – o repertório tem até um samba de gringo na estileira de Sergio Mendes e Herb Alpert, Follow the sun.
Já Perfect world é (segundo Bruce) o único disco da caixa que não nasceu como um álbum, e talvez seja o melhor álbum da caixa, com músicas feitas entre os anos 1990 e 2000, e “coisas” que ameaçam sair do controle, como a mântrica You lifted me up, e Rain in the river – esta, um batidão ritmado e funkeado, cheio de ruídos de guitarra, quase um espelho das guitarrices de Neil Young na mesma época.
A sensação, ao final da audição de Tracks II, é de que ainda há muito de Bruce a ser descoberto – e há mesmo, já que a limpeza final do cofre só vai se dar com o lançamento da caixa Tracks III, que já foi até finalizada.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Columbia/Sony Music
Lançamento: 27 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Lùlù – “Lùlù”

RESENHA: Lùlù mistura punk, power pop e glam em italiano e francês, com ecos de Raspberries, Clash e Ramones. Clima de amor ansioso e barulho doce.
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O Lùlù vem da França, canta em italiano e francês, e faz punk e power pop – ou como eles costumam dizer, “canções de amor para os ansiosos e pérolas do glam rock para os sonhadores”. Você pode até dizer que não se trata de um som necessariamente original, mas provavelmente inovar não é a intenção deles, e a mistura de referências do grupo é ótima. Aponta para evocações de Bram Tchaikovsky, Raspberries, Big Star, Buzzcocks, The Jam e até pop italiano dos anos 1960.
Em Lùlù, o disco, rola até uma carta de amor musicada ao clube roqueiro favorito deles – Sonic, Lyon, em tom meio Ramones, meio surf music oitentista. Músicas como Lùlù e Ma si ma lo unem peso e melodia como se os músicos fosse imunes a influências do punk atual. Sogni d’oro, balada com clima sixties, é o tipo de música que os Raveonettes só gravariam se pudessem cobrir tudo com microfonias.
Sur la corde, punk anos 1990 unido com senso melódico do Clash, revela que o dia a dia do grupo tem sido de muita luta, talvez mais do que glórias. “E os amigos que a gente perde nessa furada / nas bandas de rock, a gente se ama, se irrita (…) / Quanto mais o tempo passa, mais meu coração se despedaça / debaixo do cobertor, a depressão me caça / e esse policial na minha cabeça não me larga”. O power pop Pugni in tasca (“punhos no bolso”), canção de selvageria dosada, idem: “Se você não gosta da minha música / se na sua parte da cidade me odeiam / diga isso na cara”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Howlin Banana Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.
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