Connect with us

Lançamentos

Isolation: punk assustador e quase psicodélico da França

Published

on

Isolation: punk assustador e quase psicodélico da França

O som do Isolation, uma banda nova da França, assusta. E muito. Raphaël Balzary, criador do grupo, ex-vocalista do furioso We Hate You Please Die (cujo disco mais recente foi resenhado pelo Pop Fantasma aqui) decidiu montar a banda ao lado dos integrantes do grpo Cheap Teen (Julien, Lounès, Enzo e Cyprien). O grupo lançou um EP no começo do ano, Creature lies, e traz um som autodefinido como “do pós-punk ao pop, passando pelo garage e muitas outras coisas”.

Apesar do nome, não se trata de uma referência ao Joy Division – que, você deve saber, tem uma música chamada Isolation (bom, John Lennon também tem…). “Na hora de escolher o nome, um dos caras sugeriu Isolamento . Teve um eco e um significado sérios”, contou Balzary ao site francês Rock&Folk. Na verdade, as influências do novo grupo estão mais para Fontaines DC, Nine Inch Nails e Eels, como fazem questão de afirmar.

A ideia original de Balzary era “uma espécie de suíte espiritual, tocar composições antigas e acrescentar coisas novas, sempre na mesma linha, catártica, urgente e terna ao mesmo tempo”, contou. No release, ele acrescenta que agora “cada momento de doçura é pago, as emoções agora são livres, a raiva é a figura de proa”. Boa parte do material do grupo, nas letras, une introspecção e intensidade, e faz uma “análise crítica da percepção de doença mental em nossa sociedade, psicofobia e solidão”.

Creature lies tem uma canção de tom quase gótico, como Sanism, marcada por vocais que soam desesperados, todos em inglês (com algum sotaque francês), e por riffs de guitarra associados ao novo punk britânico (Shame, Fontaines DC). Creature lies, a faixa-título, explora um lado que pode ser associado ao próprio Joy Division, até que começa uma gritaria e a música explode num design sonoro punk. Wait + erased abre com riff de surf music, e se torna quase uma mescla de Pink Floyd (fase Syd Barrett) e Bauhaus. Ouça em alto volume aí embaixo.

  • E esse foi um som que chegou até o Pop Fantasma pelo nosso perfil no Groover – mande o seu som por lá!
  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Crítica

Ouvimos: Hotline TNT – “Raspberry moon”

Published

on

Em Raspberry moon, o Hotline TNT acerta ao misturar noise, power pop esquisito e guitarras noventistas com letras simples e clima quase emo.

RESENHA: Em Raspberry moon, o Hotline TNT acerta ao misturar noise, power pop esquisito e guitarras noventistas com letras simples e clima quase emo.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Rotular a banda novaiorquina Hotline TNT como shoegaze é dar bem pouca areia para o caminhão deles. O grupo liderado por Will Anderson está mais para aquela época em que se sabia que rock, via de regra, tinha que ser ruidoso – seja lá em que gênero ele se adequasse. Raspberry moon, terceiro disco do grupo, guia o timão para os tempos de Hüsker Dü, Sugar, Velocity Girl, Dinosaur Jr e põe os rangidos e as paredes de guitarra para funcionar a favor da melodia.

Raspberry moon traz Will num clima diferente: em vez de compor e tocar sozinho, como aconteceu nos discos anteriores, ele pôs a galera que o acompanha nos shows para criar o disco ao lado dele. Boa parte do repertório soa mais próximo, de fato, do que pode ser entendido como um “disco de banda”, com dinamismo mais acentuado, e variando entre ruído e melodia. Was I wrong?, na abertura, é noise rock educado e alimentado como uma dieta de rock dos anos 1960. The scene é quase um haikai ruidoso e voltado pata a musicalidade pesada dos anos 1990. A ligeiramente funkeada Julia’s war tem cara de hit e chega a lembrar aquelas bandas mais palataveis que usavam a fórmula do grunge (Third Eye Blind, etc).

  • Ouvimos: Dinosaur Jr – Farm (15th anniversary edition)
  • Ouvimos: Velocity Girl – UltraCopacetic (Copacetic remixed and expanded)
  • The living end: lembranças do Hüsker Dü ao vivo, em CD lançado em 1994
  • Entrevista: Greg Norton (Hüsker Dü, Porcupine) exclusivo para o Pop Fantasma

Isto posto, dá pra dizer que o Hotline TNT se aproximou bastante do power pop no disco novo – aliás num papo com a newsletter Last Donut Of The Night, Will disse que, quando mais novo, ouvia bandas como Weezer e Red Hot Chili Peppers. Mas é um power pop esquisito, no qual cabem loucuras vaporwave (Transition lens), um clima que remete tanto a Joy Division quanto ao soft rock (Break right e Candles) e um pós-grunge como talvez ele devesse ser hoje em dia (Letter to heaven).

Aclimatações jangle-pop tomam conta de Dance the night away, e ruídos acústicos rangem nos violões ardidos de Lawnmover – enquanto uma nuvem sonora mais próxima do shoegaze que costuma ser associado à banda aparece na última faixa, Where U been?. Já as letras valorizam a simplicidade, ou o desejo de ser entendido (e sentido) em poucas frases. Há mensagens de adeus em Was I wrong? e Letter to heaven, um curioso conto de escalada em Julia’s war, e inseguranças amorosas em várias faixas, num clima praticamente emo – como o “se você realmente me amasse / faria uma cena de ciúmes / visibilidade / e todos veriam” da amarga The scene.

Talvez esse prazer por mostrar o lado mais imaturo da vida corte um pouco da boa experiência de ouvir o Hotline TNT. Mas Raspberry moon faz bem aos ouvidos quase todo o tempo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Third Man Records
Lançamento 20 de junho de 2025.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Getdown Services – “Primordial slot machine”

Published

on

Em Primordial slot machine, o Getdown Services mistura pós-punk, soul e krautrock com humor ácido e melodias tortas, em faixas caóticas e cativantes.

RESENHA: Em Primordial slot machine, o Getdown Services mistura pós-punk, soul e krautrock com humor ácido e melodias tortas, em faixas caóticas e cativantes.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Dupla de Bristol, na Inglaterra, o Getdown Services parece um cruzamento de Prince, Beck e John Lydon – ou seja: balanço, estranhice e zoeira marcam o repertório da dupla formada por Josh Law e Ben Sadler.

Primordial slot machine, terceiro EP dos dois (eles têm ainda um álbum, Crisps, de 2023) abre com o pós-punk desértico de Provide me your name, música na qual rola uma conversa telefônica das mais esquisitas. E em seguida vem Chrysalis, soul-rock-pop com piano Rhodes, guitarra sinuosa e vocal falado – a letra basicamente fala sobre situações estressantes resolvidas de maneira imbecil (“vou formar uma crisálida perfeita / e enchê-la de mijo”, explicam/não explicam na letra).

  • Ouvimos: The Wants – Bastard
  • Ouvimos: Godofredo – Tutorial
  • Ouvimos: Unknown Mortal Orchestra – Curse (EP)

Ben e Josh investem num eletrokrautrock ruidoso em James Bay’s hat e Eat quiche. Sleep. Repeat, duas músicas cujas letras parecem uma mistura da inocência falsa de David Byrne com o humor corrosivo de Mike Patton (“eu encontrei o maior amor do mundo / no menor meet and greet do mundo / dei uma crítica de duas estrelas de um filme que eu nem tinha visto”, afirmam na segunda). God bless é um rap que parece ter sido construído num sample – ou numa imitação – da levada de Rational culture, de Tim Maia.

A música mais “normal” do disco, Drifting away, vem no fim, e fala sobre vontade de desaparecer (“sou corajoso, mas não corajoso o suficiente para ficar / indo embora”) sob uma base de rock indie e sessentista, com vocal grave lembrando Lou Reed. Para ouvir quando a amargura desses dois não conseguir te contagiar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Breakfast Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Vovô Bebê – “Bad english”

Published

on

Quarto disco de Vovô Bebê, Bad english mistura Bowie, Jovem Guarda, baião e soul em um pop experimental cheio de referências e surpresas.

RESENHA: Quarto disco de Vovô Bebê, Bad english mistura Bowie, Jovem Guarda, baião e soul em um pop experimental cheio de referências e surpresas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Quando começaram a surgir as notícias sobre Bad english, quarto álbum de Vovô Bebê – codinome do músico Pedro Dias Carneiro – nomes como David Bowie eram bastante citados em textos que adiantavam o disco. Bowie paira como uma espécie de santo padroeiro sobre Bad english, disco produzido por Chico Neves e dirigido artisticamente por Ana Frango Elétrico – e a capa parece referir-se a uma versão torta de Blackstar (2016), seu disco de despedida.

E justamente o Bowie que baixou no estúdio em que Vovô Bebê gravou foi a versão mais aventureira e experimental do britânico – a da fase Berlim e a dos discos que ele fez nos anos 1990, incompreensíveis para vários fãs antigos, e revistos anos depois por vários deles. Não é só isso: o despojamento dos discos de Gilberto Gil e Caetano Veloso feitos em Londres, e até o balanço dos Red Hot Chili Peppers, além do desdobre psicodélico da Jovem Guarda (Incríveis, Silvinha, Vanusa)… Tudo isso é citado em faixas como Intro/End of the moon, Forest baby (essa, em tom bossa + rock + soul + Bowie), a contemplativa e sinuosa Little sun, a espacial Night away e a beatle-tropicalista Offbook effort.

Bad english une Beck e disco music saturada em Star smoke ticket, põe algo de glam rock na mistura em Wrong ticket, e junta baião, afoxé, jazz e lisergia em Brazil commodity e Left for dead. O soul indie Daily basis slide guitars, voz tranquila e um balanço que remete tanto a Marcos Valle quanto a Titãs. Tem experimentalismo, e muito, em Bad english – mas ele surge como um elemento a mais nas canções e arranjos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Estúdio304
Lançamento: 23 de abril de 2025.

  • Ouvimos: Ana Frango Elétrico – Me chama de gato que eu sou sua
  • Ouvimos: Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – Música do esquecimento
  • Ouvimos: Julia Branco – Baby blue

Continue Reading
Advertisement

Trending