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Faixa a faixa: Década Explosiva, “A distância entre as cidades”

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Década Explosiva é originalmente o nome de um grupo “pirata”, formado por músicos de estúdio, que gravou coletâneas de covers de sucessos internacionais nos anos 1970, pela antiga Odeon. É também o nome do projeto musical do artista alagoano Marcos Cajueiro, nascido em Arapiraca, com mais de quine anos de carreira independente, passando por bandas como Capona e My Midi Valentine.

“Cresci ouvindo esses discos, em casas de parentes”, explica ele, que lança agora o EP A distância entre as cidades, um disco marcado pela influência da música easy listening (tons de Beatles e Beach Boys podem ser ouvidos aqui e ali). “Na época que fiz essas canções eu estava num relacionamento a distância, então é uma coisa concreta”, recorda Marcos. “Mas também tem uma obra do artista cearense José Leonilson, um bordado que tem as frases ‘se você sonha com nuvens’ e ‘a distância entre as cidades’, que gosto bastante. E ele junta o nome do álbum com o nome da terceira faixa”.

Marcos, que compôs sozinho todas as músicas do disco, mandou um faixa a faixa para o Pop Fantasma. Ouça lendo (foto: Jamille Queiroz/Divulgação).

1 + 1 = 1. A harmonia e a melodia dessa faixa são os elementos mais antigos no disco. Lembro que a fiz no violão, quando ainda morava com minha mãe, há uns 15 anos. Ela estava muito estressada naquela época e odiava o som insistente de qualquer instrumento perto dela. Por isso, comecei a tocar no violão da forma mais suave e minimalista possível. Afinei em D para conseguir acordes abertos mais graves e então foram acontecendo algumas inversões.

Tentei muito formatar essa composição em alguns de meus projetos anteriores, mas nunca rolou. Quando eu já tinha três faixas definidas para o disco de agora, veio-me a ideia de trazer aquele velho tema como introdução. Experimentei colocar letra na primeira parte do riff de guitarra, mas acabei percebendo que as palavras não eram necessárias ali. Aquilo que queria “dizer” já estava naqueles acordes. Foi quando descartei todo o vocal que havia antes de “rua aberta em mim”.

Resolvi deixar a primeira parte do tema só com a guitarra, por cinco vezes (há algo com os números ímpares em música). Nos encontros com a banda que gravou comigo (Arnon Câmara, bateria; Matheus Miranda, teclados; Reuel Willys, baixo) ainda tentamos acrescentar ambiências na primeira parte (antes da entrada do vocal). Criamos ruídos, colagens aleatórias, sons invertidos de sintetizadores… As ideias eram até legais, mas, após tantas tentativas, senti que a primeira parte deveria conter apenas guitarra e silêncio.

Em O ouvido pensante, Schafer diz que as canções também nos ouvem. É justamente esse minimalismo de 1 + 1 = 1 que cria espaço suficiente de escuta para deixar a música ouvir. E à medida que os acordes vão decaindo em silêncio, os sons ao nosso redor começam a se tornar mais perceptíveis. O vocal entra exatamente quando ocorre uma modulação tonal. Suspeito que aqui haja algo de Tom Jobim no vocal, algo presente nas canções mais introspectivas na linha piano e voz, tipo “canção em modo menor”.

Uma das coisas mais surpreendentes e maravilhosas dessa canção é a percussão que o Gilú Amaral criou para ela. A música já estava “pronta”, em fase de mixagem, quando tocou aleatoriamente no meu streaming Dança do pajé, do Hermeto Pascoal. Naquela hora, soou um estalo: “é isso!”. Talvez faltasse um elemento místico, algo que evocasse uma natureza encantada. Foi quando pedi ao Matheus algumas frases de piano elétrico meio “arpeggiadas”.

Disse ao Thiago (do estúdio Toca do Lobo, onde o disco foi masterizado) que precisava de uma percussão como aquela. Ele disse que tinha gravado no dia anterior com um percussionista muito bom (e ele tava certo). Isso levou a música exatamente (e mais um pouco) para a atmosfera que eu queria. Inclusive, ela ainda apresentava uma parte final só de guitarra que acabei cortando nos últimos momentos da mixagem, já que não me parecia fazer mais sentido qualquer coisa depois do clímax.

Os versos são frases que se referem a uma paisagem emocional que não pode ser nomeada. Alguns desses versos foram coletados, como “rua aberta em mim”, de Walter Benjamin, referindo-se a uma paixão. “Summer, hummingbird” é de um lindo poema de Raymond Carver. O título da canção aparece escrito na parede num cenário do filme Nostalgia, de Tarkovsky.

Lembro que pesquisei a respeito da equação 1 + 1 = 1. Encontrei um texto que, de acordo com a tradução do google, afirmava que a sequência tinha algo relacionado ao monismo, à unidade das coisas, à imagem de uma gota de água que se junta à outra gota de água formando não duas gotas diferentes, mas uma única gota. Essa ideia é retomada em Década explosiva romântica, com o verso “eu sou você”.

ARIZONA SONHO. O riff principal de Arizona sonho me perseguia há um tempo. Tinha tentado desenvolver esse rascunho algumas vezes, mas não encontrava uma forma. Faltava refrão. Foi quando assisti, em 2020, ao filme Arizona dream (1993), do Kusturica. Já gostava muito do realizador e achei especialmente bonito um monólogo do personagem interpretado por Johnny Depp. Fui pesquisar no script do filme e não sei explicar bem como isso ocorreu, mas percebi que as frases encaixavam perfeitamente com a métrica daquele velho riff e que elas poderiam ser os versos da canção. Obrigado, Kusturica, meu parceiro, pelos versos!

Àquela altura, precisava como sempre de um refrão (malditos refrões, estão cada dia mais difíceis de se pescar). Ouvindo um antigo rascunho, meio jam, do riff, percebi que havia tentativas de improviso para uma linha de baixo e que, em determinado momento, surgia a frase melódica de she is the dream that I have as I wake, então ajustei o final da frase pensando no flow do vocal do Mos Def, na canção Creole do Carlie Hunter. Que música!

Nessa época, ainda não havia o projeto Década explosiva. Eu estava super perdido no hiato pós Capona, sem saber se ainda era indie, se queria ser guitarrista de jazz, cantar em inglês ou português etc. Um pouco depois, quando percebi que tinha material para um EP e que queria mesmo cantar em português, pensei em alterar a letra. Mas gostava tanto da minha parceria transtemporal com Kusturica que também não podia abrir mão da letra em inglês.

Ao perceber que ainda havia espaço para dois blocos de versos, resolvi fazê-los em português. Quando já tinha verso, refrão e letra, parti à procura de uma linha de baixo. Precisava de algo como aquela linha de baixo absurda de Tart do Elvis Costello, mas como não manjo dos grooves de baixo, simplesmente não me saia.

Ainda sem banda, mas já começando a produção do que viria a ser o disco com Thiago, joguei pra ele a ideia do baixo. Falei da referência e sugeri que ele desenrolasse. Dias depois, ele me alegrou imensamente com a linha de baixo incrível que hoje tá na música. Thiago, além de ser um grande produtor, engenheiro de mixagem etc., é um músico excelente, grande amigo e adorador de gatos.

Em algum momento do final da mixagem, ainda pensei em tirar essa música do disco, numa tentativa de manter certa unidade estética entre todas as outras faixas, que notoriamente possuem elementos MPB 70/80. Mas me dei conta de que a unidade já tava lá. Essa ideia de unidade me vinha por achar que o Pink Floyd não deveria ter gravado Welcome to the machine e Have a cigar no disco Wish you were here. Pensei que simplesmente seria muito foda um disco composto “apenas” por Shine on you crazy diamond (parts I-IV) + Wish your were here + Shine on you crazy diamond (parts VI-IX) – não que as outras duas canções do álbum não sejam legais, mas elas emanam outra atmosfera.

SE VOCÊ SONHA COM NUVENS. Com exceção da letra, Se você sonha com nuvens é uma música antiga. Numa longínqua noite arapiraquense, soube que um grande ex-amor da época da faculdade estava em outro relacionamento, e que eles iriam ter um filho. Isso me deixou meio atordoado e fiquei ali, ruminando a notícia com o violão em mãos. Assim me vieram os acordes e a melodia, quase que de uma vez. Com o tempo, fui alterando alguns acordes e ela acabou ficando mais complexa nesse sentido.

Interessante pensar que, naquela época, meu conhecimento de harmonia era muito básico. Só sabia os campos harmônicos maiores e menores e suas respectivas escalas. Então, não podia justificar nem nomear os acordes subV7 e as modulações, mas sabia que funcionavam bem. Com a banda que tinha naquele período (Super Amarelo, que tem o disco For your babies, 2015), ainda tentamos tocar essa canção com letra em inglês, mas não me parecia dar certo.

Depois tentei levá-la para a Capona, mas nosso querido baterista era muito grunge cheirador de benzina em flanela (metaforicamente falando, é claro), tanto que se negava a tocar uma música tão “fofa”. Quando ele finalmente cedeu, gravamos no disco Atom heart auto (2017) – que eu odeio muito e queria que ninguém ouvisse, diferentemente do Adults are the young who failed (2015), do qual eu gosto muito e queria que todo mundo ouvisse -, com o nome de She’s open seas (nome inspirado naquele título She’s thunderstorms, do Arctic Monkeys).

Contudo, o fantasma dessa canção, mesmo depois de gravada com a Capona, nunca me abandonou. Era como se eu não tivesse lhe dado a forma devida. Segui mexendo nela, alterando acordes, acrescentando cromatismos. Ela começava com E/G# (nossas casas…) e depois seguia para C#7b9. Acabei substituindo esse E/G# por um C#b7#9 (lembro, numa aula de harmonia, um professor ter falado algo como “esse acorde com a nona aumentada não é nem maior nem menor, é ambíguo, tenso.. Há uma música do Toninho Horta que já começa com esse acorde…”).

Aquela foi a primeira vez em que ouvi falar no Toninho e pensei “também quero ter uma música que comece assim”. Depois ainda lembrei do velho caminho darksideano do b7#9 para o b7b9. O último acorde dela era um D7/A, com a melodia finalizando na nota A. Mas, durante as aulas de guitarra jazz, descobri que a galera curtia terminar as músicas numa modulação de acorde com sexta.

Substituí o D7/A por um C6, mantendo a última nota do vocal no A, que é o 6º grau do C – Matheus ainda sobrepõe um acorde diferente (que não lembro qual) no piano e que ficou muito legal. Nessa música, começam os arranjos de metais do disco. Nunca tinha gravado com músicos profissionais, contratados. Fazia bandas com meus melhores amigos, independentemente de suas aptidões musicais.

Lembro que, certa vez, precisava de um guitarrista e meu amigo Rodolfo me disse: “Tem o João Paulo! Agora, assim, ele literalmente não sabe tocar guitarra, mas tem ideias muito boas porque conhece muita coisa foda”.

Minha ideia pro disco, no sentido dos arranjos, era que soasse como algo clássico e velho, no caminho da MPB dos anos 70/80. Então eu tinha essa ideia de arranjo de metais. Além de influências mais diretas como o disco do Verocai (1972), esses arranjos de metais também se remetem a uma vibe easy listening, tipo Burt Bacharach. Esse vocal do refrão tem uma passagem relativamente aguda pra minha voz (F#). Fiz questão de treinar muito pra conseguir alcançar essa nota da maneira mais suave possível. Queria algo com aquele lance melódico suave do Clube da Esquina.

Por fim, o título é de uma obra em bordado do artista Leonilson. Lembro que um amigo comentou sobre essa obra lá por 2007 e aquelas frases – se você sonha com nuvens/ a distância entre as cidades – nunca mais saíram da minha cabeça.

DÉCADA EXPLOSIVA ROMÂNTICA. É curioso pensar que a canção de abertura da maior coletânea de músicas internacionais românticas de todos os tempos (Década explosiva romântica) não é uma canção de amor romântico no sentido conjugal da coisa, mas uma música sobre amizade, a velha ponte sobre as águas “troublulentas”. Preciso ressaltar que Bridge over the troubled water, talvez pelo arranjo e aquele clímax foda do final, seja a melhor canção popular de todos os tempos. Apesar das várias esquinas temáticas ao longo de seus sete minutos de duração, Década Explosiva Romântica é uma canção sobre amizade.

Eu costumava sair de casa para trabalhar com meu computador em algum café de Maceió. Também levava o violão. Ia tocando no caminho de ida, nos intervalos do trabalho e na volta, sempre procurando resolver alguma melodia incompleta. Certa vez, voltando pela avenida Amélia Rosa, acabei recordando uma velha progressão que por algum motivo me soava interessante: | Ab Gm7 | F |. Não sei se essa progressão tem um nome específico, mas o Gm7 funciona como um acorde pivô e a modulação para o F fica quase que naturalmente imperceptível.

Pensei logo que aquela progressão funcionaria muito bem com uma letra em português, pois na época estava perdido na tentativa de compor na minha língua após anos criando quase que exclusivamente letras em inglês. Achei que o caminho seria modular esse F para Fm, daí naturalmente puxei o Bb7/9.

Certo dia, mexendo na progressão que viria a ser o refrão, cheguei na melodia e simultaneamente me veio a frase cantar canções de amor, o que coube perfeitamente. Então tive o insight de me referir à Década Explosiva Romântica. Sou muito fã, desde pequeno, daquelas músicas internacionais super apaixonadas. Tem algo de universal nelas, de catártico, mesmo quando as pessoas não entendem as letras, ainda é possível sentir a força, em qualquer lugar do mundo, inclusive, em Arapiraca, Alagoas.

Então eu costumava fazer umas noites de cantoria com meu querido amigo Tales Maia (ainda tentei o broder, broder… como tales, tales…), da My midi. Ficávamos bebendo, ele tocando piano e eu cantando só as pedras românticas. A gente morava junto nessa época e ele estava numa fase um tanto autodestrutiva, o que me deixava preocupado. Então pensei que a música seria sobre a gente, sobre amizade, depressão e de como poderíamos enfrentar tudo isso cantando em voz alta nossas velhas canções de amor, até o fim.

Em princípio, ela já começava com eu sou você. Lembro que um dia mandei o rascunho a um amigo, que achou a frase muito boa pra ser entregue assim de cara. Foi genial a observação dele. Fiquei sem saber o que fazer, porque é bem mais difícil criar um novo começo do que acrescentar possibilidades ao final. Se eu sou você é uma espécie de conclusão, então eu precisaria primeiramente entender todas as coisas que eu não sou, até restar apenas aquilo que eu sou.

Como numa investigação negativa não dualista, quando você percebe tudo aquilo que você não é, logo encontra a unidade. Então descartei qualquer ideia de introdução. Tinha que começar cantando para que a música não ficasse cansativa. Lembrei de Falso inglês do Toninho Horta e comecei. Mantendo apenas os dois acordes IIm7 – V7, num movimento de tensão sem resolução. Fiz quatro versos e percebi que precisava, sem aliviar a tensão, de um clímax. Consegui compor a linha de baixo groovada no estilo Colin Greenwood. Criei uma vocalização em falsete e fiz um solo de guitarra groovado jazz fusion. Instaurei o mini clímax inicial.

Depois retornei ao bloco de conclusões negativas em tensão IIm7 – V7 até que finalmente cheguei no eu sou você, resolvendo a progressão em C7M. Essa resolução da harmonia com a afirmação da letra talvez seja meu momento preferido de todo o disco. Analisando a harmonia, pensei que poderia ser uma resolução deceptiva modulante, mas depois entendi que a música poderia estar implicitamente em C maior desde o início e que a progressão Fm6 – Bb7/9 poderia funcionar como backdoor progression da tonalidade maior (IVm7 – bVII7 – I). Tais ambiguidades harmônicas são maravilhosas.

Essa é a música mais jazz fusion setentista MPB do disco. Fiquei feliz por ela ter ainda dois solos de guitarra. Tem algo do Jacarandá (1973) do Bonfá. Já havíamos gravado os metais, sem o sax soprano. Foi tudo muito rápido num único dia, sem qualquer conversa prévia com os músicos dos metais. Depois pensei que deveria ter colocado o sax soprano, da forma mais romântica possível ali pelo refrão. Então retornei ao estúdio para gravar algo mais e joguei a ideia de marcar novamente com o Wellington, para ele acrescentar o sax soprano. Por coincidência, ele havia esquecido o carregador do celular no estúdio e voltou para buscá-lo naquela mesma noite. Gravamos o sax soprano e ficou incrível, principalmente quando vem o bloco modal F – Ab – Bb – C e ele solta um improviso que ainda toca meu coração.

No refrão, eu tinha o verso cantar canções de amor, cantar canções de amor, mas sentia que faltava um clímax, uma puxada modulante que pudesse fechar o refrão. Fui pelo caminho que o Herbert usou em Quase um segundo, quando ele faz será que você/ ainda pensa em mim/ será que você / ainda (aqui acontece a quebrada harmônica) pensa em mim / da ra ra ra…. Então saiu o cantar canções que ainda vão nos ouvir, e aqui usei o ensinamento do Schafer.

Lembro com muita alegria da noite em que Reuel e eu harmonizamos as vozes dessa parte (e isso me remete a I’ll remember Frank Lloyd Wright / All of the nights we’d harmonize ‘til dawn). Sou muito fã do Paul Simon e foi um prazer colocar Simon e Garfunkel com sotaque brasileiro na letra. Inclusive, as letras talvez sejam o elemento menos relevante pra mim nas composições, o que eu realmente quero dizer está sempre nos sons, nunca nos seus significados. São os fonemas que me importam. Alma ao mar – soou bem, coube ali e pronto.

RAISA. Fiz as letras do disco em 2020, quando estava deprimido, sem vontade sequer de sair da cama, morrendo de ansiedade, achando que tinha falhado em tudo na vida. Estava apaixonado, mas na época Raisa e eu morávamos em cidades diferentes. Durante as fases mais duras da pandemia, não podíamos nos encontrar. Então fomos nos desencontrando.

Conheci Raisa em 2012, durante uma turnê da My Midi pelo nordeste. Ficamos juntos uma noite. Ela me desenhou algumas vezes depois disso e eu sempre dizia que queria lhe retribuir com uma canção. Nos reencontramos em 2019. Eu tinha passado os últimos anos me prometendo que nunca mais faria uma canção de amor. Dos nossos últimos encontros, ficou a frase “eu sou doidinho por ti”, que ela dizia adorar no meu sotaque alagoano.

É engraçado pensar que há lugares no nordeste brasileiro onde não se fala ti e di, mas “tchi” e “dji”. Então pensei que precisava fazer uma música com essa frase, o que em princípio me incomodava, pois meus ouvidos indies anglosaxões insistiam em taxar a frase como “brega”. Venci isso com a ajuda do Torquato, que, em defesa de um “pop genuinamente brasileiro”, declarou que deveríamos “assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra”.

Comecei a mexer na frase em GM7, fui pra Gm6, F#m7 e fluiu o II – V – I menor. Quando percebi, tinha uma bossa nova. Apesar de estar decidido a percorrer estéticas “clássicas” brasileiras no disco, não queria uma bossa nova propriamente dita, por causa da quase inevitável estrutura harmônica AABA. Queria o bom e velho “verso – refrão – verso – refrão…”.

Com uma violência de jardineiro de bonsai, tentei atrofiar a canção para que ela atendesse a meu desejo, mas ela se mostrou uma árvore indomável e surgiu o segundo galho A, o fruto B e o terceiro galho A. Tava lá, a bossa nova. Daí me lembrei da estreitíssima linha entre shoegazer e bossa nova: melodias melancólicas sussurradas sobre uma base de ritmo lento e levemente dançante. Ela tinha que começar ruidosa, com camadas de guitarras distorcidas, o tremolo deixando o pitch da guitarra flutuando, durante toda a parte A(1).

Em seguida, na parte A(2), percebi que era a hora da transmutação: as guitarras shoegazers dão espaço para o arranjo bossa nova propriamente dito, entram o piano elétrico e as frases suaves de metais. Essa saída da parte A(1)-ruidosa para a parte A(2)-bossa-nova-elegante também é uma das minhas partes preferidas do disco. Fiquei muito orgulhoso quando meu pai ouviu essa canção e me disse que primeiramente achou que tinha algo errado no começo, até que meu irmão explicou a ele que era intencional.

Passei vários anos evitando compor canções de amor (apesar de ouvi-las cotidianamente). Pensava que era algo como ser ateu e adorar a música do Arvo Pärt, mas quando me vi dizendo a Raisa que queria morar com ela, não era mais uma questão de escrever ou não canções de amor. Eu estava, afinal, escrevendo sobre mim.

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Urgente!: E os 25 anos de “Machina”, dos Smashing Pumpkins?

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RESUMO: Smashing Pumpkins comemoram Machina/The machines of God e Machina II/The friends and enemies of modern music, em edições especiais de 25 anos.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Smashing Pumpkins): Jason Renaud/Divulgação

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Existem discos que vivem sob a implicância de fãs, mercado ou até dos próprios artistas – não faltam exemplos disso. Só que também tem uma espécie de “outro lado” da situação: álbuns que fãs e mercado adorariam esquecer, mas que viram obsessão dos artistas que os fizeram.

Um bom exemplo dessa situação aí é um disco que completou 25 anos neste ano. Machina/The machines of God (29 de fevereiro de 2000), o quinto disco dos Smashing Pumpkins, até hoje dá pulga na cama do líder da banda, Billy Corgan, puto da vida com o desinteresse do público por um álbum que ele considera um dos mais fortes da banda. E que marcou a volta do baterista Jimmy Chamberlin ao grupo, após um afastamento por abuso de drogas.

Machina ganhou uma reedição em CD e vinil remasterizada e remixada, que saiu dia 22 de agosto. E também ganha uma edição dupla contendo o material dele, e o de sua pouco lembrada continuação, Machina II/The friends and enemies of modern music, lançada em 5 de setembro de 2000. Só que esse disco sai num box especial com todo o material dos dois Machina, lançado com exclusividade pela casa de chá Madame Zuzu’s, e com o nome de Machina – Aranea alba edition.

E sim, caso você não saiba, é isso aí: havia uma “parte II” do disco, que não chegou às lojas – e, até hoje, nem mesmo ao streaming – porque os Pumpkins decidiram se tornar a primeira banda do mundo a dar música de graça na internet.

O box set Machina - Aranea alba, dos Smashing Pumpkins

2000 não era um ano comum para a música pop, com vários grupos de pop adolescente e de emo fazendo sucesso, e um salto para a queda geral na venda de CDs. Os Smashing Pumpkins não haviam sequer conseguido impressionar sua própria gravadora, a Virgin, com Machina/The machines of God. Um disco que, na concepção de Corgan, deveria ter sido duplo e gerado uma espécie de musical. No roteiro, um astro do rock chamado Zero (uma espécie de alter-ego de Corgan) começa a chamar Jesus de Genésio, passa a se chamar Glass e nomeia sua banda como The Machines of God.

Adore (1998), o disco anterior, já havia feito pouco sucesso e a gravadora preferia que a banda voltasse (ora bolas) a vender discos. Se em Adore a banda resolvera cair dentro do rock eletrônico, no novo álbum os sons artificiais apareciam misturados com guitarras e tons góticos. E geravam pelo menos uma música bizarra, fantasmagórica e complexa, Glass and the Ghost Children, de mais de nove minutos.

Ah, sim, teve Try try try, o grande hit do disco, com clipe feito por Jonas Akerlund em duas versões, contando as desventuras de um casal de junkies, Max e Linda, na cidade grande. Na versão mais popular, Linda, grávida e tendo uma overdose de heroína, é salva pelo gongo e sobrevive. Ela não tem a mesma sorte na versão short film, de quinze minutos. Ambas as versões são deprimentes e perturbadoras, mas o short film encerra (sim, eu vou contar o final) com o corpo de Linda no caixão, rumo à cremação. Barra pesada.

A ideia original do megalomaníaco Corgan era que o projeto Machina fosse lançado todo num pacote só. A Virgin não quis. The machines of God pegou poeira nas lojas e a gravadora também não quis investir no volume 2. No dia 5 de setembro de 2000, a banda soltou o Machina II pelo próprio selo montado por Corgan, Constantinople Records. Era uma, ao que consta, facada nas costas que o músico resolvera desferir em seu próprio selo, por causa da desatenção com Machina.

Como tudo que envolvia os Pumpkins tinha que vir com um drama especial, lá vai: a banda soltou 25 cópias em vinil (!) de Machina II, dadas a amigos, jornalistas e a fãs que se destacavam na comunidade online do grupo, com instruções para todo mundo distribuir o material na internet. Que foi onde efetivamente o álbum foi lançado, com direito a todas as músicas do pacote (25 faixas dos dois LPs, mais músicas de três EPs) disponíveis no site da banda. Não houve lançamento oficial em CD. E em 2000, você talvez se recorde, vinil era piada de salão.

Você deve estar se perguntando: se The machines of God gerou tanto problema e narizes torcidos, o que sobraria para uma simples continuação? Pois é: The friends and enemies até que conseguiu um resultado bem melhor de crítica. A Pitchfork, então engatinhando, fez uma resenha bem positiva, dizendo que a banda conseguiu colocar na continuação o que faltava no disco original (“o som de uma banda tocando”) e comparou o trabalho de Billy Corgan como produtor com o de Butch Vig (Nevermind, do Nirvana).

Ouvindo o disco hoje, dá pra conjecturar: as frustrações com a Virgin realmente fizeram Billy Corgan e seus colegas (James Iha, guitarra; Jimmy Chamberlin, bateria; D’Arcy, baixo) meterem na cabeça que precisavam descontar todas as aporrinhações na música. Olha aí Dross, som bacana e pesado do disco.

Car crash star virou queridinha dos fãs e foi divulgada pela banda na TV, no programa de Jay Leno (o apresentador ganhou uma cópia do álbum e a exibe para a câmera).

Em 2015, num bate-papo com os fãs, um bem-humorado Corgan respondeu algumas perguntas sobre Machina I e II. Só faltou fazer top top top e falar “levei fumo” aos admiradores.

Um fã queria saber se havia a possibilidade de ver o conjunto Machina numa caixa só. Nada: Corgan estava numa disputa com a Virgin para conseguir isso, só que a gravadora havia trocado de mãos várias vezes e ele mal sabia a quem deveria se reportar. Fora que o selo havia parado com os relançamentos e ele queria fazer algo, er, de nível, com vários ensaios, shows, coisas que ele tinha guardadas, etc. E Corgan teria que tirar grana do bolso para fazer qualquer coisa.

“Isso tudo não me surpreende porque esse disco tem uma névoa em volta dele”, disse, afirmando também que considerava o conjunto Machina um filme inacabado. “Na época, precisei decidir se queria continuar com aquilo, porque tudo indicava para: abandone a ilha, saia da banda e foda-se tudo. Tem momentos na vida em que seu sexto sentido está gritando: você tem um relacionamento ruim, um trabalho ruim, tá na hora de cair fora. Por algum motivo passei por cima disso e terminei o disco”.

Mais: Billy disse que fica bastante chateado quando vê que Machina/The machines of God não é popular nem entre os fãs de verdade da banda. E que, pouco antes de um fã começar uma campanha pelo relançamento do pacote Machina, um selo procurou Corgan com uma proposta de relançamento de todos os discos da banda. “Só que se você vê o e-mail, Machina não está citado lá!”, contou, rindo da desgraça. “Se até a gravadora que tem os direitos do disco não sabe que ele existe, isso é muito maluco”.

E, bom, agora (pelo menos para fãs endinheirados) todo o material do pacote Machina está reunido em Aranea alba, na ordem imaginada originalmente por Corgan. Boa sorte caso deseje conseguir uma das cópias – lembrando que não existe nada no streaming por enquanto. Além dos shows, Billy montou uma banda spin-off chamada The Machines Of God, que está em turnê, e cujo repertório inclui material do pacote Machina e do duplo Mellon Collie and The Infinite Sadness (1995)

A edição recauchutada de Machina/The machines of God, por sua vez, está nas plataformas – mas vale dizer que ela tem algumas diferenças em relação ao disco original. Raindrops + sunshowers ganhou um minuto a mais. Speed kills, música de Machina II que ganhou versão “oficial” no lado B do single de Stand inside your love, foi acrescentada à lista (na versão do single, e não na do álbum, vale informar). Age of innocence, última faixa do disco, é agora a antepenúltima, e foi bastante modificada com a remixagem. Já Blue skies bring tears, que era a penúltima faixa, encerra tudo. Essa mutilação pra lá de estranha você pode conferir agora mesmo.

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Radar: Manny Moura, Dani Vallejo, Monchmonch, Emerald Hill, Palhaços da Cidade, Crise, Bebê Feio

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Manny Moura (Foto: Gabriela Grafolin/Divulgação)

Chegou o fim de semana e nosso Radar nacional de hoje tem uma novidade do dia: o single novo de Manny Moura, que acabou de sair. Nomes como Dani Vallejo, Monchmonch e Crise completam a lista com faixas que andamos ouvindo muito nos últimos dias – algumas delas já devidamente divulgadas com clipes. Ouça, veja e leia.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Manny Moura): Gabriela Grafolin/Divulgação

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MANNY MOURA, “LEMONS AND LIMERENCE”. A palavra inglesa limerence – costumeiramente traduzida em língua portuguesa como limerência, mesmo – é o ato de se deixar levar por uma paixão ou por um amor. Influenciadíssima por nomes como Taylor Swift, Phoebe Bridgers e Gracie Abrams, Manny, artista carioca radicada em Los Angeles, descobriu a palavra por acaso e decidiu que a usaria numa música. O folk-pop Lemons and limerence brinca com aquele famoso ditado que recomenda: “se a vida te der limões, faça uma limonada”. O clipe é um desdobramento do estilo confessional da faixa.

DANI VALLEJO, “DRAMA PREFERIDO”. “Fui o seu drama preferido / agora o meu caso é comigo”, diz Dani em seu novo single, Drama preferido, que fecha um ciclo em sua carreira solo – afinal, trata-se do último lançamento de uma série de seis singles que falam sobre temas como dor, desejo, entrega e, finalmente, libertação. Ela afirma que daqui para a frente, seus novos lançamentos serão marcados por temas como autoconhecimento e realinhamento com o que é verdadeiro – e que um segundo EP está vindo aí. Por enquanto, o indie-rock-batidão Drama é o momento da redescoberta: Dani fala de reconstrução e do fim de um relacionamento abusivo e cagado. E já tem clipe.

MONCHMONCH, “COISA LINDA”. Dirigido, filmado e editado por Marina Mole, o clipe de Coisa linda foi feito sem roteiro numa praça da Lapa, em São Paulo, como uma espécie de pintura psicodélica para a faixa – uma das melhores do experimentalíssimo álbum Martemorte (resenhado pela gente aqui).

“No clipe vou pulando do barranco e constantemente me ferindo”, conta Lucas Monch, criador do projeto. Apesar do clima sombrio, Coisa linda foi feita em homenagem a um gato que acompanhou Lucas por 15 anos. “Eu sonho pelo melhor da humanidade, e sob infinitas guerras que tomam todas as formas, eu tenho o mesmo olhar que vi no meu amigo felino, de ver luz no nosso fim”, diz ele.

EMERALD HILL, “DIA DE CÃO”. Pós-punk visceral, sombrio e ruidoso de João Pessoa (PB). O Emerald Hill fala em seu novo single sobre o caos da vida na cidade grande, com uma gama de inspirações que vai de Idles e Bauhaus até o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa. “É uma faixa realista, um retrato cru das vivências urbanas, do trabalho, da frustração. Não somos mais jovens rebeldes: somos adultos lidando com a dureza cotidiana”, diz a banda. A letra conta sobre amigos que resolveram se mudar para São Paulo e largaram antigos hábitos – mas o narrador-personagem da faixa resiste.

PALHAÇOS DA CIDADE, “PALHAÇO”. Rock, folk, ska, MPB, reggae e vários outros estilos misturam-se na sonoridade desta banda de Campinas (SP), que costuma se apresentar maquiada. Cada integrante tem um alterego e uma identidade visual específica: por Gabriel Orsi é o Orsi, Miguel Prado é o Copas, Athena Véspero é Athena, e Ricardo Lopes é Valetes. “São palhaços daquilo que acreditam, daquilo que querem acreditar, do mundo ao redor cercado de caos. Das pessoas, da cidade, do estado, de si mesmas”, definem-se. Palhaço, o primeiro single, fala sobre manter seus objetivos apesar da crueldade do mundo, em meio a peso, guitarras e vibe pop.

CRISE, “ROBOFOOT”. Bandas de Sorocaba (SP) têm sido comuns aqui no Pop Fantasma. O Crise nasceu de um casal (Cristine Siqueira e Gabriel Pasin), virou quinteto e hoje mistura folk, britpop e climas angustiados à moda do Radiohead. Por favor, me perdoe. As más notícias finalmente chegaram, o primeiro álbum do grupo, sai em breve pelo selo Lastro Musical e é puxado por Robofoot, um indie rock tristonho, cheio de guitarras etéreas e com uma letra que fala sobre um relacionamento que começa a trazer só problemas e desgastes. Mas o grupo avisa que “aqui tudo pode ser interpretado com certa dualidade, é como rir diante de um abismo, saber ver graça e senso de humor em meio a tragédia”, dizem.

BEBÊ FEIO, “BESTIÁRIO”. Tá a fim de calma e quietude? Então nem chegue perto do som da banda paulista Bebê Feio, que faz uma junção de punk, horrorcore, death metal e outros estilos pesados. Bestiário, o EP novo, abre com a pesada faixa-título, que “retrata a violência como espetáculo e usa o bestiário, livro medieval que cataloga criaturas, como metáfora para mostrar que o narrador não é parte do mal já conhecido – mas sua própria fonte, criadora de novas bestas”, avisa o grupo. Temas como hipocrisia religiosa e até física quântica também aparecem no disco, lançado nas plataformas neste mês.

 

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Lançamentos

Radar: David Byrne com Hayley Williams, Struts com Brian May, Saint Etienne com Confidence Man – e mais

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David Byrne lança single novo, "What is the reason for it?"

A gente tá tendo que fazer quase um jogo de quebra-cabeças com as músicas que vão saindo, para pelo menos não ficar muito distante das datas de lançamentos. Uma visitinha no YouTube já revela vários singles e clipes fortes que saíram só ontem – um deles abre o Radar internacional de hoje, e é o que reúne David Byrne e Hayley Williams. Ouça tudo em altíssimo volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto (David Byrne): Shervin Lainez/Divulgação

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DAVID BYRNE feat HAYLEY WILLIAMS, “WHAT IS THE REASON FOR IT?”. Se você estava esperando ansiosamente o novo disco de David Byrne, Who is the sky?, está com mais sorte do que os fãs de longa data que aguardavam uma volta dos Talking Heads – o disco novo sai nesta sexta (5), mas o músico disse num papo com a Rolling Stone não ter interesse algum num retorno do grupo, basicamente porque não acha possível fazer acontecer a mesma coisa de novo.

De qualquer jeito, para adiantar o novo álbum, saiu mais um single nesta semana – é o batidão latino What is the reason for it?, cuja letra tenta analisar o amor fora de parâmetros lógicos. Hayley Williams (Paramore) divide os vocais com David. E a faixa já ganhou um clipe excelente em que o artista Dustin Yellin usa IA para animar mais de 20 desenhos feitos pelo próprio Byrne.

SPOON, “CHATEAU BLUES” / “GUESS I’M FALLIN IN LOVE”. O próximo disco do Spoon ainda não tem data para sair, mas já está sendo preparado. Justamente pela indefinição de lançamento, o grupo decidiu que essas duas músicas precisavam sair logo agora. As canções foram produzidas pela própria banda ao lado de Justin Meldal-Johnsen (Beck, Nine Inch Nails, St. Vincent), e valem o tal lançamento rápido: Chateau é um punk garageiro de primeiríssima, daquelas músicas que você escuta e grudam rapidamente; e Guess deixa um clima próximo do krautrock e do pós-punk vaporizar na área. As duas faixas já ganharam lyric videos (confira abaixo).

Vale citar que Britt Daniel, cantor do grupo, está numa felicidade daquelas, já que o Spoon circula por aí abrindo para os Pixies. “Sejamos sinceros, uma das três maiores bandas de todos os tempos. Uma banda que alguns talvez conheçam, é muito próxima e querida para mim há muito tempo. É um verdadeiro prazer e estamos muito felizes por voltar ao mundo dos shows por um segundo. Vejo vocês lá na frente”, avisa aos fãs.

THE STRUTS feat. BRIAN MAY. “COULD HAVE BEEN ME”. Lembra quando essa banda britânica de glam rock despontou com o hit Could have been me, em 2013? Atualmente em turnê, e sem álbuns novos planejados para 2015, os Struts revisitaram seu hit com uma colaboração especial: ninguém menos que Brian May, do Queen, na guitarra. “Esta música é sobre conquistar seus sonhos e viver a vida ao máximo, independentemente dos obstáculos. É um hino poderoso que nos lembra de perseguir o que incendeia nossas almas”, diz o cantor Luke Spiller, chamando Brian de “herói”.

May, por sua vez, disse à Classic Rock Magazine que Spiller o fazia lembrar de Freddie Mercury, e ainda afirmou que adoraria ter escutado Could have been me quando era criança. “É uma das melhores músicas de rock de todos os tempos. Na verdade, foi mais ouvida nos Estados Unidos do que na Grã-Bretanha: passou despercebida pelas pessoas aqui, e não deveria ter passado. Espero que esta seja uma oportunidade para a música realmente conectar o mundo todo”.

SAINT ETIENNE E CONFIDENCE MAN, “BRAND NEW ME”. International, o suposto último disco do Saint Etienne sai nesta sexta (5). Só pelos singles que já saíram, dá para supor que vem um discaço por aí – mas a banda ainda resolveu lançar mais um compactinho, Brand new me, feito lado a lado com a australiana de electro pop Confidence Man.

Na faixa, Sarah Cracknell, do Saint Etienne, divide vocais com Janet Planet, do Confidence. Mas o que vai deixar todo mundo babando é o clipe da faixa, feito em clima de Hanna-Barbera, e de desenhos animados como a abertura da série A Feiticeira. O vídeo foi dirigido e animado por Kyle Platts e Matt Lloyd, e traz as duas bandas competindo num programas de auditório muito doido.

THURSTON MOORE, “TEMPTATION INSIDE YOUR HEART”. Os fãs mais roxos do Velvet Underground devem se lembrar de Temptation inside your heart – uma música do grupo, feita por Lou Reed, gravada originalmente em 1968 mas só lançada no disco póstumo V.U. (1985). O ex-Sonic Youth Thurston vem fazendo alguns singles após lançar seu álbum mas recente, Flow critical lucidity (resenhado por nós aqui): nesse ano saíram The serpentine e um releitura de Now I wanna sniff some glue (Ramones) feita ao lado do Napalm Death. E dessa vez, ele decidiu dar sua cara própria à canção do Velvet. Fez o possível até para soar um pouco parecido com Lou cantando, embora sua releitura seja bem mais pós-punk e fria que o original balançante do Velvet. Confira cover e original aí embaixo.

TAMAR BERK, “STAY CLOSE BY”. Nesta sexta, sai o álbum novo da californiana Tamar, OCD – e ela é uma daquelas artistas independentes que usam a música quase como crônicas do seu dia a dia. O site The Big Takeover, por exemplo, já ouviu OCD e definiu-o como o álbum mais “pessoal” já lançado por ela. Stay close by, single do disco, traduz os pensamentos de Tamar numa onda entre o indie rock e a psicodelia, com vocais doces e vibe quase (quaaaase…) shoegaze. Vale ouvir e esperar pelo disco inteiro.

OMNI, “HIGH CEILINGS”. Bandaça da Georgia que faz pós-punk como se não houvesse nem amanhã nem ontem – e cujo som lembra uma mescla bizarra de Television e Black Sabbath – o Omni soltou recentemente pela Sub Pop seu novo single, High ceilings, doido de tão experimental e cáustico. Antes, em junho, o grupo já havia lançado um outro single, Forever beginner. Será que há um álbum novo surgindo por aí em 2025? Pode ser, mas as duas faixas são fruto das sessões do excelente quarto álbum do grupo Souvenir, lançado no ano passado (e resenhado pela gente aqui).

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