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Entrevista: Dave Faulkner (Hoodoo Gurus) fala sobre shows no Brasil, disco novo e independência

Quando parecia que todos os discos do mundo podiam ser escutados nas plataformas digitais (exagero…) faltava uma discografia: a da banda australiana Hoodoo Gurus. O grupo liderado pelo cantor, guitarrista e compositor Dave Faulkner apareceu no Spotify, no Deezer e onde mais você puder imaginar, apenas no ano de 2018. “Não estávamos satisfeitos com os acordos que estavam sendo oferecidos para royalties de streaming, então adiamos”, conta Dave ao Pop Fantasma. A chegada da música do grupo no mundo digital trouxe novidades: houve relançamentos em vinil colorido e até um disco novo, Chariot of the gods (2022). E é o álbum mais recente que traz a banda ao Brasil em abril, depois de 25 anos sem fazer show por aqui.
O quarteto retorna com formação modificada: Dave, Brad Shepherd (guitarra) e Rick Grossman (baixo) têm agora a companhia de Nik Rieth (bateria). Vão passar pelo Rio (dia 14), São Paulo (12), Porto Alegre (13), Curitiba (15) e Florianópolis (19). A mescla de pós-punk e power pop dos Hoodoo Gurus costuma ser chamada de surf music por fãs e críticos – por acaso, o show tem até ingresso “Surfista solidário”, que dá meia entrada para quem levar um acessório de surfe para doação. Mas na conversa com a gente, Dave falou até um pouco das origens da banda no punk australiano, época em que chegaram a ter uma formação bastante peculiar, com três guitarras e nada de baixo. Também revela que a inspiração para compor vem em momentos bem diversos do dia – se você der uma volta pela Austrália e deparar com um sujeito parecido com Dave cantando no microfone do celular enquanto faz compras, é ele mesmo.
(perguntas: Ricardo Schott e Luciano Cirne)
Como foi o processo de criação das músicas de Chariot of the Gods? E por que demorou tanto para um novo disco do Hoodoo Gurus ser lançado?
A maior razão para isso foi ter Nik Rieth como nosso baterista. Depois que Mark Kingsmill se aposentou, tivemos que decidir se queríamos continuar. Sua bateria fazia tanto parte do nosso DNA musical que nem tínhamos certeza de que poderíamos continuar e ainda nos sentir como nós mesmos. Reconhecemos que, embora Mark seja insubstituível, Nik conseguiu trazer um novo sabor ao nosso som, trouxe um caráter ligeiramente diferente à nossa música. Ainda estamos evoluindo como banda.
Todas as músicas são novas, exceto Settle down, que escrevi na época de Mach schau (disco de 2004 da banda). Dito isso, muitas das músicas surgem de riffs ou melodias que acumulei ao longo de muitos anos, às vezes décadas. Ideias musicais aleatórias surgem em minha cabeça em momentos estranhos durante o dia, como quando estou fazendo minha caminhada matinal ou indo às compras. Eu costumo cantar no meu celular usando a função de memorando para não esquecer as ideias. Quando finalmente decido que há um álbum que quero fazer e coloco mãos à obra, volto àqueles pequenos esboços e escrevo canções completas a partir das que ainda “falam comigo”.
Então, algumas músicas podem ter sido formadas pela metade e gestadas por anos, enquanto outras se juntaram muito rapidamente. Por exemplo, pensei no riff de guitarra principal de Answered prayers quando voltava do ensaio para casa. Eu imediatamente parei o carro no acostamento e cantei a melodia no meu telefone. No ensaio do dia seguinte, começamos a desenvolver o arranjo rítmico e, na manhã seguinte, as letras surgiram em uma explosão criativa. Essa música saiu tão rápido que quase me senti como um espectador no processo.
Moro na cidade de Niterói, onde você fez um show em 1996. Estive lá e foi um dos melhores shows que já vi. Você se lembra desse show? Se não, que lembranças você tem da turnê pelo Brasil?
Temos tantas memórias incríveis! As belas paisagens e as pessoas bonitas estão em primeiro lugar, seguidas de perto pela boa comida – gostamos muito das nossas experiências em churrascarias, bem como dos excelentes frutos do mar. Quanto aos shows em si, adoramos a energia e o entusiasmo do público (abaixo, a banda tocando no Rio em 1997).
Você se tornou crítico musical do jornal Saturday Paper. Sua relação com críticos e jornalistas mudou por causa dessa experiência do outro lado?
Eu definitivamente aprecio a trabalheira que as pessoas têm para ficar por dentro de todas as novas músicas que saem toda semana. Bem como o esforço necessário para escrever algo bem desenvolvido. A melhor parte de fazer isso, foi descobrir a alegria de trabalhar com editores talentosos, que sempre verificavam fatos. É um lado do negócio que quem está de fora não consegue ver. Minha relação com os jornalistas não mudou porque sempre respeitei o trabalho deles. Quando eu era jovem, o jornalismo musical me ajudou a descobrir muitos artistas que me influenciaram para sempre.
Hoodoo Gurus passou por várias gravadoras durante sua carreira. O que você mais aprendeu com as experiências que teve com eles?
Em 1988 tivemos que processar nossa primeira gravadora. Foi uma experiência difícil que nos custou muito tempo e dinheiro, mas que depois nos deu total liberdade e recuperamos a propriedade de nosso catálogo musical. Depois disso, assinávamos com qualquer gravadora por tempo determinado, mantendo a propriedade de qualquer música que gravássemos e lançássemos durante a vigência do contrato. Então poderíamos procurar um acordo melhor com uma nova gravadora quando o contrato expirasse. Isso significa que temos controle absoluto sobre todas as facetas de nossa carreira. Desde o processo, nunca mais cedemos o controle a uma gravadora.
A propósito, o selo Big Time (que lançou LPs clássicos do grupo) havia fechado, mas voltou para seus relançamentos e para o novo álbum do Hoodoo Gurus. Como o selo ressurgiu?
Agora SOMOS a Big Time Fonographic Record Company. Aqui está uma explicação técnica de como isso aconteceu: depois de ganhar nosso processo em 1988, essa empresa foi deixada como uma casca vazia pelo proprietário (portanto, não conseguimos recuperar nenhum dos custos que nos foram atribuídos no julgamento). Ele logo entrou em falência e pudemos comprá-lo do liquidante. Quando assinamos nosso último contrato com a Universal Music, nos tornamos uma gravadora independente e decidimos usar o nome Big Time como uma espécie de vingança depois de todos esses anos.
Os álbuns do Hoodoo Gurus entraram nas plataformas digitais apenas em 2018. Por que a demora? Houve alguma insatisfação com royalties ou algo assim?
Você entendeu exatamente. Não estávamos satisfeitos com os acordos que estavam sendo oferecidos para royalties de streaming, então adiamos. A Universal Music fez um ótimo contrato com a gente e nos fez mudar de ideia, mas acima disso, eles estavam extremamente motivados para trabalhar conosco e foram muito criativos em sua abordagem ao nosso catálogo de músicas. Foi ideia deles relançar todos os nossos álbuns em vinil, alguns dos quais nunca haviam sido lançados em vinil antes, e eles também ficaram muito entusiasmados em promover nosso último álbum. Adoramos trabalhar com eles.
No começo vocês eram uma banda com três guitarras e nenhum baixo, quando gravaram o single Leilani. Era uma formação bastante incomum. Por que a banda tem essa formação? A ideia era fazer uma espécie de música experimental no começo?
Não, não estávamos pensando que estávamos sendo experimentais, apenas não achamos que isso importava. The Cramps e The B-52s não tinham baixistas desde o início e nós adorávamos as duas bandas. Além disso, não estávamos pensando em tentar fazer carreira na música – não foi planejado.
Estávamos apenas nos divertindo. Acontece que nenhum de nós tocava baixo e achávamos que um quinteto era grande demais. Então, três guitarras sem baixo era o jeito que tinha que ser. Foi somente quando Kimble (Rendall, guitarrista) e Rod (Roddy Radalj, também guitarrista) saíram que tivemos que decidir se substituiríamos um deles por um baixo, em vez de preservar nossa imagem de “três guitarras”. O fato é que nossa música precisava de um baixo para dar mais força e ajudar a unir a bateria com as guitarras. Adicionar um baixo foi a peça final do quebra-cabeça.
Quem são os maiores compositores do mundo, na sua opinião? E quem são os maiores influenciadores da música do Hoodoo Gurus?
Essa é uma pergunta impossível de responder. Todos nós temos gostos muito amplos e ouvimos uma grande variedade de músicas. Tudo isso nos influencia como indivíduos, mas, sinceramente, o próprio Hoodoo Gurus (nós quatro juntos) é a maior influência sobre nossa música. Não é algo que você possa estudar ou dissecar – é só que, quando a mágica acontece, todos podemos reconhecê-la.
Lançamentos
Radar: Cali, Alessandra Leão e Liniker, Atalhos, Lua Dultra, ABQNE, SANJ

Semana encerrada e hoje ainda por cima tem podcast – e fim de semana distante do trabalho pra gente (finalmente!). O Radar nacional de hoje começa com a criatividade do clipe da paulista Cali, que ainda por cima foi um clipe surgido de várias demandas dos fãs. Mas tem bem mais na nossa lista de hoje, do rock progressivo à MPB safadinha, passando pelo folk. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Cali): Luiza Meneghetti / Divulgação
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CALI, “FOME” (CLIPE). Cantora vinda de Porto Ferreira (SP) e radicada em Campinas, Cali viu que os fãs estavam pedindo bastante um clipe para Fome, música sua lançada em agosto. Postou um vídeo falando a respeito disso, e no mesmo dia, foi procurada por duas diretoras, que mostraram seu trabalho para ela. Foi assim que Giovana Padovani (co-direção e direção de fotografia) e Calu Zete (co-direção e produção) acabaram fazendo o clipe do single, divulgado nesta semana no YouTube, e traz Cali assumindo três personas que representam fases emocionais de um artista. As personas passam pela ansiedade e exaustão iniciais, pelo confronto com o próprio lado sombrio e, por fim, pela conquista de uma versão confiante e madura.
Detalhe: a concepção do clipe também foi sugerida por um fã, que sugeriu o filme Cisne negro, de Darren Aronofsky, como referência. “Agora, eu me vejo madura o suficiente para trazer também o meu próprio lado sombrio… Desde nova adoro suspense psicológico e drama. Pensei, por que não me inspirar nisso para construir essa parte da minha estética também?”, comenta Cali, que tem referências em Rita Lee e Rosalía – e fez de Fome um baita batidão pop.
ALESSANDRA LEÃO feat LINIKER, “TATUZINHO”. Tatuzinho é uma música que tem (bastante) história: surgiu como instrumental no álbum Brinquedo de tambor, estreia de Alessandra lançada em 2006. E foi uma música feita enquanto Alessandra colocava o filho para dormir. Depois, ela foi regravada por Alessandra no EP Pedra de sal, só que com uma letra bem sacana feita por Kiko Dinucci. E dando início às comemorações de duas décadas de seu primeiro disco, Alessandra refez a música, mas com alguns diferenciais: ela ganhou produção musical de ChicoCorrea e a voz da convidada Liniker, além de uma proximidade maior com os universos do arrocha e do brega.
Detalhe da coincidência: Liniker havia compartilhado a música nas redes, e foi a partir daí que o encontro das duas rolou. “Era ela que eu estava procurando para cantar junto”, conta Alessandra. “É uma delícia abrir as comemorações dos 20 anos do meu primeiro disco revisitando essa música ao lado de parceiros de longa data como ChicoCorrea e Kiko Dinucci – e com a presença luminosa de Liniker. É lindo vê-la voar”.
ATALHOS, “A FORÇA DAS COISAS” (SESSION). Banda de art rock com origens no interior paulista (vieram de Birigui), o Atalhos une som, literatura e profecias em seu novo disco, A força das coisas (resenhado pela gente aqui). O álbum de Gabriel Soares e Conrado Passarelli demonstra orgulho por soar próximo do dream pop, do indie rock mais recente e do pós-punk dos anos 1980 – numa nuvem de referências que inclui de The Smiths a Arctic Monkeys. E agora saiu uma session com o repertório do disco, tudo ao vivo, em preto e branco.
A session aparece quando a banda anuncia turnê pela Europa – entre os meses de fevereiro e março, passando por países como Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca e Suíça. Também anunciam e o lançamento de A força das coisas em vinil, que vai rolar assim que os dois voltarem do giro.
LUA DULTRA, “MENINA”. Pop alternativo e folk alternativo cruzam-se na nova música da Lua, Menina – um som tranquilo e viajante que também carrega as referências da união entre folk e MPB (Sá & Guarabyra, Nando Reis, Lô Borges). E cujo clipe, com direção e roteiro dela e de Sofia Rojas, mexe com o imaginário do sertanejo, trazendo a cantora, compositora e instrumentista tocando violão na porta de uma igreja, andando a cavalo e sossegada numa casa no campo, tocando com sua turma.
ABQNE (A BANDA QUE NUNCA EXISTIU), “O OUTRO NOVO EU”. HL (Humberto Lyra) e LP (Luiz Pissutto) são os integrantes da A Banda Que Nunca Existiu – na verdade uma dupla com alguns colaboradores, que vão de Alexandre Fontanetti (produção e violão), Paulo Zinner (bateria), Edu Gomes (guitarra), Adriano Magoo (piano) e até Zeca Baleiro, que solta um assovio numa faixa. O maxi-single O outro novo eu na sala de estar, com quatro faixas – uma delas é um radio edit da primeira música, O outro novo eu – é definido pelos dois como uma “ópera rock psicodélica”, cheia de sinais escondidos.
A faixa original, que dura oito minutos, soa bastante inspirada em Mutantes (especialmente no disco da banda creditado a Rita Lee, Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, lançado em 1972). A radio edit da faixa traz a música num releitura mais pinkfloydiana do que propriamente psicodélica. O conceito da faixa é citado nas outras duas músicas, Antes do outro eu e Sala de estar do outro eu. Uma viagem sonora.
SANJ, “MÁQUINA DE SOL”. SANJ, assim mesmo, com maiúsculas, é o novo projeto do músico Leonardo Sandi, de Caxias do Sul (RS), que integra a banda Catavento. Em Máquina de sol, o primeiro single, estilos como hip hop, drum’n bass e trip hop (pelo menos no clima enevoado do arranjo) unem-se na criação de uma canção que, diz Leonardo, “fala muito sobre tentar criar um mundo melhor também para um amor, uma paixão”, conta. “Sempre imaginei essa imagem de um cientista solitário em um porão, tentando criar uma máquina de sol. E um dia, quando ele finalmente consegue, tudo explode em luz”.
Outra ideia passada pela música é a de sempre seguir em frente. “Essa música é o meu recomeço, mas também é um lembrete para todo mundo que já sentiu o tempo escapar, que ainda dá para correr atrás dos sonhos”, conta ele, que para fazer Máquina de sol, se juntou a Murilo Vitorazzi, o mrl (beat, pianos, produção e co-autoria), e Francisco Maffei, o Chigo (mixagem e masterização).
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Lançamentos
Radar: Flea, Water From Your Eyes, Malammore, Atomic Fruit, Wheobe, Wuzy Bambussy

Flea, baixista dos Red Hot Chili Peppers, está para lançar um disco solo – em clima de jazz psicodélico, pelo que dá pra perceber pelo primeiro single, A plea, lançado ontem. Ele abre o Radar internacional de hoje e puxa uma seleção que tem sons experimentais, rap, psicodelia e muitas novidades. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Flea): Divulgação
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FLEA, “A PLEA”. Você provavelmente se perguntava porque é que o talentoso baixista dos Red Hot Chili Peppers não lançava logo um disco solo. Pois bem, ano que vem, finalmente, sai a estreia solo de Flea, pelo selo Nonesuch – e o que vem por aí, aparentemente, é um disco arraigado nas experimentações jazz-psicodélicas. A plea, o primeiro single, tem quase oito minutos de duração, e ganhou um clipe dirigido pela filha do músico, a fotógrafa Clara Balzary. No vídeo, Flea surge trajando uma camiseta onde se lê “dub” na mesma grafia do logotipo da banda Public Image Ltd, e fazendo passos que unem dança e ginástica. Lá pelas tantas, ele aparece correndo pelas ruas.
O tal disco solo é definido por ele como “uma banda dos sonhos de visionários do jazz moderno” – Flea, aliás, volta ao trompete, instrumento que marcou seu início na música (em A plea, quem toca o instrumento é a contrabaixista Anna Butterss). A letra é um exercício de spoken word, em que Flea diz coisas como “viva pela paz, viva pelo amor” e “quem é seu vizinho, quem é seu amigo?/ ah, há ódio por toda parte/ eu não me importo com a sua maldita política/ eu não quero ouvir falar da sua política”.
No comunicado de lançamento do single, ele foi além: disse que há um lugar transcendental acima da política, “onde há um diálogo que pode realmente ajudar a humanidade e nos ajudar a viver de forma harmoniosa e produtiva, de uma maneira saudável para o mundo. Existe um lugar onde nos encontramos, e esse lugar é o amor”. Psicodélico, digamos.
WATER FROM YOUR EYES, “DRIVING CLASSICS, PLAYING CARS”. O WFYE já havia lançado o álbum It’s a beautiful place neste ano (resenhamos aqui) e volta com o EP It’s beautiful, contendo três faixas do disco reimaginadas. Born 2, Nights in Armor e Playing classics foram remexidas pelo músico e produtor Nate Amos para enfatizar de forma diferente os vocais da cantora Rachel Brown. Playing classics, das três escolhidas, foi a que mais teve modificações: retorna com o nome de Driving classics, playing cars, com dez minutos de duração e efeitos sonoros de carros – daí o nome.
“As novas versões de Born 2 e Nights in Armor são, na verdade, mais próximas de como as músicas eram originalmente”, explica Amos. “As pessoas me perguntavam sobre a versão original de mais de dez minutos de Playing classics, e eu não conseguia mais encontrá-la, então fiz uma nova. Achei que seria engraçado se fosse mais rápida também. Adicionei efeitos sonoros de carros porque carros são rápidos”.
MALAMMORE, “TUDO PASSA”. “Dou conselhos a quem ouve, mas também olho para dentro e me englobo também nos conselhos que dou”, conta o poeta, ator e músico português Sandro Feliciano, que usa o codinome de Malammore e em Tudo passa, seu novo single, protesta contra a falta de sensibilidade do mundo – e contra a apatia patrocinada pelos donos do poder. A faixa, um hip hop alternativo narrado com agilidade, mas com melodia voadora e relaxante, puxa Aurora, disco de Malammore que está pra sair, e tem clipe dirigido por ele e por Miguel Zêgo Cebola.
Tudo passa foi inspirada na famosa foto de William Klein em que há duas crianças – uma delas aponta uma arma para a câmera, enquanto a outra está surpreendentemente calma. O rapper Mick Jenkins e seu single-clipe Brown recluse foram inspirações para o clipe.
ATOMIC FRUIT, “MEDICINE”. Esse trio psicodélico mezzo italiano, mezzo alemão (e radicado em Berlim) tem bem mais do que lisergia para oferecer: o som deles lembra um encontro ácido entre Joy Division, Killing Joke e Mudhoney, todo mundo com o cérebro lotado de alguma substância estranha. A música é tão psicodélica quanto pós-punk, graças ao clima hipnótico da melodia e do arranjo, e à voz de baritono de Martin Lundfall, que também toca synths e guitarra. Nomes como Massive Attack e SUUNS são citados no release, só para você ter uma ideia básica do peso e da intensidade dessa turma.
Medicine, de acordo com a banda, trata de um tema muito especial para músicos e artistas em geral: “Ela começou como uma música sobre bloqueio criativo, mas se transformou na consciência de como é difícil sentir aquela primeira faísca novamente”. Além do lyric video da faixa, o grupo soltou também uma session ao vivo pelo Platte:X, uma espécie de Tiny Desk arrumadinho de Berlim.
WHEOBE, “SORE”. Preparando um álbum de estreia, A strained ocean, para abril de 2026, esse grupo francês puxa o álbum com Sore, quase um progressivo dream pop, de seis minutos – e uma música que chega a ganhar ares mais pesados depois. O clipe, dirigido por Kim Fino e Camilia Penagos, mostra um verdadeiro balé urbano, de pessoas sendo basicamente elas mesmas pelas ruas. As cenas surgem como se fossem imaginadas pelos integrantes do grupo.
WUZY BAMBUSSY, “LITTLE LION”. Uma surpresa musical entre a house music e os climas herdados do jazz: o grupo britânico Wuzy Bambussy fala do reencontro com um amor perdido em Little lion e acaba conseguindo fazer uma das faixas mais deliciosamente nostálgicas do ano. Destaque para os vocais da cantora Kat Harrison e para a vibe de filme antigo do clipe, todo gravado em pret e branco. The ghost & the rhythm, o primeiro álbum, sai em abril de 2026.
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Lançamentos
Radar: Baque!, Jota 3 e BNegão, Siso, Fitti, Mat, Look Into The Abyss

O experimentalismo da banda Baque! volta ao Radar – eles já estiveram por aqui – com um single duplo que é pura poesia proto-punk. Mas a seleção do Radar nacional de hoje tem também som pesado, hyperpop, reggae-rap e MPB para ouvir no último volume. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Baque): Divulgação
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BAQUE!, “OZYMANDIAS” / “NOITES NO OCIDENTE”. Essas duas novas músicas, segundo a banda paulistana Baque!, formam “um convite para um rolê, um cartão-postal sonoro na forma de single duplo”. Normalmente voltado para uma mescla inusitada de psicodelia e punk (ou protopunk, como a própria banda define seu próprio trabalho), o grupo retorna agora influenciado por estilos como krautrock, post-rock e synthwave.
Ozymandias e Noites no Ocidente, contam eles, foram músicas que nasceram ao vivo e vêm sendo desenvolvidas há um ano nos shows, com direito ao coral dos fãs. A primeira soa como uma imagem da sessão de gravação, com vários efeitos sonoros e percussões, além da declamação da letra – que na verdade, é um poema do britânico P. B. Shelley (1792-1822) traduzido pelo grupo.
A segunda une canto gritado a la Iggy Pop, declamações com vibe Jim Morrison, e clima meio protopunk, meio groovy, direto dos anos 1960 para 2025. “Todas as canções desse lado foram gravadas em fita no correr de 7 dias de imersão em Campinas (SP)”, conta a banda, avisando também que a dupla de faixas encabeça o lado B do álbum que está sendo produzido.
JOTA 3 feat BNEGÃO, “FLORES E ERVAS” (REMIX VIBRONICS). Vinda direto da cultura soundsystem, Flores e ervas acaba de ganhar um remix assinado pelo produtor britânico Steve Vibronics, nome conhecido do UK dub. E o remix também ganhou um clipe, com imagens da apresentação do artista no festival Delírio Tropical, que rolou em Vila Velha (ES) em janeiro. BNegão, que participou do show, contribui com sua voz na nova versão.
“Ter um remix do Vibronics é surreal! Me faz voltar no tempo em que morei na Inglaterra há mais de 10 anos. Lá, tive contato com a cena através do próprio Vibronics e de muitos outros artistas e pude me aprofundar e viver realmente a cultura dos sound systems britânicos / jamaicanos, muito representativos”, conta Jota 3.
SISO, “QUEBRA-MUNDO”. “Se o mundo não se quebrasse, quem quebrava era eu”, canta Siso em Quebra-mundo, música em clima de alt-jazz e alt-pop feita em parceria com Luiza Brina, e que fala de sua reconstrução pessoal, num momento em que tudo parecia estar em ruínas. “Quando as expectativas e as premissas prévias se quebram, o que é realmente importante se revela de maneira muito límpida, permitindo que tudo o que é falso e acessório seja descartado em prol de uma energia nova, ainda que com alguma trepidação”, detalha Siso, que é de Belo Horizonte (MG), como Luiza.
Quebra-mundo ganhou um clipe em preto e branco dirigido por Tatyana Schardong, e filmado nas ruas do Centro do Rio. “A ideia era explorar visualmente o simbolismo de instabilidade e transitoriedade que a canção evoca, com cortes rápidos e cenas muito contrastantes. Acabamos mostrando um lado quase ‘Gotham City’ da cidade maravilhosa, de uma maneira bem diferente de como ela geralmente é retratada, tangenciando também muitas camadas de história dos lugares pelos quais passamos”, conta.
FITTI, “POSTAL DE AMOR”. Não é comum que intérpretes sejam homenageados em tributos – mas o cantor pernambucano Fitti, ao preparar o álbum Fitti canta Ney, em homenagem a Ney Matogrosso, evoca a época em que o próprio Ney homenageou Angela Maria com o disco Estava escrito (1994).
Fitti procurou escolher apenas músicas que ninguém conseguiria ouvir sem lembrar de Ney – daí a escolha por Postal de amor, balada introspectiva composta por Raimundo Fagner, Ricardo Silva e Fausto Nilo, gravada por Ney num compacto em 1975 (ao lado de Fagner) e depois no disco Pecado (1977). Fitti canta Ney vai virar turnê no ano que vem, com shows dirigido por Marcus Preto (que dividiu a produção do álbum com Pupillo).
MAT, “YEAH I LIKE U”. Cofundador do selo indie paulista Lazy Friendzzz e músico das bandas Dramma e Babyycult, Matt já havia lançado o EP I think I love you neste ano – e retorna agora com Yeah I like U, uma mescla de indie rock, synth-pop e hyperpop, com teclados tomando conta, ritmo dançante e vocais processados. Mat conta que a ideia da letra é falar “da atração imediata, da euforia e da ansiedade que acompanham os relacionamentos”.
LOOK INTO THE ABYSS, “WORDS”. Essa banda de Curitiba tem referências de estilos como emo e grunge, e no novo single, o peso surge à toda: Words tem vocais guturais, guitarras sombrias e pesadas, e uma letra sobre autoconhecimento e autossabotagem, sobre promessas quebradas e seguir adiante – bem na temática comum do grupo, que costuma abordar temas psicológicos e vibes bem trevosas nas letras. Words serve de batedor para o álbum que sai no começo de 2026.
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