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Lançamentos

Emily Frembgen: lembranças do isolamento no single “Fentanyl”

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Emily Frembgen: lembranças do isolamento no single "Fentanyl"

Remédio para dor, que pode ser usado como anestésico, o fentanil serve de inspiração para a cantora novaiorquina Emily Frembgen, que acaba de assinar com a Don Giovanni Records e soltou um single chamado Fentanyl. A letra abre com a frase “dois anos sem fazer nada deixa todo mundo louco”. É, claro, uma bela duma referência à covid-19 e ao isolamento da pandemia. O blog If Its Too Loud observa que “Frembgen captura a sensação bizarra daquele período, juntamente com o quão bizarro o mundo ainda parece”.

Um comunicado no site da gravadora explica que a canção surgiu após um bloqueio criativo de Emily, e que a música fala “sobre o tipo de alienação que às vezes pode deixar uma pessoa imóvel e automedicada, mas também tem uma melodia contagiante e licks de guitarra cativantes”. E completa afirmando que ela “lamenta a perda de quem ela era antes da mudança mundial de 2020, quando parecia mais fácil se conectar com as pessoas”.

Emily faz parte do movimento novaiorquino do antifolk – uma turma que usa o estilo voz e violão para fazer uma espécie de protesto satírico. O disco dela pelo selo sai em 2024.

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Crítica

Ouvimos: Elton John e Brandi Carlile, “Who believes in angels?”

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Ouvimos: Elton John e Brandi Carlile, “Who believes in angels?”

O som que você ouve em Who believes in angels?, álbum colaborativo de Elton John e Brandi Carlile, é tão harmônico que nem parece ter sido feito em meio a tensões bizarras e discussões BEM ásperas. Num papo com o jornal britânico The Guardian, Elton revelou que na época em que o disco foi feito, ele passava por questões bem graves de saúde – além dos problemas de visão, ele tinha batido a cabeça, se recuperava de uma cirurgia no quadril e precisava da substituição de um dos joelhos. Elton e Brandi só faltaram sair no tapa durante alguns momentos da gravação – a cantora, cujo trabalho oscila entre country e rock, lembrou na entrevista do The Guardian que Elton atirou um iPad e um fone de ouvido no chão, e rasgou letras dela, exclamando que o material era “previsível! clichê!”.

Passado o nervosismo, os dois foram embarcando num trabalho que Elton, desde o começo, defendeu que deveria ser em dupla de verdade, com harmonizações. As harmonizações ocorreram também na composição, com Elton fazendo melodias e Brandi dividindo o trabalho nas letras com ninguém menos que o velho parceiro do cantor, Bernie Taupin. O que acabou saindo do encontro do trio (ao lado do produtor-metelão Andrew Watt, que ainda colaborou nas composições) foi uma carta de amor à música e às suas possibilidades – de companhia, de cura, de mudança, de embevecimento.

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Como compositor e pianista, Elton levou a abertura de Who believes in angels? para a mesma estileira “progressivo de patins” que marcou vários trabalhos seus dos anos 1970. A faixa de abertura, The rose of Laura Nyro, dura mais de seis minutos e só começa a ter vocais passando dos dois minutos. A faixa é quase um diário de Laura Nyro (1947-1997), cantora e compositora novaiorquina de carreira subestimada, idolatrada por Elton. Eli’s comin, quase-hit de 1967 de Laura, é citado na letra.

Não é um clima que domina o álbum, vale citar. Swing for the fences e a faixa-título são country-rock explosivo. Never too late é uma balada sonhadora e rica em notas, típica de Elton. O fantasma de We are the world assombra o baladão gospel A little light. Someone to belong to me é uma balada country que soa como um gospel que não cita deus, ou como um inventário do desafio que é estar ao lado de um sujeito com um ego enorme, como Elton (e Brandi que o diga…): “Eu sei que tentei você / desafiei e neguei você / dei socos no ar / fechei meus olhos e contei até dez / rezando para que você estivesse lá”.

Em algum momento, Who believes in angels? chega naquele mesmo tom derramado que todo mundo já espera quando ouve um disco de Elton John – e isso não é um problema, vamos dizer assim. Uma surpresa no disco é Little Richard’s bible, rock “pra cima” no estilo de Saturday night’s alright (For fighting) fala com carinho sobre a conversão de Little Richard ao cristianismo – mas conclui unindo sagrado e profano (“pompadour empilhado até o céu / Cristo chegando e passando / Long Tall Sally, cara / Ele tem o bom livro a seu lado”).

Por acaso, cada lado de Who believes in angels? ganhou uma faixa-solo de um dos cantores – ainda que ambas tenham sido feitas pela “ala” de compositores formada por Elton, Brandi, Watt e Taupin. You without me foi iniciada com Brandi externando os sentimentos por sua filha mais velha, e acabou ressoando em questões de família de Elton com o companheiro e os filhos – e é cantada apenas por Brandi com um ukelele.

A emoção fica mesmo com When this old world is done with me, com Elton solo, revendo sua história ao piano, no encerramento do disco: “quando este velho mundo acabar comigo / só saiba que vim até aqui / para ser quebrado em pedaços / espalhe-me entre as estrelas”. Who believes in angels? é um disco feito na tensão – e no amor.

Nota: 8,5
Gravadora: Island/EMI
Lançamento: 4 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Sacred Paws, “Jump into life”

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Ouvimos: Sacred Paws, “Jump into life”

Dupla escocesa formada pelas musicistas Ray Aggs (guitarra, baixo, voz) e Eilidh Rodgers (bateria, voz), o Sacred Paws parece um grupo formado por pelo menos mais uns/umas cinco integrantes, tamanha a potência do seu som. Vindas do indie-pop, as duas unem pós-punk e afrobeat, e acabam de lançar Jump into life, um álbum recheado de pérolas, e repleto de uma mistura musical que nasceu justamente dos estertores do rock feito entre os anos 1970 e 1980. Afinal, foi a união com beats diferentes que deu um diferencial enorme para bandas como Talking Heads, Siouxsie and The Banshees e Teardrop Explodes, além de Paralamas do Sucesso.

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O disco abre de maneira fluida, com sons lembrando New Order e The Cure, e uma bateria que se assemelha a uma percussão – enquanto a guitarra tocada por Ray parece viver em um planeta diferente, ordenando que todo o resto da canção se adeque a seu estilo livre, próximo do highlife (estilo africano recheado de guitarras) e repleto de variações. É o que rola em faixas como Save something, Winter e Fall for you.Another day é um country construído em torno da matriz de The Cure, New Order e R.E.M., com uma bateria que é puro solo, e a participação do pai de Ray tocando banjo.

Uma característica do Sacred Paws é que os vocais de Ray e Eilidh dão uma sonoridade positiva e tranquila para as canções – não importa o que esteja sendo cantado, e olha que as letras da dupla em Jump into life são basicamente sobre mudanças, finais de ciclo e coisas do tipo. Na grande área do álbum, a partir da quarta-faixa, localiza-se a porção mais afropop de Jump into life. E aí o disco une country e highlife em Simple feeling; parte para um pós-punk balançado que lembra o Aztec Camera, em Through the dark; e evoca bandas como Talking Heads e Television (esta, por causa da pegada na guitarra) em meio aos afrobeats de Turn me down.

Slowly slowly, por sua vez, é a canção do disco que tem mais cara new wave + power pop, com guitarras, vocais e batidas lembrando Blondie, Pretenders e Elvis Costello. No final, em Draw a line, uma surpresa: construindo uma fanfarra pós-punk e afrobeat que alude tanto a Fela Kuti quanto a Dexys Midnight Runners, Ray e Eilidh acabaram fazendo algo próximo do frevo, com ritmo pula-pula e metais cativantes e econômicos. Descubra logo essa banda.

Nota: 10
Gravadora: Rock Action Records
Lançamento: 28 de março de 2025

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Crítica

Ouvimos: Josyara, “Avia”

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Ouvimos: Josyara, “Avia”

Quarto álbum de Josyara (um deles, Estreite, de 2020, foi gravado ao lado de Giovanni Cidreira), Avia abre em clima latino, sambista e moderninho, com a afirmativa Eu gosto assim, prossegue com o clima cigano de Seiva, e tangencia a MPB de Gonzaguinha, Joanna e Maria Bethânia na derramada Festa nada a ver – na qual a narradora é abandonada numa festa chata e responde ao pé na bunda simplesmente deixando a pessoa ir.

Josyara chega a Avia com conceito e cara própria, abordando temas como liberdade, sofrência, feminismo e crises pessoais de maneira peculiar, e destacando seu violão ao lado de sua voz. Como tem sido comum na MPB atual, Avia é um disco curto e completo, que parte para o som cigano e nordestino na releitura de Ensacado, de Cátia de França (com Pitty), para a MPB orquestral e com acento reggae em Corredeira, e para um choro orquestrado e letrado, em parceria com Pitty, Sobre nós – que lembra a fase CBS de Elba Ramalho e Fagner. Por acaso, a capa do álbum lembra o estilo dos LPs da RCA brasileira nos anos 1970/1980, sob um viés mais moderno.

No trio final de faixas, a balada dream pop Prova de amor, o rock nordestino Peixe coração (com cordas belíssimas e ritmadas), e Oasis (A duna e o vento), com participação de Chico Chico, evocando Baby Consuelo e Novos Baianos.

Nota: 8
Gravadora: Deck
Lançamento: 11 de abril de 2025.

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