Lançamentos
Corpus Delicti: pós-punk clássico da França de volta

Se você andou pela França nos anos 1990 e acompanhou a cena pós-punk de lá, tem grandes chances de ter conhecido o Corpus Delicti. Uma banda formada em Nice em 1992, que gravou três álbuns fazendo um som bem gótico, com letras em inglês. Os discos Twilight (1993), Sylphes (1994) e Obsessions (1995) revelam uma sonoridade que lembra bandas como Siouxsie and The Banshees, Bauhaus e Sisters Of Mercy, sempre com peso e vocais graves, além de riffs de guitarra entre o punk e o metal.
Na época, chegaram a fazer shows nos Estados Unidos e uma turnê pela Europa, mas a banda se separou ainda no fim dos anos 1990. A novidade é que a banda se reuniu recentemente, a partir de um contrato com a gravadora norte-americana Cleopatra, que pôs os discos do grupo nas plataformas. E o quarteto decidiu fazer turnês e gravar. Dois singles do grupo chegaram já às plataformas: Chaos (2023) e A fairy lie (2024), além do disco ao vivo From dust to light.
Chaos abre com percussão tribal lembrando a fase inicial de Siouxsie and The Banshees e Joy Division, chegando depois num pós-punk levado adiante por um riff distorcido de guitarra. A fairy lie, por sua vez, é uma balada que abre com piano e vocal grave, e vai para um lado mais gótico e quase metal em alguns momentos. O Corpus Delicti, que foi fundado por Sébastien (vocal), Franck (guitarra), Chrys (baixo) e Roma (bateria) volta com uma formação quase igual à original – Laurent Tamagno, baterista da banda M83, substitui Roma nos novos shows e gravações.
Além dos singles novos e dos relançamentos em digital, os fãs da antiga encontram os três álbuns do grupo em vinil, naquelas tradicionais edições em cores diferentes. Já os dois novos singles ainda ganharam clipes. Confira o som do Corpus Delicti abaixo.
- E esse foi um som que chegou até o Pop Fantasma pelo nosso perfil no Groover – mande o seu som por lá!
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Lançamentos
Radar: Charlatans, Wet Leg, Wolf Alice, Spilly Cave, The Wild Things, Burn Kit, Orchids Of Jupiter

Britpop a perder de vista: o Oasis tá de volta e os Charlatans, nem sempre tão lembrados, mas com vários discos clássicos na discografia, animaram-se para retornar com single e álbum depois de oito anos. Eles encabeçam o Radar internacional de hoje, que oscila entre novas bandas indie e alguns hits instantâneos do rock atual. Ouça tudo sem pressa.
Texto: Ricardo Schott – Foto (The Charlatans): Cat Stevens/Divulgação
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THE CHARLATANS, “WE ARE LOVE”. E olha só quem está de volta. A banda britânica The Charlatans anuncia We are love, seu primeiro disco de inéditas em oito anos, com lançamento marcado para 31 de outubro pela BMG. A produção é de Dev Hynes (Blood Orange) e Fred Macpherson (Spector), com ajuda de Stephen Street (Blur, The Smiths). As gravações aconteceram no histórico Rockfield Studios, no País de Gales, e no Big Mushroom, estúdio que pertence ao grupo.
Tim Burgess, vocalista, diz que a volta a Rockfield – onde gravaram o clássico Tellin’ stories, de 1997 – foi uma forma de homenagear a história dos Charlatans, e a turma que já passou pelas formações do grupo. A faixa-título, descrita como “um passeio de carro conversível nos créditos do seu filme favorito”, serviu como bússola criativa para o novo trabalho. E sai como single.
WET LEG, “CATCH THESE FISTS”. Passados alguns dias do lançamento de Moisturizer, disco novo do Wet Leg – que resenhamos aqui – o que mais tem é gente buscando as sessions ao vivo do grupo pra ver no YouTube, além de várias sessões novas para marcar a chegada do disco às plataformas. Na sexta (11), dia em que por acaso saiu Moisturizer, a rádio holandesa 3voor12 mandou pro YouTube uma gravação com o Wet Leg nos estúdios da emissora, tocando cinco faixas do disco novo, além de dois hits da estreia Wet Leg (2022), Chaise longue e Angelica. A primeira da live session foi o hit Catch these fists, de Moisturizer. Vai pro último volume ou não vai
WOLF ALICE, “THE SOFA”. A banda dá mais um passo rumo ao lançamento de seu próximo álbum The clearing com The sofa, que mostra o Wolf Alice mergulhando sem cerimônia no soft rock. A balada, conduzida por piano e versos confessionais de Ellie Rowsell, observa os pequenos ciclos da vida com calma, amadurecimento e aceitação do presente – mesmo que ele pareça modesto demais perto dos antigos sonhos de grandeza.
Já o clipe da música, dirigido por Fiona Jane Burgess, passeia por ruas do norte de Londres em câmera lenta e cores vivas, com Ellie sendo levada em um sofá por cenários que mostram o cotidiano de maneira inclusiva e surreal. O release da faixa e do clipe, por sinal, faz questão de citar uma banda bastante chupada nos dias de hoje (o Fleetwood Mac) como referência para o disco que está vindo aí. Só aguardando – The clearing sai dia 22 de agosto.
SPILLY CAVE, “BALBOA”. Esse artista indie da Pensilvânia prepara disco para dia 29 de agosto, Sixty-four. Já tem outro single rolando por ai, Open air, mas preferimos destacar Balboa, slacker rock lançado por Spilly mês passado. No clipe da canção, um ator idoso chamado Robert Hakesley sai por aí com um caderno moleskine em que anota tudo que pode melhorar sua vida – ele anda pelo mato, faz exercícios ao ar livre, pratica canoagem, viaja de balão e toca uma gaitinha no meio da floresta. Balboa é um slacker rock em que dá para sentir o desespero na letra (“há um monte de merda que / eu nunca vou descobrir”), ainda que o clipe seja bem positivo.
THE WILD THINGS, “KNOCK DOWN, DRAG OUT”. Essa banda tem modernidade e memória. Afterglow, disco deles do ano passado – um álbum conceitual que conta a história dos moradores da cidade fictícia de Valentine, que enfrentam um fenômeno paranormal – teve co-produção de ninguém menos que Pete Townshend, do The Who. Enquanto não sai um novo álbum, eles vêm com o single Knock down, drag out, a primeira parte de uma história de amor enlouquecedora vivida por uma garota de Nova Orleans – e um rock energético que alude tanto ao pós-punk quanto ao próprio Who.
A canção vai ter um segunda parte, I can’t wait, que sai em breve e vai falar sobre o que aconteceu com o relacionamento – ao que consta, o intervalo entre os singles corresponde à duração do namoro (!). Na banda, destaque para a vocalista Sydney Rae White, uma atriz e cantora de 33 anos que trabalhou em séries de TV como O jovem Drácula, nitroglicerina pura em estúdios e palcos.
BURN KIT, “WHEN YOU KNOW, YOU KNOW”. Vinda de Boston, essa banda se dedica a uma mistura de punk, som gótico e vibes de skate music dos anos 1980 – às vezes lembrando a fase inicial do TSOL, com riffs graves de guitarra e batidas urgentes. Fallen rose, o EP novo, saiu em março. When you know, you know, a primeira faixa, é definida pela banda como “um hino de autoconhecimento radical. Um chamado sonoro à ação, para se levantar e lutar contra a acomodação que te impede de viver a vida que você realmente quer. Enquanto você não puxa o gatilho do que deseja, fica paralisado pelo medo de fazer a escolha errada. A sua intuição vai te mostrar o que é certo”, afirmam.
ORCHIDS OF JUPITER, “FIGHTING ON THE WRONG SIDE”. Brigas inúteis e infernos pessoais surgem nessa new wave gótica lançada pelo Orchids of Jupiter – uma banda de Los Angeles liderada pela cantora e guitarrista Karie Jacobson, e que volta e meia se parece com um B-52s menos exuberante e vestido de preto. O quarteto já lançou quatro singles e divide atualmente seu tempo entre correr atrás de shows e preparar devagar seu primeiro álbum – que deve sair só em 2026. “Com vocais assombrosos e letras que mergulham em reinos existenciais e mitológicos, o Orchids of Jupiter cria um mundo próprio, ligado a contos de fadas sombrios”, diz a banda.
Crítica
Ouvimos: Peter Murphy – “Silver shade”

RESENHA: No novo álbum, Silver shade, Peter Murphy mistura pós-punk, darkwave e clima Bowie anos 1990 – tem coisas boas, mas parece distante do brilho de seus discos clássicos.
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Vou começar a resenha com uma pergunta a você, que ouviu Silver shade antes de mim (o disco foi lançado tem alguns meses): você curtiu o novo disco de Peter Murphy de verdade, ou fui eu que impliquei com certos detalhes dele?
Eu já comecei a achar que havia algo estranho nesse disco por causa da capa – o rosto do ex-cantor do Bauhaus se transforma numa “coisa” metálica que mais lembra uma daquelas travessas de aço inox que só saem do armário para servir o peru de Natal, ou os cabos de talheres antigos do tempo de vovó garota. A voz de Peter continua impostada, lá em cima, mas ganhou um ligeiro tom canastrão que causa certas dúvidas. Swoon e Hut boy, dois temas darkwave de quatro costados que abrem o álbum, vão nessa linha.
Apesar da abertura em tom sombrio e eletrônico, Silver shade é na maior parte do tempo um disco que une pós-punk, alguns climas progressivos de FM e vibes trevosas. Sherpa é pós-punk de base “dark”, a faixa-título soa quase grunge, The artroom wonder soa bastante parecida com o começo da fase anos 1990 de David Bowie, e vai por aí. Já a enorme The meaning of my life parece um Duran Duran sombrio, reflexivo e meio pesado.
- Relembrando: Peter Murphy, Love hysteria (1988)
- Corpus Delicti: pós-punk clássico da França de volta
O canto de Bowie paira também sobre as duas melhores músicas do disco, Xavier new boy e Cochita is lame – essa última, com clima chique ligado à música dos anos 1960 e a trilhas de filmes policiais. Peter invade a pequena área do rock pauleira em Soothsayer e soa exagerado e meio (vá lá) cafona em faixas como Time waits e The salimaker’s charm (que soa como um Pink Floyd anos 1980 travado). Let the flowers grow, com Boy George, é meditativa, meio deprê e ressoa bem.
Silver shade tem méritos – e é Peter Murphy na atividade, ora bolas. Mas do começo ao fim você vai esperar algo gracioso como as faixas de discos antigos do cantor do Bauhaus, como Love hysteria (1988) e Deep (1989), e não vai achar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Metropolis Records
Lançamento: 9 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: La Flemme – “La fête”

RESENHA: Garage rock francês com cowpunk, surf e noise: La fête, estreia do La Flemme, é barulhento, blasé e cheio de boas ideias.
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O garage rock francês vai muito bem, obrigado. O La Flemme, em seu primeiro álbum, La fête, mostra-se uma banda de garagem com tendências a abarcar estilos como o bom e velho cowpunk (a faixa-título, dos versos exaustos “os jovens querem festejar / a preguiça”, repetidos o tempo todo), a surf music dos anos 1960 (a melô do pássaro do mau agouro Oiseau, e Laissez-moi tranquile) e até noise rock – esse, nos ruídos finais de Marre de vous e Demain.
O La Flemme tem bastante ligação com o pop francês, embora isso não seja esfregado na cara de quem ouve – dá para perceber no clima chique e irônico do pós-punk Le petit du camas, com vocais falando lembrando Serge Gainsbourg, e na brincadeira ruidosa e quase psicodélica de Mer azur. Um verdadeiro ET em La fête é Tunnel, um garage rock psicodélico, espacial e instrumental de quase sete minutos, com várias partes que migram para um clima quase stoner. O tipo de faixa que na era do CD talvez virasse um bônus escondido – com uma vibe não tão representativa da banda.
Em boa parte das letras de La fête, o narrador é o personagem que já está de saco cheio das mesmas pessoas e situações, como no perrengue alcoólico de Demain, e no tédio geral de Sans fond (“vamos falar pouco, mas vamos falar de verdade / nunca sem dizer nada / isso me entendia!”) e de Laissez-moi tranquile (“me deixem em paz”, em bom português). Um disco de estreia bacana, barulhento e cheio de atitude blasé.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 25 de abril de 2025
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