Lançamentos
Cigarettes After Sex lança single duplo: ouça

Saíram as duas primeiras músicas de 2023 do Cigarettes After Sex. A banda liderada por Greg Gonzalez, definida como “calminha”, “sonhadora”, “sensual” e até “nebulosa” por uma turma enorme, retorna num clima bem mais enevoado ainda no single duplo Bubblegum e Stop waiting, músicas perfeitas para a trilha sonora de um filme indie repleto de cenas de sexo, tipo 9 songs. A primeira fala sobre um relacionamento pra lá de bizarro, em que o sexo vira paixão de uma hora pra outra. A segunda é basicamente a descrição de uma cena envolvendo sexo, praia, vinho e pílulas amarelas.
O grupo fez um show no Lollapalooza Brasil em março, que acabou se tornando polêmico – pelo menos para a produção, já que o grupo exigiu que não houvesse fotógrafos no palco e queria porque queria que a apresentação só fosse transmitida pela TV em preto e branco. O canal Bis, que transmitiu os shows, chegou a publicar um tweet avisando ao público que “seu aparelho de TV não está com defeito”. O grupo texano lançou seu mais recente álbum, o segundo, Cry, em 2019.
Crítica
Ouvimos: Tunde Adebimpe, “Thee black boltz”

Com o hiato do TV On The Radio (que já completou mais de dez anos), cada integrante foi realizar projetos pessoais. Tunde Adebimpe, cantor do grupo, reforçou sua lista de trabalhos como ator, em séries e filmes – e só agora lança seu primeiro álbum solo, Thee black boltz. Um disco tão cheio de carisma, vamos dizer assim, quanto seu próprio autor.
Thee black boltz surgiu numa época conturbada na vida de Tunde, que perdeu a irmã na época da pandemia – o músico revelou ao The Guardian que precisou tratar de tudo relativo ao enterro sozinho. O repertório já estava em andamento, e Jumoke, irmã de Tunde, é homenageada no soft rock estradeiro ILY (“diga-me amiga, que o fim não é o fim / e se o amanhã viesse e nos pegasse em uma mentira”).
ILY (“I love you”) é uma balada que talvez ninguém pudesse imaginar que Tunde faria em sua estreia solo, mas é igualmente uma faixa bem diferente em Thee black boltz, ainda que seja um disco de escolhas musicais variadas. A cara do álbum é uma espécie de tecnopop punk e desafiador, como no trip hop pesado de At the moon (quase uma música do Nine Inch Nails, mas com peso dosado e clima nerd), no Erasure antipop de Drop e no freestyle gótico de Blue.
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No fim do álbum, o hi-nrg ágil de Somebody new e a fusão Orchestral Manoeuvres In The Dark + afropop de Streetlight nuevo mostram que, mesmo nas faixas mais dançantes, Tunde não abre mão de surpreender — seja na produção, nas referências ou no modo como subverte expectativas. Mas tem bem mais do que isso no álbum. Pinstack, por exemplo é rock com cara 60’s, lembrando um tema grudento de alguma banda como Kinks ou Archies, mas levado para um lado mais texturizado.
The most volta ao tecnopop que marca o álbum, mas com discreta vibe reggae. God knows, uma canção bem amarga sobre um relacionamento pra lá de cagado, é um soul de piano, synth e violão que tem algo de Jimi Hendrix e Fleetwood Mac (e de Red Hot Chili Peppers, já que os vocais de Tunde lembram discretamente os de Anthony Kiedis).
Seja como for, a chave principal de Thee black boltz está logo no início do álbum, nas duas primeiras faixas. A música-título é uma espécie de oração espacial, com sinais eletrônicos e trechos como “thee black boltz (algo como “os raios negros”, só que estilizado) /aprendeu que a mudança é tudo / olhando para as estrelas”. Magnetic é uma peça de afrofuturismo, de new wave espacial, com algo de Errare humanum est, de Jorge Ben, na letra. Uma música que serve como manifesto do álbum: “eu estava pensando sobre a raça humana / na era da ternura e da raiva (…) / porque você é magnético, sintetizador incrível / você esteve para baixo, mas vai ficar mais alto”.
Thee black boltz, estreia solo de Tunde Adebimpe, é um álbum elaborado, mas ao mesmo tempo, simplificado. Como se fosse a redução mínima de um pop, para que ele possa ser compreendido em outros planetas, em outros tempos e civilizações.
Nota: 10
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 18 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Terno Rei, “Nenhuma estrela”

Em seu quinto álbum, o Terno Rei soa como uma das bandas menos lembradas do rock oitentista: os australianos do The Church (lembra de Under the milky way?) e seu pós-punk sonhador e espacial – ainda que o nome do disco seja Nenhuma estrela, e em boa parte das faixas, um certo desencanto tome conta de letras e vocais.
Lô Borges, que solta a voz na bela Relógio (remetendo ao som do mineiro dos anos 2000 para cá), é uma grande referência em vários momentos do álbum, igualmente. Mas o principal é que em faixas como Peito, Nenhuma estrela (ambas com clima quase dream pop), Próxima parada (de clima quase trip hop, lembrando uma música da Marina Lima, e coincidentemente xará de uma faixa da cantora) e Nada igual – esta lembando bandas como Smiths, R.E.M. e The Sundays – o Terno Rei comporta-se como um membro tardio do clube oitentista britânico, ou da legião pop adulta da mesma década.
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Ainda assim, o Terno Rei faz questão de demarcar território em 32, som folk e misterioso, cheio de recordações doloridas (“agora sou eu, que tenho meus 32 / 32 dentes, o mundo na frente, não posso ficar pra trás”), e de unir desencanto e amadurecimento em Coração partido, outra faixa lembrando The Church, com os versos “eu não quero mais saber do que não posso mudar / não precisa me dizer / amanhã já vai chegar”.
Sons mais explosivos aparecem em faixas como Pega, levada por riff de guitarra e baixo costurando a melodia, e Programação normal, alternadas com o tecnopop deprê, com cadência de rap (e participação do duo mineiro Paira) de Tempo, e as baladas pós-punk Acordo e Viver de amor. Entre ecos do passado e dúvidas do presente, o Terno Rei parece buscar um lugar próprio.
Nota: 8,5
Gravadora: Balaclava Records
Lançamento: 16 de abril de 2025
Crítica
Ouvimos: Bon Iver, “Sable, Fable”

O novo álbum de Justin Vernon (o cara por trás da marca Bon Iver) reúne um EP lançado em 2024 (o tal do Sable) e algumas faixas acrescentadas ao novo lançamento – que formam o tal conjunto Sable, Fable, estilizado dessa forma. A vibe dos discos anteriores da banda – definida por Justin como “homem em uma cabine” – está bem presente aqui, o que com certeza vai tranquilizar os fãs.
Essa tal vibe compreende uma… vamos dizer assim… mescla de dor com comportamento gratiluz, que no álbum, ganham uma forma de travessia. Isso porque em Sable, o EP, tudo soa extremamente melancólico, com direito a Justin cantando com voz grave. Nas músicas de Fable, Justin usa um falsete quase sempre despedaçado, e volta e meia soa mais tranquilo e esperançoso, em letras e músicas.
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O que une as duas pontas do trabalho é a disposição de Justin e seus colaboradores para juntar beleza e estranheza, folk e eletrônica, vibe estradeira e climas ambient. O alt country Things behing things behind things é quase dissociativo, com versos como “tenho medo de mudar / e quando chega a hora de verificar e reorganizar as coisas / há coisas atrás de coisas atrás de coisas / e anéis dentro de anéis dentro de anéis”, batida lembrando um loop e um clima de delírio. Speyside é um folk que chega a parecer sarcástico de tão desencantado (“espero que você olhe / enquanto preencho meu livro / oh, que desperdício de madeira”).
Uniões entre folk, soul e eletrônica, às vezes lembrando os discos solo de Peter Gabriel, aparecem na minimalista e sombria Awards season, em Short story e em Everything is peaceful love. O mesmo acontece em Walk home – uma canção de amor e saudade, com vocal lembrando ligeiramente as linhas de Cindy Lauper – e no gospel texturizado de Day one, basicamente uma faixa sobre traumas (“queria que você pudesse tirar isso de uma vez / toda essa merda que te destrói”), com participação do músico e produtor norte-americano Dijon e da musicista Jenn Wisner (Flock Of Dimes).
Sable, Fable vai se tornando um disco mais pop e prazeroso – e em especial, com canções que parecem ter começo, meio e fim – à medida que se aproxima das últimas faixas. Tipo em From, que é pop adulto anos 1980 alternativado. Ou nas duas faixas com Danielle Haim (do HAIM), I’ll be there e If only I could wait. Danielle co-escreve as duas e solta a voz na última, e ambas são r&b construído em meio a efeitos sonoros e clima de estúdio pequeno. Acabam sendo duas das melhores músicas da história do Bon Iver e as melhores do disco – dando até mais expectativa sobre o disco das Haim que vem por aí.
O álbum despede-se dos ouvintes com o pop herdado do soul e do country de There’s a rhythmn, com piano Rhodes cintilando e algo que remete a um Kenny Rogers alternativo. O ritmo dissolvido e os efeitos vocais do final da faixa desembocam num instrumental de despedida, Au revoir, lembrando que no fundo, o Bon Iver sempre esteve mais próximo de Brian Eno do que da turma do folk ou do country. No geral, uma música mais para desafiar ouvidos do que para apenas contar histórias. Em Sable, Fable, essa vontade de fazer explorações musicais nem sempre dá certo, mas o saldo é positivo.
Nota: 8
Gravadora: Jagjaguwar
Lançamento: 11 de abril de 2025.
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