Cultura Pop
Arsenio Hall vs. Vanilla Ice

Na opinião do Entertainment Weekly, o papo de Arsenio Hall com o rapper branco Vanilla Ice foram “nove dos minutos mais onerosos da história do talk show na televisão”. O apresentador, que – impossível não saber – está de volta aos cinemas com Um príncipe em Nova York 2 – fez mais do que apenas entrevistar o cantor, naquela noite de 1991 no Arsenio Hall Show. Deu uma fritada no artista, a começar pela abertura do número de Vanilla, com Arsenio segurando uma cópia do CD de estreia do rapper, To the extreme (1991, que aparece no vídeo numa daquelas nada saudosas long boxes) e anunciando, com um sorriso irônico, que o cantor ia mostrar seu hit Play that funky music.
Arsenio não era conhecido pela severidade com os entrevistados, mas Vanilla (vale citar) não era dos artistas mais queridos naquele momento, apesar de estar vendendo milhares de cópias do seu disco de estreia. Para cima do rapper do Texas, rolava de tudo: desde acusações de apropriação cultural até opiniões bem venais, além de acusações de que toda a sua biografia (repleta de brigas de gangue e facadas) era história de pescador.
O fato que determinou o emputecimento de Arsenio foi que ao meio-dia, o apresentador viu no levantamento feito por sua equipe uma informação a respeito de uma competição de motocross vencida por Vanilla Ice, que já era assunto controverso em entrevistas. A imprensa não encontrava evidências do tal campeonato, e Vanilla costumava dizer que ganhou logo três campeonatos. A informação teria sido plantada pela gravadora de Vanilla, a SBK, e durante um bom tempo, vale citar, virou passatempo para a imprensa investigar cada detalhe das histórias do rapper, como deixa clara essa matéria do New York Times.
TÔ P… DA VIDA
Um tempo atrás, num papo com a Vlad TV, Arsenio confessou que estava realmente puto da vida no dia da entrevista de Vanilla e chegou a pensar que estava sendo “usado” – estaria sua equipe inserindo informações erradas sobre o rapper no roteiro do programa a pedido de alguém?
“Não tenho certeza se estava zombando dele tanto porque, para ser totalmente honesto com você, não estava me sentindo engraçado. Tive um dia longo e difícil. E provavelmente não estava gostando de provocar ninguém. Algumas coisas aconteceram no processo de pesquisa com ele. E eu fui enganado com algumas informações que estavam prestes a sair para o meu público naquela noite”, contou.
Seja como for, Arsenio preferiu jogar o manual fora e sentar a mamona em Vanilla. Que por sinal abriu o papo trazendo para o palco ninguém menos que… Flavor Flav, do Public Enemy (o que se falava na época era que o grupo de rap o ajudara no começo da carreira e chegara a sugeri-lo para o selo Def Jam). Arsenio fica visivelmente tenso e contrariado, Flavor e Vanilla trocam um longo abraço (sob os aplausos da plateia), mas o rapper do Public Enemy logo deixa o palco. Com apresentador e entrevistado já sentados no sofá, Arsenio ataca perguntando porque é que Vanilla tinha mandado recentemente um “kiss my ass” para “todos aqueles que querem me derrubar”.
Vanilla responde que era um recado para “as pessoas que acham que eu não ia dar em m… nenhuma, que achavam que um rapper branco não iria chegar em lugar algum”. “Então é uma vingança do rapper branco oprimido”, ironiza Arsenio. A plateia entende o recado e ri.
INVEJA?
Vanilla também aproveita para mandar um “vocês vão ter que me engolir” para a imprensa que fala mal dele e diz que ele mente quando fala de seu passado. Havia também uma história sobre ele ter estudado com o rapper e produtor Luke Campbell (2 Live Crew) na escola. Arsenio pergunta sobre isso e Vanilla diz que nem poderia ter estudado com ele, “já que ele é mais velho que eu”.
Quando o papo descamba para a raiva que os rappers negros possivelmente sentem de Vanilla por ele estar usando uma linguagem musical profundamente ligada à cultura afro-americana, aí o bicho pega mais ainda. Vanilla solta um “que culpa tenho eu? Eles só estão mostrando sua própria inveja”. E cita sua amizade com Flavor Flav como fator de camaradagem com a comunidade negra. “Então podemos dizer que você o trouxe aqui para o palco para mostrar que você tem um apoiador negro?”, espeta Arsenio. Vanilla nega e a plateia vaia o apresentador (o diálogo que se segue depois, nem vamos falar, veja aí).
A BRIGA AINDA RENDEU
O papo tá aí em cima em duas versões: a primeira sem legendas, mas com o show de Vanilla, a segunda com legendas e sem o show. E o papo dele com Arsenio foi tão marcante que, anos depois, rolou até um vídeo de bastidores da entrevista, num programa do canal VH1.
Arsenio admite que estava puto da vida com aquele circo todo e com as mentiras em torno do artista. Já Vanilla confessa que nem queria ir ao programa e que nem sabia o que esperar. Logo em seguida, rola uma das cenas mais belicosas daquela entrevista: quando Arsenio introduz a história das supostas mentiras de Vanilla e ele começa a reclamar e a dizer que não é mentiroso. O entrevistador senta o pau na mesa: “Só que estamos fazendo uma entrevista, isso é notícia nova para minha audiência e vamos falar disso”.
A CULPA FOI DA GRAVADORA
Vanilla, olhando a história em retrospecto, diz que ele nunca mentiu, “mas a companhia (SBK) criou uma imagem em torno de mim”. Arsenio retruca que Vanilla não queria ter que comentar as histórias e as mentiras, tanto que uma de suas estratégias foi justamente chamar Flavor Flav. “Mas se fosse para fazer isso, que viesse só para cantar, e não fosse para o sofá (das entrevistas)“, reclamou o apresentador.
Marta Kell Brown, produtora executiva do programa, manda bala: “Vanilla provavelmente pensou que Flavor ia sentar do seu lado no sofá e ajudá-lo na entrevista, ou que Arsenio iria falar: ‘Por que não senta com a gente?’ Mas ele jamais faria isso”, contou. Já Arsenio revela que tinha ficado particularmente irritado com a entrada de Flavor (arranjada, segundo Vanilla, num encontro na noite anterior) porque Chuck D, do Public Enemy, havia lhe falado que o cara de Ice ice baby não era um dos amigos do grupo.
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Lembra da época em que Vanilla Ice virou amish?
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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