Crítica
Ouvimos: Alison Goldfrapp – “Flux”

RESENHA: Em Flux, Alison Goldfrapp troca rótulos por liberdade: tecnopop vaporoso, sexy e onírico, que atualiza os anos 1980 em 2025.
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A expressão “segue o fluxo!” serve para indicar que o melhor e mais acertado a fazer é não brigar com a correnteza e seguir o que está rolando – no trânsito, no trabalho, no dia a dia, etc. O fluxo de Alison Goldfrapp, durante seu período no duo Goldfrapp (com Will Gregory) era algo que ela própria estranhava.
Entre beats dançantes e sintetizadores, Alison era associada a rótulos como “diva disco dos anos 2000”, “dominatrix disco”, “diva sexy da música eletrônica”. Nas entrevistas, reclamava dos rótulos e do caráter misógino da indústria, que alimentava epítetos sexualizados e objetificados para artistas mulheres. “Se eu fosse um homem com opiniões, seria respeitado, mas, como sou mulher, tenho que ficar quieta”, chegou a dizer.
Vai daí que Flux (note o nome), o segundo álbum solo de Alison, lançado por sua própria gravadora, tem a missão de sair dessa onda, mas ao mesmo tempo não mexer tanto assim num time que já ganhou bastante. O disco tem vários momentos safadinhos-românticos e um vapor sensual que envolve todo o repertório – ainda que seja um clima sexy e frio, exposto até na robótica foto de capa.
Alison provavelmente não vai mais aceitar ser chamada de “dominatrix”, mas investe numa onda meio Olivia Newton-John no tecnopop vaporoso de Hey hi hello, fala de erotismo maquínico na tecnodélica Reverberotic, explora a hi-NRG misteriosa e romântica em Strange things happen, e deseja emoções fortes na house music Play it (Shine like a Nova Star).
Flux é um disco oitentista revisto e atualizado pelo viés de 2025, em texturas, letras e climas musicais. E, bom, atualizado, mas nem tanto, e é aí que está a graça – e vale lembrar que Alison está longe de ser uma iniciante, já tem 59 anos e viu/ouviu muita coisa na vida. Por sinal, falamos em Olivia Newton-John, e tem até uma Find Xanadu no disco. Um tecnopop sonhador, com cordas mágicas que surgem também na ágil Ultrasky (essa, uma das melhores melodias do álbum).
Já Magma e Ordinary day respondem pelo (vamos dizer assim) lado revigorante do disco, com batidas intensas e teclados viajantes. Nem tudo em Flux é perfeito, mas a ideia de unir beats dançantes, elegância sonora e vibes de sonho foi alcançada e deve balizar a carreira solo de Alison daí para diante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: A.G.
Lançamento: 15 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Half Japanese – “Adventure”

RESENHA: Half Japanese celebra o amor e a maturidade em Adventure, unindo no-wave, psicodelia e ecos de Television e T. Rex.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Fire Records
Lançamento: 11 de julho de 2025
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Tem algo no som do Half Japanese que sempre deu uma ideia de The Fall norte-americano, só que com beleza nas melodias e um clima mais garageiro e art-rock do que propriamente afrontoso. Por acaso, Jad Fair, criador do grupo, lado a lado com a turma que passou pela banda durante nada menos que 50 anos (!), sempre fez questão de que o Half Japanese não falasse só de temas bizarros ou irônicos.
Mesmo um disco malucão como The band that would be king (1989), o sétimo da banda, com nada menos que trinta microfaixas, era bem variado. Tinha espaço para nostalgia dos anos 1960, letras sobre situações do dia a dia e até mesmo a vibe fun fun fun de Daytona beach, bolerinho praiano que deve tanto a Beach Boys quanto a Neil Young, e cuja letra fala basicamente de azarar garotas à beira-mar – lado a lado com a oração pagã, sessentista e ruidosa de Lucky star.
- Ouvimos: Geese – Getting killed
Corta agora para Adventure, disco que a própria gravadora da banda, Fire Records, está apresentando como sendo muito otimista e venturoso, com faixas que “celebram o poder do amor, do afeto e da maturidade”. Em vários momentos, soa mesmo como se o Half Japanese fosse uma banda de no-wave do mundo invertido, de krautrock doce, com vocais tensos misturados a climas bonitos e delicados. Rola isso na melodia bonita e ruidosa de Beyond compare, na união de Talking Heads e do Nirvana do single Dive em Step on up, no pós-punk psicodélico de Meant to be – que traz à mente um supergrupo unindo Mark E Smith (The Fall) e Syd Barrett.
O Television também tem um disco, o segundo deles, chamado Adventure (1978) – e o Half Japanese, vá lá, não deixa de lembrar bastante o Television em vários momentos. Tendo o grupo de Tom Verlaine como uma das fontes primárias, Jad Fair também une magia e mistério em That’s fate, deixa entrar influências do The Doors do disco Morrison Hotel (1970) na faixa-título – que faz lembrar o começo de Roadhouse blues – e soa como um Talking Heads voltado para o dream pop em Magnificent.
A faceta clássica do grupo dá as caras igualmente em faixas que soam como um revisionismo punk da psicodelia – entre elas, a declamada The summer of love e a elaborada Blame it on your smile. Fãs de Marc Bolan e T. Rex vão ficar contentes com o glam rock Stars don’t lie, que tem até uma discreta percussão ao fundo, como nos clássicos do grupo glam britânico.
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Crítica
Ouvimos: Friendship Commanders – “Bear”

RESENHA: Rock pesado e confessional: o duo Friendship Commanders mistura Alice In Chains, Smashing Pumpkins e climas ligados até a country e soft rock em Bear, disco intenso com cara noventista.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Magnetic Eye Records
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Se até as 4 Non Blondes podiam, por que é que o Friendship Commanders não pode? Esse interessantíssimo grupo de Nashville faz um som pesado que tem até um ou outro elemento de country perdido aqui e ali, em meio às guitarras. Mas o principal é que Buick Audra (guitarras, composições e vocais de longo alcance) e Jerry Roe (bateria e baixo) unem rock pauleira a la Alice In Chains, guitarradas herdadas dos Smashing Pumpkins, clima denso decalcado do doom metal e até truques melódicos do soft rock (evidentemente com um soft lá pelo último volume). Eles retornam do seu jeito aos anos 1990, em clima quase de rock pauleira bedroom, em seu novo disco, Bear.
O Friendship Commanders tem história: o grupo teve um disco produzido por Steve Albini em 2018, Bill – só que o álbum acabou mixado por outra pessoa. Só no ano passado, Jerry e Buick soltaram as mixagens originais feitas por Steve, como homenagem ao produtor. X, um dos singles de Bear, foi inspirado na morte de Albini. A música é uma nuvem de guitarras altamente melódica que envolve o/a ouvinte, e que parece inspirada numa mescla de Fleetwood Mac com os Smashing Pumpkins de Siamese dream (1993).
- Ouvimos: Rocket – R is for rocket
O repertório de Bear tem pauleira clássica (Keeping score, Midheaven), tons mais densos (Dripping silver, Found, Melt), sons mais próximos do punk (Imperfect, New) e as tais influências dos Smashing Pumpkins (na estradeira Dripping silver, e em algumas combinações de guitarra e virada de bateria). Já as letras de Buick, por sua vez, vão numa onda confessional e direta, falando quase o tempo todo sobre inadequações e abusos.
X, por exemplo, prega que “eles vão te dizer que você é muito jovem antes de te dizerem que você é muito velha”. Found soa como uma carta para alguém, dizendo que “foi aqui que te encontrei / quando o suficiente não era o suficiente”. Keeping score abre o disco com a frase “eu coloquei uma fechadura em mim mesmo porque fui assaltada cedo”. O final é tenso e fúnebre, com a energia quase stoner de Dead & discarded girls.
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Crítica
Ouvimos: Thaysa Pizzolato – “Syzygy” (EP)

RESENHA: O EP Syzygy mistura synthpop oitentista e psicodelia; Thaysa Pizzolato cria um som entre Justice, Lincoln Olivetti e Kraftwerk.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Sound Department
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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A musicista e produtora capixaba Thaysa Pizzolato cria um universo sintetizado bastante ligado à música oitentista em seu EP instrumental Syzygy – mas que também ganha uma vibe psicodélica e quase progressiva em alguns momentos. A faixa-título, que abre o disco, junta esses dois universos com referências de Justice, enquanto Shadows é trilhada numa espécie de ambient dançante, com bateria orgânica (tocada por Maressa Machado) e lembranças sonoras de Giorgio Moroder.
- Ouvimos: Matthew Nowhere – Crystal heights
O beat de Jupiter chega a lembrar um reggae no início, mas vai se aproximando do pop instrumental nacional, especialmente quando entra a guitarra da convidada Mariana Gruvira. No joke funde ritmos, mais uma vez com bateria orgânica (tocada por Nana Arrivabene), numa experimentação musical que parece unir Lincoln Olivetti, disco music, Nordeste e Kraftwerk na mesma escala. O final é progressivo e meditativo, apresentando o violino de Heviny Moura em Echoes.
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