Lançamentos
Urgente!: Pulp, DIIV e Wado mergulham no amor e no recomeço

O Pulp (visto acima em foto de Tom Jackson) acaba de soltar nas plataformas mais um vislumbre de seu primeiro disco em 24 anos, More, que sai no dia 6 de junho. Got to have love, novo single da banda, é romântico ao extremo, com referências de música francesa, disco music e glam rock, além de uma declamação (!) de Jarvis Cocker lá pela metade. Muitos fãs da banda já conhecem bem essa música, alias: ela estreou em um show do grupo no Brooklyn, no ano passado.
Jarvis está interessadíssimo em abordar o lado romântico da vida, tanto que Got to have love, segundo o próprio, representa o amor como ele o enxerga hoje em dia. “Amor é uma palavra que eu não conseguia dizer até estar chegando aos 40 anos. Eu ouvia músicas de amor o tempo todo, mas não conseguia usar essa palavra na vida real. A letra dessa canção é eu tendo uma conversa séria comigo mesmo sobre essa situação. Me dei um verdadeiro puxão de orelha”, diz – sendo que a letra tem versos na linha de “sem amor, você só está fazendo papel de bobo! Sem amor, você só está se masturbando dentro de outra pessoa!” (faz sentido, enfim).
Uma curtição é o clipe da faixa nova do Pulp, que foi concebido por Jarvis a partir de imagens do documentário Wigan Casino, feito pelo diretor Tony Palmer para o canal britânico ITV, e que mostra a cena soul do Norte da Inglaterra – tem inteiro no YouTube, por sinal. “É o melhor filme de dança que já vi”, conta Cocker. Spike island, primeiro single do disco, saiu em abril.
E essa é a tal estreia da música no Brooklyn.
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Durante a semana, o DIIV abriu caminho entre cinzas e contemplação, com uma canção que é quase um sussurro de recomeço. O novo single do grupo, Return of youth, saiu na segunda (19), e é a primeira inédita desde o álbum Frog in boiling water, lançado em 2024 (e resenhado pela gente aqui).
A faixa tem quase oito minutos e é guiada pelos silêncios, por riffs desolados de guitarra, e por um clima de sonho acordado. “Guia-me por um caminho que leva / inocente e tolo / a uma ingenuidade recém-descoberta”, canta o vocalista Zachary Cole Smith.
Desde o último disco, muita coisa aconteceu. O vocalista e sua famíla perderam tudo o que tinham nos incêndios florestais em Altadena, Califórnia. Return of youth foi escrita bem antes disso — quando ele ainda se preparava para ser pai pela primeira vez. Mas ficou marcada para ele como uma canção da paternidade, em que ele tentava ver a si próprio pelos olhos de seu filho.
“Estávamos nos preparando para o nascimento do nosso segundo filho. Estávamos vivendo no lindo mundo em casa que eu havia imaginado nessa música, e de repente esse mundo desapareceu”, conta. “Quando retomamos essa música para finalmente lançá-la, não pude deixar de ouvi-la de forma diferente depois. O que constitui um lar? É possível escapar do mundo exterior? A esperança é apenas uma ilusão? Alguém está realmente preparado para ser pai ou mãe? Como você PODE trazer uma criança a este mundo?”.
“Descobri novamente que as grandes questões eram irrelevantes. Acho que você simplesmente continua vivendo. A vida acontece nos termos da vida”, completa. E diante da música, nada mais a dizer. Return of youth chegou às plataformas num EP com mais três faixas de Frog, que são Reflected, Somber the drums e Little birds.
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Saiu nesta quinta (22) o primeiro single do novo disco de Wado. A faixa se chama Jão, é uma parceria de Wado com Marcelo Frota (o Momo), e já havia sido gravada por este último em seu álbum Gira, do ano passado. A leitura de Wado, que traz a participação de Fábio Trummer (Eddie), é menos afrobeat que o original de Momo e joga na área do samba-rock, com emanações de Mundo Livre S/A e Paralamas do Sucesso (este, nos metais, que têm algo do hit Pólvora).
A parceria entre os dois compositores, por sinal, norteou o conceito do 14º álbum de estúdio de Wado, Obstrução samba, que será lançado em breve pelo selo LAB 344. Isso porque Wado, no álbum, faz o seu próprio remake das músicas escritas por ele e Momo que haviam sido gravadas em Gira. O nome do disco é Obstrução samba numa referência ao documentário As cinco obstruções, de Lars von Trier e Jørgen Leth. Como no filme, Von Trier desafia Leth a refazer um de seus próprios filmes, e o disco de Wado nasceu do álbum do parceiro, tá feita a conexão.
“Enquanto o disco de Momo aposta em longas faixas e no afrobeat, o de Wado é mais conciso e reverente à diversidade rítmica brasileira — incorporando elementos do samba, do ijexá, do frevo e outras variações populares”, afirma o texto de lançamento do single, diferenciando os dois álbuns.
Texto: Ricardo Schott
Lançamentos
Radar: Mateus Fazeno Rock, Planoreal, Marcela Lucatelli, Reverendo Frankenstein, Marés, Zaina Woz, Marcelo D2

Aqui no Rio de Janeiro, onde estou agora, é feriado por causa do BRICS 2025. Em Niterói, onde moro de verdade, que eu saiba, não é. Seja como for, o Radar nacional do Pop Fantasma tá funcionando e tem novidades: Mateus Fazeno Rock dá mais uma pista de seu próximo álbum, Planoreal faz emocore com garra, Marcela Lucatelli une pop, MPB e transe, e vai por aí. Ouça tudo em alto volume e obrigue os vizinhos a ouvirem música nova.
Texto: Ricardo Schott – Foto Mateus Fazeno Rock: Jorge Silvestre/Divulgação
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MATEUS FAZENO ROCK, “MELÔ DO SOSSEGO”. Depois de chegar pesado com o single-manifesto Arte mata, Mateus dá uma desacelerada (mas não muito) com Melô do sossego, mais uma prévia do disco novo que vem aí. A faixa vem toda trabalhada na vibe soul brasileira, com o próprio Mateus no piano e na guitarra.
Já a letra tem ar de mantra: fala de como descansar é um privilégio – e que muita gente, dependendo de onde nasceu ou vive, nem chega perto disso. “Nosso sonho é sempre ter sossego e dar sossego para a nossa família, e essa letra é sobre isso”, diz Mateus, certíssimo. O clipe, feito por ele junto com Izzi Vitório, é celebração em família, comida na mesa e calmaria no ar.
PLANOREAL, “INÉRCIA”. Alguém comentou no YouTube que o novo clipe da Planoreal, Inércia, parece ter sido upado em 2005, mas deixado como rascunho por vinte anos – até que hoje, com 40 anos, o vocalista resolveu publicar. É só uma constatação: 2025 é um ótimo momento para o hardcore pesado, com coração emo e garganta rasgada – aquilo que Raul Seixas dizia que é necessário fazer: “gritar e cantar rock”. Depois do disco Nativos da era da mentira (lançado em janeiro) e de uma sequência de clipes, o grupo de Joinville volta com mais um petardo: um grito contra a estagnação, chutando a inércia pra bem longe.
MARCELA LUCATELLI, “COISA MÁ”. No clipe da faixa-título de seu disco mais recente, a cantora, compositora e encenadora Marcela Lucatelli parece estar em total transe – e faz sentido. O clipe de Coisa má, dirigido por ela própria, segue uma onda espiritual marcada por “dissolução, travessia e renascimento”, em que tudo parece um portal para o desconhecido: música, corpo, elementos do cenário, maquiagem. Tanto que ela própria encara o trabalho como um rito de passagem.
“Faço música para tensionar o que é esperado, para invocar o que foi esquecido ou silenciado. Meus trabalhos são rituais performativos, onde enceno e vivo os conflitos do mundo que me atravessa — com voz, corpo e complexidade”, conta ela, que com Coisa má, encerra a trilogia de clipes do álbum. Agora é pensar nos próximos passos…
REVERENDO FRANKENSTEIN, “O RESPIRO”. Pós-punk, skate punk e uma atmosfera sombria dão o tom do novo single da banda Reverendo Frankenstein. No clipe, a tensão aumenta: um sujeito com um saco plástico na cabeça e um zumbi ao volante em alta velocidade criam um clima sufocante e perigoso. A faixa O respiro traz um reforço de peso do rock paulista — a letra é assinada por Fábio Gasparini, vocalista da lendária banda Varsóvia.
MARÉS, “FUNDAS”. As musicistas Jadsa (guitarra, eletrônicos e produção musical), Lua Bernardo (baixo e flauta transversal), Saskia (eletrônicos e guitarra) e Xeina Barros (percussão) aceitaram o desafio do Selo Sesc, que criou a série Encontros Instrumentais: quatro dias para compor e gravar três músicas instrumentais inéditas. Saíram então as faixas Macumba, Fundas e Mares marés, disponíveis no primeiro EP da série (EIN 001), já nas plataformas. Três mergulhos na espiritualidade, na negritude e na união de sons. Fundas, a segunda faixa do rol, tem samba, jazz, matas, sombras, vibes eletrônicas, tudo junto em doses iguais.
ZAINA WOZ, “M.S.F.”. Em certo momento, a cantora e compositora Zaina Woz se viu completamente envolvida por dois universos: a série Sex and the City e o álbum Erotica, da Madonna. Dessa mistura nasceu M.S.F., um mergulho na disco music com letra minimalista – são apenas duas frases: “I got three obsessions: myself, sex, fashion” (daí o título da faixa).
“Passei a cantar esses versos e fui aumentando a velocidade e percebi que as palavras do último verso, quando cantadas rápidas, soavam como ‘my self-satisfaction’ (minha auto-satisfação). Fiquei arrepiada: estava ali o meu mantra. Aí gravei um áudio de whatsapp para o Zopelar (parceiro e produtor) e ele adorou a ideia”.
MARCELO D2, “1967”. Lembra dessa? Era a faixa que abria (logo depois da intro) o primeiro disco solo de Marcelo D2, Eu tiro é onda (1998), lançado durante uma pausa forçada do Planet Hemp. Na letra, D2 conta a história a partir do ano em que nasceu – o 1967 do título – mas esqueça qualquer referência a Sgt. Pepper’s ou psicodelias da época. O que rola aqui é um passeio pelas ruas do Rio, cheio de histórias de infância, calote no ônibus lotado pra praia, bailes no Cassino Bangu, carnavais de bate-bola. Um retrato vibrante da vida urbana e suburbana carioca, entre o rap e o samba. Agora, a faixa volta com nova roupagem no álbum Manual prático do novo samba tradicional Vol. 3: Luiza, com clipe assinado por Cauã Csik.
Crítica
Ouvimos: Lorde – “Virgin”

RESENHA: Lorde rompe com o passado em Virgin, disco íntimo e sombrio que mistura pop minimalista, desabafos e eletrônica densa.
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Tão dizendo por aí que Virgin, o quarto disco de Lorde, é o que sua estreia Pure heroine (2013) deveria ter sido, se na época ela não tivesse 17 anos. Faz sentido, embora Ella Marija Lani Yelich-O’Connor (nome verdadeiro da cantora) não fosse exatamente uma artista disposta a chocar e a confundir quando mais nova. Na época, ela basicamente ela se divertia desafiando os limites do mercado pop com versos cortantes e uma sonoridade sombria.
Na real, nem dá para dizer que há uma disposição em “chocar” (no sentido sensacionalista da coisa) aqui. O material de Virgin veio de questionamentos e desabafos sinceros. E que soam mais sinceros ainda pelo lugar que o álbum ocupa na carreira dela – o lugar de disco bastante aguardado, e que trouxe para o fã-clube dela uma turma que tem hoje a idade dela quando começou. Virgin também foi estrategicamente montado por ela e seus parceiros-produtores para combinar sensorialmente letras, músicas, arranjos e narrativa.
As questões sobre sexualidade que ela vem falando em entrevistas já abrem o álbum com Hammer, uma balada introspectiva, mas dada a explosões, em que ela fala frases como “não tenho todas as respostas”, “paz na loucura”, “cartão-postal da borda”, entre outras sentenças bem mais espinhosas que a narrativa do tranquilo Solar power (2021), disco anterior. Um álbum que acabou chamando infelizmente mais atenção pela capa sexy e pelas músicas declaradamente emaconhadas.
Virgin soa o tempo todo como algo detalhadamente trabalhado, e não excessivamente trabalhado. Os arranjos são quase minimalistas, as seguranças e inseguranças das letras são universais e comuns, a perda da inocência citada na dance music sombria Current affairs pode acontecer aos 40 ou 50 anos. Em meio ao som eletrônico e texturizado de What was that, mais inseguranças, drogas e amores em que só uma parte dá o suficiente.
O repertório de Virgin também abarca crueza quase industrial referenciada no blues e no jazz (o single Man of the year), indie pop com frieza controlada e interpretada (Shapeshifter), um eletrorock sobre cobranças, estresses e busca da perfeição (Favourite daughter) e bjorkices (as vozes e efeitos de Clearblue). Broken glass soa quase como um baile funk indie, com uma letra seca sobre transtorno alimentar – e climas próximos do soul e do synthpop surgem em If she could see me now e David.
De modo geral, Virgin é um disco marcado pelo silêncio antes do chute no balde, e pelo esporro após a explosão. Lorde decidiu romper com tudo, inclusive com suas versões anteriores, e pôs a busca por um novo mapa nas músicas. Deu super certo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Republic/Universal
Lançamento: 27 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Nxdia – “I promise no one’s watching”

RESENHA: Nxdia mistura pop, rock e eletrônico em I promise no one’s watching, uma mixtape ousada que testa estilos sem medo de errar.
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Considerado um álbum pelas plataformas e um EP por vários sites de resenhas, I promise no one’s watching é visto por Nxdia, cantora egípcia radicada em Manchester, como uma mixtape. Faz sentido por causa do caráter despojado das músicas, e pela mistura promovida por ela nos 25 minutos do disco.
Feel anything, na abertura, pula do bedroom pop para o batidão eletrônico em minutos. A sexualmente ativa Jeniffer’s body é rock agitado na onda pop de Olivia Rodrigo. O tema queer Boy clothes, pesado e dançante, evoca Lady Gaga e Billie Eilish em detalhes, enquanto Puppet, More! e She likes a boy são eletrorock construídos no pula-pula grunge.
- Ouvimos: Lady Gaga – Mayhem
- Ouvimos: Olivia Rodrigo – Guts
- Ouvimos: Billie Eilish – Hit me hard and soft
Por aí você tem uma ideia da variedade do disco, e falando assim, parece que Nxdia está em busca de uma identidade, tateando e vendo o que dá certo. Talvez até seja isso – e I promise no one’s watching, antes de ser o disco de uma cantora, soa como o disco de uma creator musical, que sai testando templates em cada faixa. Quem for ouvir, que abra a mente.
Vale afirmar que as apostas de Nxdia costumam dar certo, especialmente quando ela põe texturas diferentes no rock anos 1980 em Nothing at all, e moderniza o som associado a grupos como Slits em Body on me, quase falada, com baixo grave e forte à frente. Boo, nevermind é eletropunk dos bons. Só no final, Tin man derrapa tentando acertar no shoegaze de FM e cravando a flecha numa espécie de nu-metal baixos teores.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Bxdger Records
Lançamento: 13 de junho de 2025
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