Crítica
Ouvimos: Tune-Yards, “Better dreaming”

RESENHA: No álbum Better dreaming, o Tune-Yards aposta no pop, no soul e na leveza, sem abrir mão do experimental. Um disco pra dançar, sonhar e se surpreender.
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Melhor sonhar do que entender que o mundo virou um caldeirão de intolerâncias. O título do novo disco do Tune-Yards (a dupla de Merrill Garbus e Nate Brenner) é, digamos, de entendimento fácil – mais fácil do que em vários álbuns anteriores deles. O repertório e o processo de gravação de Better dreaming também: Merril e Nate centraram na dupla, e compuseram tudo pensando na diversão do casal e do filho pequeno – cuja voz é ouvida nos backing vocals do r&b-afropop Limelight, uma música cujo andamento lembra Prince e Michael Jackson.
Bom, Prince e Michael Jackson? O Tune-Yards sempre teve interesse em explorar batidas afro em seu indie rock, mas dessa vez a ideia foi fazer dançar e soar tão pop quanto possível. Heartbreak é uma balada com ar soul e cara de hit, mesmo com o início no despojamento experimental. Swarm é afrobeat indie como várias músicas antigas da dupla, mas tem vibe de baile funk. Em Never look back, o vocal de Merrill chega a lembrar as vozes das divas pop dos anos 1980, mas com baixo sinuoso e explosão guitarrística repentina. Get through soa como uma versão anárquica de Gladys Knight, e dos hits da Motown em geral.
Better dreaming tem lá suas intenções políticas – numa época bem tensa, os dois resolveram falar de liberdade, felicidade e de como a vibe agressiva dos dias de hoje pode afetar crianças (Limelight, o casal contou, quase não entrou no disco porque inicialmente eles achavam a letra “banal”). Mas a maior política do Tune-Yards dessa vez é combinar elementos acessiveis e viagens misteriosas. Tanto que o repertório combina o clima sombrio da faixa-título e de Suspended, com a felicidade de Limelight, o espírito indie e infantl da dance track How big is the rainbow e a beleza de See you there – canção vocal que, com arranjo formal de rock, poderia estar no repertório dos Beatles ou dos Ramones, e cujas vozes vão crescendo e ganhando argamassa gospel até o fim.
O Tune-Yards dá certos sustos em Perpetual motion, canção sombria de vibe mutante. E encarta referências de Antenna, do Kraftwerk, nas células rítmicas de Sanctuary, faixa de encerramento, com vocais de onda camerística. Mas o padrão mesmo em Better dreaming é assustar fãs dos discos menos acessíveis da dupla – e abrir mentes de alguma forma.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: 4AD
Lançamento: 16 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Nilüfer Yanya – “Dancing shoes” (EP)

RESENHA: Nilüfer Yanya revisita sobras de My method actor no EP Dancing shoes, com indie pop cru, folk sombrio e beats sutis. Um registro íntimo e transitório.
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Assim que retornou da turnê de seu terceiro álbum My method actor, Nilüfer Yanya decidiu mexer, ao lado de sua parceira Wilma Archer, em algumas canções que haviam sobrado do álbum. Desse material, quatro faixas acabaram sendo escolhidas para Dancing shoes, EP curto (menos de vinte minutos) e que funciona como extensão mais despojada do disco de estreia. O tom quase indie-pop-grunge de My method actor retorna com uma quietude característica do bedroom pop, além de experimentações que dão novos usos para beats conhecidos.
Kneel, a faixa de abertura, tem herança do pós-punk e dos mistérios do folk setentista – cabendo vocais sussurrados, cordas, beats e uma soma de facetas pop e sombrias. Where to look é indie folk, mas com uma batida industrial usada de maneira leve, dando uma sujeira dosada no som. Cold heart prossegue na onda de canções desencantadas de My method actor, inserindo dores e friezas até mesmo no arranjo, em que a guitarra soa como um loop de fita. Treason encerra o disco no clima caseiro: é um folk indie gravado como numa jam de quarto, com violão batido, e beats feitos no tampo do instrumento. Um registro mais íntimo e cru, e uma transição.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Ninja Tune
Lançamento: 2 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Biloba – “Sala de espera”

RESENHA: Em Sala de espera, o Biloba, vindo de Portugal, mistura pós-punk, psicodelia e poesia num art rock minimalista, denso e imagético.
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O art rock português está com tudo e não está prosa, a julgar pelo Biloba – um quinteto cuja sonoridade lembra mais a trilha de um filme que só existe na mente deles, com momentos sombrios, climas desérticos e cenas bastante enevoadas, tudo em p&b. Sala de espera, primeiro álbum do grupo, é exatamente o que diz o título: as músicas falam sobre expectativas, coisas ainda não realizadas, sobre um dia a dia em que ninguém sabe exatamente o que vai acontecer e qual surpresa os algoritmos prepararam para a gente.
O som do Biloba é bastante minimalista, a ponto de às vezes, se destacar pelos segundos (ou minutos) de quietude entre um instrumento e outro. A banda une detalhes do pós-punk (guitarras estilingando, variações rítmicas) e da psicodelia (efeitos de teclados) em faixas como a onírica Quando for pra ir, a dance-punk-jazz Amor em tempos de guerra, a cantiga sombria Na chuva e o afro-pop Se deus demora.
- A primeira vez que os Ramones foram a Portugal
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Sala de espera, a faixa-título, une vibes dançantes e psicodelia na cola do Som Imaginário, a dissonante Flor de verão tem melodia dada pelo baixo e guitarra que soa como um sinal de transmissão distante. Já faixas como Rei dos animais e Andorinha fazem lembrar até Secos & Molhados – não à toa, uma banda criada por um português radicado no Brasil. Cores tem groove ligeiramente tropicalista e guitarra em clima blues-country lembrando JJ Cale.
No geral, em Sala de espera, o Biloba tem um experimentalismo que soa coeso mesmo quando a duração de algumas faixas assusta – e que muitas vezes ganha a/o ouvinte pela união de música, imagem e poesia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 7 de março de 2025.
Crítica
Ouvimos: Mark Wilkinson – “Wild and hunted things”

RESENHA: Em Wild and hunted things, Mark Wilkinson investe em folk minimalista e melancólico, mas só brilha quando ousa fugir do lugar-comum.
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Cantor australiano de repertório tranquilo (extremamente tranquilo, eu diria) e ligado ao folk, Mark Wilkinson decidiu fazer de seu novo álbum, Wild and hunted things, um disco bastante conciso: oito faixas, menos de meia hora, repertório quase sempre minimalista, letras baseadas em lutas interiores, clima basicamente já entregue pela capa e pelo título.
Musicalmente dois lados convivem mais intensamente no disco de Mark. O primeiro é o do folk radiofônico de faixas como Don’t leave me behind, Adoration skies e Get out. O outro é o do pop adulto feito para abastecer as light FMs, e também realizado com base folk. New look, com linhas de baixo legais e batidinha eletrônica, vai nessa. Reborn, uma canção de violão meio sombria e que parece ter um refrão de nu-metal (ou de emo) enxertado, vai também.
O complicado de Mark é que em Wild ele não chega a se destacar lá muito do mar de cantores folk que vão na mesma onda violeira-existencialista – não são canções ruins, mas no todo, falta algo diferente quase sempre. Só não falta quando Mark solta a voz em In my darkest hour, mistura de soul e bittersweet, com letra soturna, mostrando o que ele pode alcançar em termos de composição e interpretação.
Esse lado meio tristonho é uma senha para praticamente todo o disco, mas bate com força igualmente no folk gracioso M95 e na amorosa Phosphene, canção que abre com violão lo-fi e prossegue com batidinha e cordas. Quando Mark se permite soar diferente, Wild and hunted things finalmente encontra seu brilho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6,5
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 4 de julho de 2025.
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