Lançamentos
Tom Speight e a angústia romântica do single “Aftermath”

Dia 11 de agosto sai o terceiro álbum do cantor londrino Tom Speight, Love & light, pelo selo Netwerk. Cinco faixas do álbum já foram liberadas e a mais nova é Aftermath, na qual ele faz um dueto com a cantora Lydia Clowes.
Inspirado por cantores como Sufjan Stevens, John Mayer e Damien Rice, Speight segue numa linha romântica, entre o pop programado e as canções grandiloquentes lembrando Coldplay e o próprio Damien. A letra relata uma relação que acabou mal, com versos como “você já manteve contato com os amigos que perdi?/você fala sobre mim?/eu era apenas uma tatuagem que você mantém fora de vista?”.
“Aftermath tem minha produção favorita no álbum! Gravada no RAK Studio, é encantadora e rica em sua paleta sônica. Os vocais de Lydia criam essa bela dinâmica angelical, ao mesmo tempo em que transmitem um sentimento de partir o coração”, acredita Tom, que apesar de toda a melancolia de seu som, foi recentemente o artista mais tocado no reality Love island, um De férias com o ex da TV inglesa (em que jovens solteiros vão se divertir e concorrer a uma soma em dinheiro, enfim).
Crítica
Ouvimos: Wander Wildner, “Diversões iluminadas”

Wander Wildner não é mais aquele sujeito que cantou “eu quero que o Caetano vá pra puta que o pariu” (em Porque não, não-hit de sua ex-banda Replicantes). Que bom: certas coisas são engraçadas quando você tem 20 e poucos anos, e são bem bobocas quando você passa dos 40, 50 ou 60. O Wander de hoje está em paz com suas raízes musicais, lembra que em seu passado convivem um ex-hippie e um eterno punk, e em Diversões iluminadas, cai dentro de releituras no estilo faça-você-mesmo de músicas que marcaram sua história.
Algumas dessas releituras, pelo menos para quem não acompanha a carreira e a entrevistas de Wander, podem parecer inesperadas, como Um índio (Caetano Veloso), Dê um rolê (Novos Baianos) e Terral (Ednardo). A música de Caetano retorna com sonoridade entre o rock clássico e o punk – e o som de artistas como John Cooper Clarke, Craig Finn, Iggy Pop, Smithereens. O hit novobaiano, que era um blues-rock psicodélico na versão de Gal Costa em 1971, virou uma balada típica de cantores de punk decididos a encarar seu trabalho como um viés sombrio do rock clássico – com direito a drive poderoso no “eu sou amor da cabeça aos pés”. O clássico de Ednardo volta lembrando Psychedelic Furs e Lloyd Cole, e ao mesmo tempo tem algo de dream pop escondido ali.
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Em Diversões iluminadas (disco acompanhado por um livro que pode ser pedido pelo zap da Editora Yeah – 51-99799-1900) o mesmo tratamento é dado a (imagine) Sangue latino, hit dos Secos & Molhados – que virou pré-punk com vocal grave e um paredão de guitarras que chega a esconder a bateria. Redemption song, de Bob Marley, volta em português (mas mantendo o título em inglês) com cadência punk-romântica. Clima parecido brota na releitura de The killing moon (Echo and The Bunnymen), que ganha guitarras que dão um clima quase shoegaze para a gravação. Pra viajar no cosmos não precisa gasolina, de Nei Lisboa, encerra o disco tendo suas características experimentais e espaciais turbinadas.
No lado originalmente roqueiro do disco convivem outras releituras notáveis, como o hard rock punk de Beside you (Iggy Pop) e o rock româtico e vira-lata, no estilo da carreira solo de Johnny Thunders, de True love will find you in the end (Daniel Johnston). John Lennon is my Jesus Christ, dos rockers galeses do Buzzard Buzzard Buzzard, ganha modificações na letra para abarcar nomes como Mick Jagger e o roqueiro e jornalista gaúcho Jimi Joe. Um bom respiro não-autoral numa carreira compromissada com a independência. Só não precisava muito reler (igualmnte em português, como acontece com todas as releituras de músicas estrangeiras do disco) Times like these, dos Foo Fighters.
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 3 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Bedridden, “Moths strapped to each other’s back”

O site Stereogum achou o nome dessa banda do Brooklyn uma merda e deixou isso bem claro num texto recente: “Sei que a maioria dos bons nomes de bandas já foram escolhidos, mas vocês provavelmente poderiam escolher uma palavra aleatória do dicionário que seria mais empolgante do que essa. Quem quer comprar uma camiseta que diz ‘bedridden’ (acamado, em português)?”. Maldade da grossa …
Do alto de um ótimo primeiro álbum, este Moths strapped to each other’s back, Jack Riley, vocalista e guitarrista do Bedridden, não está nem aí: disse à newsletter First Revival que o nome surgiu de quando ele ficou sem ter onde morar e passou um tempo fazendo couchsurfing (enfim, na verdade ele nem sequer teve como ficar preso a cama alguma). E quanto ao som, o Bedridden traz de volta o som de grupos como o Smashing Pumpkins dos anos 1990, o Foo Fighters do começo e até bandas hoje infelizmente pouco lembradas como Heatmiser (o grupo que revelou Elliott Smith). E mistura isso tudo com o idioma do emo e do pós-hardcore.
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Moths investe em ritmos quebrados, composições ágeis, vocais tranquilos e melodias angustiadas, como em Gummy, Etch (lembrando o SP da época de Siamese dream), Chainsaw, o punk de arena Heaven’s leg e Bonehead – essa última, soando como um emo apaixonado por Soundgarden e Helmet. As guitarras são ótimas, beiram eventualmente o shoegaze, e ganham marcação cerrada com o baixo e a bateria.
Em meio a várias lembranças de como o pós-grunge realmente deveria ter sido (a tríade Mainstage, Snare e Uno é bem isso), há outros diferenciais, como em Philadelphia, get me through – com início leve e sombrio e contexto mais pós-punk do que punk, até que algo explode. E o final com Ring size, quase uma balada folk, só que em compasso ternário e tocada na guitarrra. Todo o repertório de Moths é uma explosão emocional, mas essa é a mais bonita do disco. Ouça.
Nota: 9
Gravadora: Julia’s War Recordings
Lançamento: 11 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Lavolta, “No estado atual das coisas tristes”

No terceiro disco, o Lavolta (de São Bernardo do Campo, SP) faz a trilha sonora da depressão, do brain rot, da falta de sono e das sequelas da pandemia – tudo com uma sonoridade que oscila entre emo, dream pop e detalhes psicodélicos. A minha terapeuta sabe o seu nome de cor traz versos como “engulo sapos e remédios para dormir e acordar” numa estrutura emocore com certo balanço brasileiro, e referências a drogas prescritas, séries e dopamina.
Soluções químicas é emo eletrônico, com melodia acessível e pop, oscilando entre shoegaze e detalhes de nu-metal. Tu&yo manda bala em sequelas do capitalismo (“não me deram chão e ainda esperam que eu acelere os passos”), enquanto Yoga, trazendo um pouco mais de calma à história, chega perto do trip hop em alguns momentos.
O Lavolta é meio filho, de certa forma, do hyperpop – e dos contornos pop e vanguardistas do estilo. É um clima que dá bastante as caras lá pela segunda metade do álbum, em faixas como o grunge com alma hip hop Chico abajo e a sofrência metal-dream pop de Chora mundo. Tudo entremeado com faixas curtas e enigmáticas como Commune/Communicate e ter/ap_euta.
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025.
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