Crítica
Ouvimos: Sleep Token – “Even in Arcadia”

RESENHA: Sleep Token mistura metal, r&b, soul e pop em Even in Arcadia, disco teatral e exagerado que pode cansar quando a fase de fã passa.
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O Sleep Token é uma banda de metal. Bom, uma banda de metal diferente: eles misturam peso e agressividade com elementos de r&b, soul, gospel, pop de rádio. Musicalmente, é uma diversão bem mais eclética do que no caso de uma banda apenas bandeirada como “metal”.
Tem algo ali que se relaciona com o Ghost, e não apenas musicalmente, já que o Sleep Token é formado por músicos anônimos que se apresentam mascarados e cobertos por túnicas, e que teriam se unido para adorar a divindade Sleep – uma entidade que apareceu para o vocalista Vessel num sonho e prometeu a glória a ele, se Vessel a seguisse. O repertório do grupo é formado por odes a essa divindade (aliás Sleep Token quer dizer “oferenda a Sleep”), mesmo quando os assuntos das letras variam.
O lance é que, ao contrário do Ghost, que vai tentando crescer e adequar uma performance diferente a cada álbum, o Sleep Token corre o risco de virar uma daquelas bandas que, passada a adolescência dos fãs, deixam de fazer sentido – porque muita coisa no imaginário do ST parece brincadeira de criança mesmo.
Even in Arcadia, quarto álbum do grupo, não é um disco ruim – só é, digamos, repleto de exageros, e em alguns momentos parece que a banda está forçando a barra com a união de elementos pop e metal. Look to windward, a faixa de abertura, une metal, hip hop, sons de videogame e vocais com dramaticidade equivalente a de The Weeknd – além de uma letra que mostra que essa turma leva mais a sério esse lance de “adoração a Sleep” do que se pode imaginar (“eu sou o demônio de Sodoma, eu sou o sangue de um anjo / o destino dos caídos, ninguém sabe de onde eu vim”).
Faixas como Past self, Dangerous e Emergence oscilam entre estlos como trap, r&b e hip hop e um ou outro detalhe do metal – seja no uso de guitarras, seja na maneira como o refrão é encaixado. Uma curiosidade é a união de raggamuffin e metalgaze em Caramel, que ganha clima próximo das músicas do Deafheaven no final – a banda também parece surgir como referência nos vocais guturais da quilométrica Infitine baths, que do começo à metade parece unir r&b e emocore em doses desiguais
- Resenhamos Lonely people with power, do Deafheaven, e Skeletá, do Ghost.
Vale citar que há um número considerável de coisas em Even in Arcadia que são piegas de verdade – o baladão soul com clima metálico Damocles e o r&b gótico Provider estão nessa lista. Gethsemane, metal com quebracao ritmica típica do pós-hardcore, traz 6:23 de puro sofrimento (“ninguém vai me salvar das minhas memórias / nada a perder, mas eu teria dado qualquer coisa / para me aproximar de você e de todos os seus inimigos”), e uma energia meio estranha, difusa, que faz pouco sentido.
Pode ser que os fãs do Sleep Token passem a enxergar uma baita canastrice nesse conceito do grupo daqui a alguns anos, inclusive. Mas aí só vendo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6,5
Gravadora: RCA
Lançamento: 9 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Ganser – “Animal hospital”

RESENHA: Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Felte
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
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O site Pitchfork, ao resenhar o novo álbum da banda de art-punk Ganser, Animal hospital, achou sons tirados direto da obra de David Lynch no disco – referiu-se em especial à trilha de Twin Peaks, feita por Angelo Badalamenti. Faz todo sentido, levando em conta que o trio majoritariamente feminino de Chicago valoriza sons misteriosos e climas que encantam ao mesmo tempo que dão certo medo.
As origens do Ganser parecem estar numa espécie de combinação sonora que une pós-punk e Black Sabbath, Garbage e synthpop, sons de bandas riot grrrl e noise rock tribal, Suicide e The Cure – o tipo de som que foi feito mais para incomodar do que para distrair, enfim. Animal hospital vai nessa onda em faixas como a pesada e distorcida Black sand, a leve e sinistra Stripe, a tipicamente pós-punk Ten miles tall (com baixo e bateria dialogando e vocal quase falado) e a fábula sonora surrealista de Dig until I reach the moon. Lounger, punk com vibração garageira dos anos 1960, é hino anti-coach, anti-performance, anti-verbos como “pivotar”, “escalar” e coisas do tipo: “não quero ser ninguém / não quero fazer nada (…) / outras pessoas compram minhas coisas / mas tudo que eu quero é tempo (…) / meu desempenho tem sido ruim e não consigo me importar”.
- Ouvimos: Goat Girl – Below the waste
Alicia Gaines, Brian Cundiff e Sophie Sputnik, os três da banda, têm um lado seriamente stoner e fantasmagórico explorado em músicas como a destrutiva Half plastic (“prendo a respiração até ver manchas”, diz a letra), Grounding exercises e a psicodélica e pesada Creature habits. Plato, com versos malucos como “Platão diz a ela: ‘venha, vamos dançar’ / e ela não quer / ela diz que não acredita em evolução”, a tribal Speaking of the future, Discount diamonds e Left to chance unem esse lado pesado a sons que lembram Siouxsie and The Banshees. E Left fecha o disco com uma boa massa ruidosa.
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Crítica
Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.
Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.
- Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach
A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.
Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.
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Crítica
Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.
Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.
- Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream
Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.
No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.
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