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Cultura Pop

Relembrando: Madonna, “Madonna” (1983)

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Relembrando: Madonna, "Madonna" (1983)

Hoje, esse tipo de informação vale nada para quem vê Madonna e enxerga a carreira dela em perspectiva, mas Madonna (1983), o primeiro álbum da futura rainha do pop, era basicamente um “disco de aeróbica”. Sim, a própria cantora já definiu o álbum assim – e não custa lembrar, a moda fitness, com discos, livros, homevideos, roupas e estilo de vida, estava em alta lá por 1983. A combinação entre beats, baixos, guitarras, teclados e vocais servia tanto para embalar pistas quanto para fazer a trilha sonora da ginástica matinal – e isso dava parte da graça de músicas como Holiday, Borderline, Lucky star e outras faixas, naqueles primeiros anos 1980.

Madonna, o disco, ao contrário de vários LPs de estreia gravados em horários ociosos e estúdios de baixa qualidade, foi um estreia suada. Demos da cantora circulavam entre selos (e foram recusadas), mas Seymour Stein, da Sire, foi esperto e passou na frente – Madonna, por sua vez, mal se importou com o fato de Seymour estar internado num hospital e assinou contrato com o executivo deitado na cama, em recuperação. O primeiro single, Everybody, produzido por Michael Kamins, saiu sem foto dela na capa. Trazia só uma cena urbana, que poderia estar na capa de um disco de hip hop. Por causa disso, houve quem pensasse que a loura era uma diva negra pós-disco quando escutou aqueles vocais.

Ainda que Madonna fosse autora individual de quase todo o seu primeiro repertório, Reggie Lucas, um ex-músico de Miles Davis, extremamente técnico, foi chamado para produzir e botar um rumo nas limitações vocais da cantora. Bom e mau passo ao mesmo tempo: Reggie forçou Madonna a ir além, deu um trato nos arranjos e criou Borderline (que tem uma das mais belas pontes-até-o-refrão do pop oitentista). Mesmo assim, Madonna, uma artista que sempre deixou claro que sua principal qualidade era saber fazer bem o simples, achava que o produtor queria complicar demais.

Acabou que, de modo geral (e ainda que Reggie tentasse fazer Madonna cantar soul, e não exatamente ítalo-dance), a estreia da cantora era um disco pop sem margem de dúvidas. Não havia ambiguidades ou vulnerabilidades nas oito faixas de Madonna, o álbum. Acostumada a conversar com DJs e conhecedora (no talento e na prática) do que fazia uma música estourar, ela abria com teclados “celestiais” e batidas dance em Lucky star, seguia no pop perfeito de Borderline, fazia new wave à sua maneira em Burning up e (vá lá) deixava Reggie colocar um ou outro toque de jazz e soul da Motown em I know it – desde que a canção não perdesse a manha pop.

Lucy O’Brien, biógrafa de Madonna, vê nessa música um momento de esquisitice na estreia da cantora (“tem ritmo barroco, quase rock progressivo”, e de fato, o riff de sintetizador é bem incomum para música pop). Também reclama do excesso de teclados no álbum – dos quais parecia impossível fugir em 1983, vale citar.

O lado B do LP original vai para outros lados, e traz outros colaboradores. Madonna estava cada dia mais insatisfeita com Reggie, que acabou deixando o projeto. O DJ e produtor John “Jellybean” Benitez foi convidado por Madonna para remixar algumas coisas e acabou produzindo a bela Holiday, que tinha sido composta por Curtis Hudson e Lisa Stevens, do grupo boogie Pure Energy. Benitez estava tentando oferecer a canção, sem sucesso, para outros artistas, e sentiu que daria para incluir no álbum de Madonna aquela simples constatação de que “todo mundo precisa de um feriado”.  E que, mais do que um respiro no disco, se tornaria um dance-pop histórico e de respeito.

Madonna se completa com uma canção que soa como pop gravado por uma banda de rock (Think of me), tecnopop típico (Physical attraction) e… no encerramento, Everybody, na versão do single lançado na finaleira de 1982. Aquela mesma programação simples, teclados que funcionam a favor da pista de dança, vocais sussurrados, e uma certa sacanagem latina que poderia ter saído da mente de um produtor como Mister Sam (o criador de Gretchen), e poderia igualmente estar num disco das gravadoras nacionais Copacabana e Beverly. Parecia inclusive uma música apropriada para virar tema de novela no Brasil – e virou, em Final feliz (Globo, 1983).

Mesmo irregular, a estreia de Madonna é o simples bem feito, e realizado (quase) nas regras da arte.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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