Lançamentos
Radar: Tereu, Cipó Fogo, Walfredo Em Busca da Simbiose, Lavolta – e mais

Demoramos para aprontar o Radar nacional da semana, as coisas de uma hora para outra mudaram na nossa agenda, mas tá aí. Alguns nomes da nossa lista, como Tereu e Walfredo Em Busca da Simbiose estão próximos de lançar álbuns novos – olho neles. Agora, vale ficar de olho nos próximos movimentos de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Discretamente já há uma música nova nos shows (e faz um tempinho) e as apresentações da cantora e da banda são mais que música: são ativismo, afirmação e verdade. Mais do que nunca, ouça no volume máximo.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Tereu): Divulgação
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TEREU, “MAIS FORTE QUE O MEDO”. “É uma forma simples de investigar esse sentimento sem nome que temos ao nos debruçarmos sobre a janela de um ônibus”, conta Matheus Andrighi, o popular Tereu, cantor e compositor catarinense radicado em São Paulo, a respeito do clipe de Mais forte que o medo. A faixa, que adianta seu álbum Música pra enxergar de novo, que sai em agosto, é um rock rural sombrio que evoca tanto Neil Young quanto Belchior (na citação de Comentário a respeito de John), além de ter certa aproximação com o lo-fi.
Já o clipe usa o espaço do ônibus de turismo para falar de medo, esperança, saudade, tudo junto – com personagens que partem para vidas novas e despedem-se (ou não, quem sabe?) do que vinha antes. Beleza em música e imagem.
CIPÓ FOGO, “O DEMÔNIO”. O Cipó Fogo é um duo formado por Marcelo Cabral (da cena alagoana, de bandas como o Coisa Linda SoundSystem, Otari, entre outros) e pelo produtor paulista André Corradi (que tocou em bandas como O Surto). Marcelo canta e faz as letras, André responsabiliza-se pelos instrumentos. Já o som une metal, punk e mobilização política em letras e melodias – sempre acrescentando peso a vários estilos.
O novo EP do duo se chama O Vale das Sombras – mas eles avisam que não se trata de um lugar específico, e sim de uma fenda bem estranha no tempo. “É um período de tempo na história, que implica em uma dura travessia, de dor e luta, como a quadra histórica que vivemos hoje, com a ascensão do autoritarismo global que presenciamos, atônitos”, contam. A pesada O demônio fala das sombras que qualquer mulher tem que enfrentar (assédio, violência, feminicídio, microagressões do dia a dia).
WALFREDO EM BUSCA DA SIMBIOSE, “IRIDESCÊNCIA”. Tem disco novo do projeto do cantor e compositor Lou Alves vindo aí – Mágico imagético circular, o terceiro de Walfredo, sai no segundo semestre pela Balaclava Records. Com referências asssumidas de Mutantes, Rita Lee, Pink Floyd, David Bowie, Gilberto Gil e Jorge Ben, ele volta unindo dream pop e psicodelia, num clima derretido – e cheio de synths – que lembra tanto Unknown Mortal Orchestra quanto Syd Barrett. Hoje, ao lado de Lou (voz, guitarra e produção) estão Uiu Lopes (baixo), João Lopes (bateria) e Dizzy Vargas (sintetizadores). Por sinal, já entrevistamos Lou sobre seu trabalho com o Walfredo – e Iridescência já ganhou clipe.
LAVOLTA, “CHORA MUNDO”. No terceiro disco, No estado atual das coisas tristes, o Lavolta (de São Bernardo do Campo, SP) faz a trilha sonora da depressão, do brain rot, da falta de sono e das sequelas da pandemia – tudo com uma sonoridade que oscila entre emo, dream pop e detalhes psicodélicos. Chora mundo, sofrência metal-dream pop do álbum, acaba de ganhar clipe. No vídeo, um personagem encara a rotina melancólica diante de uma velha mesa de escritório, folheando papéis e tentando reunir forças para escrever à máquina.
“A música é sobre procurar respostas, sejam existenciais ou do ordinário cotidiano, seja por meio de uma ainda questionável intervenção divina ou em um gole da bebida mais forte que está em cima da mesa”, diz a banda (por sinal resenhamos No estado atual… aqui).
ANTONIO DA ROSA, “PRESENTE”. Num passado não muito distante, Antonio já usou o nome artístico Yo Soy Toño, com o qual apresentou sua canção Presente no Festival Em Cantos de Alagoas. Se deu quase bem: a canção chegou à final, mas não ganhou o prêmio. Agora, já usando seu nome verdadeiro, ele revisita sua música – uma balada que remete tanto a Leoni quanto à dramaticidade do Radiohead, e cuja letra brinca com os dois significados da palavra “presente” (aquilo que você ganha ou dá para alguém, e o tempo verbal).
A nova versão, diz ele, tem mais a ver com sua nova fase, mais voltada à música brasileira, e menos a ver com a época em que preferia guitarras bem altas. “Eu ainda amo guitarras e sons mais altos, mas boa parte do meu repertório de composições não combinava, e agora tá mais ajustado. E tem também isso de usar meu próprio nome, que tem mesmo uma potência”, conta.
NARVAL, “OUTROS SINAIS”. Aquele momento em que as relações dão sinal de desgaste e outros caminhos surgem no meio da história. Esse tema surge na nova música do Narval, uma banda de Campinas (SP) que segue à risca a receita do shoegaze, com climas enevoados e sombrios. Outros sinais ainda tem uma vibe lo-fi, de fita gasta, cheia de interferências, que vai surgindo lá pela metade. Mas – surpresa! – logo depois a faixa ganha um ritmo mais demarcado e clima meio disco, meio pós-punk, típico de quem já andou escutando Gang Of Four e bandas mais recentes como The Rapture.
SOPHIA CHABLAU E UMA ENORME PERDA DE TEMPO, “CINEMA BRASILEIRO”. Tem música nova de Sophia e seu grupo rolando nos shows desde o ano passado: a romântica, sexy, tropicalista e direta Cinema brasileiro. O vídeo abaixo foi feito no festival Casarão, em Porto Velho – por sinal foi feito pelo amigo Bruno Capelas, do site Scream & Yell.
Fica também a lembrança de que, recentemente Sophia E Uma Enorme Perda de Tempo passaram por maus bocados num evento da Prefeitura de São Paulo, quando fizeram protestos contra Donald Trump, a escala 6×1, e a violência na Palestina (o Popload fez uma ótima cobertura do show) – e tiveram a tela do show, repleta de mensagens, cortada abruptamente pela organização.
Crítica
Ouvimos: Suede – “Antidepressants”

RESENHA: Em Antidepressants, o Suede faz um pós-punk sombrio e elegante, evocando David Bowie, Roxy Music, Joy Division e The Cure em faixas intensas.
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Quinto álbum do Suede desde o retorno da banda em 2013, Antidepressants chega a confundir as coisas. Você pode ouvir as onze faixas do álbum e ter a impressão de que o grupo de Brett Anderson veio do começo dos anos 1980 e é uma joia rediviva do pós-punk e do indie rock britânico da época. E pode acabar esquecendo de que se trata do novo álbum de uma pérola do britpop, uma banda que costuma ser meio deixada de lado pelos fãs de Oasis, Blur e Stone Roses. Brett não estava brincando quando disse que Autofictions, de 2022 era um disco “punk” e esse disco novo era o desdobre pós-punk.
O som de Antidepressants, graças às batidas marciais, às linhas de baixo cruas e às guitarras cevadas na economia e na beleza, está bem mais próximo de uma geração anterior à deles. Mas isso já era algo preconizado pelo Suede desde os primeiros anos. Na real Brett e seus companheiros soavam mais como o último grito do glam rock, uma banda punk que nunca tinha deixado de ouvir David Bowie para adorar Sex Pistols, um grupo que conseguia curtir crueza sonora e drama – mais ou menos na tradição dos momentos mais lascados do The Cure, banda que volta e meia surge como citação na estrutura das faixas de Antidepressants.
- Ouvimos: Pulp – More
- Quem é quem (e o que é o que) na ficha técnica de Ziggy Stardust, de David Bowie
- O comecinho do Roxy Music no nosso podcast
Antidepressants faz o Suede funcionar como um bloco sólido de som – destacando baixo, bateria e guitarra na mesma proporção, e dando uma vibe climática para os teclados. Também faz os antigos fãs lembrarem do Suede como um grupo amigo, que provoca identificação imediata com a vulnerabilidade de quem ouve. Unindo quase sempre a elegância de David Bowie e Roxy Music à crueza existencial do Joy Division, eles criam cenários doloridos em faixas como Disintegrate (“seu medo e sua frustração / são como armas em suas mãos”, “desça e se desintegre comigo / somos cortados como as margaridas, como as papoulas altas”), a sombria e ágil faixa-título (“há tantas maneiras de definir / nossos estados infinitos / tribos adolescentes no banheiro de novo / cale a boca ou eles nunca mencionarão seu nome”) e o pós-punk sessentista e beatle Broken music for broken people (“são pessoas partidas que salvarão o mundo”).
Há também Sweet kid, música melancólica e adolescente, com uma letra para acompanhar o/a fã (“todas as maneiras que você mudará então / com cada pele que você troca”). E o clima bowieófilo de Somewhere between an atom and a star, balada blues com herança de discos como David Bowie (o de Space oddity, 1969) e The man who sold the world (1971). De uma forma ou de outra, Brett sempre forjou o Suede como uma banda que fala ao rockstar perdido em cada pessoa, aos sonhos deixados de lado em meio à máquina de moer carne da vida. Um estado de espírito que surge igualmente na vibe viajante e apocalíptica de Life is endless, life is a moment e no peso solar de The sound and the summer. E na atmosfera hipnotizante do single Trance state, repleta de emanações de The Cure e Killing Joke.
Antidepressants escapa da nota 10 por pouco, por causa de um detalhe básico: em busca de um disco conciso, o Suede deixou de esticar e aproveitar as belezas de algumas faixas. Somewhere between an atom and a star encerra tão abruptamente que chega a causar um estado de “ué, só isso?”. O mesmo acontecendo até com o jangle rock certeiro do single Dancing with the europeans, que aposta numa mescla Byrds+ Joy Division, e até com Criminal ways, punk classudo que cita o balanço de London calling, do Clash. Pequenos detalhes, já que o Suede volta com disposição.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: BMG
Lançamento: 5 de setembro de 2025
Crítica
Ouvimos: The Technicolors – “Heavy pulp”

RESENHA: No quinto álbum, Heavy pulp, The Technicolors misturam psicodelia, pós-punk, shoegaze e até synthpop em faixas intensas e variadas.
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A capa é psicodélica, o nome da banda é psicodélico, o nome do álbum mete peso na história – e os Technicolors, uma banda norte-americana que já existe desde 2012, estão bem pouco interessados em definições exatas para sua música. Heavy pulp, quinto disco do grupo, abre com uma espécie de stoner dançante – Gold fang, que na real lembra uma espécie de metal-disco psicodélico, com vocais cansados. Softcore, na sequência, ajuda a pôr a banda no mapa do shoegaze, enquanto uma espécie de encontro entre o punk e a lisergia toma conta de Serotonin.
O que baliza de verdade Heavy pulp é uma oscilação entre climas psicodélicos e vibes pós-punk – como se a estileira do grupo pudesse ser traduzida numa espécie de mostrador de VU que vai parando em diversas gradações conforme a música. Alpha alpha alpha soa como Talking Heads no ácido. Posh Spice (cujo clipe mostra quatro pessoas caindo num golpe que envolve uma referência às Spice Girls) é stoner dançante e pesado na cola do Queens Of The Stone Age. Chump change e Lucky slug são pós-punk + krautrock. Ta ta ta tem vibração no-wave, com teclados psicodélicos e espaciais.
E vai por aí, num resultado bem louco e variado. Agora, de inesperado, tem a bela First class to nowhere, uma rápida lembrança do rock britânico dos anos 1980, com clima doce e viajante, guitarras e violões bacanas, riff ótimo, e emanações de The Cure, Psychedelic Furs e The La’s. No final, nem estranhe dar de cara com o synthpop apodrecido de I miss my friends. O escopo do The Technicolors é bem amplo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Pablo Vermell – “Futuro presente”

RESENHA: Em Futuro presente, Pablo Vermell mistura pop adulto e indie folk em canções curtas, íntimas e cheias de melancolia.
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Com participações de Lucas Gonçalves (Maglore), da cantora amazonense Corama e banda norte-americana Valiant Blues, Futuro presente, primeiro álbum do santista Pablo Vermell, aponta basicamente para a mistura de rock e pop adulto de rádio, num efeito que faz lembrar bastante a estreia do The Convenience, Accelerator (2021) – ou coisas mais indie pop, como Clairo.
Com duração curtíssima (19 minutos), o álbum de Pablo joga musicalmente com a noção de um futuro que se descortina a cada segundo – com ou sem ansiedade, com ou sem “vida lá fora”. O álbum abre com Na espera, uma bossa de guitarra e piano, com letra de amor perdido e vocal tranquilo. Uma música que parece balizar todo o clima do disco, ainda que haja em Futuro presente momentos folk que lembram R.E.M. (Falar é fácil demais, Futuro presente, Adeus é para os fracos).
Nas letras de Futuro presente, Pablo tenta cravar uma espécie de estética geracional, que fala de dramas pessoais, amores que se foram e coisas parecidas – como na tristezinha do soft rock Low profile, no soul indie pop de Fran e Frio, e na balada lo-fi Miopia, gravada com voz, guitarra e som de demo.
Texto: Ricardo Schott
Nota; 7,5
Gravadora: Shake Music
Lançamento: 14 de agosto de 2025.
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