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Radar: Quiçaça, Iorigun, Mildred Kid, Trio Solar, Fabio Brazza, Gustavo Galo

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Radar: Quiçaça, Iorigun, Mildred Kid, Trio Solar, Fabio Brazza, Gustavo Galo

Semana começando e Radar nacional voltando, com seis músicas captadas pela gente nos últimos dias – a fila tá grande e cada vez mais chegamos a outros sons, cada vez mais outros sons chegam a nós. Ouça, escolha, compartilhe e faça sua playlist (Foto Quiçaça: Iago Caíque/Divulgação).

Texto: Ricardo Schott

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QUIÇAÇA feat LUIZ DE ASSIS, “ZUMBIDO DA MATA”. Aberto com um ataque de guitarras que lembra 21 century schizoid man, do King Crimson, a música do Quiçaça, essa banda de Arapiraca (AL), está bem longe do rock progressivo. É um reggae que traz várias outras misturas sonoras – entram na receita sons psicodélicos, cantos de trabalho, a música do Nordeste, o clima do agreste alagoano e a mística dos cordelistas, que influencia bastante o Quiçaça na hora de fazer as letras. Dichavadores de fumo de Arapiraca, EP do grupo, é definido por eles como um rito musical. Luiz de Assis, da banda Vibrações, participa de Zumbido da mata.

IORIGUN, “NÃO VAI VALER A PENA”. Essa banda de Feira de Santana (BA) tem dois EPs em inglês e agora, três singles em português. O terceiro, esse Não vai valer a pena, une climas herdados do pós-punk e do emocore, com uma guitarra solo distorcida permanentemente ressoando no canal direito, e uma letra que, segundo o vocalista e guitarrista Iuri Moldes, “funciona como mais uma peça do gigante quebra cabeça formado com as outras músicas (em português), trazendo notas de rodapé sobre o término de um relacionamento”. O clipe da faixa traduz bastante essa mescla de tédio e desespero.

MILDRED KID, “THE BAGGY JEANS DOESN’T MEAN ANYTHING”. Direto de Bragança Paulista (SP), o Mildred Kid chega com os dois pés na porta: estreia com o EP First four reggae kids e com o clipe dessa faixa que mistura zoeira punk, skate e energia de show marcado no “faça você mesmo”. Trazendo várias cenas em técnica de lomografia, com moldura redonda, o vídeo foi gravado no espaço cultural local Edith Cultura, em clima de festa e caos organizado – com direito a cenas extras com takes de rua e manobras de skate. Um clima ruidoso vindo do shoegaze também surge no som deles, com vocais e guitarras quase na mesma massa.

TRIO SOLAR, “SOLAR”. Esse trio de música instrumental nasceu da pressão criativa da segunda edição do projeto Encontros Instrumentais – uma série do Selo Sesc que propõe um desafio direto: reunir artistas da cena instrumental brasileira para compor e gravar três faixas em quatro dias de estúdio. Desta vez, quem topou a missão foram Debora Gurgel (piano), Vanessa Ferreira (baixo) e Vera Figueiredo (bateria) – três musicistas que nunca haviam tocado juntas.

O destaque do encontro é a música Solar, um samba em 7/8 cheio de curvas e invenção, que virou ponto de virada e nome do grupo recém-formado. A conexão foi tão intensa que o trio decidiu seguir em frente. O EP completo EIN 002 (o segundo da série do Selo Sesc) já está disponível nas plataformas e no Sesc Digital. Jazz, baião e samba-jazz ganham corpo e liberdade nesse encontro afiado entre gerações.

FABIO BRAZZA feat CRIOLO, “SONHOS”. Rapper, poeta, compositor e improvisador – e neto do poeta concretista Ronaldo Azeredo -, Fábio retorna com seu novo álbum, A roda, a rima, o riso e a reza, firme na mistura de rap, samba, sons eletrônicos e vivências pessoais, com participações de peso. Em Sonhos, parceria com Criolo, ele mergulha num rap afro-blues-gospel, reflexivo e urgente. A letra mostra como a rotina desgasta os sonhos (“um busão lotado é um cemitério de sonhos”) e fala da importância de recuperar o que é verdadeiramente nosso, num mundo onde até nossos desejos parecem moldados por algoritmos.

GUSTAVO GALO, “VIVER É FATAL”. Primeiro, vamos deixar que o próprio Gustavo explique a história de sua nova música. “Escrevi a letra de Viver é fatal no dia em que Gal Costa morreu. Eu estava a caminho de um show em que cantei poemas de Torquato Neto. Torquato e Gal morreram no 9 de novembro – ele em 72 e ela em 2023″, conta Gustavo, que tem Gal como referência maior na música.

A faixa, uma balada melancólica com ecos de blues e samba — fácil de imaginar na voz da própria Gal — surge como faixa bônus de Folhas_fruto, disco que junta os dois álbuns lançados por Gustavo em 2024 (Folhas e Fruto). A letra funciona como tributo e despedida, mas também como declaração de permanência: o som não morre. “Morrer com você no alto-falante / para mim é viver bastante”, canta Gustavo, em versos que soam como aceno carinhoso e testamento afetivo.

 

Crítica

Ouvimos: Marcelo Segreto – “De canção em canção”

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Marcelo Segreto estreia solo com De canção em canção, disco curto e afetivo que mistura folk, vanguarda paulista e clima de easy listening.

RESENHA: Marcelo Segreto estreia solo com De canção em canção, disco curto e afetivo que mistura folk, vanguarda paulista e clima de easy listening.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Dobra Discos
Lançamento: 18 de agosto de 2025

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Vocalista da Filarmônica de Pasárgada – que lançou há pouco um EP recordando músicas da Vanguarda Paulista, com participações de artistas do movimento – Marcelo Segreto estreia solo com um disco curto, direto e inspirado pelo filme De canção em canção, do estadunidense Terrence Malick. Daí o nome do disco ser também De canção em canção, numa referência que passa não apenas pelo cinema, mas pela vida que corre de amor em amor, de personagem em personagem.

  • Ouvimos: Pélico – A universa me sorriu – Minhas canções com Ronaldo Bastos

Muita coisa do álbum tem atmosfera de easy listening – Oi e tchau, por exemplo, chega a lembrar Raindrops keep falling on my head, sucesso de BJ Thomas, em alguns trechos. O lado vanguardista explorado recentemente pelo seu grupo não fica de fora: surge nas letras repletas de brincadeiras com as palavras, como em Te vou eu amar que eu sei, gravada ao lado de Tiê, e nos climas de algumas composições, como o tango-reggae de De lá pra cá (cuja letra mostra uma visão irônica do desajeitamento ligado ao amor). Surge também na vibe de HQ de músicas como Sei lá, folk-toada-jazz que fala em “quando te vi / a Terra até parou de girar”. Já em faixas como Ok, ok, ok, a seresta folk Segredo e London, Londres surge um clima beatle, presente em linhas vocais e no uso de cordas.

Boa parte do repertório de De canção em canção vem de observações não apenas dos relacionamentos, mas também do tempo que passa e vai levando pessoas para perto, ou para longe. A quase faixa-título, o folk Song to song, cantado em inglês por Marcelo e Tiê (que participa de cinco faixas do disco) põe na roda esse fluxo de relacionamentos – fala de certa forma até do tédio que vem junto, e dos começos que parecem finais. Uma vibração que surge também na declaração de amor distante de Se você chegar, toada dedicada a Zeca Baleiro, e que lembra Dia branco, de Geraldo Azevedo.

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Crítica

Ouvimos: Sergio Krakowski – “Boca do tempo”

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Em Boca do tempo, Sergio Krakowski transforma o pandeiro em krautpop e psicodelia, misturando samba, eletrônica e invenção sonora.

RESENHA: Em Boca do tempo, Sergio Krakowski transforma o pandeiro em krautpop e psicodelia, misturando samba, eletrônica e invenção sonora.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rocinante
Lançamento: 16 de julho de 2025

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Gravado na serra de Araras (RJ), Boca do tempo, novo disco do percussionista Sergio Krakowski, mexe com uma curiosa noção krautpop e até progressiva do uso do pandeiro, em meio a invocações e vocais que reviram os títulos das faixas e as curtas letras do álbum. Em Elebara, faixa de abertura, o ritmo vai se formando na cara do ouvinte, com sons que lembram gavetas se abrindo em meio ao ritmo, além de uma vibração grave que lembra o começo de One of these days, do Pink Floyd. Nunca ninguém não quer abre com vocal e pandeiro, e ganha um ar de rock pesado tocado no instrumento, com se a voz fosse um riff de guitarra.

  • Ouvimos: Ilessi – Atlânticas (EP)

Música, história e política misturam-se em faixas como Dongueragan, que parece sonorizar a passagem do samba da Bahia para o Rio, e Chica, com batida nordestina e eletrônica, clima psicodélico, vários segmentos e nomes de mulheres na letra. Avalanche “fala” musicalmente sobre um deslizamento que esta prestes a acontecer, com pandeiro e efeitos sonoros. Teclados e ruídos tomam a frente em faixas como Alga e Dentro do dentro. No final, Renegue não soa como um manifesto do disco: um forró-reggae tocado no pandeiro, em que Sergio chama a atenção para a letra e para os “caminhos que levam ao coração”.

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Crítica

Ouvimos: Dori Caymmi – “Utopia”

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Em Utopia, Dori Caymmi segue sua busca por uma música “extremamente brasileira”, longe do Tropicalismo e fiel às raízes de Dorival.

RESENHA: Em Utopia, Dori Caymmi segue sua busca por uma música “extremamente brasileira”, longe do Tropicalismo e fiel às raízes de Dorival.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Biscoito Fino
Lançamento: 26 de agosto de 2025

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“O Tropicalismo foi um movimento mais para São Paulo. Eu, no Rio, não fui afetado por isso. Nem prestei atenção. Até porque Domingo no parque e Alegria, alegria são duas músicas muito bonitas, mas não vejo nada de Tropicalismo nelas. A do Gil tem um ritmo nitidamente baiano e a do Caetano é uma marcha. Agora, porque puseram uns caras tocando guitarra no palco com uma pose, os Mutantes, dizem que é a Tropicália. Eles estavam imbuídos daquele Sgt. Pepper’s, dos Beatles, que lá em casa não entrou. Lamento, mas não tenho tempo para os Beatles. Eu tenho tempo para Ravel, Debussy, Edu Lobo, Noel Rosa, Tom Jobim”.

Tem muitas, digamos, camadas de entendimento nessa declaração de Dori Caymmi, dada à Folha de São Paulo em 1999. Vamos à mais tranquila: o compositor carioca, que está buscando há décadas uma música brasileira pura e profunda, nunca se alinhou com o “som universal” do Tropicalismo. Por causa disso, poucas vezes foi enxergado como parte do primeiro time da MPB, ou até mesmo como parte de uma entidade musical chamada “MPB” – um lugar ao qual, curiosamente, pertence Djavan, cujo som é ligadíssimo ao de Dori e tem herança de seu pai Dorival.

Não mudou muita coisa de lá para cá – recentemente, Dori declarou a O Globo ter arrancado a antena do carro para não correr o risco de ouvir o que se toca nas rádios, e também deu declarações como “pega a minha primeira entrevista e eu já dizia o que digo hoje. Por que eu tenho que mudar? Podem me chamar de reacionário, mas sou feliz”. Utopia, seu novo álbum, prossegue na busca por uma música “extremamente brasileira”, como ele próprio afirma.

  • Ouvimos: Joyce Moreno – O mar é mulher

Tendo Paulo Cesar Pinheiro como parceiro em sete das dez músicas, Dori se alinha à “música pernambucana, baiana, mineira” e faz um som que evoca várias imagens do Brasil nas melodias e nas letras de músicas como Búzio azul (com participação do Boca Livre e clima marítimo lembrando o pai Dorival) e O nome da moça, com vocal de Monica Salmaso – uma música que soa como um retrato musicado em que só se descobre os personagens no desenrolar da letra.

Musicas como Viageiro (com Monica Salmaso, Sergio Santos, Boca Livre e MPB4 alternando vozes), Pelas mãos de algum poeta (com Sergio Santos) e Sozinho de nascença vêm de um universo sertanejo que nada tem a ver com a música sertaneja das TVs e rádios, oferecendo viagens sonoras que levantam voo lado a lado com mensagens de vida, introspecção e labuta.

Prosseguindo em Utopia, Navegação sugere uma volta por Portugal e Angola, a toada moderna Isabela (com Ivan Lins) mostra a alma da personagem por intermédio do seu olhar. No fim do disco, frevo, samba e valsa dividem espaço nas faixas Ninho de vespa (com o MPB 4), Filete d’água e Filigrana. Já na capa do álbum, a Utopia de Dori volta-se para suas origens, com um retrato seu pintado pelo pai Dorival em 1946 – um desenho carrancudo, mas no qual aparecem até um brinquedo do futuro músico (uma bola) e uma paisagem enevoada.

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