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Radar: Péricles, Seu Jorge e um clássico do samba-rock relembrado

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Radar: Péricles, Seu Jorge e um clássico do samba-rock relembrado

Essa edição do Radar era para ter saído na semana passada, mas… o Pop Fantasma sumiu do ar e ficamos na mão por alguns dias, não deu pra publicar nada. Daí estamos um pouquinho em clima de Carnaval ainda, e tem até um som novo do Péricles. Ouça tudo no volume máximo!

PÉRICLES feat SEU JORGE, “BOCA LOUCA”. Sem samba, não dá – sem samba-rock, então, impossível explicar o desenvolvimento da música brasileira pós-anos 1960, já que o estilo abarca pioneiros como Jorge Ben e Luiz Wagner, e a turma de estilos como soul e pagode. Anunciando o disco Pagode do Pericão (Ao Vivo em São Paulo) – previsto para ser lançado em duas partes, a primeira ainda no primeiro semestre de 2025, Péricles convida Seu Jorge para rever um hit imortalizado pelo sambista paulistano Nelson Fernando de Moraes, ou Branca Di Neve (1951-1989). Branca, se você nunca ouviu falar, lançou Pensamento verde, gravada pelo Molejo (a faixa que cunhou a frase-gozação “sabe quem perguntou por você?/ninguém”) e foi gravado por nomes como Bebeto.

TRILHO ELÉTRICO, “PLOT TWIST”. Uma espécie de supergrupo pop nacional, o Trilho Elétrico reúne Lelo Zanetti (ex-Skank), Rodrigo Borges (sobrinho de Lô e Márcio, além de cantor e compositor solo), Manno Góes (compositor e fundador do Jammil e Uma Noites) e Lutte (ex-vocalista da banda Mosiah), traçando, naturalmente, uma ponte sonora entre Minas e Bahia. Com uma vibe power pop e um órgãozinho que evoca (claro) o Skank, o novo single do grupo – que lançou álbum em 2023 – o grupo põe no radar o lado mais bubblegum do rock nacional dos anos 1980/1990. Pop reconhecível à distância, feito para grudar na cabeça.

DOCE CREOLINA, “PARA ONDE FORAM OS MORCEGOS DA VILA INDIANA?”. Esse duo de Passo Fundo (RS), formado por Julia Manfroi e Mattos Rodrigues, faz som um som romântico, abolerado e neopsicodélico, com referências de post rock, música sessentista e sons cubanos e mexicanos. O novo single, o segundo deles, fala do suplício de uma saudade, em clima simultaneamente lisérgico e gótico. O EP de estreia Debaixo do chapéu de um cogumelo está previsto para abril.

GANG DO ELETRO, “BALADEIRA”. “A inspiração de Baladeira vem dos primeiros experimentos de DJs produzindo remixes em meados dos anos 2000. Loops de batidas feitas no computador misturados com alguns sintetizadores de instrumentos virtuais, faziam os frequentadores de festas de aparelhagem enlouquecerem dançando aos pares, cada um com seus caqueados, como diz o bom paraense”, diz o DJ Waldo Squash, de volta com a Gang do Eletro, ao lado de Keila, Maderito e Will Love. O single novo marca o retorno do grupo, que já havia se reunido para fazer uma turnê de dez anos do primeiro álbum (em 2023) e tem no radar um novo álbum.

TERRAPLANA feat WINTER, “HEAR A WHISPER”. Boa notícia para o Radar e também para as resenhas do site: dia 11 de março sai o próximo álbum do Terraplana, Natural, pela Balaclava Records. A puxar o disco, sai essa faixa sensível, com heranças da psicodelia e do shoegaze, cantada em inglês e português, e dividida pela banda com Samira Winter, artista curitibana radicada em Nova York. Hear a whisper fala sobre como é conviver com alguém que perde as lembranças sobre sua própria vida – um tema devidamente evocado pelo oscarizado filme Ainda estou aqui, de Walter Salles. O clipe, dirigido por Julia Lacerda e Elbi, une várias imagens e lembranças, e compara a memória que se esvanece com uma gravação (em VHS?) que vai se apagando com o tempo.

TERNO REI, “NADA IGUAL”/”VIVER DE AMOR”. Há boatos de que vem por aí um grande disco do Terno Rei. O quinto álbum da banda paulistana sai em abril pela Balaclava Records e é anunciado por este single duplo – que ganhou um cinematográfico clipe também duplo. Vestidos elegantemente (um fã não deixou de notar nos comentários do YouTube: “Olha o Terno Rei de terno!”), os quatro músicos vivem uma situação de desespero e fuga numa pista de aeroporto, começando com imagens sorumbáticas em preto e branco, que remetem a filmes do cinema novo. A capa do single, por sua vez, lembra o grafismo dos singles de rock nacional lançados pela WEA nos anos 1980 (aliás batemos um papo com o Terno Rei há um tempinho – leia aqui).

MORCEGULA, “RATAZANAGEM”. O duo formado pelo casal Rebeca Li e Henrique Badke é especialista em canções grudentas, com vibe punk ramônica e clima de terror. No caso de Ratazanagem, o novo single, o terror é o do dia a dia, e o demônio não é um sujeito com rabo, chifre e tridente, mas sim uma amiga falsiane e metida a cobra cascavel – uma referência que evoca Erva venenosa, versão do hit pop Poison ivy, gravada por Golden Boys, Herva Doce e Rita Lee. Um som curto, doce, grosso e grudento.

ESTÉREO BOUTIQUE, “FOTOS DO JAPÃO”. Preparando um EP para ser lançado em julho, o trio paulistano Estéreo Boutique revela um single envolvente que equilibra delicadeza sessentista e energia pós-punk. Com influências que vão de Wilco e Death Cab for Cutie a Boogarins e Boygenius, a faixa traz linhas de baixo pulsantes – numa espécie de versão punk de John Entwistle (The Who) – e uma sonoridade rica em camadas. Para os shows, prometem “uma experiência crua, experimental e imersiva”.

Foto Péricles e Seu Jorge: Caio Durán/Divulgação

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Ouvimos: Zaynara – “Amor perene”

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Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

RESENHA: Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Sony Music Brasil
Lançamento: 9 de outubro de 2025

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O beat melody, estilo defendido pela paraense Zaynara, é um primo do tecnobrega, só que mais chegado ainda às raízes do brega paraense: ele tem influências mais demarcadas de calipso, ao mesmo tempo que junta tudo com música eletrônica (ela própria explicou a receita num papo com o Gshow ano passado), e não dispensa a sofrência como assunto de letras e músicas.

Isso tudo junto em doses às vezes iguais, às vezes desiguais, faz com que o som de Amor perene, segundo disco de Zaynara – e sua estreia pela Sony Music Brasil – tenha lá um certo lado pop que se assemelha ao sertanejo. Ou pelo menos à apropriação de gêneros feita pelo estilo, que volta e meia se avizinha do som dela em alguns refrãos – como o de Eu me enganei, uma sofrência bacana que surge na metade do álbum.

  • Entrevista: Les Rita Pavone fala sobre disco de estreia, cena musical paraense, viver ou não de música

Pra dizer a verdade, tudo isso aí só torna a audição de Amor perene uma experiência mais instigante. Do começo ao fim, ele é um disco de festa e uma investigação particular do encontro entre brega, latinidades, guitarras e até referências do rock e do pop gringo. A faixa-título mistura folk-pop, sons grandiloquentes na onda do Coldplay, e o refrão parece versão de hit estrangeiro. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA.

5 estrelas, música criativa que narra uma conversa romântica entre uma passageira e um motorista de aplicativo, tem participação do baiano Tierry, e é um tema esperando por uma trilha de novela – e quem sabe, por uma personagem. Se vira aí abre com um piano simples e elaborado, e embica numa balada brega. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA. O fim do disco é com a dance music paraense de Perfume da bôta. Essa onda vai pegar.

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Crítica

Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

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Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025

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Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.

  • Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!

O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.

Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.

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Crítica

Ouvimos: Lucas Grill – “Grill – O rei do Deprê Chic”

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Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como "deprê chic".

RESENHA: Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como “deprê chic”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 2 de outubro de 2025

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Cantor e compositor de Niterói, Lucas Grill estreia solo com O rei do Deprê Chic, disco que, na real, traz mais uma ordenação sonora do que a inauguração de um estilo. Lucas abriu uma gaveta musical e, dentro dela, inseriu elementos de blues, folk, vibes góticas, um ou outro elemento do pós-punk e do dream pop, além de referências de Zeca Baleiro e Belchior, e do som popularíssimo de José Augusto e Fernando Mendes.

Isso tudo junto, em doses nem sempre iguais, forma o som do álbum de Lucas, que se apresenta ao público na vinheta O terror de tudo. E em seguida, se joga na melancolia e na redenção de O preço das luas, balada com ar blues que prega que “a vida não é evitar de cair / é sobre levantar”, e na filosofia pessoal do folk Loser, música de versos como “tem um lado meu que nunca quer acordar / e se diverte jogando no breu / o meu medo é descobrir que esse lado venceu”.

  • Ouvimos: Eduardo Pereira – Canções de amor ao vento

Lucas não fala apenas de amor. Na verdade O rei do Deprê Chic mexe mais em temas existenciais, e mesmo quando fala de romantismo, busca falar de vida, existência e trens que partem independentemente da nossa vontade. Nessa ontem, tem o amor que vai pros cacetes em A gnt n é assim (balada deprê lembrando um misto de Cranberries e Echo and The Bunnymen) e Moldura quebrada, a dor de cotovelo de Estrago (com Barbara Savie) e a mescla de Sullivan, Massadas e pop funkeado de Poesia na chuva, música que fala sobre fingir normalidade após o fim de um relacionamento. Valsinha, com Clara Coral dividindo as vozes, leva a O rei do Deprê Chic um clima de sonho acordado que quase não surge no disco.

No fim, Grill surge cantando ao vivo Não é nostalgia, canção de voz-e-guitarra com clima bem humorado (“essa não fala de coração partido, mas fala um pouquinho”, avisa ele) e unindo Cazuza, Zeca Baleiro e Raul Seixas em versos como “eu ando achando tudo um saco, mas acho que o saco sou eu”. No geral, um disco de sofrência pensante.

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