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Radar: dez sons que chegaram até a gente pelo Groover #3

O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais dez nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça.
NAIVE MEN LEADING THE BLIND. São os da foto acima. Basicamente o som dessa banda-dupla de Estocolmo, Suécia, é punk e power pop com boas melodias e volume no talo. Martin Korpi e Niclas Jonsson, criadores do grupo, chegaram até a tocar em bandas de ska-punk no passado, e eram integrantes de grupos que estavam em hiato. “Mas ambos percebemos que tínhamos passado muito tempo nos concentrando em questões menos importantes da vida e decidimos começar a tocar música e gravar juntos novamente”, contam no Groover. Tem um EP vindo aí, e por enquanto, há apenas um single, daqueles para ouvir no último volume.
Ouça: Lover’s tune.
SERGIO GAETANI. A ideia desse músico norte-americano descendente de italianos é bem interessante: e se uma banda tipo Flaming Lips resolvesse criar uma trilha de western spaghetti, com toda aquela ambiência típica? Em busca disso, lá se foi ele montar o álbum The west that never was, uma peça psicodélica de faroeste que tem influências até de The Doors, e que conta “a história de amor, perda, vingança, assassinato e empatia da vida de alguém consumido por um único objetivo: matar o bastardo que assassinou o único amor verdadeiro do nosso herói”.
Ouça: Time from my mind.
MANICBURG. A mistura sonora dessa banda de Nova York é bastante curiosa: o Manicburg une pós-punk e influências dos anos 1960 (psicodelia) e 1970 (o punk de sua própria cidade). O resultado é que o som de músicas como All together now soam como um desdobre punk da música de bandas como Jefferson Airplane, e One for you and one for me parecem referenciadas em bandas como King Crimson e Japan, simultaneamente. O primeiro álbum, epônimo, chegou às plataformas no dia 25 de outubro.
Ouça: All together now.
ABSENTHYA. Essa banda, ou melhor, essa dupla da Itália faz basicamente drone metal – com tendências a soar meio progressivo em alguns momentos, e bem próximo do stoner rock em outros. Até o momento já lançaram dois EPs dedicados a uma sonoridade bastante desértica e fantasmagórica, com faixas extensas, riffs que vão surgindo devagar e ganhando peso, e outras características. O som também tem lá seus lados eletrônicos, com programações, inclusive de bateria.
Ouça: Killer II (part 2).
MOSQUITO CONTROL MUSIC. Trata-se de um projeto novo criado por dois antigos amigos, a partir de recordações de uma época de ouro para eles. “Fazemos heavy dance rock inspirados nas casas noturnas dos anos 1980, quando os toca-discos eram o rei! No sul da Louisiana, o lugar para estar era The Kingfish e o vinil tocado por DJs!”, contam no Groover. Tim Ganard e Bruce Bouillet, produtores, se conheceram nessa época, montaram vários projetos juntos e, em 2023, se reconectaram.
Ouça: The pendulum.
APE BUCKET. Como tem se tornado bastante comum ultimamente, essa banda é um projeto de um cara só – no caso, o músico libanês (radicado na Califórnia) Charbel Saikali. O Ape Bucket seguiu 2024 lançando singles, encerrando com Made up my mind e It is what it is, duas canções com proximidade de bandas como The Clash, Stranglers e Gang Of Four, além do indie rock novaiorquino dos anos 2000. “Eu queria que Made up my mind capturasse vários aspectos de encontrar alguém especial, particularmente o impacto do contato visual e a carga que pulsa em nosso sistema nervoso por causa de uma conexão. É sobre o quanto podemos nos comunicar apenas com um olhar”, conta Charbel, também influenciado pela psicodelia dos anos 1960.
Ouça: It is what it is.
DAMNDEST. Essa dupla de Boston faz uma mescla de new wave, post-rock e som deprê no estilo do The Cure – com vocais graves, batidas secas e melodias flutuantes, com poucos acordes. Shimmer, uma de suas músicas novas, mistura – segundo eles próprios – lados dark e experimentais de bandas como Mogwai e Radiohead. A canção inicia bem simples e vai ganhando uma névoa de guitarras e ruídos na sequência. A faixa já ganhou um clipe.
Ouça: Shimmer.
FUEGO EN CAIRO. Uma banda pós-punk da Espanha que tem em seu som (diz o release deles) “elementos de folk, shoegaze, psicodelia, synth-pop dançante e chamber pop”. Quiero ver quiero ver, single de Stiv (voz e guitarra), Ixi Millas (voz), Javier Montenegro (bateria), Marcelo Castro (guitarra) e Manuel Muñoz (baixo) está mais próximo de um power pop pesado e ágil, com bateria frenética. É uma demonstração do álbum do grupo, que sai em meados do ano.
Ouça: Quiero ver, quiero ver.
LOUP MIRACLE. Vindo da França, esse projeto criado por um músico chamado Vincent Leservoisier é basicamente de ambient eletrônico bastante intenso, com guitarras pesadas e clima distorcido e nublado lá pela metade do novo single, Drive me home. A música veio até Vincent num momento bastante delicado, quando ele havia acabado de perder sua mãe e estava em turnê com uma banda. A faixa está no EP Back to you, que sai em breve.
Ouça: Drive me home.
PLANET OF GHOSTS. Bom nome, o dessa banda (“planeta dos fantasmas”). Na verdade o Planet of Ghosts é uma dupla de Ohio (Estados Unidos), formada por Kasey Ward e Adam Kure, e que tem os anos 1980 na cabeça na hora de compor – mas o lado invernal dos anos 1980, com influências de Echo and The Bunnymen, Teardrop Exlodes, The Sound e outras bandas. “Nós crescemos em uma pequena cidade de Ohio, então não importa o quão bons fôssemos, não havia público. Então, quando ouvimos música em nossas vidas pessoais, tendemos a nos identificar com bandas e artistas que são mais obscuros”, contam.
Ouça: Electric blood.
Lançamentos
Radar: Wet Leg, Fuzz Lightyear, OMNI, The Captains Syndrome, Isabella Lovestory, Mariah Carey

Um negócio que sempre passa pela nossa cabeça quando estamos fazendo o Radar: vale falar de gente que não precisa tanto assim de divulgação? E repetir artista no Radar, vale? As duas coisas valem, sim. E por causa de dois aspectos: 1) queremos acompanhar tudo o que está rolando na música; 2) queremos acompanhar o que uma turma da qual gostamos vem fazendo. E a luta aqui é para quem tenha sempre espaço pra geral. Dito isto, estamos na espera pelo novo álbum do Wet Leg, e estamos tanto de olho nos passos de Mariah Carey quanto nos movimentos do Fuzz Lightyear, uma banda do barulho. Ouça em alto volume!
Texto: Ricardo Schott – Foto Wet Leg: Alice Backham/Divulgação
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WET LEG, “DAVINA MCCALL”. Sabe o que é que vai sair na semana que vem (sexta, dia 11)? O esperadíssimo disco novo do Wet Leg, Moisturized – que a julgar pelos singles já lançados, e pelo clima zoeiro dos clipes, vai meter o pé na porta. Davina McCall, single novo, é loucura do começo ao fim: um doce soft rock que fala sobre amor incondicional e devotado, em que a personagem promete ser “a Davina” do seu amor, e depois avisa que será a “Shakira” da tal pessoa. Eita.
Honestamente, não sacamos lá muito bem o porquê da referência à Davina McCall – apresentadora veterana da TV britânica, conhecida por comandar realities como Big Brother, The Biggest Loser e The Masked Singer. A própria banda disse que terminar a música foi como “resolver um mistério” (qual, exatamente, ninguém sabe). E falando em mistério, o clipe entra na mesma vibe: o Wet Leg aparece em versão bonecos de argila e sai em uma perseguição maluca, a bordo de um conversível (no maior estilo do clipe anterior do grupo, o de CPR), atrás de um sujeito bem esquisito.
FUZZ LIGHTYEAR, “BERLIN, 1885”. Sabemos muito bem o que você está pensando aí: “Fuzz Lightyear? Caraca, como eu não tive a ideia desse nome antes?” Essa banda de Leeds fez mais do que apenas pegar o boneco-herói do filme Toy Story e transformá-lo num trocadalho barulhento do carilho. No single Berlin, 1885, transformou seu som numa massa bruta percussiva, que range de maneira selvagem, num design sonoro em que guitarra e baixo são tão responsáveis pela condução do ritmo quanto a bateria.
Ben Parry, o vocalista, diz que a música é um aviso de que a luta não acabou. “É difícil continuar na luta quando parece que nada mudou. Esta música é uma espécie de alerta para mim mesmo, e para qualquer outra pessoa tão apática quanto eu, para continuar”, conta.
OMNI, “FOREVER BEGINNER”. Essa banda de Atlanta, Georgia, ligada ao pós-punk clássico, foi destaque nos melhores álbuns do Pop Fantasma no ano passado – por causa do disco Souvenir, cujo repertório inclui faixas que soam como o King Crimson soaria se fosse produzido por Tom Verlaine (Television). Ou como um hipotético supergrupo envolvendo integrantes do Television, da Gang of Four e do Black Sabbath. E lá estão eles de volta com o pós-punk durão Forever beginner, uma sobra das gravações do álbum anterior que chega agora às plataformas. Uma bateria quase robótica e uma trama de riffs marcam a canção.
(leia nossa resenha de Souvenir aqui)
THE CAPTAINS SYNDROME, “THE SOUND”. A onda desse grupo sueco é a encruzilhada entre o punk e o rock pauleira – ou seja: aquela pegada sonora representada por artistas como Billy Idol, Ramones, Sex Pistols e Iggy Pop, e que aparece no som desse trio. Explosões espalhadas pela letra e pelo arranjo do novo single, The sound (inclusive no refrão), ajudam a reforçar a narrativa da música, que fala basicamente sobre ser passado para trás, cair e se reerguer várias vezes. “Na letra, usamos fogo e água como metáforas para a luta interior e libertação”, contam eles, que também avisam: “Estamos aqui para fazer barulho!”. Ninguém duvida.
ISABELLA LOVESTORY, “EUROTRASH”. Pop performático, exagerado e afiado: depois dos singles Gorgeous e Telenovela, a cantora pop hondurenha Isabella Lovestory volta com Eurotrash, single que mistura eletro-trap debochado, sintetizadores ácidos e imagens absurdas (poodles rosa, bolsa Louis Vutton pirateada, becos europeus).
A faixa é um dos singles de Vanity, novo disco dela, já nas plataformas. E Isabella diz que o álbum traz, em todas as faixas, a maneira como ela vem lidando com fama e exposição. “Quis romantizar essa escuridão e transformá-la em narrativa. Cada música é um lado diferente meu lidando com a própria vaidade, em toda a sua bela escuridão”, diz.
MARIAH CAREY, “TYPE DANGEROUS”. Nem a pau a gente vai deixar de lado um dos monumentos da música pop dos anos 1990 – especialmente porque Mariah Carey mandou bem com seu novo single, Type dangerous, 50º hit da cantora a invadir a Billboard Hot 100. É o primeiro lançamento inédito dela desde 2018 e antecipa seu próximo álbum.
E, enfim, vale a pena ouvir? Se você detesta Mariah Carey e todos os usos e costumes relativos ao repertório dela, mas gosta de música pop, vale: a nova música é soul eletrônico bastante texturizado e remixado, invadindo a área do new jack swing – o som urbano-contemporâneo, que parece de volta à moda, até mesmo nas produções brasileiras. Poderia ser uma produção de Mark Ronson (não é, mas Anderson.Paak, outro nomão da produção, está envolvido na faixa). Enfim, eu se fosse você, ouviria.
OLIVIA RODRIGO feat ROBERT SMITH, “JUST LIKE HEAVEN”. E fica aí de bônus e também de surpresa – já que nem estava no título deste texto: no último domingo (29 de junho), Olivia foi headliner do festival de Glastonbury, na Inglaterra, e recebeu no palco ninguém menos que Robert Smith (The Cure) para cantarem dois sucessos da banda, Friday I’m in love e Just like heaven.
Olivia descreveu Robert como “talvez o melhor compositor que já saiu da Inglaterra e um herói pessoal”, Smith subiu no palco usando um moletom com lantejoulas, e os dois cantaram juntos. O vídeo de Just like heaven foi liberado pelo canal da BBC com boa qualidade de imagem e som. E com isso, The Cure se consagra como uma das bandas veteranas mais influentes dos dias de hoje – aquela que influencia novos artistas sem que eles sequer percebam, como também acontece como Beatles e Rolling Stones.
Crítica
Ouvimos: Anika – “Abyss”

RESENHA: Anika mistura pós-punk, krautrock e sons ritualísticos em Abyss, disco sombrio e cru sobre confusão, fuga e relações quebradas.
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Anika vem de Berlim, Alemanha – você vai perceber isso logo que escutar as primeiras faixas de seu terceiro álbum, Abyss. Além do sotaque fortíssimo (ela canta em inglês), os vocais remetem logo a Nico e às tentativas musicais de Christiane F (a própria). Na verdade, quase dá pra dizer Anika soa como uma filha perdida de Nico e Iggy Pop, só que criada por Lou Reed e tendo Ian Curtis como padrinho.
Procurando, ou até sem procurar, você acha toda essa vibe em Abyss, disco de pós-punk duro, de krautrock, gravado quase totalmente ao vivo, e variando da crueza punk às aclimatações tecno (a abertura, com Hearsay), e aos sons de garagem dos anos 1960/1970 – nesse caso, a faixa-título, que lembra Stooges e a era do disco Funhouse, de 1970. Anika segue com o ruído distorcido de Honey, o power pop em preto-e-branco de Walkaway (que chega a lembrar Ramones), o punk ruidoso e dramático de Into the fire – cuja guitarra remete à intro de Life goes on, do The Damned.
O repertório de Abyss é endereçado a quem já se sentiu confuso/confusa demais para entender o mundo e já quis fugir. Essa sensação de desnorteio, de abismo (“abyss”, enfim) permeia todas as letras do álbum, passando pela desassociação de Oxygen, pelos relacionamentos falsos da faixa-título, pelo clima destrutivo de One way ticket e de Walk away. Com referências assumidas de Genesis P-Orridge, Anika também embarca em sons ritualísticos em Out of the shadows (com ruídos misteriosos na abertura). Sem deixar de evocar The Cure e até o lado mais sombrio dos Rolling Stones em Last song e na velvetiana Buttercups.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Sacred Bones Records
Lançamento: 4 de abril de 2025.
- Ouvimos: The Cure – Mixes of a lost world
- Joy Division antes, durante e depois do fim, no nosso podcast
- Relembrando: Iggy Pop – New values (1979)
Crítica
Ouvimos: Unknown Mortal Orchestra – “Curse” (EP)

RESENHA: Curse, novo EP do Unknown Mortal Orchestra, mistura terror, lo-fi e riffs setentistas num som sujo, psicodélico e estranho, mas cativante.
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O único disco mais, digamos, orientado para o mainstream da Unknown Mortal Orchestra é V, de 2023. O restante do trabalho do grupo de Ruban Nielson inclui grooves psicodélicos, singles de 27 minutos (!) e improvisações bem estranhas – como em IC-02 Bogotá, resenhado aqui. Pois bem: Curse, novo EP do grupo, se equipara a V e consegue ser mainstream sendo, ao mesmo tempo, esquisito pacas.
Curse foi inspirado nos giallos, filmes italianos de terror, e de quebra, inspirou-se também nessa época maluca de tirania no poder norte-americano, desgraças nos jornais, violência e outros temas nada amenos. Ruban inspirou-se também, claro, na ondinha que vem se erguendo de produções lo-fi – o repertório do EP parece ter sido gravado em fita K7. Dessa vez, as referências mais comuns da UMO desapareceram e o grupo se transforma numa daquelas bandas desconhecidas de rock pauleira dos anos 1970 que, lá por 2005, geral baixava de blogs, comunidades do Orkut ou endereços do 4shared e do Rapidshare.
Daí, se o papo é terror e porrada, mais fácil comparar a nova Unknown Mortal Orchestra com formações pouco lembradas como o Buffalo (o Black Sabbath australiano dos seventies) e Black Widow (a “outra” banda britânica que falava de temas ocultistas há uns 50 anos). Curse tem essa mesma aura underground, exibida na introdução aterrorizante de Aura, na riffarama de Boys with the characteristics of wolves e Sorcerers of silence, no metal ambient One hundred bats, na aura grunge de Death comes from the sky. No fim das contas, Curse soa como uma trilha sonora psicodélica para um pesadelo vintage – estranhamente atual, perigosamente sedutor.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: JagJaguwar
Lançamento: 18 de junho de 2025
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