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POP FANTASMA apresenta Satanique Samba Trio, “Forrível”

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POP FANTASMA apresenta Satanique Samba Trio, "Forrível"

Dá pra imaginar uma cópula entre o forró e o horror synth (sub-gênero de música eletrônica inspirado nas trilhas sonoras de filmes de terror dos anos 1980)? Bom, agora dá: o Satanique Samba Trio, grupo aterrorizante e criativo de Brasília, lançou seu 11º disco, Forrível, que saiu justamente no dia do Halloween. O disco novo, descrito por eles como “mais uma presepada vanguardística”, é dedicado justamente a essa mistura de sons. E, não se engane: apesar do “samba” bem posicionado no nome da banda, muita gente observa o “satanique” e acha que se trata de um grupo de heavy metal sanguinolento.

“Sim, isso acontece a despeito da palavra samba’ no nome”, conta o baixista e tecladista Munha da 7. “Uma vez um cara chegou a fazer uma reclamação formal por e-mail. Ele comprou o CD em alguma loja de departamento da vida e como não conseguiu trocar, queria que a gente devolvesse o dinheiro. Eu respondi dizendo que devolveria se ele escrevesse uma redação à mão dizendo o que esperava do álbum antes de ouvi-lo e mandasse para a nossa caixa postal. Dito e feito: mandou a carta e devolvi o dinheiro. Ela está neste momento no RELICÁRIO da banda, valeu cada centavo da devolução”.

TRIO DE CINCO

Munha divide a banda com Jota Dale (cavaco, guitarra e teclados), Lupa Marques (percussão e teclados), Sombrio da Silva (acordeon, clarinete e clarone) e Ely Janoville (guitarra, viola caipira e fife) – sim, o “trio” do nome não chega nem sequer a ser meramente ilustrativo, e a banda já foi um trio de seis e até de sete. “Que graça teria ser um trio de três integrantes?”, conta Munha, acrescentando que as referências da banda são “as piores possíveis”.

“Isso porque nosso esforço de pesquisa é no sentido da desconstrução dos clichês. Então, logicamente, ao investigar as características manjadas de um gênero, vamos procurar o que há de mais rasteiro e oportunista em seu output. Digamos que, sendo assim, não vamos ouvir a obra de gênios como Paulinho da Viola, vamos ouvir o CD de pagode do ET & Rodolfo”, conta.

Para o disco novo, o músico pesquisou trinta trilhas de filmes slasher dos anos 1980. Algumas, eles não conheciam. “Tranqueiras do tipo Fall break (1984) e Night killer (1990)… O que a gente não faz pela arte, né?”, conta. E se você está curioso em saber que teclados aparecem no disco, seguem aí: “Alguns simuladores virtuais da Waves, um Casio FZ-1 e o famoso TECLADINHO DA XUXA do nosso claronista/sanfoneiro Sombrio da Silva”, diz Munha.

SATÃ

O disco novo tem músicas com nomes bizarros como Rigor mortis da porra, Cat skull ventral view e Defunto’s theme. Do repertório do grupo constam também músicas como Canção para atrair má sorte e Salve Satã e ponto final. Mas o “satanique” do nome da banda é visto por eles como a ideia de trazer “uma força de contestação” para a MPB. Hoje em dia, como o grupo vê a música brasileira, especialmente o que toca no rádio?

“Eu nem saberia dizer o que está tocando no rádio ultimamente, mas suspeito que continue sendo música pop em suas diferentes extensões. Eu não posso falar pelos outros membros da banda, mas fico satisfeito que na galeria da música pop brasileira atual exista um gênero como o funk, que afronta o status quo com sua mera existência, por ser o que é e vir de onde vem”, conta Munha.

SELO BELGA

Forrível é mais um lançamento da banda pelo selo Rebel Up, da Bélgica. A banda conheceu Seb Bassler, o manager da gravadora, durante uma turnê na Europa. “Ele conhecia a banda de orelhada desde 2005 e foi a um show em Bruxelas. No after party, aproximou-se arriscando umas palavras em português e já caiu nas graças da galera. Fez a proposta oficial de lançamento em 2019 para nosso empresário e de lá pra cá já são três álbuns sob seu teto: Mais bad (2019), Instant karma (2020) e Forrível (2020). Gente finíssima”, conta Munha.

A banda não sabe ainda se o novo disco sai em formato físico. “Difícil saber neste momento, a pandemia complicou os contratos de fabricação na Europa. Talvez ano que vem seja mais fácil responder essa pergunta, mas vai saber se haverá planeta até lá”, diz. E Forrível não está ainda nas plataformas digitais, só no Bandcamp. Vai estar no Spotify e adjacências em breve, mas vai demorar um pouco.

“Como o retorno para os envolvidos é muito maior no Bandcamp, o selo espera o fluxo de compras enfraquecer lá pra escoar o álbum no streaming. Como ainda estamos vendendo bem, imagino que demore algumas semanas pro álbum ir parar no Spotify e consequentemente começar a nos render vários nadas”, afirma.

SEU KARMA VAI TE PEGAR

Neste ano, nas plataformas, saiu outro lançamento do Satanique Samba Trio, Instant karma. O disco tem 28 músicas de 15 segundos, todas chamadas Minialgia. O disco, no entanto, é pouca coisa mais antigo que isso e é um projeto inovador na história do grupo.

“Na verdade, o Instant karma saiu bem antes, como “o primeiro álbum líquido do mundo”. As 28 faixas foram lançadas separadamente no Stories do Instagram (por isso a duração de 15 segundos) em cada dia do mês de fevereiro de 2019. E supostamente desapareceriam da praça pública para sempre assim que a própria plataforma as deletasse automaticamente, 24 horas depois”, conta. “Digo ‘supostamente’ porque descobrimos que uns engraçadinhos conseguiram baixar as músicas antes que sumissem e estavam as vendendo em sites de downloads ilegais nos meses seguintes. Aí, depois de muito disse-me-disse e danação, já em 2020, conseguimos vender o álbum para a Rebel Up… E é o que temos hoje, mais um relato do fracasso artístico na era da reprodutibilidade digital”.

ISOLAMENTO

A pandemia, como aconteceu com vários artistas, pôs a perder alguns planos do Satanique Samba Trio. “Está sendo terrível, como era de se esperar. Mal e mal vamos continuando o trabalho criativo à distância, mas tomamos um belo prejuízo, pois tínhamos turnê no exterior marcada para setembro, uma meia dúzia de shows aqui no Brasil ao longo do ano e até gravação de clipe contratada para algum momento de 2020”, diz.

A banda chegou a fazer uma turnê pelo Nordeste no fim de 2019 e logo entrou em recesso. “Quando começamos a ensaiar para os compromissos do ano, a turnê chegou na base da joelhada voadora. Cabe aos produtores milionários e grandes figuras do mercado fonográfico voltarem seus olhos para nós em 2021 para que possamos compensar este vale em nossa produtividade. Doe”, pede Munha da 7.

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Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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