Artes
Como surgiu a capa de Brick By Brick, de Iggy Pop

Ilustrador conhecido por suas histórias urbanas e aterrorizantes, o americano Charles Burns foi responsável pelo grafismo de um excelente retorno de ninguém menos que Iggy Pop em 1990, com o disco Brick by brick. Era o álbum de Candy, dueto com Kate Pierson, do B-52S, que tocou muito em rádio e toca até hoje.
E era a primeira vez em bastante tempo que ninguém tinha dúvida a respeito de um disco de Iggy Pop conseguir combinar sucesso e qualidade. Blah blah blah (1986) vendeu bem mas não agradou totalmente os fãs. Instinct (1988) era a boa faceta hardrocker do cantor, mas não fez o cofre da A&M tilintar. Já Brick by brick não era nenhum Blah blah blah em termos de sucesso, mas ficou mais de 30 semanas nas paradas. Aliás, era um disco muito cool, graças à produção de um nomão da época (Don Was) e às participações de dois integrantes do Guns N Roses (Slash e Duff McKagan) tocando e compondo.
E por sinal o site Rock and Roll Globe bateu um papo com Burns sobre suas lembranças do disco. O capista era um grande fã de Iggy e o tinha visto ao vivo pela primeira vez na turnê do disco The idiot (1977). “Não sei quantas vezes o vi ao longo dos anos, mas nunca me decepcionei. Lembro-me de um amigo meu me dizendo depois de um de seus shows: ‘Deus, isso foi meio assustador'”, contou.
ALÔ
Um dia, numa era em que não havia internet e celular era para poucos, Charles Burns recebeu um telefonema da Virgin pedindo seu “livro”. Era uma maneira pomposa de uma empresa pedir um portfolio para um artista, com a finalidade de conferir seu trabalho para um futuro job.
“Eu tinha montado um livro, mas por experiência própria relutava em me dar ao trabalho de enviá-lo, porque até então nunca havia conseguido um emprego dessa forma. Geralmente significava que um diretor de arte estava procurando por um monte de coisas, e talvez nem estivesse familiarizado com o seu trabalho”, contou.
A gravadora falou que o tal job era o disco novo de Iggy Pop, recém-contratado. Burns recebeu uma fita K7 (com Brick by brick escrito na lombada). A Virgin deu prazos apertadíssimos e limitou-se a dizer que usariam a arte se Iggy gostasse dela.
BASEADO NA CAPA
“Minha abordagem foi ouvir o álbum e criar uma ilustração densa que incluiria algumas imagens baseadas nas letras das músicas. Como os prédios de tijolos, a rua claustrofóbica lotada, um vislumbre de um céu estrelado à noite”, conta ele. Em seguida, reuniu referências a versos como “ela tem um baseado, ela tem um andar lindo”, de Pussy power e “e como um gato de desenho animado eu vaguei”, de Neon Forest, na capa.
Por sinal, Burns fez questão que a moça fumando um beque, que aparece na capa, se parecesse com Kate Pierson. Só não contava que a Virgin quase cortasse a imagem, com medo de problemas com os selinhos de aviso parental do PMRC. O desenhista conseguiu manter sua criação lá, mas teve que ceder para a Virgin com relação ao desenho do cara ruivo no centro, segurando o bebê com uma máscara de caveira.
Isso porque o rapaz originalmente tinha cabelo preto e a gravadora achou que ele se parecia ligeiramente com o roqueiro veterano Roy Orbison (1936-1988), que havia gravado Mystery girl (1989), seu último disco, por lá. “Eles acharam isso muito desrespeitoso. Ou algo parecido. Nunca fiz essa associação, só quando me alertaram. Mas certamente não era minha intenção. Eu nunca seria desrespeitoso com Roy Orbison”, disse.
Veja também no POP FANTASMA:
– As melhores músicas de David Bowie, por Iggy Pop
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– Iggy Pop lançando um disco obscuro na TV em 1979
Artes
Frank Kozik, criador de capas de discos e pôsteres, morre aos 61

Frank Kozik, um dos mais criativos artistas gráficos e criadores de capas de discos dos últimos 30 anos, morreu no sábado, de causas não-reveladas, aos 61 anos, na Califórnia. Nascido na Espanha e radicado nos Estados Unidos, filho de norte-americano e espanhola, Kozik fez artes para bandas como Queens Of The Stone Age (o primeiro disco, de 1998, epônimo), Melvins (Houdini), Offspring (Americana), e ainda criou pôsteres de turnê para Nirvana, Sonic Youth, White Stripes, Butthole Surfers e outros grupos.
“Frank era um homem maior do que ele mesmo, um ícone em cada gênero em que trabalhou”, diz uma declaração compartilhada pela esposa de Kozik, Sharon. “Ele mudou drasticamente a indústria da qual fazia parte. Ele era uma força criativa da natureza. Estamos muito além de sortudos e honrados por fazer parte de sua jornada, e ele fará falta além do que as palavras poderiam expressar”. Ele costumava atribuir muito do seu trabalho artístico ao fato de ter “um senso de humor sombrio” e a ter crescido no meio do punk rock.
Kozik começou a fazer pôsteres enquanto morava em Austin, Texas, no início dos anos 1980 e chegou a trabalhar com publicidade antes das capas de discos, Também foi dono de uma gravadora, a Man’s Ruin Records, e foi diretor criativo da Kidrobot, a empresa de brinquedos artísticos de edição limitada. Dirigiu também um clipe do Soundgarden, Pretty noose.
Artes
E se a capa “da raquete” do disco Houses Of The Holy, do Led Zeppelin, tivesse sido feita?

Se você ouviu o episódio mais recente do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, sobre o Led Zeppelin no ano de 1972 (não ouviu? tá aqui), deve lembrar que em 1972, o grupo estava elaborando o disco Houses of the holy, que acabou sendo lançado só um ano depois. E que antes daquela capa com as crianças ficar pronta, Storm Thorgerson, da empresa Hipgnosis, havia sugerido a eles uma capa “com uma quadra de tênis verde e uma raquete” – que Jimmy Page odiou.
Aparentemente essa capa rejeitada (rejeitadíssima, Page ficou p… da vida com a sugestão e mandou o designer sumir da frente dele) nunca tinha sido desenhada. Pelo menos até agora. A Aline Haluch, que faz as artes do Pop Fantasma Documento e do Acervo Pop Fantasma, fez três versões da ideia original de Storm para Houses of the holy. Mais do que uma brincadeira com a história, fica aqui como homenagem a esse designer morto em 2013, e que revolucionou as capas de discos.
“A ideia foi fazer aquelas brincadeiras das capas do Pink Floyd, como a do cara cheio de lâmpadas no disco ao vivo A momentary lapse of reason (de 1988, feita pelo mesmo Storm Thorgerson). Quis brincar com as sobreposições das redes, mas são redes de aço, aquelas de cadeia. Um pouco como se fosse um condomínio, já que tênis é um jogo da elite, cercada de proteção”, conta. “Na segunda capa, a própria raquete é de grama. E na terceira, tem um céu, meio que para brincar com a paisagem da capa do disco Atom heart mother, também do Pink Floyd (1970, com capa também de Storm)“.
A que a gente mais gostou (a do céu), ganhou a faixinha branca com o nome do disco e da banda, que vinha envolvendo a capa do LP original. 🙂
Artes
Aquela vez em que Elifas Andreato começou a fazer capas de discos

“Em 2009, os jornalistas Marcos Lauro e Peu Araújo entrevistaram o artista plástico Elifas Andreato para uma matéria sobre capas de discos. A ideia era falar com capistas profissionais e amadores sobre as mudanças de formato que a internet impunha – do tamanho do vinil ao thumbnail da rede mundial. Players como Spotify já existiam, mas ainda não eram populares como hoje. A matéria nunca saiu, isso acontece. Mas um trecho do material guardado está aqui em homenagem a Elifas Andreato, que nos deixou no dia 29 de março aos 76 anos. Vida eterna ao artista e sua imensa obra”.
Em 2009, @peuaraujo__ e eu entrevistamos o artista plástico Elifas Andreato para uma matéria sobre capas de discos. A ideia era falar com capistas profissionais e amadores sobre as mudanças de formato que a internet impunha – do tamanho do vinil ao thumbail da rede mundial.
— Marcos Lauro (@marcoslauro) March 30, 2022
Logo depois que Elifas morreu, o radialista, jornalista e podcaster Marcos Lauro subiu no YouTube esse bate-papo dele e de Peu com o capista. A conversa é curtinha mas cheia de detalhes a respeito de como Elifas entrou no mundo das capas de discos – ele trabalhava na editora Abril Cultural em 1970 e acabou fazendo as capas da série História da Música Popular Brasileira, com discos vendidos em bancas de jornal. O trabalho gráfico foi considerado inovador para a época, “e a ideia era interpretar cada personagem de uma maneira”, conta. Foi a partir daí que Elifas conheceu vários artistas e se envolveu com o trabalho nas capas de discos. Partiu direto para a produção de uma capa de Paulinho da Viola – a do disco Foi um rio que passou em minha vida, em 1970, mas ainda apenas usando uma foto do cantor, sem desenhos.
Confira o bate-papo aí.
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