Destaque
POP FANTASMA apresenta Bethi Albano, “Embrulha pra presente”
Estreando em disco solo com Embrulha pra presente após três décadas atuando como professora de música – e aos 66 anos – a cantora, compositora e violeira Bethi Albano guardava um número incontável de músicas compostas, além de várias letras guardadas em pastinhas. Nunca tinha se animado a mandar música para nenhum artista gravar.
“Teve só uma vez que uma ex-aluna minha, a Elisa Addôr, ouviu uma parceria com a Suely Mesquita, Bala de rima, numa edição do sarau que faço há dez anos aqui em casa. E gravou no disco dela. Mas nunca tive essa onda de mandar músicas”, conta Bethi, por sinal avisada pelo POP FANTASMA de que seu repertório meio pop, meio violeiro, poderia caber com folga na voz de Ney Matogrosso.
“Nunca pensei nisso, é a primeira vez que eu escuto isso. Seria lindo se ele gravasse uma música minha”, conta ela, feliz com a estreia aos 66 (lançada, por sinal, pelo selo Porangareté, do cantor e compositor Chico Chico). “A idade não quer dizer muita coisa. Você tem que ir realizando o que der, pela vida afora”.
Bethi passou vários anos dando aula para atores em universidades, e também lecionando para turmas de adolescentes em escolas como a Faculdade Angel Vianna. A carreira artística já existia, mas não havia tempo para pensar num disco ou no desenvolvimento de um trabalho com mais profundidade. Começou a compor incentivada pela professora de canto – a mesma Suely Mesquita de Bala de rima – que, ao ver que ela tinha talento para compor, sugeriu a ela que fosse em seu computador e selecionasse várias letras.
“Depois fiz um trabalho por quatro anos com a Luhli (por acaso a co-autora de músicas gravadas pelo Secos & Molhados, como O vira e Fala, e que fazia dupla com Lucina). Fizemos vários shows no Rio e SP e gravamos um disco chamado Todo céu pra voar (2002). Mas essas músicas do meu disco solo são até anteriores ao do disco com a Luhli. São meus clássicos e decidi gravar para deixar tudo registrado”, conta Bethi, que se aposentou mas continua dando aula. Ela planeja shows que tenham oficinas de música pela manhã e apresentações à noite, assim que passar a pandemia.
O repertório de Embrulha pra presente inclui também parcerias com Marcela Zanelatto (em Suavidade, cuja letra Bethi Albano recebeu da parceira num cartão de aniversário). E com Mathilda Kovak, que por sinal foi apresentada a ela por Suely. Ela fez as letras de Nave Maria, de discurso antimachista, e Enfim sou, que celebra o casamento de uma pessoa… com ela mesma. A letra foi escrita por Mathilda, mas Bethi narra ali uma experiência pessoal. “Fui casada por oito anos e não quis mais me casar, e essa relação ‘comigo mesma’ foi sendo aprofundada. É um casamento que a gente estabelece e estou bem satisfeita”, conta ela.
O primeiro clipe do disco já saiu. É o de Rabo de foguete, uma espécie de “roça’n roll” que une viola e rock. E antes do disco sair, ela também havia disponibilizado uma série sobre a gravação do álbum, Viola encantada, no Instagram. “Contei lá e no Facebook em capítulos toda a minha experiência como educadora, como artista. Foi muito especial, não esperava que fosse ter tanta repercussão e as pessoas ficaram tocadas pela minha história”, anima-se.
“RABO DE FOGUETE” – BETHI ALBANO
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen
A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica
A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro
Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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