Crítica
Ouvimos: Soccer Mommy, “Evergreen”

- Evergreen é o sexto álbum da cantora norte-americana Sophie Allison, mais conhecida como Soccer Mommy. O álbum é definido pelo texto de lançamento como “retorno sonoro às raízes dela, mas reformulado em uma escala cinematográfica com a ajuda de violões, cordas exuberantes e flautas. Nada exagerado, tudo real”.
- “Eu tinha um som tão específico na minha cabeça sobre como as músicas me faziam sentir. Elas são muito pessoais, e eu só queria que fosse bem natural, cru, bonito e puro”, contou ao site Stereogum. “Eu estava falando muito sobre Nico e PJ Harvey, e como há tantos sons realmente legais e orgânicos que também podem ser tão estranhos e assustadores. Eu queria encontrar minha própria maneira de fazer esse tipo de coisa”.
Nico, PJ Harvey, Belle & Sebastian, Lou Reed, música bittersweet dos anos 1970, Kurt Cobain, Judee Sill, o John Lennon dos primeiros anos solo e tudo o que puder soar mais melancólico e confessional. Você junta tudo isso e dá para ter uma ideia do que é Evergreen, disco de Soccer Mommy no qual os violões, as cordas, as flautas e o clima tristonho tomam a frente. E trazem Sophie Allison (a mulher por trás do codinome) falando basicamente sobre amor, perdas e superação. Às vezes de maneira fantasmagórica, como em Lost, um folk triste que abre o disco e cuja letra tem jeitão de carta.
Tem peso em Evergreen. Ele surge, por exemplo, em Driver, aberta em clima alternativo dos anos 1990, mas ganhando violões que tornam o cima mais tranquilo, e com vibe estradeira já denunciada pelo título. E cuja letra tem frases lapidares como “minha cabeça está sempre nas nuvens/posso ser a motorista se você escolher/não prometo permanecer na rota”.
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Some sunny day é tudo, menos uma canção ensolarada – Sophie a vê como uma música repleta de sombras, mas que prevê dias melhores para breve. Músicas como Thinking of you e Dreaming of falling unem pegadas musicais dos anos 1970 e 1990, enquanto Salt in wound soa como o esquema loud-quiet-loud dos Pixies traduzido para o idioma do soft rock. Faixas como Abigail e M, são tristeza sem disfarces, duas canções com letras dedicadas a alguém que partiu – no caso desta última, com flauta e cordas intensificando a melancolia no final da canção, e surgindo como numa composição de quadro.
Uma curiosidade é Anchor, canção de design musical bem alternativo, abrindo com voz distorcida e batida funcionando quase como um reloginho – até desembocar numa faixa de tom quase abolerado, bem diferente do resto do álbum. No final, a faixa-título abre com violões lembrando as intros acústicas de canções de heavy metal. Uma sensação que dura pouco, já que surgem a voz de anjo de Sophie e as cordas, e a música vira uma balada acústica que poderia estar na estreia solo de Nico, Chelsea girl (1967). No geral, Evergreen é quase um esconderijo seguro para o/a ouvinte.
Nota: 9
Gravadora: Loma Vista
Lançamento: 25 de outubro de 2024.
Crítica
Ouvimos: Jehnny Beth – “You heartbreaker, you”

RESENHA: Jehnny Beth (ex-Savages) retorna com o segundo disco solo, You heartbreaker, you: punk sombrio, art metal e letras viscerais sobre dor e obsessão.
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O segundo álbum solo de Jehnny Beth, ex-vocalista da banda punk Savages, não é para qualquer ouvido – talvez não seja nem para qualquer coração. Trata-se de um disco cheio de camadas musicais e emocionais, no qual Jehnny assume uma persona complexa, instável e que não tem a mínima necessidade de colocar um disclaimer a cada verso ou cada faixa. O som pode ser classificado como punk de terror, art metal, eletrônica apodrecida e distorcida – qualquer coisa que mexa com a imaginação de quem escuta, evitando classificações comuns.
Musicalmente, o som de You heartbreaker, you coloca Jehnny a meio caminho de Rollins Band e Nine Inch Nails – mas com emanações de Babes In Toyland. As três primeiras faixas, Broken rib, No good for people e Obsession, estabelecem o clima ameaçador, com vocais que vão do berro ao sussurro, e gritos que parecem entalar na garganta. Faixas como Out of my reach, Reality e Stop me now vibram mostrando um punk rock que não precisa ser rápido para manter o peso e a intensidade. I still believe, recheada de beats eletrônicos, abre com um baixo que já põe medo.
As letras de You heartbreaker, you são um caso à parte. Jehnny fala sobre relacionamentos abusivos e violentos (Broken rib), apagamentos fatais (“sou muito crítica / você não encontrou um modo de me matar ainda / eu ainda estou de pé”, vocifera em No good for people) e sobre dores, culpas, problemas que não são seus, e projeções bem estranhas das imagens de outras pessoas – tudo isso reunido na sombria e pesada I see your pain, que encerra o disco. Também encarna a mulher que passa por relacionamentos obsessivos, em faixas como Obsession e I still believe (“um dia nós os faremos acreditar em você e em mim juntos / até lá, ainda acreditarei em você e em mim, para sempre”). Em Reality, une hedonismo, menage à trois e autoestima cagada. Stop me now fala sobre reencontros que causam gatilhos e memórias doloridas.
Já High resolution sadness, a faixa mais ágil do disco, une sexo, bagunça emocional e isolamento, concluindo que “o mundo é uma máquina triste”. You heartbreaker, you dá ao/à ouvinte a estranha sensação de ter presenciado uma explosão de carro-bomba sem se dar conta de que estamos todos dentro dele.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Fiction Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Guma – “Virando noite”

RESENHA: Trio recifense Guma mistura indie pop, tecnobrega, jovem guarda e ecos 80s em Virando noite, estreia festiva e cheia de balanço.
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O Guma é um trio recifense – Katarina Nápoles (voz), Carlos Filizola (guitarra e produção) e Caio Wallerstein (bateria) – que enxerga na dança, o melhor remédio. Virando noite, o disco de estreia do grupo, é um álbum de indie pop com ramificações no tecnobrega, no rock jovemguardista e até em estilhaços do rock nacional dos anos 1980.
Daria pra dizer que o Guma dá uma mirada numa espécie de Brat recifense, mas nesse ponto, o trio é mais discreto: falam de liberdade no pop-brega-funk O muro, lembram de ideias hedonistas que não saem da cabeça no reggae-rock safado Pecadinho e fazem um Love theme que soa como um desvio vaporwave dos discos de pop orquestral dos anos 1970, com guitarra, baixo, bateria, efeitos e voz declamada.
A vibe festeira de Virando noite ocupa todo o repertório, em faixas como o balanço rock-brega de Mozinho (com Bruna Alimonda) e Só quando lembro (com Uana), e a fanfarra de Novesfora, com teclados imitando metais e um clima que envolve até música cigana. Chegando perto do final, o grupo se aventura numa espécie de new wave recifense, Paraíso astral, que faz lembrar o Metrô (sim, a banda nacional dos anos 1980) e The Cure. E também no pop sonhador e quase psicodélico de Sonhar ou viver. Ouça correndo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de setembro de 2025.
Crítica
Ouvimos: Zac Farro – “Operator”

RESENHA: Zac Farro (Paramore) lança Operator, disco que mistura soft rock 70s, yacht rock e indie-pop vintage, com letras sobre amor e falhas de comunicação.
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Em meio a todo o processo de lançamento de Ego death at a bachelorette party, o (agora sim!) novo disco solo de Hayley Williams, Zac Farro, baterista do Paramore – banda de Hayley, você deve saber – também lança álbum próprio. Operator traz o músico se rendendo à onda soft rock requentada, e igualmente surfando de pranchão no indie-pop, mas com cara vintage.
Quase tudo de Operator só existe porque houve músicos unindo rock leve, folk, soul, baladas e estilos afins nos anos 1970. Ou seja: basicamente Zac fez um disco de yacht rock extratexturizado, com boas composições, só que com cara cult. Faixas como Operator, o pop pré-disco Second chance, o pop pós-disco 1 e o decalque de Steely Dan Simple actions soam como se alguém achasse num armário os tapes de um disco pop dos anos 1970 que sairia por uma gravadora de fundo de quintal, mas acabou sendo engavetado.
De certa forma, esse clima meio cult meio pop já é algo que Hayley havia trazido para suas gravações recentes – o que acaba fazendo com que Operator soe como um outro lado da moeda de Ego death, só que com letras mais estranhas. Zac tende a observar assuntos como amor, paixões e perdas de forma bem própria, muitas vezes abordando tudo pelo viés das falhas de comunicação, das mensagens nunca enviadas e nem mesmo entendidas (a faixa-título diz coisas como “quando tentei ligar pra você, falei com a operadora / então você me retornou / foi muito mais tarde”).
Zac também faz baladinha de AM com vibe psicodélica em I need you, som robótico e solar em Gold days (uma canção no estilo “quando olho no espelho / estou ficando velho e acabado” na qual ele, nascido em 1990, admite que não consegue mais controlar o tempo) e uma espécie de pop kraftwerkiano em Sunday driving – uma música para dirigir, unindo estilhaços de rock, soul e reggae, com efeitos sonoros imitando carros que passam. Dá para dizer que Operator é um disco pop com energia de novelty record, aquela curiosidade bem humorada que faz bem aos ouvidos.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Congrats Records
Lançamento: 18 de julho de 2025.
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