Crítica
Ouvimos: Mumford & Sons, “Rushmere”

O novo disco do Mumford & Sons funciona. Enfim, é aquele tipo de disco no qual vai ser difícil você ver algo de diferente, porque Marcus Mumford e seus amigos têm uma fórmula, que é seguida quase à risca – rendendo bons momentos e outros nem tanto. No caso de Rushmere, as canções são, hum, boas – mas ao final da audição, fica uma sensação de não haver nada de novo. E até para fazer “o de sempre”, você tem que dar a impressão de que o/a ouvinte vai encontrar novidades.
A Clash Magazine falou extremamente bem de Rushmere e disse que o novo álbum do Mumford & Sons é como “estar envolvido em um abraço caloroso, possivelmente depois de um dia particularmente difícil”. Faz sentido, e parece ser a intenção de faixas como Malibu, um country estradeiro, com andamento orquestral no final, e o country rock doce romântico de Caroline, que deixa entrever mais que apenas uma influência de Fleetwood Mac e cita deslavadamente o hit You can go your own way, só que em outro contexto. “Caroline / você pode seguir seu próprio caminho / mas meu rosto irá segui-la e preencher seus sonhos”. Carry on, no final, é uma baladinha clichê – mas clichês são usados justamente porque dão certo.
É por aí que Rushmere segue, aproximando o country do pop na faixa-título; e do jazz e do bitterseet setentista em Whete it belongs – e também fazendo a melhor imitação possível de Simon & Garfunkel na violada de Monochrome. A segunda porção do disco é recomendada para quem curte canções quase despedaçadas – em Anchor, por exemplo, o violão fica quase inaudível, com voz à frente. Surrender, que vem depois, não é tão diferente disso.
Marcus Mumford aposta em sua música, aparentemente, como um veículo de identificação com os/as ouvintes, e esse talvez seja o grande trunfo do Mumford & Sons – criar canções para embalar momentos, para falar verdades, e para ouvir lembrando de alguma coisa, ou de alguém. De excepcional, e valendo a pena escutar várias vezes, tem Truth, que soa como um country funk na onda de bandas como Jefferson Airplane, ainda que bem mais pop. Até mesmo as guitarras seguem essa onda. Ponha essa faixa na sua playlist correndo, mas ainda que Mumford & Sons mirem a beleza das composições como um gol, falta a boa e velha estranhice musical a Rushmere.
Nota: 7
Gravadora: Island/Glassnote
Lançamento: 28 de março de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.
Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.
- Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach
A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.
Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.
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Crítica
Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.
Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.
- Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream
Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.
No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.
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Crítica
Ouvimos: Budang – “Magia”

RESENHA: Em Magia, álbum de estreia, a banda catarinense Budang une humor, caos e crítica social em 16 faixas com vibe ultrapunk e letras quase em código.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Guilherme Larsen Güths (voz), Vinícius Lunardi (guitarra), Pedro Sabino (baixo) e Felipe “Minhoca” Royg (bateria), os quatro integrantes da banda catarinense Budang, decidiram estrear com um álbum quase em código. As letras das 16 faixas de Magia são gritadas e quase cuspidas, num fluxo desafiador para quem não está de olho no encarte – ou algo parecido com um encarte, enfim.
Quem se dispuser a mergulhar no universo do grupo vai descobrir vários lados diferentes: em Magia, o Budang fala de pejotização (Mágica), azia (Novo cardápio), histórias do under catarinense (Plataforma Rock Bar, 2010), mas também une gírias e expressões de Santa Catarina. A banda liberou os versos das faixas Mágica (uma das músicas mais mobilizadas do disco), Magia e Budangól nos vídeos das canções em seu canal do YouTube.
Nas melodias, Magia expõe influências autoconfessas de Pixies (referência em guitarras como as de T.M.P.D.P.H.S.), Ratos de Porão, Sonic Youth e do Turnstile dos primeiros tempos. A sonoridade nunca é previsível – e é tão rápida que, se você escutar o disco sem olhar a passagem das faixas, vai achar que se trata de uma só faixa punk que vai sendo acrescida de outros elementos. Nessa nuvem de tags, entram as guitarras em estilo pós-punk de Deixa quieto, as batidas de funk do hino Budangól, o hardcore poderoso de Aditivos e o guitar rock ágil de Fala tu – além das quebras rítmicas de Bolsonanny, sobre os golpistas frustrados de 8 de janeiro de 2023.
Também surgem a vibe metalcore-psicodélica de Plataforma Rock Bar, 2010, as diversas partes de Ponto de não-retorno, e a porradaria em letra e música da curtíssima Tempinho bom (que abre logo com um “foda-se / nunca mais faço essa merda / vai se fuder!”, e mete até novelas coreanas no meio da bronca). No final, tem até uma versão de 1406, dos Mamonas Assassinas, em vibe Rage Against The Machine.
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