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Crítica

Ouvimos: Lasso, “Parte”

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Ouvimos: Lasso, “Parte”
  • Parte é o novo disco da banda baiana de hardcore Lasso. O álbum foi gravado por Jera Cravo no estúdio Ruído Rosa (Salvador) e mixado e masterizado por Will Killingsworth no Dead Air (Western Massachusetts, EUA). As ilustrações são de Carlos Casotti e o design foi feito por Ivo Delmondes.
  • O vinil sai pela Läjä Records (BR) e Sorry State Records (US). A edição brasileira dispõe de vinil preto e a americana em vermelho translúcido e preto (informações Bahia Rock)

Até o momento, Parte é o maior disco da banda baiana Lasso – 14 músicas em 17 minutos, só duas faixas com menos de um minuto. O grupo dedica-se a um hardcore feroz que chuta pra longe a mania com temas mais “melódicos” que assolou o estilo musical durante alguns anos – especialmente no Rio e em São Paulo. Os vocais berrados aproximam o Lasso de grupos como Exploited e Ratos de Porão.

O som do Lasso fica segundos mais próximo do crossover entre metal e punk em Espelho de cem olhos e Sem gestos inúteis. Só uma aproximaçãozinha bem básica, porque o grupo praticamente não investe em solos de guitarra, por exemplo. E faz a/o ouvinte quase se confundir quanto aos começos e finais de faixas, em músicas como Enquanto descansa, carrega a pedra, Fundo do poço sem fundo, Pavor eterno, Rio frio e Uma vida dedicada à repetição. No final, na extensa (para os padrões do grupo) Ilha do silêncio, a velocidade abaixa, só um pouco.

Nota: 7
Gravadora: Independente

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Crítica

Ouvimos: Forth Wanderers – “The longer this goes on”

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Forth Wanderers volta leve e sem pressa em The longer this goes on, disco indie com soul, pop adulto, ruídos e clima de recomeço sem pressão.

RESENHA: Forth Wanderers volta leve e sem pressa em The longer this goes on, disco indie com soul, pop adulto, ruídos e clima de recomeço sem pressão.

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Os Forth Wanderers voltaram sem voltar. O grupo de Nova Jersey se redescobriu na pandemia, voltou a tocar, e acaba de lançar o álbum The longer this goes on (“quanto mais isso durar”), cujo título não deixa de ser uma piada com retornos para os quais ninguém estava devidamente preparado. Ava Trilling, Ben Guterl, Duque Greene, Noé Schifrin e Zach Lorelli fazem questão de falar que a volta não é uma volta. É um fazer som sem compromisso, para a alegria deles e dos fãs, e sem corda no pescoço de ninguém – especialmente de Ava, que precisou sair do grupo em 2018 quando descobriu um transtorno de pânico.

Nessa época, o Forth Wanderers havia acabado de lançar o primeiro álbum de estúdio, epônimo, pela Sub Pop, e precisou cancelar toda a turnê, encerrando atividades em seguida. Dá para entender porque, seja lá o que aconteça, o grupo está mesmo a fim é de leveza, e em especial, de um clima que se pareça com uma música, e com uma estética, que ressoa nas mentes deles.

Vai daí que The longer this goes on se parece com pouca coisa que vem sendo feita hoje, e aposta na mistura de elementos. É indie rock, mas tem muitos micropontos de soul e pop adulto – as músicas poderiam tocar, se o disco fosse lançado lá por 1989, numa FM e numa rádio independente. O clima country de algumas faixas parece filtrado por pós-punk e Pretenders. O lado mais ruidoso do grupo lembra The Cure, My Bloody Valentine e Dinosaur Jr, mas é uma noção quase beatle, clássica, de barulho. O clima doce e tenso dos vocais de Ava, em vários momentos do disco, é um “ruído” a mais, que parece sempre informar a/o ouvinte além da própria música.

  • Quando a Sub Pop investiu em Halifax, a “nova Seattle” do Canadá
  • Ouvimos: Σtella – Adagio
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To know me/To love me, single lançado de surpresa, é bem nessa onda de transformar ruído em canção e em conforto, com uma letra curta que parece falar dos sentimentos de Ava na volta do grupo: “Eu saí e voltei para a estrada / ela sabe o que eu fiz pelo nó na minha garganta”. Call me back tem clima de Pixies, mas com baixo e bateria sinuosos. Honey, Bluff e Make soam como Everly Brothers encontrando o barulho e a vibe inde. Barnard, por sua vez, é o momento em que o disco vira para um power pop ácido, com golpes de guitarra e vocais distorcidos.

As dores de crescimento do grupo são visitadas em faixas como Spit, som indefinível que poderia ter sido feito nos anos 1970, entre country e indie rock. As pesquisas de timbres e texturas do FW dão também em guitarras “submersas”, que surgem em faixas como Springboard e na bossa pop Don’t go looking. Essa última, por sinal,uma pequena crônica sobre velhos “eus” que não funcionam mais e que têm que ir para a fila do desapego (“pegue o que é meu / eles não funcionam mais / eu tentei encontrar / o que eu vim buscar / não sou eu”, diz Ava).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 18 de julho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Mommy – “Welcome to my blue sky”

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No terceiro disco, o Mommy mistura soft rock e noise dos anos 1990 em canções confessionais sobre recomeços, perdas e amores mal resolvidos.

RESENHA: No terceiro disco, o Mommy mistura soft rock e noise dos anos 1990 em canções confessionais sobre recomeços, perdas e amores mal resolvidos.

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Co-liderado pelas vocalistas Allegra Weingarten e Etta Friedman (que também dividem vocais, guitarras, letras e outras intervenções instrumentais), o Mommy vem do Brooklyn e, em seu terceiro disco, Welcome to my blue sky, abre o próprio diário para ser transformado em canções. Já era uma tendência delas, mas o Mommy volta dessa vez disposto a brigar num esquina entre o soft rock e o rock mais ruidoso – algo bem próximo do “rock alternativo de FM” dos anos 1990 e de discos como Celebrity skin, do Hole (1998).

É nessa que Welcome to my blue sky, dedica-se, desde a primeira faixa, ao rock que gruda na mente – aliás, ao rock que várias rádios dedicadas ao estilo vão comer mosca se deixarem de tocar. Sincerely traz voz suave, violões e ruídos, e abre os caminhos para músicas próximas do grunge como I want you (Fever), Rodeo (com batida funkeada e trama de guitarras lembrando Smashing Pumpkins), e o noise-rock baixos teores de Stay all summer e Last kiss – nesse caso, nada a ver com o hit sessentista gravado pelo Pearl Jam.

  • Ouvimos: Sunflower Bean – Mortal primetime
  • Ouvimos: Girlpuppy – Sweetness

Allegra e Etta, como letristas, buscam sempre o lado iluminado dos tropeços – aquele momento em que tudo pode recomeçar, tudo vai passar, novos amores chegam, mas lembranças doloridas e os revezes da vida permanecem. My old street, soft rock com peso nas guitarras, encerra o disco propondo uma volta a lugares familiares, mas em clima de “adeus minha casa, adeus meu jardim” (“a grama morrendo e os cachorros mortos / mamãe estava ficando mais bêbada/ e ela está falando como se fosse mais jovem / ela me disse que perdeu seus sonhos / e nós duas sentimos falta dos dezesseis anos”).

New friend tem tranquilidade e iluminação garantida pela vibe folk-rock e pelos teclados – a letra, por sua vez, é sofrência pura, falando de um relacionamento que antes de ser, já era (“você esqueceu? / ou estou presa na sua cabeça? / eu realmente gostei do tempo que tivemos”). A sonhadora faixa-título, por sua vez, fala sobre pessoas deixadas pra trás, com tristeza e alívio – os dois aparecem na letra e mal dá para saber qual é o mais importante. Essa dualidade talvez seja a maior marca do grupo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Lucky Number
Lançamento: 4 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Colibri – “3R [pt. II]”

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Colibri amplia sua trilogia com mais art rock, pós-punk, rap e jazz, num disco que ecoa Bowie, Pink Floyd, Gabriel e T. Rex, sem rótulos fáceis.

RESENHA: Colibri amplia sua trilogia com mais art rock, pós-punk, rap e jazz, num disco que ecoa Bowie, Pink Floyd, Gabriel e T. Rex, sem rótulos fáceis.

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O segundo álbum da banda baiana Colibri continua a trilogia iniciada no álbum 3R [pt. I], partindo para aventuras bem mais art rock que no disco anterior. O álbum anterior começava com os 14 minutos de The roadhouse pt.1, uma viagem meio psicodélica, meio pós-punk, que lembrava às vezes as bandas britânicas dos anos 1980, às vezes um rock progressivo com desleixo estudado. A The roadhouse pt II, que abre o novo disco, é menor (pouco mais de seis minutos), une post rock e rap – com as participações de Galfão e Ralf AC – e acrescenta partículas do David Bowie de Station to station (1975) em meio à sonoridade.

Essa estética musical, que chega a apontar para os improvisos do jazz, ganha mais espaço no disco em Cuban coffee, igualmente com clima Bowie, e que ganha um saxofone que faz lembrar o clima que “baixa” no final de Rip off, do T. Rex (encerramento do disco Electric warrior, de 1971). Out of grrrasp tem clima ambient, com percussões e vibração pós-disco, e vocais que têm algo de Peter Gabriel. Boca que quis cresce numa onda pós-punk que tem algo do Television.

Na parte II de 3R, o Colibri inclui também micropontos do Pink Floyd da época de Meddle (1971), no folk de progressões de Soteropolis nocturna e Rosto sem nome. Em meio a letras que tentam colocar no papel sentimentos e lembranças de forma bem abstrata, o Colibri faz o possível para atualizar uma sonoridade que tem a ver com as bandas dos anos 1970 que recusavam-se a cair no rótulo de “progressivas”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 21 de março de 2025

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