Crítica
Ouvimos: Fastball, “Sonic ranch”

- Sonic ranch é o nono disco de estúdio da banda texana Fastball – lembra do hit The way, que dominou as rádios pop entre 1998 e 1999? É também o sexto disco do grupo após serem dispensados da gravadora Hollywood Records, pela qual ficaram famosos.
- O grupo surgiu em 1992 e sempre teve a mesma formação: Tony Scalzo (voz, baixo, teclados, guitarra), Joey Shuffield (bateria), Miles Zuniga (voz, guitarra). O nome é que mudou bastante: passaram a se chamar Fastball só em 1995, quando foram contratados pela Hollywood.
- Recentemente, para manter alguns negócios funcionando (ainda mais na época da pandemia), o Fastball montou um Patreon. “Realmente ajuda a manter o dinheiro entrando. Não é muito dinheiro, mas é o tipo de dinheiro que podemos pagar por coisas que surgem”, diz Scalzo aqui.
Se você não escutou falar do Fastball após o sucesso monumental deles entre 1998 e 1999 com o hit The way, ou nem procurou saber deles, vale citar que o grupo nunca encerrou atividades, mantém a mesma formação desde o começo e, entre um ou outro intervalo, lança discos regularmente desde o platinado segundo álbum, All the pain money can buy (1998).
Mais: a onipresença de The way nas rádios no mundo todo – Brasil incluído aí – escondeu de muita gente que o Fastball sempre foi, na verdade, uma banda que funcionava entre o punk e os anos 1960 (daí faz sentido seu maior sucesso ser uma canção abolerada e aparentada de Besame mucho). E uma banda que poderia ser classificada tranquilamente como power pop, até por trazer muitas semelhanças com grupos como Big Star. É por aí que caminha o curto e conciso (32 minutos) Sonic ranch, nono álbum de estúdio do grupo.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Sonic ranch tem algumas pérolas de balanço sixties, como The island of me, que poderia estar na trilha de algum filme da série Austin Powers, além de Hummingbird e America, com musicalidade herdada, respectivamente, dos Beatles e dos Kinks. Mas o álbum vai numa onda análoga à de discos como a estreia Make your mama proud (1996), com canções mais urgentes e que falam por si próprias, sem muitos ganchos especiais ou truques de sucesso.
Boa parte do material tem o pé no folk mesmo que muita coisa do disco tenha peso punk, como acontece em Daydream e na abertura com Rather be me than you. Ou nas oitentistas Let love back in your heart e Get you off my mind, soando como algum lado-B de banda britânica da época. O repertório ainda tem as delicadas I’l be on my way (essa, uma balada só de voz e piano) e Grey blue sky, além do tom Neil Young de On and on.
Nota: 8
Gravadora: Sunset Blvd Records
Crítica
Ouvimos: Artificial Go – “Musical chairs”

RESENHA: O Artificial Go mistura punk, indie, folk e psicodelia em Musical chairs, disco barulhento, divertido e cheio de colagens lo-fi com alma vintage.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Musical chairs, segundo álbum do Artificial Go, soa como uma colagem barulhenta e divertida de várias obsessões musicais ao mesmo tempo. Esse trio de Cincinatti, Ohio, formado por Angie Willcult (voz, guitarra, xilofone), Cole Gilfilen (guitarra, baixo, bateria, teclados) e Micah Wu (guitarra, baixo, bateria, teclados) une punk, indie rock, country alternativo, psicodelia e referências dos anos 1960 a 1990 com o espírito de quem grava no quarto, mas pensa grande.
A julgar pelo começo do álbum, com Lasso, o tom indie country punk é forte por ali. Só que tem mais elementos, como os ecos de Pixies nas guitarras e no andamento de várias faixas, os vocais falados e teatrais que lembram Debbie Harry. Circles vem na sequência com um pé no folk punk de quarto, com voz feminina doce e um charme caseiro que faz a música soar quase como um experimento lúdico. Tão lúdico quanto a capa do álbum, que é um desenho feito por Angie.
Leia também:
- Ouvimos: Gang Of Four – Shrinkwrapped (relançamento)
- Descubra agora: as gravadoras do The Fall
- Aquela vez em que Andy Gill (Gang Of Four) gravou solo
Referências ao balanço distorcido da Gang Of Four e ao experimentalismo guitarrístico do Television brotam em faixas como Yaya, The world is my runway e Late to the party, e também em Red convertible, que puxa o disco para uma new wave crua, com vocal falado e guitarras ruidosas — entre o espírito lo-fi do The Fall e a urgência suja do Television, mas sem a mesma precisão técnica desta última. Playing puppet tem energia herdada de bandas como Pixies e The Cars.
O Artificial Go tem também um lado vintage forte, que eles botam para rodar na alma mod e punk de Hallelujah e no indie folk retrô de Tight rope walker (unindo climas que lembram The Hollies e Beatles, com uma escaleta desafinada lá pelas tantas). No final, quem sabe como um recado para o que vem no próximo disco, a psicodelia, os ruídos e as atmosferas espaciais e sombrias de Sky burial. No geral, um som que parece familiar, mas que se apresenta com cara própria, feito para ser ouvido alto e com atenção.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 16 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: BDRMM – “Microtonic”

RESENHA: BDRMM expande seu som em Microtonic, disco hipnótico que flerta com eletrônica, post-rock e shoegaze, entre luzes e sombras sonoras.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Vindo de Hull, na Inglaterra, o BDRMM, cujo nome é “bedroom” sem as vogais e com um “M” de sobra, foi chamado assim porque começou como um projeto de quarto do cantor/guitarrista Ryan Smith. Era também um grupo ruidoso, dedicado às paredes sonoras do shoegaze, mas as coisas mudaram: Microtonic, terceiro disco, traz a paleta do grupo devidamente ampliada, já que o BDRMM bandeou-se para a música eletrônica.
O título do disco novo tem história, e teoria. Microtons são os intervalos localizado entre os semitons de um instrumento, ou uma “nota entre as notas”, como muita gente diz. Artistas como o compositor renascentista Nicola Vicentino e o músico suíço-brasileiro Walter Smetak (1913-1984) trabalhavam nessa área cinzenta sonora. Hoje em dia, bandas como King Gizzard and the Lizard Wizard são chegadas nessa história, que mexe diretamente com tudo que pode soar como “desafinado” para o ouvido médio.
Leia também:
- A música dos Beach Boys que inspirou o shoegaze (!)
- The Veldt: banda shoegaze lança disco de estreia engavetado, de 1989
- Dating: banda sueca de shoegaze lança single novo, Rameses II
- Ouvimos: Big|Brave, OST
Esse puro suco de experimentação musical é a razão de Microtonic existir, já que do começo ao fim, o álbum do BDRMM mexe com sons que se confundem no ouvido e climas que vão do mais solar ao mais sombrio e noturno. É o disco da hipnose pós-punk, sexy e underground de Clarkykat, dos synths etéreos de Infinite peaking, do ambient urbano e sonhador de Snares, do hi-NRG punk de Goit – esta, com vocais de Sydney Minsky Sargeant, do Working Men’s Club, e uma letra terra-arrasada, com versos como “espasmos / terror / morte / tudo aconteceu”.
No geral, Microtonic flerta com o trip hop sem, de fato, ser um disco do gênero – o estilo aparece mais como uma senha de acesso ao álbum. O mesmo vale para as paredes sonoras do shoegaze, que surgem de forma sutil, como pano de fundo. O BDRMM soa hipnótico na maior parte do tempo, como em faixas como John on the ceiling, In the electric field, Sat in the heat e o drum’n bass ligeiro de Lake dissapointment – uma faixa que começa em tom sombrio e encosta com elegância no rock eletrônico.
Alguns momentos de Microtonic são próximos do post-rock, com aquele mesmo clima de imagem vista de cima, como na faixa-título, e no começo de The noose, música que depois se torna uma peça melancólica e dançante, com discreto acid bass (aquele efeito dançante, distorcido e grave que virou febre nos anos 1990). No geral, entre muitos acertos e pouquíssimos exageros. Microtonic é uma trilha sonora íntima para noites insones e pensamentos em expansão.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Rock Action
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025.
Crítica
Ouvimos: House Of Protection – “Outrun you all” (EP)

RESENHA: House Of Protection renova o nu-metal com climas ligados ao hardcore, vibes herdadas de Prodigy e ao começo dos Deftones, e faixas explosivas que colidem passado e urgência.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Do House Of Protection, dá para dizer que oferecem uma renovação ao cansadíssimo ambiente do nu metal – se não em termos de estrutura, pelo menos na maneira como a banda usa antigas armas do estilo (influências de música eletrônica, de hip hop, vocais dramáticos e em alto volume, etc).
Criado pelos músicos Stephen Harrison e Aric Improta e produzido por Jordan Fish (ex-Bring Me The Horizon), o grupo mostra uma revolta mais próxima do hardcore, dos primeiros anos dos Deftones e – em alguns momentos – da onda eletrorock deflagrada nos anos 1990 pelo Prodigy. É o que rola na apocalíptica Afterlife, na rápida e destruidora Gospeed e na porradaria com ares de hip hop Fire.
Aliás, mesmo nos momentos em que um som parecido com o do Linkin Park é evocado aqui e ali, eles dão um jeito de fazer a coisa do jeito deles, como na derramada e pesada I need more than this. No fim, tudo soa como uma colisão entre passado e urgência.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Red Bull Records
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Leia também:
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?