Crítica
Ouvimos: Ilessi – “Atlânticas” (EP)

RESENHA: Atlânticas, EP de duas faixas de Ilessi, amplia o clássico Atlântico negro com força afrojazz e espiritualidade.
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Atlântico negro, disco lançado no ano passado por Ilessi, é o tipo de álbum que tem tudo para se tornar um clássico em poucos anos, com sua mistura de jazz, sons afro, raízes do samba e espiritualidade forte. Aliás, uma mistura de estudos, conhecimentos e mistérios, que evoluiu de um tributo a compositores negros para um disco de vibe autoral – com uma voz que, em poucos segundos de variação, faz lembrar tanto Clementina de Jesus quanto Milton Nascimento e Elis Regina.
Atlânticas, por sua vez, é a continuação do álbum – duas faixas que foram gravadas nas mesmas sessões, mas que só agora chegam a público, em compacto de vinil e nas plataformas. São duas faixas: a mescla de Taratá (tema tradicional adaptado, aliás, por Clementina) com Yatra-Tá (Tania Maria) e, no lado B, Jarina (Ou pedra-raiz), de Ilessi e Camilla Farias. A primeira, um toque afro que vai crescendo, com vocal turbinado e incorporado – a segunda, uma criação afrojazz, que ganha baixo acústico e piano dialogando com um outro instrumento musical, que é a voz de Ilessi.
Texto: Ricardo Schott – Foto: João Atala/Divulgação
Nota: 9
Gravadora: Rocinante
Lançamento: 28 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Mac deMarco – “Guitar”

RESENHA: Mac DeMarco lança Guitar, disco introspectivo e texturizado, entre baladas estranhas, folk sombrio e rock despressurizado.
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Dizem por aí que, com certos discos, mais do que gostar deles, você tem que esperar que eles gostem de você. Provavelmente algum crítico espertinho vai escrever isso por aí (não é meu caso, não sou espertinho) para definir o novo álbum de Mac deMarco, Guitar – indicando que as baladas tristinhas do novo álbum do músico são um prazer a ser adquirido com o tempo, como o gosto duvidoso da tônica Schweppes (e olha que a comparação até que nem é das piores).
Guitar é mais o retrato de um momento do que propriamente um “deu a louca no Mac de Marco” – até porque estamos falando de um cara que provou que vaporwave despojada, bonés de aba larga e camisas xadrez podem ser cool. Num momento de perdas pessoais e de introspecção total, Mac faz um álbum de guitarra, violão, baixo e bateria, que poderia ter sido feito por um daqueles cantores cabisbaixos e de voz indecente dos anos 1970 (Jim Croce, Stu Nunnery e outros), com direito a músicas que talvez até pudessem estar na trilha sonora de O espigão (1974). Mas nem tanto: você vai escutar músicas como Shining, Sweeter e Phantom e vai perceber de cara que tem algo ali que pode sair do controle imediatamente.
Lidando com um som tão texturizado que quase pode ser pego com a mão, Mac deMarco vai mostrando que há muito pesadelo por trás da calmaria (em Terror e Nightmare), louva os dias passados em casa (Home), faz baladas chapadinhas (Nothing at all, Punishment), investe em rock despressurizado na onda de Elton John e Supertramp (Knockin). E faz uma balada que parece uma daquelas músicas nostálgicas dos áureos tempos do rock (Rock and roll) – mas com um ingrediente estranho, algo que parece desafinar, não timbrar, sair do prumo, com uma baguncinha no fim.
Essa sensação de que tem algo ali que você pode não estar enxergando, mas que responde pela estética do disco, é um dos maiores fatores de Guitar – disco que encerra com um folk pra lá de estranho chamado Rooster, com um “la la la” sombrio, cuja letra avisa: “o fim está cada vez mais próximo / querida, não se assuste / é apenas um sentimento com o qual você já está acostumada”. A estética do não-estético, parte 2.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Mac’s Record Label
Lançamento: 22 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Rageflower – “Infinite highs, end of times”

RESENHA: Rageflower estreia com Infinite highs, end of times, disco que mistura folk, pós-punk e grunge, com intensidade vocal e letras confessionais.
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Seguindo a atual tendência entre artistas mulheres – nomes artísticos cool, letras confessionais, sons intensos, etc – Madeleine Powers, a Rageflower, é uma cantora e compositora de Sydney, Austrália. Infinite highs, end of times é um álbum de estreia com jeitão de EP, e equilibrado na união entre vibes do folk e climões do pós-punk e do grunge. Angel things, a faixa de abertura, reúne quase tudo isso: som triste, guitarra evocando anos 1990, barulhos e autotune quando vai chegando perto do fim. Hands on vai quase na mesma onda, com mais peso e alguma eletrônica, além de distorções nos vocais.
Ao fim da audição de Infinite highs, end of times, é essa distorção, além do clima intenso nos vocais e nas letras, que confere diferencial e norte atitudinal (digamos assim) ao som de Rageflower. Nos próximos lançamentos, é mais do que necessário que ela vá buscando cada vez uma cara própria em composição e até em produção. De começo, o soft rock indie Kerosene, cheio de desilusões e questões pessoais nas letras, é o que mais chama a atenção no disco, ao lado da tristeza pop de Sign of life e de Desk job – uma música que começa como um folk rock triste sobre dia a dia, realidade e boletos (“depois do show / vou para a minha mesa de trabalho”) e que vai ganhando peso, gritos, vozes e desespero o fim.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 21 de agosto de 2025
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Crítica
Ouvimos: Atletas – “Reflexão meteórica”

RESENHA: Gravado no quarto, só com violão e laptop, Reflexão meteórica, álbum do Atletas, mistura lo-fi, ruídos ambientes e delírios febris em paisagens sonoras.
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Mario Cascardo, o cara por trás do projeto Atletas, gravou Reflexão meteórica, seu novo álbum – que sai também em fita pelo selo Municipal K7, especializado no formato – em seu quarto, usando apenas um violão e um laptop. Geralmente, as gravações captam qualquer ruído que esteja acontecendo no momento: se houver uma janela aberta, alguém falando do lado ou a TV ligada, vai acabar surgindo na música.
Esse método faz de Reflexão meteórica, mais do que um álbum instrumental, uma captura de momento – ou de momentos, com vários loops de sons e imagens sonoras “fantasmagóricas” editadas. Por acaso, o disco tem uma música chamada Febrão súbito em Conceição, e o clima despertado pelo disco é mesmo o de delírio febril. Como rola nos ruídos ambientes de Hemisfério isolado, na valsa lo-fi Convencional e no clima sombrio e psicodélico de Veja Mirumi, com um violão-vento que lembra o de Bron-Y-Aur, do Led Zeppelin, e ruídos que lembram luzes piscando.
O mais próximo de uma canção “comum” em Reflexão meteórica surge em Sumo atleta (com sons de teclados que crescem ao lado do violão e da voz, ruídos repentinos e um vento sonoro que muda o astral da faixa, perto do fim) e em Muito bem – uma balada violeira que tem algo de Velvet Underground. O repertório ainda tem ao bossa-quase-noise de Estação Camélias e a ruidosa Montanhas, que parece simular carros passando por aclives e declives.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Municipal K7
Lançamento: 21 de agosto de 2025.
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