Crítica
Ouvimos: Humour – “Learning greek”

RESENHA: Humour estreia com Learning greek, mistura de pós-punk e emo que reflete estranhamento, fúria e referências de Arctic Monkeys a Homero.
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A estreia da banda escocesa Humour não se chama “aprendendo grego” à toa. O grupo tem um vocalista de ascendência grega, Andreas Christodoulidis, e muito do álbum vem de experiências de estranhamento – aquela coisa de não se sentir totalmente à vontade no país em que você nasceu e foi criado, por causa de suas raízes familiares fortes. A banda chegou a fazer covers de Arctic Monkeys – dá para pescar referências deles aqui e ali, bem como de The Cure, Idles, Shame e Smashing Pumpkins.
Learning greek une duas coisas que parecem óleo e água: riffs gélidos como no pós-punk e uma certa onda emo-screamo, que torna boa parte do disco uma experiência angustiante, no melhor dos sentidos. Andreas berra no volume 10 em faixas como Neighbours e Memorial, e o grupo invade a grande área do noise rock em Plagiarist e I knew we’d talk about it one day – essa, com baixo e bateria fincados em marcação cerrada, assim como rola em Aphid.
O meio caminho entre pós-punk e emo fica também claro em Dirty bread e I only have eyes for you. Duas faixas têm as referências mais clássicas do disco: a autoexplicativa Die rich tem muito de Buzzcocks e In the paddles tem algo de Devo no ritmo maníaco. No geral, soa como o pós-grunge, mas com bastante maldade e criatividade, além de referências highbrow. Como o pai de Andreas lendo um texto em grego na vinheta-título, e lembranças da Ilíada, de Homero, na letra de Memorial.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: So Young
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Ninajirachi – “I love my computer”

RESENHA: Ninajirachi estreia com I love my computer, disco de EDM irônica e frenética, que mistura amor digital, ironia pop e batidas hipnóticas.
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Tinha um forró safado da saudosa Marinês, Gosto de tudo grande, em que ela mandava bala no duplo sentido: “Eu sou pequenininha / mas gosto de tudo grande (…) / minha mãe escolheu para me criar / me levou pra uma cidade / com o nome Campina Grande”. Enquanto isso, a produtora australiana Ninajirachi não escolheu batizar seu debute de I love my computer à toa. O som dela não tem nada a ver com forró, claro (é um revival da EDM do começo do século 21), mas a cara de pau é a mesma, já que o disco tem uma dance music frenética chamada Fuck my computer (“quero foder meu computador / porque ninguém no mundo me conhece melhor”).
Vá lá que Ninajirachi, além de se dedicar a batidas hipnotizantes, faz questão de se colocar do lado mais irônico do alambrado, zoando situações e coisas com poucas frases. Fuck my computer você pode entender como um comentário sobre o vício em telas, ou pode jogar tudo pro alto e dançar. A pulada Battery death basicamente prega que “nós levamos isso longe demais e não conseguimos parar / como chegamos tão longe de onde começamos?” (isso o quê? “onde” aonde? – entenda como quiser). Namoros, sexo, encontros e desencontros digitais surgem em Delete, aberta com teclados e voz e prosseguindo em tom quase celestial.
- Ouvimos: The Armed – The future is here and everything needs to be destroyed
- Ouvimos: Yeule – Evangelic girl is a gun
CSIRAC, soando como um videogame, é história pura: Nina Wilson (nome verdadeiro de Ninajirachi) homenageia o primeiro computador digital da Austrália (o CSRICAC do título), que também foi o primeiro a tocar música digital. A robótica Infohazard tem teclados que levam o ouvinte para outro ambiente, enquanto ela narra a vez em que, quando era só uma criança mexendo no computador, deparou com um filme snuff e acabou assistindo. Criando um disco que tem vários lados e funções – quase como as máquinas que os inspiraram – e declarando paixão pelo universo digital, ela manda bala no acid bass em London song, impõe uma energia mais pop e palatável a All I am, e faz puramente música eletrônica para ouvir em casa e dançar sentado na poltrona em Sing good. Boa surpresa.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: NLV Records
Lançamento: 8 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Katie Gregson-MacLeod – “Love me too well, I’ll retire early” (EP)

RESENHA: Katie Gregson-MacLeod lança EP independente de folk-rock sensível, misturando chamber pop, indie e ecos de Pretenders, Beatles e Joni Mitchell.
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A cantora e compositora escocesa Katie Gregson-MacLeod andou tendo o melhor e o pior do showbusiness nos últimos anos. A saber: sucesso no Tik Tok, projeção em seu país e fora dele, dois álbuns lançados pela Sony Music e… fim de contrato com a gravadora. De volta ao mercado com o EP independente Love me too well, I’ll retire early (“me ame logo, vou me aposentar cedo”), ela parece interessada em investir no folk-rock sensível com pegada de storyteller – como na faixa-título, quase uma cantiga sobre amarrar um bode de incertezas e síndrome de impostora, enquanto a turnê rola e a gravadora investe grana (“não quero estar por perto quando a ficha cair/ quanto mais você me dá, menos eu sou digna”).
Prosseguindo, James une bateria, voz, violões e violino em vibe tranquila e indie, enquanto Katie canta sobre amores inseguros. Chess é quase um chamber pop fora-da-lei, contando uma história sobre perseguição e diversões perigosas. E o lado mais eminentemente roqueiro do EP surge nas duas últimas faixas. I just think of it all the time é folk com vibe de Pretenders e Eurythmics, enquanto Mosh pit é folk-glam com emanações tanto de Beatles quanto de Joni Mitchell – e letra narrando um amor surgido na rodinha punk. É algo que nem parece combinar com o folk introvertido, mas que aqui traz outros lados para a poesia de Katie.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Last Recordings On Earth
Lançamento: 4 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Emma Harner – “Taking my side” (EP)

RESENHA: O EP Taking my side mostra Emma Harner buscando fugir de truques fáceis e criando um folk indie misterioso e delicado.
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Trocadilho bem idiota, mas vá lá: você pode até não ver nenhuma grande novidade no EP de Emma Harner, Taking my side, mas dá perfeitamente para ficar do lado dela (ai) quando o assunto é música. Taking my side mostra Emma se recusando a embarcar em truques fáceis de produção, e preferindo o esquema de compor, tocar e criar algo que dê conforto ao ouvinte – algo óbvio, mas que hoje em dia nem sempre é feito.
Essa fórmula que parece que vai desandar na abertura, com o folk docinho False alarm – música com dissonâncias dosadas e algum clima de mistério, embora seja no fundo tudo bem derivativo. Do it vem depois lembrando um rock traduzido pro idioma folk, com certo clima fantasmagórico. Yes man já abre a porteira do EP para coisas num formato mais indie – um folk com vibe grunge e ritmo que confunde os ouvidos. Aí é que o lance parece estar um pouco mais controlado.
Taking my side termina com duas músicas que parecem ter sido feitas para serem escutadas à noite: a arpejada Lifetimes é um folk misterioso com violino, no qual dá para perceber a beleza da voz de Emma. Again é um folk lento, com velocidade sendo construída aos poucos. Tem muita gente fazendo folk tristinho, ensimesmado e trevoso hoje em dia, mas Emma parece estar em busca de algo mais.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: 11 de julho de 2025
Lançamento: Independente.
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