Som
Jorma Kaukonen (Hot Tuna) ensina você a tocar Water Song

O Hot Tuna, um dos projetos paralelos mais duradouros da história do rock, vai completar – entre idas e vindas – 50 anos em 2019. E já anunciou turnê para 2018. Os ex-Jefferson Airplane Jorma Kaukonen e Jack Casady vão fazer um giro acústico por lugares como Tenessee e Connecticut de março a junho. Com direito a uma parada “elétrica”, com banda, no sábado (24), em Pomeroy, Ohio. E a um show tamanho-família – e ligado na tomada – em novembro.
Don't miss @hottunaband #live #performance #music https://t.co/3Oe4PGAfOR https://t.co/lwPvJeaHs8 pic.twitter.com/pd2zjF5nZs
— Jorma Kaukonen (@JormaKaukonen) March 18, 2018
Se eu estivesse nos shows, com certeza ia querer ouvir duas músicas. Uma delas é Water song, um dos mais bonitos temas instrumentais acústicos já feitos na história do rock – presente no terceiro disco da banda, Burgers, de 1972. A outra é a estridente Easy now, do disco The phosphorecent rat, o quarto do Hot Tuna, de 1974. As duas seguem abaixo.
A guitarra da abertura de Easy now já foi definida pelo próprio Jorma (autor do solo) como “um maçarico”. Já Water song é outra história: um dos mais belos e delicados temas acústicos da história do rock, levado adiante por dois músicos que são mestres em levar o idioma desplugado para o estilo. Li certa vez um comentário no YouTube, num vídeo com essa música, de um sujeito que tinha 15 anos quando comprou Burgers e ouvia a música sonhando “com o fim da Guerra do Vietnã”. O clima é esse mesmo.
O Hot Tuna começou como um projeto paralelo do Jefferson Airplane, numa época em que a banda ficou inativa – Grace Slick, a vocalista-sensação do grupo, tinha operado nódulos na garganta e ficara fora de combate. Era para ser só um set acústico, voltado para o folk e para o blues, do guitarrista Kaukonen e do baixista Casady. Mas acabou agregando outros integrantes do Airplane, como Paul Kantner, Spencer Dryden, Papa John Creech e Marty Balin.
A dupla Kaukonen e Casady inicialmente abria os shows do próprio Airplane, mas acabou conseguindo fazer turnês sozinha, e os dois deixaram o grupo original em 1972. Papa John Creech, violinista que tocava com o JA, seguiu com eles, e Sammy Piazza entrou na bateria.
O grupo teve enorme popularidade após 1974, mas nunca chegou a ser uma ameaça ao Airplane. Tanto que boa parte de sua discografia foi lançada pelo selo que o próprio JA comandava, o Grunt. Na época, mesmo com as novidades do rock, o Airplane continuava a ser uma tradição no mercado do rock norte-americano, e havia demanda para toda a “família” do grupo – incluindo discos de Creech e do baterista Joey Covington. A partir de 1974, o próprio Jorma passou a alternar discos solo com os do Hot Tuna. Em 1978, brigas entre ele e Casady determinaram uma pausa nas atividades do Hot Tuna, que durou até o fim da década seguinte. Felizmente, a amizade e o profissionalismo prevaleceram.
Abaixo, você confere a maravilha que é o HT ao vivo, num show do retorno de 1988, com o então septuagenário Creech na voz e no violino. Creech morreria em 1994.
Olha eles aí em 2015, num belíssimo show de duas horas.
https://www.youtube.com/watch?v=PuBW6_fmtak
E esse texto inicialmente era só para avisar que alguém subiu, tirado de um DVD solo de Kaukonen, um vídeo com o músico ensinando como se toca a bela Water song. Uma música que o próprio autor não hesita em dizer que se trata de um dos mais delicados temas instrumentais já feitos no mundo.
Crítica
Ouvimos: The Stargazer Lilies – “Love pedals”

RESENHA: Shoegaze lisérgico e groovy: em Love pedals, o The Stargazer Lilies entrega guitarras densas, psicodelia e experimentos brilhantes.
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Provavelmente nenhum site vai escolher Love pedals, sexto disco da banda novaiorquina The Stargazer Lilies, como disco do ano. Azar de quem não ouvir e de quem não reconhecer neles uma banda mais do que excepcional. Criada pelo casal John Cep e Kim Field, essa banda – que surgiu de um quinteto de dream pop chamado Soundpool – faz um som que parece vir de dentro do/da ouvinte, tamanha a intensidade das guitarras e dos baixos. Tudo gravado como paredões de som e, mais do que isso, como vendavais sonoros que carregam os sentidos de quem ouve o disco para todos os lados.
The Stargazer Lilies costuma ser definido como shoegaze, por aí. Não exatamente: trata-se de uma banda que faz psicodelia e som groovy na base das guitarras altas e distorcidas. Em Love pedals, eles unem peso, lisergia e distorções na guitarra e no baixo em Ambient light, quase um nevoeiro sonoro. A faixa-título é soul + psicodelia + shoegaze, num efeito fantástico. Parece realmente um hit de rádio AM jogado num triturador junto com guitarras, pedais de distorção e pastilhas de LSD.
O grupo vai dosando sabedoria musical e experimentações em faixas como Perfect world, um tema de girl group, com violão, eco, distorções e obnubilações. By your side é uma balada com um paredão de ruídos que afina e desafina à medida que a música segue – chega a parecer uma transmissão sonora. Shining yellow é uma balada que até poderia ser uma canção do Swing Out Sister – mas é uma porradaria psicodélica e dissonante, aquele tipo de beleza no qual se vê algo estranho e talvez, tenebroso. Heaven knows poderia ter saído nos anos 1970 caso não fosse uma barulheira groovy.
O Stargazer Lilies deixou os momentos mais declaradamente rocker do disco para o final. Trans med é blues psicodélico, o som mais eminentemente sixties do álbum. Hold tight soa como um shoegaze hendrixiano – tem a dramaticidade de uma canção de Jimi Hendrix, mas tem a cabeça ligada em outras esferas. Um caleidoscópio sonoro de primeira.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Shore Dive Records
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Goo Goo Dolls – “Summer anthem” (EP)

RESENHA: EP Summer anthem mostra Goo Goo Dolls entre boas faixas power pop e tropeços bregas, mas sem apagar a nostalgia dos álbuns antigos.
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Aquele velho papo (chato, admitimos) de “ah, como a banda tal era boa nos anos 1980 e 1990” faz todo sentido quando a banda em questão é o Goo Goo Dolls. Compreensível que um grupo que começou se dizendo “uma banda punk para a geração do skate” e que já foi comparado aos Replacements – no excelente disco A boy named Goo (1995) – tenha resolvido embarcar num caminho mais comercial assim que a porta se abriu. Fazer música não é fácil, ganhar grana com ela é complicado e vai por aí. Mas que depois do álbum Dizzy up the girl (1998) e do hit Iris a paciência de muitos fãs vem sendo testada… Ah, isso vem rolando sim.
O EP Summer anthem, na verdade, é pouco mais do que um souvenir para os fãs – recentemente o Goo Goo Dolls teve seu hit Iris incluído na trilha de Deadpool & Volverine e a música não apenas voltou a ficar falada, como tem sido bastante aplaudida e esperada nos shows. Como estão estreando uma turnê chamada Summer anthem, aproveitaram o nome para o disquinho, que beira uma espécie de emo-soul em Ocean e dá aquele susto nos fãs quando lembra um Maroon 5 indie em Nothing lasts forever.
No geral, o número de momentos bacanas de Summer anthem não apagam a vontade de parar o disco no meio e ouvir os álbuns antigos dos Goo Goo Dolls. A energia power pop do grupo ressurge em Slightly broken, Misery e Such a mystery. Já Run all night dá uma crescida no ouvido mas é um som meio brega – no pior dos sentidos em que a palavra “brega” pode ser usada. Not goodbye (Close my eyes) encerra o disco com uma nota triste – e não que isso tenha a ver com o funéreo “feche meus olhos” do título. É que o Goo Goo Dolls, nesta faixa, surge fazendo aquele mesmo rock arenístico-gratiluz do Coldplay. Caraca…
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6
Gravadora: Warner Music
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
- Relembrando: Goo Goo Dolls – A boy named Goo (1995)
- Ouvimos: Replacements – Tim (Let it bleed edition)
Crítica
Ouvimos: Desu Taem – “Molasses fighter jet”

RESENHA: Desu Taem volta com Molasses fighter jet, mergulhando no metal caótico, cheio de clichês, zoeira e boas ideias entre punk e metal.
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Rapaz, mas não é que lá vem o Desu Taem de novo? Essa banda norte-americana lança vários discos por ano – sabe-se lá se recorrem a IA, ou se têm um vasto acervo de composições, mas o resultado sempre tem a tendência de sair interessante e bem louco.
Molasses fighter jet é o (já nem me atrevo a contar)º disco do grupo – e um grande índice de que o universo do metal, ou pelo menos a brincadeira com os clichês dele, tomam conta da musicalidade da banda, agora. Molasses abre com Forgotten chaos, metal cromado e palhetado que envolve mundo acabando, memórias chegando ao fim. E prossegue com as guitarradas oitentistas de Insufficient salt e a vibe Ministry de Why?! Além de um namoro com o som de bandas como Testament e Sepultura na bizarra Alarm clock masturbator – que ainda por cima ganha uns uivos vocais que parecem coisa do Charlie Brown Jr.
Boa parte do material de Molasses foi gravado com som de demo, com um cozidão de guitarras, baixo e bateria – que surge em I will not be assimilated (soando como uma demo do Judas Priest gravada em 1991), no blues-funk-metal de I will not break e de Cyanide Soul Sister, e na onda meio punk pop de Victimized, but content e It hurts to be cool. Caindo numa mescla de punk e metal em You’re a dick e Yet toboggan run, o Desu Taem ainda prega a teologia da brutalidade em Mosh pit theology e manda bala na mordacidade em Crucifix vendors fair e You can’t unseen that.
Aparentemente a zona dessa turma não tem fim (se bobear já estão gravando o próximo disco de 2025). Mas quando o Desu Taem faz mais zoeira e menos pastiche musical, se torna bem mais interessante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.
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