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Crítica

Ouvimos: Faces – “Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973”.

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Ouvimos: Faces - "Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973".

RESENHA: Faces at the BBC é box com 8 CDs e um Blu-Ray que mostra toda a potência ao vivo dos Faces na BBC. Repetições à parte, é ouro para fãs do rock 70s.

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Tá com tempo? Bom, se você tiver cerca de OITO HORAS disponíveis no seu dia, recomendamos desligar o celular, parar tudo e ouvir Faces at the BBC, box de 8 CDs e um Blu-Ray que a Rhino lançou no ano passado, com todo o material do grupo que começou criado pela formação remanescente do grupo mod britânico Small Faces – Ian McLagan (teclados), Ronnie Lane (baixo, vocais) e Kenney Jones (bateria e percussão) – e foi acrescido de duas figurinhas proeminentes: Ron Wood (guitarra) e Rod Stewart (vocais).

Ron, como você deve saber, é guitarrista dos Rolling Stones desde 1975, e Rod dispensa apresentações. Aliás, em 1970 — ano em que começa o recorte desta caixa – ele já era bastante conhecido. Ele e Ron vinham do Jeff Beck Group, e Rod não só mantinha uma carreira solo com contrato assinado pela Mercury Records, como já havia lançado seu primeiro álbum, An old raincoat won’t ever let you down (1969). Essa vida dupla causou dores de cabeça tanto para os Faces quanto para a gravadora da banda, a Warner, e alimentou a confusão entre fãs e jornalistas, para os quais era meio óbvio que aquilo ali era só o plano de voo solo de Rod.

Seja como for, além de Rod e Ron, todos os integrantes dos Faces tiveram seus momentos de destaque no rock. Kenney Jones tocou no The Who durante os anos 1980 (embora sem agradar plenamente aos fãs). Ronnie Lane, por sua vez, virou o fiel escudeiro de Paul McCartney nos Wings, enquanto Ian McLagan – morto em 2014 e, injustamente, o menos lembrado do grupo – consolidou-se como um requisitado músico de estúdio. Seu uso marcante de teclados como o piano Wurlitzer e o órgão Hammond B3 ajudou a criar um estilo vigoroso e galopante, que acabou sendo replicado por várias outras bandas. No Brasil, o poder de influência dessa turma não fica tão claro – afinal, a mistura rock-soul-blues-boogie dos Faces é bem menos lembrada do que os poderosos Led Zeppelin e The Who.

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Se você odeia as repetições de músicas que costumeiramente aparecem em caixas com “tudo que a banda tal gravou na gravadora tal”, vale informar que Faces at BBC é para fãs pirados: You’re my girl (I don’t want to discuss it) aparece seis vezes, Miss Judy’s farm está lá cinco vezes e músicas como Maybe I’m amazed (sim, a de Paul McCartney) e a irresistível Stay with me aparecem quatro vezes. Várias outras são repetidas e algumas ganham versões que nem dão em nada – são só a banda tocando quase como num ensaio aberto.

Você pode chegar a enjoar de ouvir o (excelente) ataque inicial de You’re my girl, guitarra-baixo-bateria-teclado unidos numa massa rítmica que parece emular um animal selvagem. Mas passa logo. A caixa serve para acompanhar tudo que eles fizeram na emissora nos quatro anos de existência do grupo, geralmente apresentados pelo super DJ John Peel – que, mais feliz que pinto no lixo, chega a comentar: “É muito bom ver uma banda que gosta de tocar!”. De fato, era uma banda que dava o sangue no palco.

Mesclando peso, intensidade, vibe blues e diversão em doses iguais, a banda revisita It’s all over now (Bobby e Shirley Womack), gravada nos anos 1960 pelos Rolling Stones, faz versões cavalares de Miss Judy’s farm e Three button hand me down (essa com certeza influenciou o início do Tutti Frutti, de Rita Lee), mandam bala em rockões como Too much woman (For a hendpecked man) e em baladas como Angel (Jimi Hendrix). Uma parte boa do repertório, vale dizer, vem dos primeiros passos solo de Rod Stewart – ele teve todo mundo dos Faces tocando no segundo disco, Gasoline Alley (1970), e músicas como You’re my girl…, Country comfort (de Elton John e Bernie Taupin) e It’s all over now, além da faixa-título, vêm de lá.

Os dois últimos discos da caixa trazem os Faces tocando cada vez mais pesado – é por puro acaso, porque as gravações não estão nem sequer em ordem cronológica. Maggie May, na versão gravada para o programa Top Gear em 6 de outubro de 1971, encerra o pacote. Para mostrar de verdade que tudo significa tudo, importante falar que os dez últimos minutos do disco 7 são ocupados com o concerto de Natal de 1970 da BBC, apresentado por John Peel. Rod encara o tema natalino Away in a manger, e um grupo de inimigos do fim, que inclui Marc Bolan, Sonja Kristina (Curved Air), Robert Wyatt e todos os Faces, manda bala num medley doidaralhaço que inclui O come all ye faithful e Noite feliz.

A principal função de Faces at the BBC é fazer de você um/uma fã dos Faces – mesmo que você vá pulando faixas e cortando repetições. Monte sua playlist ou ouça tudo, e se resolver encarar o pacote todo, prepare-se para uma grande descoberta.

(todo o material de áudio desta caixa está nas plataformas – foi lá que ouvi tudo)

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Rhino
Lançamento: 6 de setembro de 2024

Crítica

Ouvimos: Buckingham Nicks – “Buckingham Nicks” (relançamento)

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Buckingham Nicks ressurge como pérola do soft rock setentista: um disco intenso, country-rock e pré-Fleetwood Mac, cheio de tensão, charme e ótimas canções.

RESENHA: Buckingham Nicks ressurge como pérola do soft rock setentista: um disco intenso, country-rock e pré-Fleetwood Mac, cheio de tensão, charme e ótimas canções.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Rhino Records
Lançamento: 19 de setembro de 2025

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Daria até para dizer que Buckingham Nicks, único disco do casal Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, lançado em 1973 – dois anos antes da dupla se juntar ao Fleetwood Mac – é o típico disco “pouco ouvido e muito falado”. Nem tanto: à medida que o FM ia fazendo sucesso, o álbum ganhava reedições em alguns países durante os anos 1970 e 1980. Nos últimos anos, era bastante baixado na internet e ouvido no YouTube. Só não tinha saído em CD nem estava disponível nas plataformas digitais.

O álbum de Stevie e Lindsey pertence a um limbo dos discos feitos por antigos casais e que hoje habitam uma espécie de cantinho da vergonha – consigo lembrar também do bizarro Two the hard way, gravado pelo então casal Greg Allmann e Cher em 1977, e nunca (nunquinha mesmo) reeditado. A diferença é que se Buckingham Nicks não fosse um puta disco, Mick Fleetwood, baterista e co-fundador do FM, não teria achado nada demais quando um produtor chamado Keith Olsen lhe apresentou à ótima música Frozen love. Em busca de uma liga nova para o grupo, Mick acho que aqueles dois desconhecidos eram a solução (e eram, diga-se).

  • Mais Fleetwood Mac no Pop Fantasma aqui.
  • Recentemente, Madison Cunningham e Andrew Bird regravaram todo o disco Buckingham Nicks como… Cunningham Bird. Resenhamos aqui.

Olsen tinha produzido Buckingham Nicks, lançado sem repercussão alguma pela Polydor em 1973. Mais que isso: foi ele quem conseguiu o contrato com a gravadora, numa época em que ele até hospedava o casal. O som do disco era um soft rock afirmativo e dramático, enraizadíssimo no country, em faixas como Crying in the night, a blues-ballad Crystal, o belo country-rock Long distance runner (marcado pelos vocais fortes de Stevie) e a curiosa Don’t let me down again, que além da referência beatle no título, tem ecos de Get beck, do quarteto de Liverpool.

Um detalhe: se em Rumours, disco de 1977 do Fleetwood Mac, o casal ficava se alfinetando nas músicas, Buckingham Nicks parece igualmente um ótimo espaço para a dupla fazer comentários sobre como andava a vida por aqueles tempos – a vida profissional e a vida íntima. Races are run, balada bittersweet abolerada e folk – na onda de You’ve got a friend, de Carole King – parece uma ode ao fracasso: “corridas são disputadas / algumas pessoas vencem / algumas pessoas sempre têm que perder”.

Provavelmente nem Stevie devia se iludir de que quem mandava ali era o então namorado – ainda que, conversando com Mick Fleetwood, ele exigisse levá-la junto com ele para o Fleetwood Mac, alegando que o casal formava um time de criação. Lindsey ainda protagoniza dois instrumentais (que, na boa, desandam bastante o disco). A balada soft rock Frozen love, que abre com a voz solo de Lindsey, parece um hino de ódio mútuo, que depois ganha uma bela e extensa parte instrumental, com cordas e solos de violão.

Stevie também teve que engolir a exigência da gravadora de que o casal posasse sem roupa (nada explícito) para a foto de capa. Enfim, tempos difíceis, mas o que aguardava o casal – Stevie, em particular – eram períodos bem melhores e de mais autoafirmação.

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Crítica

Ouvimos: Anika, Jim Jarmusch – “Father, mother, sister, brother” (trilha sonora do filme)

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Sai trilha de filme Father, mother, sister, brother, de Jim Jarmusch. As músicas são feitas pelo cineasta com Anika e o material revisita Nico e mistura versões sombrias e ambients estranhos.

RESENHA: Sai trilha de filme Father, mother, sister, brother, de Jim Jarmusch. As músicas são feitas pelo cineasta com Anika e o material revisita Nico e mistura versões sombrias e ambients estranhos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Sacred Bones
Lançamento: 14 de novembro de 2025

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Já anunciado pela plataforma Mubi para estreia em breve no Brasil, Pai, mãe, irmã, irmão, novo filme de Jim Jarmusch tem nomes como Tom Waits, Adam Driver, Mayim Bialik, Charlotte Rampling e Cate Blanchett no elenco, e é repleto de reencontros entre pais, mães e filhos – além de descobertas e recordações estranhas. Uma curiosidade pré-filme (a não ser que você já o tenha baixado da Torrentflix ou Nettorrent, ou o tenha visto na Mostra de Cinema de São Paulo há poucas semanas) é a trilha dele, feita pela cantora e compositora alemã Anika ao lado do próprio diretor.

Aqui mesmo no Pop Fantasma eu cheguei a afirmar que Anika soava como uma filha perdida de Nico e Iggy Pop, só que criada por Lou Reed e tendo Ian Curtis como padrinho. Isso com certeza não passou despercebido a Jim, que conheceu a cantora em 2022, na celebração do 15º aniversário do selo Sacred Bones. O primeiro convite feito a ela foi para que regravasse These days, música tristíssima de Jackson Browne que Nico havia gravado em seu primeiro disco solo, Chelsea girl (1968). Duas versões da mesma música estão no disco – a melhor delas é a “Berlin version”, gravada em Berlim, com Anika acompanhada pelo quarteto de cordas Kaleidoskop.

These days é cheia de versos depressivos, que já dão a entender o clima da “comédia-drama” de Jim (“ultimamente, tenho pensado em como todas as mudanças aconteceram na minha vida / e me pergunto se verei outra estrada”, “por favor, não me confronte com meus fracassos / eu não os esqueci”). Além desse clássico da tristeza musical, a única outra música não-autoral do disco é uma versão do jazz divertido Spooky, imortalizada por Dusty Springfield – a releitura é cevada na experimentação, com voz, baixo, estalar de dedos e teclados.

O restante da trilha de Father, mother, sister, brother (nome original) são momentos sonoros do filme transformados em vinhetas ou faixas instrumentais, com Anika e Jim dividindo teclados e guitarras com efeito. Daí surgem ambients assustadores (as duas versões de Skaters), temas tranquilos (as duas The lake), pura psicodelia (The world in reverse) e sons meditativos (Jet lag, com teclados e cítara). Nem tudo se sustenta longe do filme, mas vale bastante pela referência história a Nico.

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Ouvimos: Afterhourless – “No friends at dusk” (EP)

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Afterhourless lança No friends at dusk, EP ruidoso e etéreo: shoegaze puro, entre My Bloody Valentine, Ride e noise pop, num cartão de visitas potente e espacial.

RESENHA: Afterhourless lança No friends at dusk, EP ruidoso e etéreo: shoegaze puro, entre My Bloody Valentine, Ride e noise pop, num cartão de visitas potente e espacial.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Spleen Teen / Shore Dive Records
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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Projeto musical brasileiro que ganha lançamento no Reino Unido (em vinil e CD!) pela Shore Dive Records, o Afterhourless é uma criação do músico Rafael Panke, de bandas como Ruído/MM e Delta Cockers. É um projeto solo ao extremo: no EP No friends at dusk, Rafael compôs tudo, canta, toca todos os instrumentos, produziu, gravou e fez a mixagem. Também garantiu uma pureza shoegazery às quatro faixas, que seguem quase 100% à risca a receita do rock melodioso e ruidoso.

Coriolis, centrifugal love abre o disco com guitarras em forma de nuvem espessa, e vocal afundado nos sons de guitarra – faz bastante lembrar Jesus and Mary Chain e o começo do Ride, com mudanças de som que deixam a música mais bonita e contemplativa. Glass barricade / Silica blues tem clima mais próximo do que já se chamou noise pop, com doçura guitarrística e riffs econômicos mais próximos do pós-punk.

Na sequência, o EP apresenta o clima espacial de The route to Andromeda, lembrando uma mescla de My Bloody Valentine e Velvet Underground. E encerra com o shoegaze igualmente espacial, mas carregado de um “algo mais” pop-punk, de Unused space. Um cartão de visitas ruidoso e etéreo.

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