Entrevista
Entrevista: Salomão di Pádua fala sobre “Canta Brasília para o mundo”

Maranhense de nascimento, Salomão di Pádua começou sua carreira musical em 1992, foi morar em Brasília em 1997 e passou a fazer shows por lá e a relacionar-se com a música local. Para comemorar os 30 anos de história na música e homenagear a capital federal, seu novo álbum, que sai pelo selo GRV, é Salomão di Pádua canta Brasília para o mundo, repleto de canções de artistas que escolheram Brasília para morar.
O disco tem participação do conterrâneo Zeca Baleiro, e tem releituras como Modo de ser (composta por Clodo Ferreira, autor de canções gravadas por Fagner), e Bicicleta (de Eduardo Rangel, compositor local). Tem também blues, como em Timidez, do autor local Fred Brasiliense. Já Quase um segundo, hit dos Paralamas do Sucesso, surge em versão bossa nova. Salomão, que acaba de lançar um novo single, A musa e o menestrel, ao lado de Carlos Jansen, bateu um papo com a gente para falar do disco (colaboração de Diego Pessoa, do selo Hominis Canidae).
Como a música apareceu na sua vida?
Sempre fui envolvido com a arte, desde pequeno – na escola, na igreja – nas pecinhas de teatro. Mas só fui enveredar pela música quando cursava o ensino médio – embora eu sempre tenha dado sinais da importância da música em minha vida desde quando ouvia Rita Lee, aos dez anos, escondido dos meus avós. Nasci numa família evangélica e lá não se ouvia “música do mundo”. Durante o ensino médio ingressei no coral da escola, depois ainda cantei em mais dois ou três corais da cidade. Em 1992, por meio de um festival promovido pela Secretaria de Cultura, realizei o meu primeiro show solo. Mas antes disso eu já me interessava em dar canjas pelos bares e fazia participações especiais nos shows de amigos cantores. Em 1997 parti para Brasília, onde vivo até hoje, fazendo música, e acho que não vou parar nunca mais.
Canto e faço música porque, de outra forma, é como se a vida não tivesse sentido. Música está presente em tudo o que faço, durante as 24 horas do meu dia, seja no chuveiro, no carro, no ônibus, andando, parado, malhando… Além do mais o artista não é artista porque escolheu ser, é preciso que ele sinta que é, e como um cantor nato que sei sou, genuíno, sinto que a música também é uma missão, porque ela transforma também, faz verdadeiros milagres na vida de quem canta, toca e ouve.
Como você foi parar em Brasília?
Interessante que Brasília nunca foi pra mim um lugar onde eu pudesse ter alguma visibilidade enquanto artistas, enquanto cantor. Enquanto vivia em São Luís sempre tive Brasília como uma cidade política que existia pra cuidar do país, de uma arquitetura linear, cinzenta, fria e seca. Eu nunca imaginei que aqui seria a cidade maravilhosa, achei que era o Rio (risos). Sempre trabalhei, desde os 18 anos, em São Luís. De 1989 a 1996 eu fui servidor da Secretaria de Planejamento do Estado, concursado e tudo. Aí em 1996 uma amiga resolve mudar-se para Brasília e me convida pra conhecer. Tirei uma licença e vim, mas não era nada do que eu pensava. Uma delicia de clima, de cidade, as pessoas, amigos que fui fazendo. Então ao retornar para São Luís, só fiquei o tempo de pedir demissão. Isso mesmo. Enquanto tanta gente se mata de estudar pra passar num concurso, fui lá e pedi pra sair (risos). Cheguei aqui pra ficar em abril de 1997.
O que ainda há do Maranhão na sua arte?
Eu tento manter ao máximo o que aprendi no Maranhão, em todos os sentidos. Mas claro que quando se vive em outro lugar, durante quase trinta anos se absorve costumes e peculiaridades que de tanto tempo vai tomando conta do seu modo de ser, da sua rotina, e você só percebe isso quando retorna ao seu ninho mais uma vez. Musicalmente eu sempre incluo em meu repertório músicas de compositores queridos, do Maranhão, sempre estou em contato com todos.
Sonoramente, você transita pelo que podemos chamar de MPB e música pop. Como chegou a isso?
Os caminhos me levaram para a MPB porque foi o que cresci ouvindo. Ainda bem que sou da época em que só se ouvia coisa boa, toda a safra da música popular brasileira da minha época é boa, permanece e é imortal. Tenho o privilégio de ter ouvido Rita Lee, Elis Regina, Clara Nunes, Tom Jobim, Cássia Eller, artistas que me ensinam muito ainda, porque a música se perpetuou. Tive a sorte de ter sido escolhido pela MPB, e se eu tivesse a oportunidade de escolher a escolheria com certeza. O pop, o samba, o baião, a bossa são estilos com os quais eu trabalho e tenho muita sorte por ter sido acolhido pela música pra fazer exatamente o que amo fazer, música popular brasileira.
Alguns álbuns da sua extensa carreira não estão nos streamings. Por que?
Quando gravei o primeiro, Entre sambas e canções (em 2007), o único álbum que não está em streamings, a intenção era ter um cartão de visitas para apresentar melhor o meu trabalho, um CD-demo, como chamávamos. Eu ganhei o patrocínio de um amigo que infelizmente faleceu antes do CD ficar pronto, gravei 14 faixas entre músicas consagradas e inéditas. Não comercializei por não ter os direitos autorais de todas as faixas. E então chegaram as lojas digitais e também os outros álbuns que consegui jogar nos streamings, e nunca consegui verba suficiente para a liberação das músicas. Mas ainda farei isso.
O novo álbum é uma homenagem à Brasília e também à sua carreira que chega aos 30 anos. Como foi o processo de escolha das faixas? Foi muito difícil deixar canções de fora?
Muito difícil. Na verdade, tivemos que estabelecer um critério já que íamos deixar tanta música boa de fora. Então buscamos considerar os nomes dos autores. Quem era importante gravarmos? Mesmo assim ainda ficou gente de fora. Por coincidência alguns dos selecionados tinham verdadeiros clássicos da música de Brasília, a exemplo de Renato Matos, Eduardo Rangel e Paulo Mattos, dos quais gravei Um telefone é muito pouco, Bicicleta e Pequena mágoa, três hits consagrados em suas respectivas épocas que não poderiam ficar de fora. Então garantidas essas três, as outras vieram pelo que fui sentindo, simplesmente pela emoção, então trouxe a balada, o blues, o samba, a bossa-nova. E para a missão de escolha desse roteiro eu contei com o meu amigo Agilson Alcântara, produtor musical desse trabalho e ainda responsável por todos os arranjos e a direção musical.
Senti falta de alguma coisa da Legião Urbana, banda formada por artistas que não são nascidos em Brasília mas se criaram na capital. Não pensou em gravar nada deles?
Na verdade eu gostaria de gravar uma sequência de álbuns (volume 1, 2… 10) desse projeto. Infelizmente o recuR$o que recebemos não nos garantiu o pagamento de tantos direitos autorais, por isso a maioria da música é liberada de forma direta (negociada com o próprio compositor). E tivemos que eleger uma música nacional que representasse Brasília, então escolhemos Herbert Vianna, mas poderíamos sim ter escolhido alguma do Legião…
O ideal seria fazer como o Emílio Santiago, uma aquarela só de músicas de Brasília, parte 2, 3, 4… (risos). Música com certeza não faltaria. Muita música boa ficou de fora, com certeza, mas infelizmente não temos como fazer esse planejamento já que dependemos de recursos, sendo artistas independentes como somos.
Particularmente curti a inclusão de Um telefone é muito pouco, que nos anos 1980 foi gravada pelo Leo Jaime e tocou no rádio. O que representou essa música pra MPB de Brasília, pelo que você se recorda, já que é uma música que ficou bastante popular nessa época?
A gente teve que levar em consideração alguns critérios e o principal deles é o autor, então pela história do Renato Matos, um dos artistas mais conhecidos no cenário brasiliense, a gente escolhe sua música mais famosa Um telefone é muito pouco. E nossa responsabilidade de manter a qualidade, dando a nossa interpretação a nossa releitura foi um grande desafio. Essa música com certeza marca uma época de explosão musical não só em Brasília, mas em todo o Brasil.
O que o futuro te reserva? Já existem novos planos?
A princípio queremos trabalhar mais a divulgação desse novo álbum e tentar levá-lo o mais longe possível dentro do nosso quadradinho (DF) ou, quem sabe, fora dele. Aí necessariamente teríamos que ter um programa de incentivo ou um edital, já que os custos de um espetáculo não é barato. Fizemos recentemente um lindo show de lançamento no Teatro SESC Garagem, e contei com uma campanha de financiamento coletivo que deu muito certo. E isso é o que faz com a gente siga acreditando no nosso trabalho. Um dos meus planos como artista é fazer de algum modo um projeto de intercâmbio entre o Maranhão e Brasília, tendo em vista a quantidade de maranhenses residentes na capital federal. Com certeza teríamos um público significativo.
Entrevista
Entrevista: Érika Martins fala sobre a volta da Penélope e relembra a época da banda na Sony Music

Nos anos 1990, o mercado musical era aquecido o suficiente para garantir que bandas de estatura indie volta e meia seriam pinçadas por grandes gravadoras – as quais, quase sempre, não sabiam o que fazer com elas. Quem ficava, era porque correspondia ao que o mainstream esperava. Uma turma enorme sobrava. A Penélope, banda cuja frontwoman era Érika Martins, ficou a meio caminho das duas coisas: conseguiu gravar dois álbuns pela multinacional Sony Music, teve airplay razoável com músicas como Holiday, ganhou vários fãs e aproveitou a maré como pôde, antes que a gravadora desistisse totalmente do grupo. Um equilíbrio quase perfeito entre sucesso na mídia (especialmente na MTV, que exibiu bastante a banda) e ralação underground, que deu experiência a Érika para tocar sua carreira solo e se dividir em vários projetos.
Para comemorar os 25 anos da estreia Mi casa, su casa (1999), a Penélope retorna com formação modificada: além de Érika no vocais, guitarra e teclados, estão hoje no grupo Fernanda Offner (baixo), Carol Lima (bateria), Fernando Americano (guitarra) e Luiz Lopez (teclado, escaleta, backings). A estreia da nova turma foi no Rock In Rio do ano passado, mas nas últimas semanas, o grupo vem passando pelos Sescs de São Paulo, num giro que encerra nesta sexta (18) no Sesc Pinheiros. Erika e banda lembram os hits e recebem convidados: a ex-baixista da Penélope Erika Nande, Vanessa Krongold (Ludov) e Otto.
Batemos um papo com Érika Martins sobre sua vida atual – ela se mudou de São Paulo para Minas – e sobre o retorno do grupo para alguns shows. E aproveitamos para relembrar a época em que a Penélope brotou no mainstream do rock brasileiro. Um período de muitas lutas, algumas glórias e vários dissabores, como a janela de um ano entre a gravação de Mi casa, su casa e seu lançamento (“uma tortura!”, lembra ela).
Texto e entrevista: Ricardo Schott – Foto: Leca Suzuki/Divulgação
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Como tem sido morar em Minas Gerais? Eu sempre vim muito a trabalho aqui, né? Mas estou aproveitando para respirar, estar na cidade, sentir realmente a cidade como é, e poder fazer as conexões dos amigos que eu já tenho de tanto tempo. Por exemplo, o pessoal do Skank, que eu já encontrava na época da Penélope, ali na Sony Music, a gente fazia muita coisa junto. Também convivia muito com eles por causa do Tom Capone (produtor da Penélope, falecido em 2004), porque eles ensaiavam na Toca do Bandido (estúdio criado por Tom). A gente também tinha toda essa conexão. Aí, quando eu vim para cá, também retomei esses contatos.
Você tem conseguido interagir com a cena de música de Minas? Eu não sou muito de sair na noite, até porque eu fico mais no meu matinho aqui, mais afastada. Não estou exatamente dentro de BH, estou a 20 minutos de BH, que é no meio do mato. Mas sempre que eu posso, eu vou assistir alguma coisa, vejo shows novos. Tem muita coisa rolando na Autêntica, que é um lugar de show. Às vezes, quando a gente vai, tem bandas de abertura. Aí eu acabo conhecendo umas novas coisas que estão rolando. Mas quando eu estou por aqui, que eu não estou na loucura de São Paulo, ou do Rio, trabalhando, eu tenho procurado mais curtir e ficar em casa mesmo.
Me fala um pouco desses shows que você está fazendo. Eles são da sua carreira solo? Ou é a continuação daquele retorno da Penélope que rolou no Rock In Rio? É a Penélope, sim! Começou ali com o Rock in Rio, porque a ideia toda surgiu, Ricardo, na pandemia. Porque eu, na verdade, eu nem pensava em fazer nada com a Penélope mais. Aí na pandemia, ali no meio daquelas lives todas que eu estava fazendo, entrevista, eu comecei a ver o quanto a Penélope realmente tinha essa importância para muita gente.
As pessoas pediam para eu tocar as músicas, e tinha coisas que eu nem lembrava, que eu só tinha tocado lá 20 anos atrás e não tinha tocado mais. Comecei a mexer nessas músicas e bateu tão bem – me senti de novo dentro daquela roupa, da personagem, da Penélope. É onde eu estou melhor me encaixando agora. Eu fiquei com um pouco de medo no primeiro show, “será que eu vou me encaixar?”. E aí eu vi que, nossa, veio tudo, super. Porque assim, com amadurecimento, com um conhecimento melhor de palco, da minha voz… Então estou muito mais à vontade no palco e está uma delícia de fazer. E foi uma ideia da pandemia, quando eu via os depoimentos que as pessoas mandavam sobre as músicas.
Como eram os depoimentos? Aparecia gente falando “essa música salvou minha vida em determinado momento”, “essa aqui eu escutava no disco”, etc. Eu realmente me emocionava, chorava ali junto com todo mundo. E me deu essa vontade de mexer de novo naquilo. Aí eu entrei em contato com todo mundo da Penélope. A gente passou por várias formações, e fui conectando aquelas pessoas. Só que cada um está num caminho diferente: o Mario Jorge (bateria) está em Salvador, a Fifi, que foi a última baixista da Penélope, está morando nos Estados Unidos…
A Erika Nande, que é baixista do Mi casa su casa, está morando em São Paulo. É uma pessoa que eu tenho até mais contato, que eu encontro muito com ela, mas ela não está mais no clima da estrada. Disse que pode fazer participação em algum show. A Constança (ex-tecladista, hoje sócia do Toca do Bandido) também disse que poderia participar de algum show… E logo depois, na sequência, o Luizão (guitarrista) faleceu.
Eu tenho reparado, é uma coisa que eu comento muito hoje em dia, que a estrada não é todo mundo que encara. É dureza mesmo. Eu estou aí quase 30 anos de carreira na estrada, viajando, fazendo show, falo que gosto até daquele cheiro de pão de queijo do aeroporto (risos). Na época da Penélope eu era a que mais curtia. Eu sempre, desde criança, fui de mudar muito, viajar muito. O pessoal já não gostava tanto de estrada, tanto que todo mundo já tinha saído na última formação da Penélope. Daí pensei: se quero mexer no repertório da banda, tenho que ver quem vai me acompanhar.
E aí você chegou nessa formação, que tem até o Luiz Lopez, que tocou por vários anos com o Erasmo Carlos… Ele foi uma das primeiras pessoas que eu pensei. A gente já tinha se encontrado de vista, porque ele frequentava os shows da Penélope. Mas a gente se conheceu mesmo numa vez em que eu fui cantar com o Erasmo no Video Music Brasil – era a primeira vez que eu cantava com ele, eu estava só pensando “não acredito, é o Erasmo, meu ídolo!”.
E aí o Luiz chegou para mim e começou a falar isso para mim: “Erika, não acredito que eu vou tocar com você. Eu estava em todos os shows da Penélope, você me influenciou muito como compositor também!” (risos). Para mim, deu aquele click, assim, de… “nossa, como tudo é cíclico!” . Uma geração vai influenciando a outra. Eu estou ali falando do Erasmo, o Luiz está vindo falar de mim. Naquela época mesmo ele já tinha falado: “olha, se aparecer um revival da Penélope quero estar junto!”.
E agora rolou! Sim, e imagina, ele falou isso lá atrás. Fiquei com isso na cabeça, a gente sempre se encontrava – ele com o Erasmo e eu solo – e ele lembrava disso. O Luiz foi a primeira pessoa em quem eu pensei. Ele conhece todo o repertório, sabe tocar todas as músicas da Penélope. E é uma pessoa querida. Convivência na estrada não é fácil – então tem que ser gente fácil de conviver. Só que quando montei a banda, falei: “Luiz, não sei se vai ser a sua praia, porque o Fernando Americano, meu marido, já toca guitarra na banda. Você se importa de tocar teclado?”. Pensei numa escaleta para fazer as flautas. Ele comprou a escaleta e ainda falou: “já tirei todas as músicas!” (risos).
Na formação tem também a Fernanda Offner, que já tocava baixo no meu trabalho solo e é minha amiga há mais de dez anos. E a Carol Lima, do Fuzzcas, tá na bateria – ela tem também uma relação enorme com a Penélope. Ela estava até me contando esse final de semana, que a gente tocou: “poxa, eu e Luiz estávamos compondo uma vez e falamos: ‘ah, nessa música quero fazer uma coisa tipo Penélope’. Sempre tive essa influência”. E eu acho que isso é o mais importante. Pra encaixar nessa história, tinha que ser um pessoal que realmente tivesse vivido a banda, que entendesse o que realmente era a Penélope.
Tem alguma música nova ou planos para alguma gravação? Então, a gente nem pensou nisso ainda. Fomos emendando um projeto que começou no Rock In Rio – foi o primeiro show da turnê de 25 anos. E aí a gente já tá fazendo uma série de outros shows. Eu tô compondo muito, muito mesmo pro meu solo. Tô cheia de coisa agora pra lançar, inclusive composições com a Virginie, do Metrô, além de outras parceiras. Mas pode ser que apareça algo da Penélope. Pode vir um disco ao vivo, com esse repertório dos 25 anos… De qualquer jeito, estamos mais focados nos shows mesmo.
Voltando ao passado da Penélope, como foi aquela passagem de vocês pela Sony? Lembro que o Mi casa su casa demorou quase um ano para sair… Nossa, esse período de um ano foi uma tortura, né? Porque a gente saiu de Salvador, a banda foi pro Rio de Janeiro, ficou quatro meses gravando… A Sony injetando muito dinheiro na gente, e ninguém ainda entendia nada ainda do mercado, todo mundo verde naquela história. Então eles injetaram uma grana pesada e depois a gente foi um ano na geladeira! Sumiu o dinheiro pro lançamento.
Pra mim a conta não fechava. Eu não entendia: eles tiveram grana para colocar a gente no melhor estúdio do Rio de Janeiro, deram uma estrutura, pagaram um apartamentaço para a banda morar enquanto gravava… Mas a tortura maior foi voltar para Salvador sem perspectiva nenhuma de lançamento e sem cair na estrada. Eu não pensava como penso hoje: depois depois de tudo isso que eu passei, amadureci muito nisso. Sei que não dá para esperar nada de ninguém, e que é preciso correr por fora, comer pelas beiradas, fazer acontecer. Mas na época a gente não imaginava, então a gente ficou esperando. Eu fiquei sem compor, nem tinha ânimo de escrever nada.
E antes do disco sair, você participou de A mais pedida, dos Raimundos, certo? Sim, e ela deu um empurrão pro disco sair. E para a Sony… eles se surpreenderam, porque a música era primeiro lugar em todas as rádios, e a gente estava na geladeira. Eles pensaram: “pô, temos um disco dessa menina engavetado. Vamos lançar então para aproveitar, né?”. Tinha gente na gravadora que acreditava na gente: a Alice Pelegatti, a Cristina Dórea – a Alice trabalhava o marketing de forma espetacular. Mas pra gente foi muito difícil, a Penélope era nada ali dentro. Vendemos 50 mil discos, mas a gravadora era grande demais para essa vendagem.
Eu lembro de ter pensado: se a gente estivesse numa gravadora como a Trama seria melhor, porque lá, se você vende 50 mil, vira o top da firma. E a gente na Sony era nada. A gravadora não botou grana em cima, não teve 500 mil de jabá, nada disso. Foi assustador, porque na gravação do Mi casa su casa, tivemos tudo.
Mas ainda teve um segundo disco, o Buganvília, também pela Sony. Como foi isso? Eles tiveram que fazer o disco, porque a gente tinha um contrato, né? O Buganvília eu acho o melhor disco da Penélope, inclusive. Foi um disco amadurecido na estrada, muitas das composições surgiram com a gente fazendo turnê no Sul, eu escrevendo ali no ônibus. Veio um disco mais forte mesmo, eu até já estou cantando muito melhor do que no primeiro disco. Mas a Sony não apostou muito, era difícil para eles entenderem o conceito da Penélope, e a gente era uma mistura muito grande de coisas: bubblegum, Jovem Guarda, uma coisa de MPB e de música do Nordeste que eu tenho… De vez em quando eu escuto umas coisas ali, eu falo: “nossa, isso aí tem muito de Geraldo Azevedo, de coisas que eu escutava na Bahia e gostava”, fora as coisas do indie, Sonic Youth, Pavement. Teve um sucesso ali com Caixa de bombom, Ciranda da bailarina, mas parou por ali.
Tem muita coisa que vocês faziam que era numa onda dream pop, que pega muita coisa que está sendo feita hoje. Você percebe influência do som de vocês em bandas nacionais atuais? E outra coisa: você não pensa que seria legal que a Penélope tivesse surgido hoje, num momento em que há um cenário mais independente, e até mais compreensivo com esse tipo de som? Não, não penso isso… Eu nem sou essa pessoa saudosista, ou que fica ressentida. Para mim o melhor está por vir, sempre. Acho sempre que ainda vou produzir uma coisa mais legal. Mas em relação à influência… eu não só sinto e vejo, como escuto as pessoas me falando. O Gorky do Bonde do Rolê estava nos shows, lembro de ter visto ele adolescente na plateia – ele tinha filmagem de todos os shows nossos. Tem também essa história do Luiz Lopez. E fazendo esses shows, vi que a Penélope não ficou datada. Tem muita gente conhecendo agora e ficando surpresa, assim: “nossa, como eu não escutei isso antes?”
Como você tá vendo o universo dos shows no pós-pandemia? Para mim a melhor coisa de todas é que os shows estão começando cedo. A gente estava falando disso outro dia na estrada: tinha show que começava de madrugada, três da manhã… Aí você ia dormir e acordava meio-dia! Na pandemia eu passei a dormir dez da noite e a acordar 7h da manhã. Entrei nessa vida e estou até hoje. Quando tudo voltou, pensei: “cara, será que vou me encaixar de novo naquele mecanismo de dormir quatro da manhã e acordar uma da tarde?”. E aí os shows passaram a ser mais cedo. A gente tá fazendo muito Sesc, que já é cedo naturalmente. Acho que tem a ver com a violência nas capitais também… as coisas estão ficando mais cedo. Eu me lembro que quando ia fazer turnê lá fora, era uma delícia, estava no hotel deitada na cama bem cedo. Mas aqui no Brasil sempre foi esse ritmo louco.
Então o principal para mim é que tudo está mais cedo, e a galera também está sedenta pelos shows. No caso da Penélope, as pessoas têm ido aos shows também pela memória afetiva. Antes mesmo da turnê, a gente fez um esquenta em São Paulo e quando cheguei no palco, tinha gente na plateia chorando, segurando uma faixa! Ai eu já me segurei pra não chorar (risos) e o Luiz disse que também ficou se segurando, porque ele se via naquelas pessoas. É muita emoção pra todo mundo.
Depois desse show de hoje, como está a agenda da banda? Algo marcado para o Rio? E seu disco solo, já tem data pra sair? Até agora nada no Rio, mas estamos pensando em possibilidades. Eu queria fazer esse circuito dos Sesc, fiz até algumas vezes com Lafayette e Os Tremendões. Meu disco eu nem sei se vai virar um disco mesmo, porque hoje em dia todo mundo meio que voltou para o compacto, os singles. Lancei um single com a Fernanda Takai, foi nossa primeira composição juntas, Céu de planetário. Estou com três músicas compostas com a Virginie, do Metrô. São várias frentes. No sábado (19) vou fazer um show solo no Festival de Inverno de Paranapiacaba (São Paulo) que se chama Vênus. Somos eu e o Fernando no palco, e vamos tocar as músicas que a gente toca aqui em casa, que estão no vídeos que eu posto no YouTube. Começamos a reparar que tem muita música falando de Vênus: tem Venus in furs, do Velvet Underground, Venus as a boy, da Bjork, e isso virou um projeto de show!
Entrevista
Entrevista: José Emilio Rondeau detalha a produção do primeiro LP da Legião Urbana no livro “Será!”

Lembra daquele sininho que aparecia no refrão (e no final) da música Será, da Legião Urbana? Na verdade, não é um sininho – é um instrumento musical alemão chamado glockenspiel, formado por barras de metal, que dava aquele som cristalino. E o bendito glockenspiel gerou uma crise durante as gravações de Legião Urbana, a estreia epônima do grupo, no meio de 1984.
“Eles detestaram o instrumento!”, conta o jornalista José Emilio Rondeau, que produziu o álbum e teve a ideia de usar as chapinhas de metal porque elas apareciam com destaque em Born to run, sucesso de um de seus heróis, Bruce Springsteen – e o produtor, claro, acabou convencendo a banda. Essa e outras histórias sobre o debute de uma das maiores bandas da história do rock brasileiro, estão no livro Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor (Ed. Máquina de Livros, 112 páginas, R$ 65 impresso e R$ 39 e-book).
No Rio, cidade que a banda brasiliense escolheu para morar, o livro ganha lançamento nesta quarta (4), às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572), com uma esticada no dia 13 na Bienal do Livro. Rondeau falou ao Pop Fantasma sobre os bastidores do livro e também conversou com a gente sobre seu mais novo veículo de mídia – a newsletter Farol, que sai toda sexta-feira com um apanhado de notícias e descobertas do mundo pop e do cinema, sempre com um texto envolvente.
Texto e entrevista: Ricardo Schott – Foto destaque Mauricio Valladares/Divulgação
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Como foi voltar a essa época do primeiro disco da Legião Urbana e finalmente escrever um livro sobre? Na verdade é o seguinte: durante décadas desde a feitura do disco, eu falei com uma porrada de gente. Dei entrevistas, participei de documentários, programas de TV. Já vinha falando sobre esse período há muito tempo. Agora é diferente: marcou-se uma data redondíssima – os 40 anos do disco – e a ideia foi reunir uma história oral daquela gravação, daquele período de gestação, realização e lançamento do disco. É um período que representa uma transformação muito profunda na Legião. Eles deixam de ser uma banda punk raiz e viram um fenômeno pop – mesmo que não estivessem necessariamente buscando isso. E que o Renato fosse refratário à ideia de ser um sucesso pop.
Reuni um grupo de pessoas que estiveram ali durante a feitura do disco: os músicos, o técnico de som, o Mayrton Bahia (diretor de produção)… Fomos conversando separadamente com cada um e tentando buscar a lembrança que todos tinham daquele momento. Havia muitos pontos em que as memórias eram conflitantes. As pessoas não se lembravam exatamente do que tinha acontecido. Foi uma experiência de aprofundar a memória do período – e, para mim também, muita coisa já tinha se apagado.

A capa do livro (esq.) e o autor, José Emilio Rondeau
E foi bem legal ter trazido o Amaro Moço (técnico de som do disco) para as entrevistas do livro, até porque técnicos de som nem sempre são lembrados nessas horas… O Amaro Moço foi importantíssimo. O Bonfá fala no livro que o disco é resultado do trabalho de muita gente, e o Amaro é uma dessas pessoas. Ele aceitou o desafio de fazer esse disco sem ter experiência prévia com rock. Vinha de uma formação em samba, tinha feito discos pop – fez Rosana com Lincoln Olivetti, por exemplo. E ele mesmo dizia: “Grave é grave e agudo é agudo. Consigo gravar tudo que pintar na minha frente”. Ele teve muito cuidado técnico. Tinha sido recentemente promovido a técnico de som – antes era assistente. Eu, como fissuradinho pelo lado técnico de um disco, fico pensando nos outros fissuradinhos que têm no mundo, e que vão ler o livro.
A Legião tinha vindo de duas tentativas de gravar com produtores feras de estúdio, mas que não deram certo. Você acredita que era preciso de verdade um jornalista musical que entendesse a banda? Alguém que conhecesse as referências deles? Na verdade, tenho certeza de que havia um punhado de outros produtores que poderiam ter feito o disco. Dei a sorte de, na cara de pau, dizer: “Quero fazer isso”. Eu não saberia dizer se havia alguém além do Liminha, na época, que poderia entender a banda. Havia um rol de outros nomes que poderiam ter sido escolhidos. Pegaram dois craques de produção, que eram o Marcelo Sussekind e o Rick Ferreira. Mas não havia um encontro de sensibilidades. Não havia harmonia, não havia concordância, aquela coisa do “ah, entendi o que você falou desse disco, desse músico, sei pra onde sua cabeça tá indo”.
Acho que minha sorte foi ter sido o cara que bateu na porta naquela época. Certamente, poderia ter vindo outro nome. Tinha a minha falta de perícia como produtor em termos técnicos, de saber tocar um instrumento… Mas eu fui mais na intuição, no gosto musical, na experiência de tudo que eu já tinha ouvido ao longo daqueles anos. Eu era muito próximo deles. A gente tinha ouvido muita coisa em comum, embora eu tivesse ouvido um pouco mais — era um pouquinho mais velho, já tinha dado algumas voltas a mais. A gente teve uma proximidade muito grande, apesar de haver, em alguns momentos, uma discordância de caminhos: vai por aqui, vai por ali. No final, ficou uma coisa extremamente coesa. Forte pra caramba. Até hoje me emociona ouvir o disco, especialmente Será.
Será tinha o diferencial do glockenspiel, que chamava muita atenção para a faixa. E a banda não gostou inicialmente da ideia de usá-lo, certo? Foi a coisa mais maluca do mundo, porque enfiei na música uma obsessão minha, que era Bruce Springsteen. Sempre fui muito fã dele. E eu só consegui verbalizar isso agora: eu via Será como Born to run, que tinha o glockenspiel. As duas representavam uma coisa dramática, heroica, desafiadora. Algo como: vamos à luta, vamos conseguir vencer (risos).
O glockenspiel foi uma coisa que, inicialmente, eles detestaram. Lembrei disso reouvindo a música 50 mil vezes pra lembrar (risos). Mas no fim das contas, o Renato, sem que fosse pedido, fez muito mais com o glockenspiel do que o planejado. Inicialmente eram 3 ou 4 notas no refrão, mas no final da música ele sai improvisando. E ficou do cacete. Ele entrou naquela onda e entendeu.

Renato Russo ao piano no estúdio da EMI-Odeon durante a gravação (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)
Você falou que reouviu o disco 50 mil vezes e eu ia realmente te perguntar quantas vezes você escutou o disco para fazer o livro… Desde o ano passado, quando comecei a escrever o livro até agora, ouvi toda hora. Descobri coisas que já tinha esquecido. Coisas que me agradavam menos passaram a me agradar mais, e vice-versa. Mas tem sempre aquela faixa à qual eu volto, que é Será. Eu me surpreendi muito com a capacidade do Renato na segunda voz. Aquilo me arrepiou. Não foi discutido antes, não foi planejado. Ele gravou de primeira, de surpresa. Foi uma interpretação espetacular.
Você falou que deu sorte por ter tido cara de pau de se oferecer para produzir a Legião. Por acaso, a Legião deu uma baita sorte do Mayrton Bahia ter resolvido conversar com a banda, quando ela estava querendo sair da gravadora. Como você vê esses golpes de sorte na vida da banda? Aliás, você acha que sorte é importante na vida de um artista? A sorte acaba sendo um elemento na vida de qualquer pessoa. A gente planeja uma coisa, mas sempre acontece algo que muda a trajetória, que oferece uma possibilidade inesperada. Se não tivesse visto aquela conversa, o Mayrton nunca iria saber o que houve. O Renato Russo poderia não ter cortado os pulsos e o Renato Rocha (baixista) não teria entrado (ele só entrou para a banda por causa desse incidente com Russo, como está no livro). Eles poderiam ter continuado gravando com o Marcelo Sussekind ou o Rick Ferreira na produção, e teria saído outra coisa.
Mas cada um deles, o Mayrton também, estava com a vida girando em torno da feitura desse disco. Todo mundo se empenhou pra que ele ficasse pronto e fosse o melhor disco possível. O primeiro álbum da Legião não é um disco punk. Não é só de rock, ou de pop. É tudo isso ao mesmo tempo. Pra mim, representa justamente o início da transformação da Legião. O que ela ia ser no disco seguinte já começa a se esboçar aqui. A faixa que abre o Legião Urbana Dois (que é Daniel na cova dos leões) é uma sequência natural do segundo lado do primeiro disco. Uma música originalmente instrumental, que nasceu da feitura do primeiro disco e dá continuidade ao processo inicial.
O processo de gravação do primeiro disco da Legião, pelo que dá para ver no livro, mudou a maneira como a EMI via a banda. Você acredita que o primeiro disco mudou a maneira como se gravava rock no Brasil, e a maneira como se via o rock no Brasil? Bom, certamente houve uma mudança de visão muito forte ali, em relação a tudo que viria a acontecer na produção de discos de rock no Brasil, aliás no ecossistema do rock e do pop do Brasil.
Mas não foi a única coisa: esse disco saiu logo depois do Rock in Rio, que foi uma bomba transformadora no habitat do rock e do pop no Brasil. Uma coisa foi se encadeando à outra, tudo foi se somando. Se o disco da Legião tivesse saído sozinho, talvez não causasse a mesma pressão, o mesmo impacto. E o disco custou a pegar. Ele sai depois do Rock In Rio. Quando pegou, foi bem à beça, pegou de alto a baixo o país todo, todo mundo foi tomando conhecimento… Mas tem esse espaço de tempo em que ele demorou.
Aliás, o primeiro disco da Legião não saiu só depois do Rock In Rio, ele saiu depois do Carnaval! Houve uma ressaca do Rock in Rio e do carnaval. Demorou até que acontecesse alguma coisa. Fiquei preocupado: será que não rolou? Mas chegou uma hora que… rolou.
O João Barone me disse que a impressão que os Paralamas do Sucesso tinham dos estúdios da EMI-Odeon é que aquilo parecia uma repartição pública da Alemanha Oriental. Como era lidar com o Zoltan Merky (diretor técnico dos tempos da Odeon, que aparece creditado em discos como o Clube da esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges, como Z.J. Merky), extremamente rigoroso com todos os processos? Ah, o Zoltan não ia muito ao estúdio… O Amaro e o Nivaldo (Duarte, técnico de som experiente da gravadora) iam checar com ele pra ver se tava tudo certo. E eu acredito que a gente já tenha fugido bastante dos padrões. A faixa Petróleo do futuro teria sido vetada se tivesse sido ouvida por aquele padrão técnico da época, o Zoltan iria ter sipitucas se tivesse ouvido aquilo (risos).
Havia uma sonoridade muito específica nos discos da EMI-Odeon naquele momento – Dalto, Vinicius Cantuária, 14 Bis. Uma sonoridade bem mais linear, tudo muito limpo e bem produzido. O disco da Legião, comparado a isso, é mais solto. Os Paralamas também sempre tiveram uma sonoridade super enxuta, mesmo que a partir de determinado momento fosse outra coisa. Era pop, mas era um pop bem amarrado.
E justamente Petróleo é bem definidora, por causa daquela abertura que parece que não vai começar nada na música… e aí começa. Um troço meio Ramones. Isso. Foi muito gratificante. Ter esse arco bem claro, bem forte, bem marcante. A Legião vem daí. Isso é Legião, aliás isso e todas essas outras coisas. É tanto Petróleo do futuro, essa ferocidade, essa orgia de microfonia, quanto o romantismo de Por enquanto, no final.

Marcelo Nova (de óculos escuros) visita as gravações do primeiro da Legião, em 1984. Rondeau está entre ele e Bonfá (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)
Antes de produzir a Legião você produziu o primeiro disco do Camisa de Vênus. Como foi essa produção? Quando eu era do Jornal do Brasil, o Marcelo Nova era radialista em Salvador, na rádio Aratu. A gente se conheceu indo pra São Paulo em 1981, no ônibus da EMI, pra ver o show do Queen no Morumbi. Ele contou que tava montando uma banda chamada Camisa de Vênus, e houve uma continuidade depois disso, ficamos amigos. Um dia ele falou: “Rolou o Camisa. Tá a fim de produzir?” Eu falei “vamos nessa!”, mas minha experiência era zero. Aliás minha experiência era assistir a gravações de outros artistas, mas sem interesse em saber o que estava sendo feito ali. Fomos na cara e na coragem.
Fomos pro estúdio da RCA em São Paulo, e ficamos lá alguns dias. Foi uma farra. Eles tinham aquele som, que já era o som deles, era ultra punk, amador mesmo. Mas tinha muita verdade, muito senso de humor. Foram dias ótimos. Eu tava no Fantástico, acho, e pedi umas férias pra fazer esse disco. Era pra me divertir, até porque nem ganhei nada fazendo o disco! Foi tudo de graça.
Eu achei bem inesperado o Marcelo Nova ir ao estúdio visitar a Legião na gravação do disco – ele, que é um eterno crítico de tudo que é feito no rock nacional… Você se lembra como foi essa visita? Aliás como se davam as visitas dos artistas ao estúdio? Olha, só me lembro da visita por causa da foto. Não sei como se deu isso. Mas era uma época em que a gente era muito amigo, o Marcelo Nova estava no Rio, o convidei e ele foi. O Guilherme Isnard (Zero), que foi lá, conhecia eles de São Paulo. O Herbert Vianna foi lá com Paula Toller, e ele tinha indicado a Legião para a EMI. A Fernanda, esposa do Dado, conhecia todo mundo, facilitava. O rock em São Paulo já tinha uma conexão com a Legião. O Lulu Santos também passou pelo estúdio, mas ele tinha ido na verdade à gravadora, não sei por que cargas d’água ele foi lá. Ele pegou o baixo (do Renato Rocha) e saiu fazendo uns solos alucinantes, deixou todo mundo de boca aberta…
Até hoje há quem critique o jeito do Marcelo Bonfá tocar. Você acredita que o tempo vai fazer justiça a ele? Bom, o Bonfá, como está no disco, compõe o som da Legião. Ele é o som da Legião. Assim como os outros integrantes, o Renato Russo. Tem erros, tem momentos melhores e piores, tem erros inclusive meus ali. Mas o que tá no disco é exatamente a cara da Legião.
E como está sendo fazer a newsletter Farol? Tem sido muito gratificante, é um exercício diário de jornalismo. Eu trabalho nela todos os dias. É ótimo ver a reação das pessoas, voltar às minhas raízes, contar pra todo mundo o que eu ouvi, minhas histórias. É um público fiel, que tá crescendo cada vez mais – não é nada gigantesco, mas pra mim é perfeito. É um grupo muito bacana. A ideia original na verdade era fazer uma plataforma maior com outros predicados, porque eu queria fazer uma espécie de agregador de notícias.

Gravando! Renato e Dado no estúdio (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)
A Catherine Valentine, chefe de política da Substack (plataforma de newsletters), acredita que as que as eleições de 2026 e 2028 vão ser decididas justamente por causa do Substack. Políticos já têm newsletters lá, empresas de mídia como a BBC e a Billboard também têm. Como você vê isso? Bom, quem trabalha para um político vai sempre tentar usar qualquer ferramenta existente a favor de seu candidato – e contra o candidato oponente. Então não é uma surpresa. Eu não gostaria que isso acontecesse, mas sempre que existir um pedacinho de papel, se alguém puder colocar nele uma mensagem de um político… vai acontecer exatamente isso. Por outro lado, sempre vai haver pessoas excelentes fazendo newsletters excelentes, que vale a pena você assinar. O uso safado das plataformas sempre vai existir.
Você permaneceu tendo contato com a Legião depois do disco? Sim, eu fiz o clipe da música Tempo perdido. Foi a última vez em que trabalhamos juntos, porque logo depois do primeiro álbum eu já estava super enterrado na (revista) Bizz, que era um trabalho que me tomava muito tempo. Eu já estava fazendo toda a movimentação para ir para os Estados Unidos. Também produzi o primeiro álbum dos Picassos Falsos (1987). Quando fiz o clipe de Tempo perdido reencontrei os quatro depois de muito tempo. Lembro que o Negrete (apelido pelo qual Renato Rocha era conhecido na época), na gravação, até me disse “Rondeau, olha eu aqui! Não sou mais aquele punk rasgado não, tô bem vestido!”.
Eu parei de seguir os discos da Legião depois de um determinado ponto. O Que país é esse (1987) foi o último que ouvi com muita atenção. O fato de ficar longe do país me distanciou um pouco, não tinha internet, você ficava recebendo as coisas aos poucos. Mas a Legião virou outra coisa, outro tipo de som, bem diferente do que eu ouvia antes.
Entrevista
Entrevista: Quântico Romance, banda de rock gótico do Rio, prepara disco para breve

No Rio de Janeiro, com todo aquele sol e calor, tem uma turma bem numerosa que curte som gótico, synth pop e pós-punk em geral. É uma galera animada que lota festas como a College, no clube Vizinha 123, ou as noitadas dedicadas ao som que rolam no Garage (pico roqueiro clássico que voltou), e que não mede esforços para acompanhar as bandas achegadas ao estilo que vêm tocar no Brasil – shows de The Cure, The Mission e Lebanon Hanover, que rolaram nos últimos tempos, deixaram a turma feliz. Essa cena é fomentada por iniciativas como a do selo carioca Paranoia Musique, que lança bandas como Griza Nokto e o Quântico Romance.
O Quântico Romance lançou clipe e single ano passado (o vídeo de Reprise foi gravado e lançado numa sala de cinema, e transformado em curta metragem ao lado do clipe de Redenção) e está na preparação de um álbum para breve. “A previsão é de sair em abril ou maio, ainda sem título definido, porém muito provavelmente será homônimo de alguma faixa”, conta Karlos Milton Junior (vocal, synths), que divide a banda com Nilton Jardim Junior (guitarras) e Bruno Dorian (bateria eletrônica)
Batemos um papo em duas etapas com dois integrantes do grupo (Karlos e Bruno) e soubemos de algumas novidades. Também conversamos sobre influências cinematográficas na música do grupo, e sobre o sucesso que o The Cure anda fazendo.
Como foi fazer o clipe da música a música Reprise num cinema, e como surgiu essa ideia?
Karlos Junior: Isso aconteceu desde a concepção dela, até porque tem a questão muito forte do refrão, que fala de “reprise, a história desse filme já passou…” O insight que veio na minha cabeça é que essa música conversava com uma história de cinema, só que uma coisa meio “cinemão pipoca”, aquela coisa bem anos 1980 de ir ao cinema e curtir uma comédia, uma coisa de sci-fi, terror… sempre com aquela pegada adolescente.
À medida que a gente foi fazendo a música, a ideia foi crescendo. Fui o idealizador e compositor da música, daí bati o martelo e falei que a melhor vibe para fazer o clipe da faixa seria a gente fazer tudo dentro de um cinema. E a gente simulou um pouco da história. Foi tudo sendo desenvolvido a partir desse insight. A própria música influenciou o audiovisual.
(confira abaixo os clipes de Reprise e Redenção, do Quântico Romance)
Tem filmes que influenciam a estética do Quântico Romance?
Karlos: Tem, e de todas as épocas! Mas no caso do Quântico Romance diria que foram os filmes dos anos 1980 para cá. Mad max, por exemplo…
Bruno: Fuga de Los Angeles, Fuga de Nova York, tanta fuga, né? Filmes da ficção científica ao pós-apocalíptico. A gente retrata isso através da estética, do figurino, de todo o conjunto da obra. A Quântico Romance navega por todas essas vertentes das atmosferas pós-apocalípticas, tendo ao mesmo tempo um ar de tecnologia avançada e futurismo, dentro do próprio cyberpunk e de vertentes como nanopunk e biopunk. Navegamos na cultura pop nessa combinação de futurismo e ficção científica. E também há influência de grandes escritores. Eu citaria o Wilson Rocha, um brasileiro que é autor de Os passageiros do futuro…
Karlos: O Quântico Romance tem um diálogo grande, em termos de cinema, com a cena gótica nacional. Ficção científica, que a gente adora, puxa pro gótico. Também citaria a trilogia Matrix. Eles têm um visual mais para o gótico, as roupas pretas… Aliás existe um visual que eu queria muito fazer para a banda, só que para isso, a gente vai ter que correr atrás de recursos. Eu gosto do visual do Tron, especialmente do Tron Legacy. Se a gente conseguir fazer uma indumentária em neon… acho que super casa com a gente. Temos muita referência dessa coisa meio de fantasia, essa coisa extravagante da ficção científica.
Bruno: Já existem megacidades e metrópoles futuristas no mundo. Você pode observar isso em alguns países asiáticos. O próprio Rio de Janeiro e São Paulo já têm algumas construções nessa vertente. Prédios gigantescos com trabalhos de luz neon, esquinas iluminadas… Já temos a oportunidade de ver isso acontecendo.
Karlos: Painéis de LED…
Bruno: Exatamente. Estamos vivendo o cyberpunk. É como viver na prática o que foi retratado na ficção científica, nos filmes sobre futurismo, nas ideias dos visionários do passado. A gente pode citar grandes nomes, como Nikola Tesla.
Karlos: É uma mistura de tudo. Mas, pra mim, o mais marcante é a influência dos anos 80: aquela vibe de Blade Runner, Mad Max. Depois, nos anos 90 e 2000, tem Matrix. E minha ideia é criar uma variante do Tron que seja bem legal.
Bruno: São as vertentes da distopia, né? Matrix falou, no passado, sobre o nosso presente e futuro. Estamos vivendo isso: as altas tecnologias na web, o advento da internet… Enfim, dá pra perceber isso até nas produções musicais do mundo. A tecnologia está em todo lugar. Nós mesmos, no Quântico Romance, usamos o sistema de home computer music.
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Como foi a produção da nova música, aliás?
Karlos: Reprise era uma música que estava na gaveta. A gente trabalhou nela lá por 2005, 2006. Fizemos os rascunhos na época, mas era com outra banda. Depois, tudo terminou. Eu segui outros caminhos, fui fazer faculdade, deixei a música de lado por um tempo. Quando voltei, compus músicas novas com meus amigos e comecei a revisitar materiais antigos que estavam guardados, procurando algo interessante dentro do synth pop e do pós-punk que valesse a pena retrabalhar. Reprise estava lá, esperando o momento certo para ser desenvolvida.
O que eu precisei fazer de 2006 até agora foi dar uma revisão na letra dela. Também comecei a trabalhar no arranjo, analisando os efeitos, vendo se as guitarras estavam interessantes. Fui adicionando novos elementos, colocando outros efeitos, fazendo novas mixagens… Essa música teve uma jornada de criação até bem longa. Se a gente parar pra pensar, de 2005 ou 2006 até 2024, são quase 20 anos.
Mas acho que isso é algo típico de músicos. Às vezes, você cria algo hoje e só desperta para aquilo depois de um tempo. De repente, começa a achar interessante, começa a considerar válido. Vai muito do momento, da criação. Quando revisei o material, achei que era o momento certo para lançar.
Pra gente, foi interessante lançar esse trabalho agora porque temos acompanhado bastante o cenário alternativo de música. Sabemos que a cena gótica já é algo mais estabelecido, mas percebemos uma cena crescente do synthwave e do retrowave. Por acaso, tive o insight de criar uma música que dialogasse com essa estética. É uma cena que já tem festas recorrentes em alguns lugares do Brasil. Existe um público interessado, mesmo que os artistas ainda não sejam tão conhecidos — eles não são totalmente desconhecidos também. Acho que seria interessante explorar essa estética com apelo aos anos 80. A própria linguagem da música tem essa pegada retrô, e trazer isso pro momento atual da música no Brasil foi uma ideia que casou muito bem. E aí foi legal desenvolver essa concepção.
E teve um lançamento do clipe num cinema para convidados, também, não foi?
Karlos: Sim! A gente queria evocar aquele clima de cinema dos anos 1980. Então, tomei a dianteira da produção, contratei o Cine Joia, fiz os contatos, e acabamos montando uma história com a estética de um thriller dos anos 80. Chamei alguns amigos para interpretar os personagens. É cheio de clichês, mas o diretor abraçou a ideia completamente. Tivemos duas locações principais: uma no cinema, onde a banda aparece assistindo ao filme – com aquela metalinguagem, já que eles também protagonizam o mesmo filme. A outra locação foi no Estúdio Casa de Alice, no Méier. É uma casa de verdade, com dois andares, quarto, cama, jardim… Tem um monte de coisas legais lá. Usamos esse espaço para gravar o restante da história, especialmente as cenas de perseguição.
Tudo isso pode ser visto no curta que acompanha a primeira música e no clipe da segunda música. Foi uma produção cara, especialmente para uma banda underground como a nossa. Não estamos acostumados a fazer algo nessa escala, então tivemos que juntar uma boa quantia de dinheiro pra viabilizar tudo: locação, maquiagem, figurino, maquiagem especial para todos, e, claro, os próprios custos das gravações.
Foi muito caro?
Karlos: Em termos de valor, diria que gastamos algo em torno de dez mil reais, por alto. Não faço ideia de como as bandas amigas da cena — seja do Rio, de São Paulo ou de outros lugares — financiam seus vídeos ou quanto gastam. Às vezes, elas fazem um financiamento coletivo.
No nosso caso, usamos apenas os nossos próprios recursos. Foi caro porque não estamos acostumados a arcar com esse tipo de custo. Mas conseguimos entrar em acordos com todo mundo e parcelar as coisas. Fizemos tudo devagar, tanto que o processo foi esticado: gravamos em maio, junho e setembro. É um custo de investimento que acho interessante para as bandas que conseguem bancar. Se não puderem, tudo bem também. O pensamento tem que ser: “A gente faz o melhor com o que tem.” Se puder fazer algo maior, ótimo; se não, faz o melhor possível com os recursos disponíveis.
Fale mais de como foi a produção do clipe, de quanto demorou…
Karlos: Essa produção levou o ano inteiro, porque gravamos por etapas. A primeira gravação foi marcada para maio, a segunda foi… Se não me engano, foi em agosto. E a terceira etapa conseguimos fazer entre agosto e setembro. Fizemos uma gravação em um estúdio fechado no bairro do Méier, além de já termos gravado algo no Cine Joia. Conversando com o diretor, tivemos essa ideia juntos.
A proposta era fazer um clipe, mas achamos interessante contar uma história que tivesse cara de um curta-metragem. Como precisávamos de mais material, pegamos as músicas Redenção e Reprise e conectamos as duas. Assim, contamos uma história que começa com uma música e vai até a outra.
Aproveitando o insight de gravar no cinema, conversamos com o Bruno, do Cine Joia, e desenvolvemos o conceito. A ideia era criar uma sessão de cinema especial: exibimos o curta e depois mostramos os clipes separados. O sentimento foi de inovação, algo inédito. Até agora, não vi nenhuma banda fazendo uma iniciativa assim. Quisemos trazer algo diferente, algo novo, e isso nos motivou bastante. E como tudo foi feito no Cine Joia, pedimos uma data para realizar uma exibição lá. O resultado foi um evento especial para amigos e fãs, algo que ficou muito marcante para todos.
Como vocês, que são dedicados ao pós-punk, a sons eletrônicos e a uma estética mais melancólica, viram o sucesso do disco novo do The Cure?
Karlos: Eu parei para escutar esse disco uma vez, mas não consegui me aprofundar muito. A gente até se dedica a fazer isso de vez em quando, ouvir discos com mais atenção para ter uma experiência completa. Sobre o sucesso do The Cure, eu diria que já era esperado. É uma banda consagrada, com milhões de fãs ao redor do mundo, e que atrai muita curiosidade, inclusive de pessoas que não fazem parte do fandom deles.
O The Cure tem esse poder de atrair um público novo, uma juventude que começa a descobrir a história da banda, se encanta e acaba absorvendo tudo isso. Acho que o sucesso desse disco é positivo, porque, pelo que escutei, ele não tenta ser comercial. O Robert Smith conseguiu colocar o coração dele nas composições e escrever o que de fato queria.
Isso é algo interessante de se discutir. A música dita “mainstream”, toda vez que eu escuto, parece um pouco plastificada, muito igual. Hoje em dia, temos fórmulas, algoritmos, até inteligência artificial sendo usados para criar música. Isso faz com que a música deixe de ser algo inventivo, inovador, por conta das demandas do público.
A humanidade está muito acelerada e estressada; é uma crise do nosso tempo, e a música acaba refletindo isso. Vi alguém comentando na internet que hoje as músicas têm dois minutos e já entram direto no refrão, sem muita introdução. Antigamente, as músicas tinham introduções mais longas, os versos vinham depois… Hoje, dependendo da audiência, as pessoas nem conseguem esperar 30 ou 40 segundos de introdução.
Isso abre um belo leque de discussões sobre o estado atual da música. Mas, em relação ao The Cure, acho que eles estão perfeitos. Espero que, antes de encerrarem a carreira, ainda deem um pulo por aqui para a gente curtir um pouco mais do trabalho deles.
Tem um álbum inteiro de vocês que já está sendo prometido há algum tempo. Quando sai? O que já tem planejado para 2025?
Karlos: O álbum está 90% pronto. Eu queria que ele tivesse saído este ano, mas como a produção do audiovisual acabou se estendendo um pouco, não consegui agendar o lançamento para novembro ou dezembro. Então, vou precisar sentar com o Diego, do selo Paranoia Musique, e com o pessoal da banda para decidir o melhor momento para lançar em 2025. Ele tem algumas canções inéditas, mas a maioria são novas versões de músicas que já foram lançadas como singles. Acho que essas versões novas são ainda mais interessantes que as originais, então a experiência vai ser muito legal. Minha meta é lançar o álbum pelo menos no primeiro semestre de 2025.
Acredito que nosso público entende essa demora. Pra gente, é um pouco mais difícil manter uma frequência nas produções. Não é como acontece com muitas bandas; nós precisamos trabalhar, juntar recursos e capitalizar, o que nem sempre é algo disponível de imediato. Por isso, às vezes, acabamos adiando as coisas um pouco.
Falem um pouco da ligação do Quântico Romance com o selo Paranoia Musique, que é um caso raríssimo: um selo carioca dedicado a sons góticos, e que ajuda a fomentar uma cena bem legal de darkwave, pós-punk, e sons afins.
Karlos: A relação com o selo é a melhor possível. O criador e presidente do selo é o Diego Oliveira, o Diego Mode. Ele é meu parceiro na Cubus, aliás, foi ele quem idealizou a Cubus, enquanto eu sou o idealizador da Quântico Romance. Quando a gente se conheceu… foi interessante. Nos encontramos em 2003, 2004, em um momento em que ambos começávamos a fazer música por software, principalmente música eletrônica. Desde então, temos feito muitas coisas juntos: shows, festas, eventos.
O Diego tem essa visão de precisar criar algo no sentido de fomentar a cena e unir os artistas. Ele tem essa função e cumpre bem esse objetivo, fazendo a ponte entre os artistas, eventos, casas, produtores e mídias. Ele vai investindo e colocando em evidência as bandas do selo. O foco está em música eletrônica e alternativas, e eu acho que estamos na casa certa, com as pessoas certas.
Além da amizade, que já é longa, temos muito carinho e respeito um pelo outro. As coisas boas que fizemos até agora com o selo são uma conquista coletiva para todo mundo, e tenho certeza de que continuaremos fazendo ainda mais coisas legais no futuro.
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