Cultura Pop
Dez histórias sobre “Total eclipse of the heart”, de Bonnie Tyler

Quem já chorou de deslizar pelas paredes e se estatelar no chão ouvindo os quase sete minutos de Total eclipse of the heart, de Bonnie Tyler, com certeza se sentiu motivado a dar mais uma choradinha nos últimos dias. Afinal de contas, por causa do eclipse solar desta segunda (21), a canção “voltou” a fazer sucesso – é o que diz a Billboard. O hit romântico-desesperado de Bonnie, lançado em 1983, tornou-se a música mais baixada do iTunes nos Estados Unidos, nesta segunda, deixando para trás Despacito de Luis Fonsi. Na semana passada, quando foi divulgado que Tyler cantaria a música num cruzeiro, já houve um aumento de 500% no número de downloads da faixa no iTunes.
Tudo pela audiência: Bonnie ainda promoveu a música e o show no cruzeiro na CNN, soltando a voz e se descabelando com a canção.
Bonnie Tyler just sang “Total Eclipse of the Heart” on CNN from a cruise ship https://t.co/JwV2ZUOJYZ #SolarEclipse2017 pic.twitter.com/s1Z1jlGryn
— CNN (@CNN) August 21, 2017
Mas o que interessa é que:
UM SÓ HIT? O CACETE. Você acha que Bonnie é uma one hit wonder por causa de Total eclipse? Pois bem: até ela gravar essa música, os críticos costumavam dizer que ela era cantora de um sucesso só por causa de outra música que com certeza você esqueceu: o country-rock de pista It’s a heartache, de 1978. Antes disso, ela teve outros sucessos, como More than a lover (1977), mas com Heartache ela conseguiu o quarto lugar na parada britânica e penetrou nos EUA.
DIFÍCIL É O NOME Bonnie nasceu no País de Gales em 8 de junho de 1951 – fez 66 há poucos meses. Se você voltasse no tempo, arrumasse um emprego de professor na escola dela e na hora da chamada, gritasse “Bonnie Tyler!” não iria escutar “presente!” O nome verdadeiro dela é Gaynor Hopkins. Era o nome artístico que ela usava até assinar com a RCA e recomendarem-lhe que arranjasse outro nome.
NÃO ERA MUITO LEGAL. Bonnie era um nome conhecido do universo pop em 1983, mas sua carreira andava tendo, er, alguns problemas. Pouco antes de Total eclipse, seu contrato com a RCA havia finalizado sem renovação. O disco de Total eclipse, Faster than the speed of night, saiu pelo seu novo contrato com a Columbia. A música-título, que você confere aí embaixo, é grandinha também.
PESO PESADO A chance de gravar Total eclipse surgiu quando ela viu uma apresentação do roqueiro Meat Loaf no programa The Old Grey Whistle Test e decidiu ir conversar com o produtor dele, Jim Steinman, para ver se chegavam a algum lugar. Bonnie disse numa entrevista recente que quando ouviu a música, feita por Steinman, “não podia acreditar que era para mim”. Na verdade, não era: Jim chegou a oferecê-la para Meat Loaf gravá-la em seu disco Midnight at the lost and found (1983), mas ele declinou. Sobrou para Bonnie.
STEINMAN. Jim tinha sido responsável por discos como Dead ringer, de Meat Loaf (1981), e costuma ser citado erradamente como o produtor de seu clássico Bat out of hell, de 1977 – quem produziu na verdade foi Todd Rundgren, mas o disco é praticamente um trabalho de Steinman, que compôs tudo. O produtor teve também sucesso como artista solo, com o disco Bad for good, de 1981. Definiu seu trabalho num papo com a Rolling Stone como “trovejante, épico, wagneriano”.
LADO ESCURO DO AMOR. Steinman, segundo ele próprio na Rolling Stone, realmente fez Total eclipse of the heart durante um eclipse. Ela é mais uma das canções compostas por ele a enfocar um lado nada alegrinho do “amar e ser amado”. “Muitas canções são sobre aquele lado lírico do amor, o lado agradável. Eu sempre curti escrever sobre o outro lado, o mais escuro. E um eclipse é a melhor imagem para descrever alguém totalmente descacetado pelo amor, porque é mesmo como um eclipse. Não há luz ali”.
VAMPIROS. Tem um lado mais assustador em Total eclipse, que vem do fato de Steinman, na época em que fez a música, estar ocupadíssimo com as letras de uma nova versão do musical Nosferatu. Quando começou a trabalhar na canção, pensava em fazer algo sobre vampiros. E ele diz que o hit gravado por Bonnie tem muito disso. “Se alguém ouvir a letra com atenção, vai perceber que é realmente algo vampiresco. É tudo sobre a escuridão, o poder da escuridão e o lugar do amor no escuro”.
“TURN AROUND, BRIGHT EYES”. Contratado para fazer os backing vocals no hit de Bonnie, o cantor canadense Rody Dodd acabou invadindo as rádios FM de todo o mundo na época por ser a voz que cantava essas duas expressões na música. Rory é cantor de estúdio, costumava participar das gravações comandadas por Steinman e está em Bat out of hell também. Ultimamente vem participando de comerciais e tem um canal no YouTube no qual põe demos e antigas gravações.
RENDEU. Mais uma prova de que Bonnie não é cantora de um só hit: Faster than the speed of night, de suas nove músicas, rendeu mais sete (!) singles. Dá para esbarrar com alguns deles no rádio até hoje, como as versões dela para Have you ever seen the rain, do Creedence Clearwater Revival, e Straight from the heart, de um então iniciante Bryan Adams. Disco novo dela, só três anos depois, Secret dreams and forbidden fire. O mais recente saiu em 2013, Rocks and country.
ELA AINDA DUVIDOU. Bonnie não achava que Total eclipse fosse fazer sucesso, por causa de sua longa duração. E vale dizer: quando rolou o tal cruzeiro do eclipse (já tem vídeo e foto, veja aí embaixo), Tyler, digamos, teve que encarar uma questão ligada às leis da Terra. “O eclipse dura dois minutos e quarenta, não é do tamanho da minha música. Ela teve que ser cortada para caber”.
Bonnie Tyler performs 'Total Eclipse of the Heart' live with @DNCE! We'll be playing this song on repeat all week long ??? #EclipseonRoyal pic.twitter.com/9zSpuPyCMT
— Cruise Critic (@CruiseCritic) August 21, 2017
https://www.instagram.com/p/BYEN33tnxO1/
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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