Cultura Pop
15 fatos sobre “Destroyer”, clássico do Kiss
Antes de mais nada, pare tudo o que você está fazendo e escute o clássico “Destroyer”, do Kiss, que completa 41 anos hoje.
Agora pode prosseguir: lançado numa época de “ou vai ou racha” para a banda, “Destroyer” acabou ajudando a sedimentar o Kiss como um dos maiores grupos de rock do mundo. Até hoje é um dos melhores álbuns do quarteto mascarado, e suas músicas ocupam um bom tempo dos shows do Kiss – entre elas “Shout it out loud”, “Detroit rock city”, “Great expectations”. Nada disso teria sido possível sem que um sujeito chamado Bob Ezrin entrasse no estúdio, cuidasse das gravações, fizesse arranjos e metesse a mão de ferro no trabalho. Saiba um pouco sobre a quantas andava o Kiss na época desse clássico acompanhando os itens abaixo.
1) “Destroyer” saiu um ano após o primeiro super-hiper-ultra-uber sucesso do Kiss que foi o disco duplo “Alive!”, primeiro álbum da banda a conseguir disco de ouro. Ainda assim, a gravadora da banda, Casablanca Records – que por aqueles tempos começava a funcionar como uma fábrica de sucessos da disco music – andava insegura a respeito da banda, tanto que “Destroyer” foi o lance inicial de um contrato de apenas dois discos.
2) Os ensaios para a gravação de “Destroyer” começaram em agosto de 1975 e a primeira demo que a banda gravou para o álbum foi rejeitada por eles mesmos: era “Ain’t none of your business”, feita pelos compositores de country Becky Hobbs e Lew Anderson e sugerida pela gravadora. A sessão tinha o baterista Peter Criss no vocal. A música ficou de fora, mas seria gravada em 1977 no primeiro disco da banda de hard rock Detective.
https://www.youtube.com/watch?v=CvvhjQ2ZzTU
3) O produtor do disco foi Bob Ezrin, o cara que deu uma virada na carreira de Alice Cooper, em discos como “Love it to death” (1971) e “Billion dollar babies” (1973), e depois produziria “The wall”, do Pink Floyd (1979). Bob ficou um tanto chocado com a falta de técnica do Kiss e providenciou até lições de teoria musical para os quatro.
4) Bob também deu muito esporro na banda. Quando viu o linguarudo Gene Simmons largar o baixo durante a gravação do fim de uma música, deu um berro: “Não pare de tocar a não ser que eu ordene!”. Em sua autobiografia “Uma vida sem máscaras”, Paul Stanley detalhou o quanto padeceu: “Ele tinha o objetivo de mostrar quem mandava ali. Tratava a gente como se aquilo fosse um acampamento. E nos disse que não sabíamos nada, o que era verdade”.
5) Neil Bogart, chefão da Casablanca Records, tinha sido executivo da Buddah Records, selo que trabalhava bastante com a onda bubblegum (bandas como 1910 Fruitgum Company vieram de lá) e era do tipo de homem de gravadora que farejava sucesso de longe. Quando montou a empresa em 1973, o Kiss foi sua primeira contratação – e artistas da disco music, como Village People e Donna Summer, vieram em seguida para ampliar ainda mais o caixa da firma. Bogart morreu em 1982, quando estava longe da disco music, afastado da Casablanca e trabalhava com new wave na sua recém-criada gravadora Boardwalk Records (e apesar da homenagem ao clássico da tela “Casablanca”, Neil não era parente do protagonista Humphrey Bogart – se chamava Neil Scott Bogatz).
6) O dia a dia na Casablanca durante o sucesso do selo incluía muita cheiração, já que uma secretária anotava os pedidos de pó da equipe, consultava o dealer preferido do patrão e depois saía distribuindo a pacoteira. Se você achou tudo muito parecido com alguma cena que você já viu, a American Century Records da série “Vinyl”, da HBO, foi inspiradíssima na Casablanca.
7) O prédio da empresa era decorado com objetos que faziam referência justamente ao filme “Casablanca” – camelos empalhados, pôsteres de Humphrey Bogart, etc. O clima nos corredores e salas era de tanta doideira que certa vez um executivo, enquanto falava ao telefone, teve sua sala invadida por um sujeito que começou a destruir tudo que via pela frente com um taco de golfe e, não satisfeito com o estrago, pôs fogo numa pilha de papeis. “Fui reclamar com a secretária, mas ela estava fazendo carreiras de pó com um cartão de crédito e cheirando em cima da escrivaninha”, disse o executivo ao livro “Hit men”, de Fredric Dannen, sobre a ligação da indústria musical com a máfia (e esse trecho foi transcrito pelo jornalista André Barcinski no livro “Pavões misteriosos – 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil”).
8) O Kiss chamou o desenhista Ken Kelly, especializado em quadrinhos de terror, para fazer a capa, por sugestão de Gene Simmons. O artista, que nem conhecia o Kiss e era fã de Elton John e Bob Seger, foi a um show da banda e já saiu de lá com ideias. O desenho original, que você vê abaixo, foi rejeitado pela gravadora, que achou que a cena ficava um tanto violenta com chamas e prédios destruídos. Kelly jogou a destruição para a contracapa e pôs a banda pisando em ruínas.
9) Ken também fez a capa de “Love gun”, disco de 1977 do Kiss. E desenhou baixos e guitarras para Gene Simmons.
10) Ace Frehley, que recentemente disse apostar 50% num retorno ao Kiss, era o guitarrista da banda em “Destroyer” e, diz Simmons, andava pouco atento às questões do grupo naquela época e mais voltado aos excessos do rock. Ainda assim, ficaria até 1982. Em “Destroyer”, dividiu as guitarras com o músico de estúdio Dick Wagner, mas apresentou uma grande música, “Flaming youth”.
11) “Beth”, uma baladinha que representa para o Kiss o que “I never cry” representa para Alice Cooper, está no disco e foi o single mais vendido da banda nos Estados Unidos. E ainda puxou as vendagens do LP, após três singles malsucedidos. Foi composta pelo baterista Peter Criss ao lado do guitarrista Stan Penridge, quando os dois estavam na banda Chelsea, anos antes. Na época em que foi composta, ela se chamava “Beck”, numa referência à mulher do guitarrista Mike Brand. Olha a demo dela aí.
12) O Kiss e Bob Ezrin colocaram a música no disco, mas ninguém acreditava no potencial dela – fontes afirmam que o grupo achava a música um lixo, mas não tinham composto nada melhor para completar o LP e ela tapou o buraco. Só que ela acabou virando lado B do single “Detroit rock city”, foi descoberta por uma diretora de rádio do Canadá chamada Rosalie Trombley e virou hit a ponto de a banda reeditar o single invertendo os lados. Olha aí a banda recebendo o prêmio de canção de 1976 no People’s Choice Awards da emissora CBS.
13) A crítica musical da época destruiu “Destroyer” (duh). A Rolling Stone criticou as baladas (“inchadas”), a bateria de Criss e a orquestração de Ezrin (tida como brega). O Kiss já estava acostumado com esse tratamento caloroso dos jornalistas, diga-se de passagem.
14) David e Josh Ezrin, filhos do produtor, fazem vozes infantis em “God of thunder”. Teoricamente, foram eles os autores dos gritos de “mamãe!” em “The kids”, música de “Berlin”, disco de 1973 de Lou Reed, produzido por Ezrin.
https://www.youtube.com/watch?v=YY_i-R2ldyA
15) E o Manowar deu uma bela chupada na arte de “Destroyer” na capa de um disco lançado há trinta anos, “Fighting the world”. Aliás, na verdade, rolou uma autochupada, já que essa arte foi feita pelo próprio Ken Kelly. Olha aí.
Crítica
Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”
Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.
Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.
Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.
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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.
No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.
Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).
Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.
Cultura Pop
No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970
No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!
Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.
Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).
Crítica
Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)
Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.
O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).
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- Resenhamos Songs of a lost world aqui.
O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.
And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.
Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor
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