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Crítica

Ouvimos: Brian Eno e Beatie Wolfe – “Lateral” / “Luminal”

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Brian Eno e Beatie Wolfe, colaboradores em Feeling of the day, um projeto da rádio californiana KCRW, lançam dois discos complementares: o ambient Lateral e o vocal/pop Luminal.

RESENHAS: Brian Eno e Beatie Wolfe, colaboradores em Feeling of the day, um projeto da rádio californiana KCRW, lançam dois discos complementares: o ambient Lateral e o vocal/pop Luminal.

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Colaboradores em Feeling of the day, um projeto da rádio californiana KCRW que explora sentimentos para os quais não há uma palavra direta em idioma inglês, Brian Eno e Beatie Wolfe levam o universo de seus spots radiofônicos para dois novos discos, lançados ao mesmo tempo – e complementares.

Lateral é a parte ambient do pacote, um álbum de 64 minutos tomado por um tema em oito partes, Big empty country. Pode passar como disco de meditação para muita gente, mas a ideia é evocar emoções (o que, ora bolas, pode ajudar na meditação) e trazer imagens à tona. Big empty country é uma composição econômica, com um piano e um synth simples, que de início lembra um sol nascendo, ou uma paisagem deserta e solar. Lá pelas tantas, surgem ruídos da mata, o som anoitece e adormece.

O resultado tem sido comparado aos discos menos acessíveis da discografia de Brian, ou ao período em que ele tocou adiante uma gravadora de música experimental. E aí que tanto ele quanto Beatie têm experiência em traduzir o que parece intraduzível – desde palavras sem correspondência em seu idioma natal, até sensações, climas e propostas sonoras que desafiam qualquer pitching de elevador. Tanto que Lateral soa palatável e quase new age (aquela mesma denominação dos anos 1980).

  • Ouvimos: Hotline TNT – Raspberry moon
  • Ouvimos: Steve Queralt – Swallow
  • Ouvimos: Stereolab – Instant holograms on metal film

Por acaso soa até mais compreensível que Luminal, um disco de canções, com letras, vocais (feitos por Beatie) e que em vários momentos parece uma contrapartida infantil dos discos mais pop-rock que Brian fez nos anos 1970. Milky sleep é como o Pink Floyd tocando dream pop, Hopelessly at ease é uma balada anos 1950 texturizada e eletronizada, My lovely days é indie folk. A curiosa Shhh é uma baladinha que soa como se os Everly Brothers fossem soltar a voz a qualquer momento – mas é um dream pop cheio de ecos e espaços.

Muita coisa em Luminal faz vir à mente aquela velha anedota sobre os Beach Boys serem os criadores do shoegaze (até no Pop Fantasma já falamos disso). É aí que surgem os melhores momentos do disco, como no som das matas e mares noturnos de A ceiling and a lifeboat, os sons flutuantes de Never was it now e o folk britânico dos anos 1960/1970 de What we are. No fim, entre acertos e exageros, a sensação é de que alguma coisa foi despertada.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8 (Lateral) e 7,5 (Luminal)
Gravadora: Verve
Lançamento: 6 de junho de 2025

Crítica

Ouvimos: Ninajirachi – “I love my computer”

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Ninajirachi estreia com I love my computer, disco de EDM irônica e frenética, que mistura amor digital, ironia pop e batidas hipnóticas.

RESENHA: Ninajirachi estreia com I love my computer, disco de EDM irônica e frenética, que mistura amor digital, ironia pop e batidas hipnóticas.

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Tinha um forró safado da saudosa Marinês, Gosto de tudo grande, em que ela mandava bala no duplo sentido: “Eu sou pequenininha / mas gosto de tudo grande (…) / minha mãe escolheu para me criar / me levou pra uma cidade / com o nome Campina Grande”. Enquanto isso, a produtora australiana Ninajirachi não escolheu batizar seu debute de I love my computer à toa. O som dela não tem nada a ver com forró, claro (é um revival da EDM do começo do século 21), mas a cara de pau é a mesma, já que o disco tem uma dance music frenética chamada Fuck my computer (“quero foder meu computador / porque ninguém no mundo me conhece melhor”).

Vá lá que Ninajirachi, além de se dedicar a batidas hipnotizantes, faz questão de se colocar do lado mais irônico do alambrado, zoando situações e coisas com poucas frases. Fuck my computer você pode entender como um comentário sobre o vício em telas, ou pode jogar tudo pro alto e dançar. A pulada Battery death basicamente prega que “nós levamos isso longe demais e não conseguimos parar / como chegamos tão longe de onde começamos?” (isso o quê? “onde” aonde? – entenda como quiser). Namoros, sexo, encontros e desencontros digitais surgem em Delete, aberta com teclados e voz e prosseguindo em tom quase celestial.

  • Ouvimos: The Armed – The future is here and everything needs to be destroyed
  • Ouvimos: Yeule – Evangelic girl is a gun

CSIRAC, soando como um videogame, é história pura: Nina Wilson (nome verdadeiro de Ninajirachi) homenageia o primeiro computador digital da Austrália (o CSRICAC do título), que também foi o primeiro a tocar música digital. A robótica Infohazard tem teclados que levam o ouvinte para outro ambiente, enquanto ela narra a vez em que, quando era só uma criança mexendo no computador, deparou com um filme snuff e acabou assistindo. Criando um disco que tem vários lados e funções – quase como as máquinas que os inspiraram – e declarando paixão pelo universo digital, ela manda bala no acid bass em London song, impõe uma energia mais pop e palatável a All I am, e faz puramente música eletrônica para ouvir em casa e dançar sentado na poltrona em Sing good. Boa surpresa.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: NLV Records
Lançamento: 8 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Katie Gregson-MacLeod – “Love me too well, I’ll retire early” (EP)

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Katie Gregson-MacLeod lança EP independente de folk-rock sensível, misturando chamber pop, indie e ecos de Pretenders, Beatles e Joni Mitchell.

RESENHA: Katie Gregson-MacLeod lança EP independente de folk-rock sensível, misturando chamber pop, indie e ecos de Pretenders, Beatles e Joni Mitchell.

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A cantora e compositora escocesa Katie Gregson-MacLeod andou tendo o melhor e o pior do showbusiness nos últimos anos. A saber: sucesso no Tik Tok, projeção em seu país e fora dele, dois álbuns lançados pela Sony Music e… fim de contrato com a gravadora. De volta ao mercado com o EP independente Love me too well, I’ll retire early (“me ame logo, vou me aposentar cedo”), ela parece interessada em investir no folk-rock sensível com pegada de storyteller – como na faixa-título, quase uma cantiga sobre amarrar um bode de incertezas e síndrome de impostora, enquanto a turnê rola e a gravadora investe grana (“não quero estar por perto quando a ficha cair/ quanto mais você me dá, menos eu sou digna”).

Prosseguindo, James une bateria, voz, violões e violino em vibe tranquila e indie, enquanto Katie canta sobre amores inseguros. Chess é quase um chamber pop fora-da-lei, contando uma história sobre perseguição e diversões perigosas. E o lado mais eminentemente roqueiro do EP surge nas duas últimas faixas. I just think of it all the time é folk com vibe de Pretenders e Eurythmics, enquanto Mosh pit é folk-glam com emanações tanto de Beatles quanto de Joni Mitchell – e letra narrando um amor surgido na rodinha punk. É algo que nem parece combinar com o folk introvertido, mas que aqui traz outros lados para a poesia de Katie.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Last Recordings On Earth
Lançamento: 4 de julho de 2025.

  • Ouvimos: Pobre Orfeu – Galeria das recordações
  • Ouvimos: Nectar Woode – It’s like I never left

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Crítica

Ouvimos: Emma Harner – “Taking my side” (EP)

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O EP Taking my side mostra Emma Harner buscando fugir de truques fáceis e criando um folk indie misterioso e delicado.

RESENHA: O EP Taking my side mostra Emma Harner buscando fugir de truques fáceis e criando um folk indie misterioso e delicado.

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Trocadilho bem idiota, mas vá lá: você pode até não ver nenhuma grande novidade no EP de Emma Harner, Taking my side, mas dá perfeitamente para ficar do lado dela (ai) quando o assunto é música. Taking my side mostra Emma se recusando a embarcar em truques fáceis de produção, e preferindo o esquema de compor, tocar e criar algo que dê conforto ao ouvinte – algo óbvio, mas que hoje em dia nem sempre é feito.

Essa fórmula que parece que vai desandar na abertura, com o folk docinho False alarm – música com dissonâncias dosadas e algum clima de mistério, embora seja no fundo tudo bem derivativo. Do it vem depois lembrando um rock traduzido pro idioma folk, com certo clima fantasmagórico. Yes man já abre a porteira do EP para coisas num formato mais indie – um folk com vibe grunge e ritmo que confunde os ouvidos. Aí é que o lance parece estar um pouco mais controlado.

Taking my side termina com duas músicas que parecem ter sido feitas para serem escutadas à noite: a arpejada Lifetimes é um folk misterioso com violino, no qual dá para perceber a beleza da voz de Emma. Again é um folk lento, com velocidade sendo construída aos poucos. Tem muita gente fazendo folk tristinho, ensimesmado e trevoso hoje em dia, mas Emma parece estar em busca de algo mais.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: 11 de julho de 2025
Lançamento: Independente.

  • Ouvimos: Grandmas House – Anything for you (EP)
  • Ouvimos: Cass McCombs – Interior live oak

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