Cinema
2020 foi isso aí

2020 foi uma merda. É uma verdade inescapável: o ano começou com uma crise, prosseguiu com pandemia e isolamento, foi marcado por negacionistas saindo do esgoto e, durante todo o processo, contou com o mais completo descaso do governo com relação a assuntos delicados como a saúde pública.
Aqui no Brasil, não se sabe exatamente por onde 2021 vai começar com relação à vacina contra a covid-19, o que já dá a medida do que vai rolar em outros setores. Para uma turma enorme (da qual o POP FANTASMA faz parte), a impressão menos complexa que 2020 deixou é que nunca se precisou tanto de música, e de tudo o que girasse em torno dela: cinema, livros, sites e tudo o que você puder mais imaginar. Nunca fez tanto sentido que houvesse listas com os 200, 300 melhores discos lançados no ano, porque o “muita coisa pra ouvir” fez parte da realidade de muita gente.
Eu (Ricardo Schott, editor deste site) decidi não fazer uma lista formal de melhores do ano e resolvi fazer no POP FANTASMA um texto com alguns destaques de 2020. São coisas que merecem sua atenção, que você ainda pode ouvir/ler/ver/colocar na agenda em poucos dias após a virada de ano, e que fizeram com que um ano tão conturbado e triste tivesse pelo menos uma mínima (MUITO mínima) porcentagem de saldo positivo. Só acompanhar aí embaixo.
E enfim, feliz 2021 para todos nós. Que todo mundo consiga ficar vivo e ser feliz apesar das babaquices, conservadorismos e imbecilidades de uns e outros.
DISCO INTERNACIONAL. Ex-integrante do grupo indie Dirty Projectors, a cantora, compositora e musicista Deradoorian (Angel Deradoorian, seu nome completo) teve seu segundo disco, Find the sun, adiado de março para maio. O álbum viveu todas as etapas de 2020: teve seu repertório composto no verão, saiu após a pandemia e teve datas de turnês adiadas por causa do isolamento. Ao ser lançado, revelou um repertório que poderia fazer parte de discos de rock alemão dos anos 1970, como no blues punk Red den ou na experimental e quilométrica (marcada por flautinhas) The illuminator.
DISCO NACIONAL. Ex-integrante de uma das formações mais perturbadoras da história do rock nacional (o Black Future, que lançou só um disco em 1988), o artista plástico e músico Tantão retomou a carreira discográfica em 2017 no disco Espectro, acompanhado pela banda Os Fita. Piorou, terceiro álbum de Tantão e Os Fita, saiu em 2020 ultrapassando as bases ruidosas do Black Future. Só que em vez da celebração de Eu sou o Rio, quase-hit do grupo oitentista, entra em cena a realidade da era Bolsonaro, com “Vai piorar/a qualquer hora/piora” (Piorou) e “escolha logo/sua rota de fuga” (Rota de fuga).
MÚSICA INTERNACIONAL. Uma noitada daquelas e uma amizade (e uma afinidade musical) renderam uma das canções do ano. I love Louis Cole, canção do quarto disco do músico americano Thundercat, It is what it is, é uma homenagem ao amigo Louis Cole, produtor de música eletrônica e integrante da dupla Knower. “Louis Cole é, eu acho, um dos maiores músicos de Los Angeles. E dizer que ele é perfeccionista… Não é bem isso. Ele está 100% no controle do que está fazendo”, contou.
MÚSICA NACIONAL. Deu até no POP FANTASMA APRESENTA. A banda mineira Black Pantera soltou o EP Capítulo negro no Dia da Consciência Negra e aproveitou para transformar um clássico aguerrido e antirracista do repertório de Jorge Aragão, Identidade, em hardcore-metal. “Eu tocava samba quando era mais novo e gostava muito dessa música. Sempre achei essa música muito forte, com uma mensagem forte. Nunca imaginei tocá-la com uma banda de rock”, contou o baterista Rodrigo Pancho.
MPB CLÁSSICA. Nem todo mundo comentou ou lembrou em listas de melhores do ano, mas tivemos disco novo de Martinho da Vila nesse ano. Rio: só vendo a vista já valeria pela capa, a última feita pelo desenhista ítalo-brasileiro Lan, morto em novembro. O repertório, primoroso, ganha outro significado nos tempos bizarros de hoje, com músicas como Umbanda nossa, Na ginga do amor (na qual descreve o jeito de sambar de vários nomões antigos do estilo), Menina de rua (na qual Martinho dialoga com uma menina abandonada, interpretada pela filha Mart’Nália) e O Rio chora, o Rio canta. Além da faixa-título, marcada por discretas guitarras, com letra pregando que “o Rio às vezes é um grande abacaxi”. Martinho da Vila sempre foi nosso melhor repórter da música.
MPB DE 2020. O violão de Kiko Dinucci é definido por Mauricio Pereira (Mulheres Negras) como “um touro amarrado querendo atacar o rock n roll”. Rastilho, seu segundo disco solo, marca o reencontro com o instrumento, esquecido durante o período em que o integrante do Metá Metá ficou envolvido com punk rock. O resultado soa quase heavy metal para os padrões do samba e da música afro-brasileira, em músicas como Olodé e Foi batendo o pé na terra. Ouça de fone. E no fim do ano ainda saiu o single Gurufim, gravado com Juçara Marçal e Ava Rocha.
MAIS DE 2020 (NACIONAL). A banda baiana Vivendo Do Ócio estava quietinha, sem gravar há uns cinco anos. Até que voltou em 2020 com um disco epônimo, rápido (apenas meia hora) e cheio de novidades. Luiz Galvão, dos Novos Baianos, entra para o universo da banda assinando (com o filho Lahiri) a letra de O amor passa no teste. O batuque-rock de Cê pode é uma das melhores do disco e uma excelente abertura.
MAIS DE 2020 (INTERNACIONAL). O grupo londrino The Big Moon, liderado pela cantora, guitarrista, tecladista e flautista (!) Juliette Jackson, já havia aberto shows para os Pixies e tem contrato com a Fiction – o mesmo selo que lançou, nos anos 1970, o Cure. O segundo disco da banda, Walking like we do, saiu em janeiro e ficou meio perdido no meio de vários lançamentos, acontecimentos trágicos e mudanças de rota. É ouvir uma só vez para Barcelona, uma das melhores músicas (e uma das que mais lembram justamente bandas como Pixies e Breeders), não sair da cabeça.
MAIS DE 2020 (POP FANTASMA APRESENTA). Um dos discos/músicas/bandas que apresentamos na seção e que têm mais a ver com o histórico do site é Sonorado apresenta: Novelas, disco solo do produtor e músico Pupillo. O repertório inclui apenas temas de novelas nacionais. mas atenção: são de novelas EXTREMAMENTE clássicas, daqueles discos lançados até 1974 (inicialmente pela Philips e depois pela Som Livre). Luzes… câmera… ação, balanço composto por Chico Anysio e gravado originalmente por Betinho, vai ficar na cabeça de todo mundo que ouvir o disco.
FILME DE 2020. Stardust, cinebiografia de David Bowie dirigida por Gabriel Range, não é considerada um filme oficial. Tomou paulada de vários críticos, de vários fãs do cantor e de muita gente que sequer viu o filme. Foi exibido na Mostra Internacional de São Paulo e ficou “em cartaz online” por alguns dias de outubro e novembro. Johnny Flynn, mesmo não parecendo tanto assim com Bowie, está bem no papel. A reconstituição da fase pré-fama do cantor tem lá seus furos de tempo e espaço, mas está bem contada, e mostra o risco que Bowie correu de acabar sendo recordado como um artista de tiro curto.
LIVRO DE 2020. O sonho da jornalista carioca Kamille Viola de escrever uma biografia de Jorge Ben sempre esbarrou em negativas do cantor. Até que apareceu a oportunidade de escrever sobre um dos melhores discos de Jorge em África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver (Edições Sesc). Leva pela primeira vez para as livrarias histórias da vida e do trabalho de um dos artistas mais geniais da história da música brasileira, com depoimentos do próprio e de seus colaboradores na época.
LIVES DE 2020 (NACIONAL). Não tem jeito: Caetano Veloso conseguiu virar uma espécie de Roberto Carlos dos shows online, com a mesma importância para o universo das lives que o especial do Rei tem para as festas de fim de ano. Criada após alguma insistência e resistência do cantor, a primeira live de Caetano seguiu o roteiro de quase todo projeto do artista, com detalhes para serem consumidos antes (a expectativa), durante (o show, enfim) e depois (as resenhas e a bisonha polêmica do prato e faca, gerada por um texto errado da Rolling Stone Brasil e discutida durante vários dias).
LIVES DE 2020 (INTERNACIONAL). Tida como hipnotizante por muita gente, a participação à distância de Peter Hook & The Light no Salford Music Festival revelou a força que ainda têm as canções do Joy Division e do New Order (Hook, você deve saber, tocou baixo nas duas). Na época em que saiu (julho de 2020), foi recebida como um primor de tecnologia, com cada músico em seu canto. Já Hook deu o toque irônico que a live precisava quando abriu os trabalhos saindo de um banheiro químico do festival.
MÚSICOS E JORNALISTAS NA WEB. Escrito e narrado pelo jornalista Ricardo Alexandre (autor do livro Dias de luta, sobre o rock brasileiro dos anos 1980), o podcast Discoteca Básica inovou abandonando os debates musicais tão comuns ao formato e abraçando, em época de EPs e de “um single por mês”, o conceito do deep listening, de ouvir um disco até o fim e ainda conhecer as histórias por trás dele. É o melhor podcast do ano. O jornalista carioca Affonso Nunes pôs o artista para revelar casos de seus próprios discos no podcast Faixa a Faixa. Já no YouTube, o Sepultura inovou unindo música, entrevistas, causos do rock e informação em sua Sepulquarta. Chris Fuscaldo, jornalista, cantora e autora dos livros Discobiografia Legionária (sobre Legião Urbana) e Discobiografia Mutante (sobre Mutantes) lembrou de histórias de sua vida de fã de artistas, antes e depois do jornalismo, em Diário De Uma Tiete. Sérgio Martins (Bizz, Veja, Época) se transformou de vez em entrevistador de vídeo na Instalive. Já o site Disconversa virou quase uma plataforma de som para colecionadores de vinil, com podcast e canal de vídeos com entrevistas.
A CENA DE 2020 NA TV. O Big Brother Brasil quebrou pela primeira vez seu protocolo e revelou aos participantes uma informação “de fora”, assim que começou a rolar o isolamento por causa da covid-19. O apresentador Tiago Leifert avisou que “surgiu um novo vírus de resfriado, e ele recentemente chegou ao Brasil”. Hoje, parece que foi há duzentos anos.
RELEMBRADO EM 2020. Warren Zevon, cantor e compositor americano morto em 2003, influência básica em bandas como R.E.M. (com quem chegou a trabalhar num projeto chamado Hindu Love Gods) voltou às plataformas em 2020 com dois lançamentos. Alive in Pensylvania 76 recordou um show dele na rádio WMMR, da Filadélfia, em 1976. Fever in my veins lembrou um show dado em Nova Jersey em 1982.
Cinema
Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.
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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.
Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.
Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025
- Ouvimos: The Raveonettes – Sing…
- Ouvimos: Drop Nineteens – 1991
- Ouvimos: Drop Nineteens – Hard light
Cinema
Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.
Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.
O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).
Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.
Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.
*****
Já Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.
A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.
Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.
Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo – caso ainda esteja em cartaz.
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Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
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