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Crítica

Ouvimos: The Mönic, “Cuidado você”

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  • O The Mönic é formado por Ale Labelle (guitarra e vocal), Dani Buarque (guitarra e vocal), Joan Bedin (baixo e vocal) e Thiago Coiote (bateria e vocal). Cuidado você é o segundo álbum da banda e o primeiro a priorizar as letras em português. Rafael Ramos foi o produtor.
  • A banda é criadora do festival Não Tem Banda Com Mina, que prioriza artistas mulheres em sua programação.
  • O The Mönic vê o disco em português como um recomeço. “Embora possa haver uma mudança de público, certamente vamos nos comunicar com mais pessoas cantando na nossa língua”, conta Dani Buarque.

A definição “punk rock dançante” (que surge no release de lançamento desse disco) é boa para explicar o que a banda paulistana The Mönic faz – embora não seja apenas isso. O próprio nome do disco novo da banda, Cuidado você, deixa claro que o principal do quarteto é explorar lados sombrios e situações duvidosas em letras. Como na “matemática básica” dos relacionamentos de Simplifica, na crônica da amizade que caiu de podre em Antes tarde (“eu sei que demorei pra te colocar no teu lugar/sinto muito mas nem tanto”), na lesação de Bateu e nas trevas de Bruxaria.

O som de Cuidado você é mais ligado a introspecções e estados alterados do dia a dia. Por sinal, em termos de rock brasileiro mainstream, o The Mönic é mais ligado a discos como Titanomaquia, dos Titãs, em letras, cuidado com vocais, agilidade dos arranjos e das guitarras. É o que atestam faixas como Bateu, Walk all over me (única música em inglês do disco) e Bruxaria. Muita coisa do disco surge associada ao pós-grunge e ao rock alternativo pós-anos 2000, como em Não dá, Sabotagem (aberta com palhetadas e levada adiante com riffs e solos simples), Antes tarde e Kamikaze.

Gravadora: Deck
Nota: 7,5

Foto: Rui Mendes/Divulgação

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Ouvimos: Clara Lima – “As ruas sabem”

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Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.

RESENHA: Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de julho de 2025

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Rapper vinda de Belo Horizonte, Clara Lima é ótima de frases: “queria que toda essa neurose fosse grana na minha conta”, “meu bairro me ensinou que você não pode abraçar o errado”, “onde tava escrito que você podia sonhar?” “se alguma mãe vai chorar, não vai ser a minha nem fodendo”. O repertório de As ruas sabem, seu sétimo álbum, é pura luta do dia a dia e vivência das ruas. O batidão do disco, por sua vez, surge ligado à onda clássica do boombap, mesmo quando flerta com estilos como r&b e com vibes latinas, ou com batidas mais lentas.

Trilhado no corredor da batalha, As ruas sabem já abre com Bom dia, que traz a gravação de um telefonema de banco (“sou Daniela do banco x / queremos oferecer um acordo de parcelamento da sua dívida”) – seguindo com a batida lenta de Tabuleiro e com o vocal rápido e grave de PHD, faixa sobre procedimentos e cobranças da vida, e sobre maturidade (“nada passa batido, a cobrança vai chegar / adestrei os demônios e aguardo a poeira baixar”). Nível profissional traz lembranças de injustiças e desigualdades da vida, falando da sorte de quem já sai de casa no privilégio.

As ruas sabem vai crescendo no ouvido de modo bem diferente dos vários discos de rap atuais – por acaso, uma característica que Clara divide com outro rapper mineiro, FBC, em seu recente Assaltos & batidas. Letras como a do rap gospel Praticando a fé e ganham um ar de manual do corre, mais até do que de relatório sobre inimigos e vacilões do meio artístico. O mesmo rola nos planos infalíveis de Corda bamba, na visão atualizada da fama em Um brinde aos reais e nos perrengues da pixação de Tinta na mão: “Fuga na viatura / sem medo de altura (…) / letreiro do submundo / doença sem cura / dos gueto oriundo”, emendando com: “foda-se seu discurso barato / foda-se seu bolsonazi”.

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Crítica

Ouvimos: Deekapz – “Deekapz FM”

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Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.

RESENHA: Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.

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Projeto criado pela dupla Paulo Vitor e Matheus Henrique, produtores de música eletrônica, o Deekapz decidiu se transformar numa rádio em seu disco de estreia. Deekapz FM surgiu em nossos ouvidos bem na hora em que se noticia o fim da rede Transamérica. E o rádio, como memória afetiva do lançamento de músicas, e da descoberta de sons novos, recebe um baita golpe.

Paulo e Matheus não estão apenas lançando um disco, na real: estão prestando uma homenagem ao rádio e a toda a sua importância histórica – sem falar nas suas possibilidades, que nem de longe são cobertas pelas playlists e pelas plataformas de música. A faixa inicial, Dance, é uma dance music com narração e vinhetas, participação da Fat Family e anúncio da lista variada de convidados do álbum.

  • Ouvimos: Cyberkills – Dedo no cue

Fica claro que Deekapz FM não tem apenas música. Tem companhia e curadoria, seguindo inicialmente com o funk sacana de Maui em Vem comigo, com a drum n bossa de Criolo, DJ Marky e Makoto em Onde anda o meu amor – com referência à música homônima de Orlandivo – e com o som dançante e autotunado de Luccas Carlos em Eu te entendo. Deekapz FM é também uma soma de tendências musicais, que seguem atrás da outra, como num daqueles programas de “festa pronta” que tocam no rádio no fim de semana à noite.

Num conceito de “comandar o melhor do que faz o seu corpo balançar” (como diz uma das vinhetas do álbum), Deekapz FM segue com o pop romântico de Kaike em Detalha, o samba drum n bass solar e desconcertante de Riscos (apresentando a boa voz de Bibi Caetano), o clima indie pop de Gab Ferreira (em Manias disfuncionais), a musicalidade do Tuyo (na celestial Repara), as ótimas participações de Urias e da rapper mineira Clara Lima – a primeira, ao lado de Maffalda no club-pop Bafora, a segunda na ousada e sombria Nóis é o trem, seguida pelo batidão de Nego Bala em Ego.

Ouvindo Deekapz FM você pode até trocar as bolas e achar realmente que está ouvindo rádio – inclusive porque tem uma “hora dos comerciais” no disco. Faz parte da viagem.

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Ouvimos: Funmilayo Afrobeat Orquestra – “De ponta a ponta” (EP)

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Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.

RESENHA: Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 10 de outubro de 2025

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“Como pessoas negras, perguntamos sempre: quais são nossos desafios? Como é ser de axé numa cidade de concreto?”, perguntam-se as integrantes da Funmilayo Afrobeat Orquestra, noneto feminino que une estilos como reggae, rock, jazz e soul ao afrobeat, e que faz do EP De ponta e ponta um produto não apenas musical, mas também social e existencial.

  • Ouvimos: Naïf – Trópicos úmidos (EP)

O beat leve e os metais da faixa de abertura, A cidade é um espelho, descortinam um mergulho na obra de Itamar Assumpção, e uma letra que fala sobre amar e odiar São Paulo ao mesmo tempo – e sofrer para se enxergar numa metrópole competitiva. O encanto e a maquinaria abre com ótimos riffs de teclado, e com metais cheio de vivacidade, que valem por vocais bem dirigidos. Até que surge a letra, inspirada pelos desastres ambientais de São Paulo e pela desigualdade social descortinada por eles.

Já a quase faixa-tíulo (Ponta a ponta, sem o “de”), com sete minutos, une afrobeat, jazz e Nordeste para falar sobre missões diárias das quais não se desiste, mesmo com as dificuldades, com o racismo e com a distância dos grandes centros. Música, documento e afirmação lado a lado.

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