Crítica
Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.
Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.
- Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach
A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.
Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.
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Crítica
Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.
Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.
- Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream
Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.
No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.
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Crítica
Ouvimos: Budang – “Magia”

RESENHA: Em Magia, álbum de estreia, a banda catarinense Budang une humor, caos e crítica social em 16 faixas com vibe ultrapunk e letras quase em código.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Guilherme Larsen Güths (voz), Vinícius Lunardi (guitarra), Pedro Sabino (baixo) e Felipe “Minhoca” Royg (bateria), os quatro integrantes da banda catarinense Budang, decidiram estrear com um álbum quase em código. As letras das 16 faixas de Magia são gritadas e quase cuspidas, num fluxo desafiador para quem não está de olho no encarte – ou algo parecido com um encarte, enfim.
Quem se dispuser a mergulhar no universo do grupo vai descobrir vários lados diferentes: em Magia, o Budang fala de pejotização (Mágica), azia (Novo cardápio), histórias do under catarinense (Plataforma Rock Bar, 2010), mas também une gírias e expressões de Santa Catarina. A banda liberou os versos das faixas Mágica (uma das músicas mais mobilizadas do disco), Magia e Budangól nos vídeos das canções em seu canal do YouTube.
Nas melodias, Magia expõe influências autoconfessas de Pixies (referência em guitarras como as de T.M.P.D.P.H.S.), Ratos de Porão, Sonic Youth e do Turnstile dos primeiros tempos. A sonoridade nunca é previsível – e é tão rápida que, se você escutar o disco sem olhar a passagem das faixas, vai achar que se trata de uma só faixa punk que vai sendo acrescida de outros elementos. Nessa nuvem de tags, entram as guitarras em estilo pós-punk de Deixa quieto, as batidas de funk do hino Budangól, o hardcore poderoso de Aditivos e o guitar rock ágil de Fala tu – além das quebras rítmicas de Bolsonanny, sobre os golpistas frustrados de 8 de janeiro de 2023.
Também surgem a vibe metalcore-psicodélica de Plataforma Rock Bar, 2010, as diversas partes de Ponto de não-retorno, e a porradaria em letra e música da curtíssima Tempinho bom (que abre logo com um “foda-se / nunca mais faço essa merda / vai se fuder!”, e mete até novelas coreanas no meio da bronca). No final, tem até uma versão de 1406, dos Mamonas Assassinas, em vibe Rage Against The Machine.
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Crítica
Ouvimos: Cate Le Bon – “Michelangelo dying”

RESENHA: Em Michelangelo dying, Cate Le Bon transforma o fim de um amor em arte surrealista: folk, dor, beleza e arranjos que sangram com elegância.
Nota: 9
Gravadora: Mexican Summer
Lançamento: 26 de setembro de 2026.
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Se você jogar qualquer texto no ChatGPT e pedir para a IA dar “aquele trato” na sua produção, mas sem dar orientação nenhuma para ela, arrisca-se a dar de cara com a palavra imersivo em seu texto – ou icônico/icônica, quem sabe. Bom, no caso da cantora, compositora e produtora galesa Cate Le Bon, as duas palavras nem fazem feio: ela é realmente um ícone do art rock de seu país, e seus álbuns geralmente jogam o/a ouvinte num ambiente uterino, mas onde nada é exatamente o que parece ser.
Discos de Cate como Pompeii (2022) podem ser tranquilamente comparados à fase Berlim de David Bowie, ou a boa parte dos álbuns de Kate Bush, ou aos discos de outro orgulho artístico galês, John Cale. São discos cuja música dói de tão surrealista, e que contam histórias não apenas com as letras, mas também com as melodias, arranjos e interpretações – às vezes o fluxo de consciência das letras dependem da moldura de arranjo e melodia para ser devidamente entendido. Se você levar tudo isso aí para o mundo dos clipes, ou das capas de álbuns, ou das mumunhas de produção dos álbuns, tudo parece estar ali com uma mensagem a ser desvendada – bem diferente dos easter eggs e mistérios baratos do universo pop.
O fato é que Michelangelo dying, novo disco da cantora, tem mensagens bem diretas, que Cate tratou de desvendar em entrevistas: o fim de um relacionamento de longa data; vários pequenos problemas de saúde que foram se avolumando após o relacionamento acabar; a mudança de volta para Cardiff, em seu país natal. O disco também fala, de certa forma, a respeito dele próprio: Cate já tinha outro disco encaminhado e preferia não tratar desse tipo de assunto publicamente, mas acabou decidindo fazer o que chamou de “fotografar uma ferida, mas cutucá-la ao mesmo tempo”.
As letras de músicas como Jerome, Love unrehearsed e Mothers of riches, que abrem o disco, parecem flagrar Cate começando a abordar a perda – com direito a um verso tocante na segunda música: “ela dorme como uma pedra / por que você a toca mais?”. Pieces of my heart vai tocando mais fundo, em versos como “pedaços do meu coração apagados / e nada vai mudar isso”. Heaven is no feeling, por sua vez une tristeza e destruição (“o dia, a noite, tudo acaba / você fuma nosso amor como se nunca tivesse conhecido a violência”).
Musicalmente, Cate criou em Michelangelo dying um som só dela, que parece obedecer a seus critérios de produtora. Tudo baseado em guitarras, teclados, efeitos, vocais doces e doloridos, tons entre o folk e o cristalino, que surgem em Love unrehearsed, a meditativa About time, a robótica Body as a river, o folk psicodélico de Heaven is no feeling. Faixas como Is it worth it (Happy birthday) lembram os discos que Brian Eno lançou nos anos 1970, e há alguma filiação com a obra de Patti Smith, nos versos cortantes e no clima de algumas faixas. E o já citado John Cale surge em Michelangelo dying e participa de Ride, som mágico e hipnótico no qual as coisas parecem chegar perto do equilíbrio (“está tudo bem / são apenas sentimentos indo embora”).
No final, a gélida e meditativa I know what is nice parece requerer um esforço enorme de Cate – seja para olhar o que sobrou, ou quem sabe para falar de tudo (“estou deixando alguém que eu amo / não consigo respirar por alguém que eu amo”, diz a letra). Uma canção de desapaixonamento cujo ritmo vai ficando mais lento e cardíaco, até encerrar.
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