Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

O Who não parecia ser exatamente o tipo da banda “psicodélica”, que vingaria no mercado da música pop-experimental, como os Beatles e Donovan, entre outros nomes. Em 1967, estava fazendo sucesso com um power pop de boa qualidade, Pictures of Lily, e vinha de um segundo LP profundamente mod, A quick one (1966).
Mas no caminho de Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) tinham algumas mudanças chegando. Todas elas causadas pela chegada de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles (1967), pelo esvaziamento da subcultura mod (substituída pela psicodelia nos corações e mentes de vários jovens) e pelo fim do Ready, steady, go!, programa de TV no qual haviam se apresentado dezoito vezes. E com o qual eram identificados a ponto de terem gravado um EP chamado Ready, steady, Who, em 1966.
Outra mudança era o evidente crescimento de Pete Townshend como compositor, e seu crescente domínio de todos os processos na produção de uma música e de um disco. Isso aumentou demais as tensões no Who em vários momentos, já que Roger, Keith e John se sentiam subaproveitados. Mas, de fato, Pete inovou levando a cultura das operetas-rock para dentro do grupo (com A quick one while he’s away) e investindo na criação de personagens, além de letras com plots bem definidos (bom, Entwistle respondeu a isso compondo Whiskey man, Boris the Spider e Silas Stingy).
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui
Foi sob esse signo que nasceu o terceiro disco do Who, o conceitual The Who sell out (“The Who se vende”), com os quatro integrantes posando de garotos-propaganda de produtos na capa (Pete e Roger) e na contracapa (Keith e John), em 1967. O álbum oferecia um passeio por uma rádio pirata imaginária, com jingles roubados da bucaneira Radio London, e canções compostas para produtos que existiam de verdade, como o creme para acne Medac e o desodorante Odorono. O disco já teve diversas reedições e está voltando às lojas numa superedição com vários bônus, além do “pôster psicodélico” que saiu nos LPs originais. Para quem deseja ao menos a experiência de ouvir o disco turbinado, as músicas já estão nas plataformas.
E eis o nosso relatório sobre The Who sell out. Ouça lendo, leia ouvindo.
O WHO estava em plena atividade em 1967, fazendo vários shows e apresentações históricas pelos Estados Unidos. No Fillmore, em Nova York, tiveram apresentações abertas pelo saxofonista de jazz Cannonball Adderley. “Mal pude acreditar, isso explodiu minha mente. E ele era um cara legal”, contou Pete Townshend. Paralelamente a isso, o principal compositor do Who passava todo o tempo escrevendo canções novas, a ponto de ter um material realmente enorme e desafiador quando a banda decidiu fechar um novo disco, no fim de 1967.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Sticky Fingers, dos Rolling Stones
O MATERIAL que o Who tinha em mãos era bastante inovador para o rock da época. Mesmo hinos rebeldes como Help, dos Beatles, soavam ingênuos diante de canções que falavam de assuntos metafísicos, manias, depressões e questionamentos existenciais. Não por acaso, saiu uma canção chamada Melancholia, que quase se chamou The virus (“a ideia era trabalhar com a doença mental como um vírus”, afirmou Pete).
ESSA MÚSICA era quase um plot maluco que tratava a melancolia juvenil como um vírus, adiantando um pouco do que rolaria com Tommy ou a abandonada Lifehouse. Mas para ter uma ideia do quanto a banda, com Pete na liderança, descartava coisas, Melancholia foi deixada de lado e só reapareceu em coletâneas e reedições de The Who sell out.
AO MESMO TEMPO, Pete começou a direcionar o disco para uma onda de paródia dos comerciais de rádio, tendo em mente a programação das emissoras piratas da Inglaterra. A ideia de fazer um disco dessa forma não surgiu do nada. Richard Barnes, escritor e amigo do Who, havia ficado animado com a versão que a banda fizera do tema do Batman no EP Ready, Steady, Who. Sugeriu a Daltrey e a Townshend que a banda gravasse jingles comerciais. O guitarrista achou a ideia a maior viagem e reagiu com ironia. Mas ao longo do ano o Who podia ser visto gravando jingles para as baterias Premier e até para um par de comerciais “mod” da Coca-Cola.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Love it to death, de Alice Cooper
ANTES DE The Who sell out virar o que se tornou, houve um lançamento importante na vida do grupo: o single Pictures of Lily. Lançado em abril de 1967, ele espremia em menos de três minutos um storytelling que caberia melhor num romance, num conto ou num filme. Um garoto insone ganhava de seu pai imagens em que aparecia uma moça chamada Lily, e aquilo lhe trazia paz e calma. Só que ao tentar obter mais detalhes sobre Lily, o pai lhe contava que ela havia morrido em 1929, o que partia o coração do garoto.
ALIÁS E A PROPÓSITO, Pictures of Lily é tida como uma música sobre masturbação, mas não há referência alguma a isso na letra. The Who sell out, por sua vez, tinha uma música bem mais explícita e safada sobre o assunto, Mary-Anne with the shaky hand.
POR SINAL, Pictures of Lily foi tão importante na vida do Who que, num rascunho inicial, The Who sell out quase se chamou Who’s Lily.
ALIÁS E A PROPÓSITO, um site chamado Albums That Never Were reconstituiu a lista de Who’s Lily, com músicas como Armenia city in the sky e Our live was, que foram para The Who sell out, misturadas a Girl’s eyes, o instrumental Sodding about e In the hall of Mountain King, que não foram aproveitadas no LP original.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Doolittle, dos Pixies
ANTES mesmo de Who’s Lily, o Who – um tanto abalado com a chegada da psicodelia às páginas de jornais e com o sucesso de Sgt. Pepper’s, dos Beatles – havia pensado na hipótese de lançar um EP instrumental. A ideia foi deixada de lado porque: 1) Pete não parava de compor e de fazer letras; 2) seria melhor permitir que os outros três integrantes contribuíssem com pelo menos uma faixa cada um, para acalmar os ânimos na banda. Com o disco mais ou menos bolado, o grupo tinha gravado músicas como Armenia city in the sky, Relax e I can’t reach you e partiu para uma turnê de três meses pelos EUA com Herman’s Hermits, durante a qual deveria concluir o disco.
QUASE ÓPERA. O tom diversificado e maluco que The Who sell out teria acabou sendo dado por uma primeira tentativa de Pete Townshend de compor uma ópera-rock. No esqueleto inicial escrito por Townshend, Rael teria trinta minutos. A letra falava sobre o soldado anônimo de um país imaginário (Rael, que muita gente interpreta como uma referência a Israel) que se lançava ao mar para lutar contra os “red chins” (que costuma ser interpretada como uma referência à China comunista).
O PROJETO de Rael foi deixado de lado pela exigência de que o Who fizesse singles. Para caber em The who sell out foi reduzida a dez, depois a seis minutos.
PETE nunca foi exatamente claro sobre Rael e sobre o que ela significa, mas sua obra é repleta de referências judaicas – apesar de ele não ser judeu. Um artigo de Seth Ragovoy esmiúça o judaísmo na obra de Townshend e recorda que o compositor do Who sempre protestou contra o antissemitismo em entrevistas. “Morávamos em uma casa que se dividia em duas, e na parte de cima vivia uma família judia bastante devota. Judeus poloneses eram as crianças com quem eu brincava. Eles eram meu povo”, afirmou Townshend.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol 4
POR OUTRO LADO, interpretar a letra de Rael como uma crítica ao comunismo pode ser um erro: Pete foi do Partido Comunista Jovem da Inglaterra na juventude (pouco antes de The Who sell out, por sinal) e, nos anos 1970, dava entrevistas dizendo que “era capitalista nas atitudes, mas comunista nos ideais”.
ROGER DALTREY considera Rael “um pequeno pedaço de Tommy“, por incluir no final trechos de uma canção instrumental que apareceria na ópera-rock, Sparks. E diz que The Who sell out era basicamente uma coleção de pedaços de canções de Pete que foram unidas nos estúdios pelos quais a banda passou. “Esses pedaços juntos nem formavam um álbum. Acho que Chris Stamp (empresário) veio com a ideia de fazer o disco como se fosse uma rádio”, contou.
VALE CITAR QUE esse excesso de material de Pete não vinha à toa: o guitarrista do Who tinha sido um dos primeiros músicos da Inglaterra a investir num estúdio caseiro. Já tinha uma máquina de gravação em 1963, antes da fama, e insistia com amigos famosos, como Jimi Hendrix, para que fizessem o mesmo investimento.
ALIÁS E A PROPÓSITO, havia um outro vislumbre de Tommy na bela I can’t reach you, música de amor platônico em que o personagem não conseguia nem alcançar, nem “ver, sentir ou ouvir” nada da mulher amada.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Transa, de Caetano Veloso
O DISCO. The Who sell out acabou ganhando esse formato porque, além dos vários jingles gravados pela banda, Pete decidiu fazer uma homenagem às rádios piratas da Inglaterra, que faziam um papel que a estatal BBC não costumava fazer, e tocavam muita música jovem – a ponto de influenciarem a emissora grandalhona. Eram emissoras que, não raro, funcionavam em barcos no meio do mar, e não estavam sujeitas às leis territoriais de broadcasting.
A FARRA das rádios piratas acabou em 14 de agosto de 1967, quando uma nova lei mandou fechar todas as rádios que funcionavam nos mares do Reino Unido. “A ideia de que uns garotos podiam entrar num barco e transmitir rádio sem licença era um anátema para o governo da época”, lembrou Pete, recordando também que a BBC teve papel único de transmissão de notícias durante a Segunda Guerra Mundial. “Mas sem essas rádios piratas, você não teria como ouvir nem Small Faces, nem Beatles, nem Kinks, nem nenhuma das forças criativas da época”.
NUM PAPO COM o site Consequence of Sound, Pete contou que a ideia do disco veio de horas a fio que o músico passava no escritório dos empresários tentando bolar algo novo para o próximo lançamento do Who. Ele diz que não é verdade que Sgt Pepper’s tenha influenciado The Who sell out, apesar de haverem semelhanças conceituais evidentes – até mesmo no final com uma imitação de sulco arranhado, lembrando o palavreado incompreensível do álbum dos Beatles.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Atom Heart Mother, do Pink Floyd
TOWNSHEND e a banda chegaram a ter mesmo a ideia de vender comerciais entre as faixas e chegaram a propor isso a seus empresários e produtores. A banda fez um anúncio para a American Cancer Society com a música Little Billy, cujo objetivo era desencorajar os jovens a fumarem (Pete chama o anúncio de “hipocrisia, já que eu fumava”). Mas viria coisa bem mais complexa na frente: em 1967 Townshend gravou um estranho anúncio de rádio encorajando os jovens a ingressarem na Força Aérea Americana, em plena Guerra do Vietnã.
A RIGOR, segundo Pete, só mesmo a fábrica de baterias Premier e as cordas Rotosound (cujos jingles estão no LP, o primeiro depois de Marianne e o segundo antes de I can see for miles) se interessaram em ter um espaço pago no disco. As duas empresas mantiveram Keith Moon e John Entwistle munidos de, respectivamente, peças de bateria e cordas de baixo até o fim de suas vidas. Kit Lambert, empresário do grupo ao lado de Chris Stamp, ligou para a Coca-Cola a pedido de Townshend, para oferecer espaço no LP. A empresa desligou na cara de Kit quando nem ele nem Pete souberam dizer quantas cópias o grupo venderia.
O CARA QUE FEZ “ARMENIA”. Armenia city in the sky, a psicodélica faixa de abertura do disco, foi composta por um sujeito chamado Speedy Keen, que dividiu apartamento com Pete e foi motorista do amigo no começo do Who. Speedy compôs o hit Something in the air para a banda Thunderclap Newman, e depois gravou dois discos solo, em 1973 e 1975, além de produzir bandas como Motörhead. Morreu em 2002, pouco antes da morte do baixista John Entwistle.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre L. A. Woman, dos Doors
A CAPA. As imagens de The Who sell out foram feitas por David Montgomery, o mesmo cara que fez a foto da capa de Electric ladyland, de Jimi Hendrix. As imagens foram tiradas num mesmo estúdio, com os quatro juntos, mas clicados em separado. Tanto que há um outtake com os quatro. Olha aí.
SIM, é verdade, pelo menos segundo Roger Daltrey: o cantor do Who pegou uma baita pneumonia por causa da foto em que aparecia mergulhado em feijões. “Eles estavam congelando de frio! Fiquei sentado nos feijões por vinte minutos, até que tiveram a grande ideia de colocar fogo elétrico na parte de trás da banheira em que eu estava sentado, o que funcionou por um tempo”, contou. “Só que o feijão começou a cozinhar. Então, minha bunda estava assando enquanto o resto do meu corpo estava congelando”.
OS COMERCIAIS DA CAPA não eram de verdade. Os produtos, você deve saber, existiam de verdade, até mesmo o tal programa de musculação de Charles Atlas, que John Entwistle “propagandeou”. Cada produto ganhava uma música inteira ou jingle no álbum. A de Odorono, escrita por Pete Townshend, é a melhor e mais radiofônica.
ALIÁS E A PROPÓSITO, a introdução de London calling, do Clash, lembra bastante a dessa música do Who. Ou será que é impressão nossa?
>>> Várias coisas que você já sabia sobre The Man Who Sold The World, de David Bowie
ODORONO. Possivelmente, se você buscar “Odorono” no Google vai achar a canção do Who antes mesmo de chegar em qualquer referência à marca. Que originalmente se chamava Odor-o-no e havia sido iniciada em 1910 em Ohio, nos EUA, como fabricante de antitranspirantes, numa época em que as pessoas não só não achavam que precisavam de desodorantes, como achavam que fazia mal à saúde. Olha aí um reclame de 1913 da empresa, quando Townshend nem havia nascido ainda. A Odorono ainda resiste no mercado – até mesmo aqui no Brasil – como marca registrada da grandalhona Unilever.
HEINZ. Roger Daltrey poderia ter evitado a pneumonia se tivesse feito ao fotógrafo a proposta de trocar o panelão de feijões por uma pizza ou um hambúrguer tamanho-família. Isso porque a empresa (que não patrocina o POP FANTASMA mas se quiser pode) é ate mais conhecida pela sua linha de ketchup. A Heinz existe desde 1869, foi fundada em Pittsburgh, Pensilvânia. e introduziu seu molho vermelho no mercado em 1876. É bastante popular no Brasil. O site da empresa não faz nenhuma referência a The Who sell out.
MEDAC. Apesar de existir uma empresa farmacêutica alemã com esse nome, o remédio cantado em verso por Keith Moon é um creme para espinhas bastante popular na Inglaterra dos anos 1960, e fabricado por uma empresa chamada Genatosan Ltd. Um detalhe: a edição australiana substituía o medicamento pela marca de skin care Clearasil. O baterista foi escolhido para posar com o remédio porque, em suas memórias, ele era o mais novo da banda e poderia passar por um adolescente espinhudo.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath
CHARLES ATLAS. Assim como os comerciais da capa de The Who sell out eram farsas, Charles também não se chamava Charles Atlas. Ele era um fisiculturista italiano cujo nome era Angelo Siciliano (1892-1972), e que, já morando em Nova York, adotara o nome “artístico” ao ver uma estátua de Atlas no topo de um hotel em Coney Island. Criou uma série de exercícios baseados na isometria (treinamento que consiste, entre outras coisas, em fazer força contra objetos imóveis), que eram divulgados em revistas em quadrinhos e ficaram extremamente populares. Também abriu uma rede de academias. Na edição canadense, o nome Charles Atlas não pôde ser mencionado e foi trocado para “treinamento isométrico” mesmo.
NÃO MANDE DINHEIRO AGORA. Os tais quadrinhos, aliás, serviam para Charles vender livros com seus programas de musculação – que poderiam ser treinados em casa, na base do seja-seu-próprio-personal. Num dos mais populares, um sujeito magrelo sofria bullying de um valentão parrudo. Comprava o livro de Charles, treinava, ficava forte e ia lá sentar a mão na cara do folgado.
From Charles Atlas to Count Dante: Evolution of over-the-top comic-book ads for MMA instruction via @starrcards https://t.co/hRoH73eMMr #MMA #fitness #comicbooks #comics pic.twitter.com/Hkn2O9DnUN
— Starr Cards (@StarrCards) June 21, 2019
A GAROTA DA CAPA. A modelo que posa ao lado de John Entwistle é Jill Langham, que durante vários anos foi conhecida como a dancing queen de Palm Springs, e aos 44 anos, bem depois de The Who sell out, se tornou fisiculturista e passou a competir. Ela já lançou até uma autobiografia. Na época do disco, tinha vinte e poucos anos e havia acabado de ter um filho.
ALIÁS, Jill, que na época tinha aparecido no filme Um golpe à italiana, ao lado de Michael Caine, declarou ao livro The Who FAQ: All that’s left to know about fifty years of Maximum R&B, de Mike Segretto, que nem sequer se lembrava muito da sessão. “Posar com o Who nem era algo tão especial para mim. Eu era mais fã dos Beatles”, recordou.
>>> Várias coisas que você já sabia sobre Electric Ladyland, de Jimi Hendrix
TONY RAMOS DO WHO. Segundo Keith Moon, Entwistle – mesmo estando longe de possuir um porte atlético – foi escolhido para o comercial da Charles Atlas porque “tinha um peito cabeludo” (na foto isso não aparece, enfim).
MAS POR OUTRO LADO, Entwistle conta outra história sobre isso. O baixista diz que originalmente, ele é que deveria mergulhar no feijão, e Daltrey, que ainda não era o sex symbol dos anos 1970, posaria com a modelo. Só que o baixista espertinho resolveu chegar mais cedo ao estúdio de propósito e acabou posando com Jill.
ATRASOU. The Who sell out havia sido programado para 17 de novembro de 1967 e precisou ser adiado justamente porque a banda e a gravadora estavam esperando as autorizações das marcas.
ALIÁS E A PROPÓSITO, DEU MERDA. Os criadores dos jingles da Radio London se estressaram com o Who por causa do uso alegadamente não-autorizado das gravações. A Heinz, conta-se, estressou-se no começo, mas depois ficou animada com a publicidade gratuita.
>>> The Who: pra quê esse monte de coletâneas?
PÔSTER GRÁTIS. As primeiras edições de The Who sell out vinham com um aceno à mania dos pôsteres, que começavam a ficar bastante populares entre a juventude da época. Na capa, um adesivo anunciava “pôster psicodélico grátis”. Dentro, o fã do Who encontrava um desenho psicodélico feito pelo artista gráfico Adrian George, um dos nomões da Osiris Vision, negócio de pôsteres dirigido por Joe Boyd, que dirigia o clube UFO, e Barry Miles, proprietário da livraria Indica Books e do jornal de contracultura International Times. Os primeiros LPs de The Who sell out valem uma boa nota por causa desse pôster, mas depois ele foi acrescentado em algumas reedições.
RECEPTIVIDADE. The Who sell out é um disco de 1967 na Inglaterra e um álbum de 1968 nos Estados Unidos – saiu no Reino Unido em 15 de dezembro, e nos EUA em 6 de janeiro. Na terra do Who chegou ao número 13 nas paradas. O álbum foi muito bem recebido pela crítica, e de modo geral, foi visto como um foco da arte pop no universo do rock, por misturar publicidade e música. Mas foi consenso quase geral que o fato da banda ter optado por um storytelling maluco prejudicou as vendas.
BOM, NEM TANTO. Alguns críticos detestaram o fato do Who “se vender”. Bruno Bornino, do Cleveland Press, classificou os anúncios como “revoltantes” e sugeriu que os fãs comprassem o disco e jogassem a capa no lixo. Joe Bogart, diretor da rádio WMCA, de Nova York, mandou um “disgusting” quando viu Roger Daltrey mergulhando no feijão e proibiu o disco de ir ao ar em sua emissora.
>>> The Who: aquela vez em que Roger Daltrey deu uns socos em Keith Moon
ALIÁS E A PROPÓSITO, The Who sell out é um dos raros discos do Who que nunca foram lançados em formato algum no Brasil.
MAS E DEPOIS? O Who, mesmo valorizando os LPs conceituais, passou o ano de 1968 investindo em singles, como Call me lightining, Dogs e Magic bus. Também saíram coletâneas como Direct hits (nos EUA) e Magic bus: The Who on tour (no Reino Unido). Chegou a ser imaginado um disco de estúdio chamado Who’s for tennis?, que sairia em 1968. O projeto original, bolado antes mesmo de The Who sell out ser fechado, incluía até mesmo músicas como Silas Stingy, além do futuro hit Magic bus. A banda teria descartado a ideia por não botar fé na seleção final de músicas. Disco novo só mesmo em 1969, com Tommy.
E BOA PARTE do material deste texto foi tirado dessa entrevista recente de Pete e Roger.
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui
(agradecemos a Marcelo Fróes pela dica da Jill)
4 discos
4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.
Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.
O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.
Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto
“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.
Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).
“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.
Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.
“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.
Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.
“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.
A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.
Cultura Pop
Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:
- É a 67ª edição da premiação.
- Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
- O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
- Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
- O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
- Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.
E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.
(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).
Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin
Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish
Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Billie Eilish
Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé
Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)
Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).
Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.
Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.
Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.
Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon
Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).
Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Crítica
Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.
Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.
Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.
No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.
Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).
Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?