Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre All Things Must Pass, do George Harrison

O único beatle que aparecia sorrindo na capa do disco Let it be (1970) era George Harrison. Mas ao contrário da alegria da foto, o autor de Something aparecia em crise durante o filme, brigando com os colegas e agindo como se aquilo fosse um fardo na vida dele.
Ainda assim, durante o ano de 1969, havia muito trabalho a fazer na Apple, o complexo multitudo montado pelos Beatles. George produzia artistas (fez até dois singles do Radha Krishna Temple, hinduístas de Londres) e até lançava discos. Em maio, pelo selo Zapple (etiqueta de vanguarda da Apple) saiu o segundo disco solo do cantor, Electronic sound, com duas peças enormes compostas no sintetizador Moog, cada uma ocupando um lado do disco.
All things must pass, o terceiro (e que muita gente pensa até hoje que era o primeiro) disco de Harrison, saiu em 27 de novembro de 1970. Era um de relato do sofrimento do cantor em meio às brigas dos Beatles: George passara os últimos anos tentando emplacar canções na banda, aporrinhando-se com as brigas de ego, com as disputas de poder e com a sangria da grana da Apple.

Um extenso relato, diga-se: era um LP triplo, dois deles repletos de canções que haviam sido esquecidas no repertório da banda, além de um LP de jams (Apple jam). Figuras ligadas ao dia a dia da Apple inspiravam diretamente o trabalho: Phil Spector, que produzira Let it be, cuidou do disco triplo ao lado de George. O cantor produziu em 1969 That’s the way god planned it, disco de Billy Preston – um mergulho no gospel que ajudou a formatar canções como What is life e My sweet lord.
A curta turnê que fez ao lado de Eric Clapton e Delaney & Bonnie também deixou marcas no álbum e na carreira de Harrison. Delaney Bramlett ensinou o beatle a tocar slide guitar, técnica que ele transformou em sua mais conhecida assinatura musical, ao lado do senso melódico e das letras repletas de temas filosóficos e espirituais.
Os 50 anos do disco triplo de Harrison não vão passar em branco em 2021: acaba de sair uma versão remasterizada do álbum, em várias versões. A maior delas tem 70 faixas em 5 CDs ou 8 LPs, incluindo outtakes, jams e 47 demos, 42 delas nunca lançadas.
All things must pass não fez jus ao nome (“tudo deve passar”). Não passou: permaneceu como uma das experiências musicais mais ricas de todos os tempos, na história do rock. E um momento inigualado na carreira de Harrison (e nas carreiras de todos os Beatles enquanto artistas solo), pronto para ser descoberto.
E segue aí nosso relatório sobre All things must pass. Leia ouvindo, ouça lendo, essas coisas.
SOM DOS EUA. Muitos fãs e pesquisadores de Harrison hão de concordar: na gênese de All things must pass está o período, a partir do fim de 1969, que o guitarrista passou com um dos músicos – ao lado do amigo Eric Clapton – do grupo Delaney & Bonnie and Friends, formado pelo casal Delaney (guitarra) e Bonnie Bramlett (voz). Com saudade de tocar ao vivo e animado com o som da banda, Harrison procurou Delaney nos bastidores de um show no Royal Albert Hall em 5 de dezembro de 1969 e sugeriu sua entrada no grupo. Foi excursionar com um bando de músicos americanos por lugares como Bristol, Birmingham e Croydon e fez suas primeiras apresentações ao vivo desde o sumiço dos Beatles dos palcos em 1966.
MALUCÃO. Como diria sua avó, Harrison estava im-pos-sí-vel durante a turnê com o casal. Tido como o zoeiro-mor dos Beatles antes de entrar numa febre mística no fim dos anos 1960, deixou o cabelo e a barba crescerem a ponto de ficar quase irreconhecível (o hoje babaca de plantão Clapton era mais manjado nas ruas do que ele), enchia a cara de uísque com Coca junto com os amigos, e se dedicava a brincadeiras imbecis, como arrancar as calças de veludo do amigo Delaney, deixando-o de bunda de fora.
DESLIZANDO. Popularizada no blues, a técnica de slide guitar (usar um anel para fazer sons nas cordas, ao deslizar no braço do violão) já vinha sendo bastante utilizada no rock desde o começo dos anos 1960, e fazia parte do dia a dia da turma de Delaney. Uma das músicas do set list, Comin’ home, contava com a guitarra slide de Dave Mason, do Traffic. Mas na ausência de Mason, sobrava mesmo para George tocar o instrumento usando a técnica, que ele aprendeu rápido.
ALIÁS E A PRÓPÓSITO, George se sentia meio por fora quando via que o rock estava repleto de superguitarristas (Jimi Hendrix, Jimmy Page), enquanto ele tinha desviado o foco para a música indiana e praticamente deixara de aprender coisas novas no instrumento. Chegou a falar à revista Crawdaddy que passou a brincar com o slide porque achou que “tinha perdido muito tempo”.
O HIT. My sweet lord, o primeiro single de All things must pass, nasceu justamente da turnê com Delaney e Bonnie. Entre um show e outro, Harrison ficava brincando com Oh happy day, um hino cristão gravado por meio mundo, e tentava compor sua própria canção gospel. A ideia do cantor era fundir cristianismo e hinduísmo numa só letra.
SÓ, MAS ACOMPANHADO. Delaney afirmou anos depois (no tribunal, quando Harrison foi acusado de plágio na música) que teve participação não creditada na composição da música, ao lado de Bonnie. O beatle vivia lhe perguntando como se compunha uma canção gospel, segundo ele. Delaney teria criado a frase “oh my lord”, com Bonnie e Rita Collidge (também cantora da turnê) respondendo com “aleluia”. Billy Preston, o cara que tocou órgão em Let it be, teria ajudado Harrison (segundo Delaney) a completar a canção,
AINDA UM BEATLE. Quando My sweet lord foi feita, na finaleira de 1969, Harrison, mesmo saracoteando por aí com Delaney e cia, ainda era um beatle e não tinha interesse em lançar outro disco solo. Pensou em oferecer My sweet lord ao grupo que estourou com uma versão de Oh happy day, Edwin Hawkins Singers, mas em janeiro de 1970, a canção acabou gravada por Billy Preston, com Harrison na produção. Encouraging words, segundo disco de Preston para a Apple (e quinto de sua carreira), trouxe, dois meses antes de All things must pass sair, as primeiras versões de All things… e My sweet lord.
ALIÁS E A PROPÓSITO, a introdução de My sweet lord com Preston parece bastante com a de Chega mais, de Rita Lee. Não?
NO VASO. Anos depois, Harrison comparou o trabalho em All things must pass a “um caso de diarreia”. Isso porque de fato, ele estava com muito repertório guardado (e ainda acrescentou outras canções) e ainda por cima tinha muito a dizer a respeito da situação toda que os Beatles estavam vivendo, com brigas internas, disputas de poder, encontros com advogados e ofensas de parte a parte. Canções como Isn’t a pity e Run of the mill falavam das recriminações internas da fase final do grupo – Harrison estava bastante irritado com a maneira como Lennon o criticava, por exemplo.
GEORGE também escreveu Wah wah, primeira canção gravada por ele para All things must pass, e que tinha sido composta quando ele decidiu se afastar dos Beatles em janeiro de 1969, durante as gravações do que seria o disco-filme Let it be. A letra era um recado direto a Paul e John, pelas críticas que recebera dos colegas. Apple scruffs, por sua vez, falava das fãs que passavam o dia na porta da Apple, empresa do grupo, em Londres. A canção era uma doce homenagem a elas, e Harrison chegou a chamar algumas das scruffs para ir ao estúdio escutar a música pronta.
ALIÁS E A PROPÓSITO, pelo menos uma das scruffs, Carol Bedford, diz que a relação com o beatle passou da admiração para uma proximidade (er) maior. Ela chegou a escrever um livro sobre a história com Harrison, Waiting for the Beatles.
HARRISON também afirmou que sabia que tinha um bom disco na mão. “Mesmo antes de começar, já sabia que faria um bom álbum, porque tinha muitas canções e energia de sobra. Para mim, fazer meu próprio álbum depois de tudo aquilo foi uma grande alegria”, disse.
O CLIMA nos Beatles já era de fim de feira: cada integrante estava trabalhando em seus projetos solo, todos imersos em questões pessoais. Harrison tentava curar as feridas da época com a banda, John trabalhava no material extremamente pessoal de Plastic Ono Band, Paul se metia no estúdio para gravar o esperado primeiro disco solo, Ringo fazia as primeiras aventuras solo e dizia a amigos que queria começar a se aventurar pelo caminho da música experimental (uma ideia que não foi para a frente).
PUTO DA VIDA com a mania de Paul de dirigir até mesmo as sessões dos colegas de banda, Harrison decretou que seu disco, mesmo sob seu comando, teria espaço para os músicos criarem livremente nos arranjos. A lista de colaboradores de All things must pass assusta: o sempre solícito Clapton (guitarra), Gary Wright (teclados), Klaus Voorman (baixo), Billy Preston (piano, órgão), Ringo Starr (bateria), e vários outros, inclusive integrantes do Badfinger, recém-contratado pela Apple. Jim Gordon, Carl Radle, Bobby Whitlock e Eric Clapton descobriram que davam liga juntos, e montaram o grupo Derek & The Dominos durante as gravações do disco de Harrison.
ALÉM DOS dois discos repleto de canções, All things must pass era complementado pelo terceiro álbum, que era quase um disco-bônus das sessões. Apple jam ganhou um selo especial, diferente da maçã da Apple, desenhado por John Wilkes, com uma embalagem de geleia de maçã. E trazia basicamente improvisos instrumentais, gravados ao lado de amigos como Bobby Whitlock (teclados), Ginger Baker (bateria), Klaus Voorman (baixo) e a formação que, a partir daí, geraria o Derek & The Dominos (em Plug me in). I remember Jeep era uma homenagem ao cãozinho desaparecido de George. Thanks for the pepperoni tinha seu nome tirado de uma frase do humorista Lenny Bruce. It’s Johnny birthday era a exceção: uma brincadeira de poucos segundos em cima de um hit de Cliff Richard, Congratulations, e gravada como homenagem aos 30 anos de John Lennon.
ALIÁS E A PRÓPÓSITO, a gravação de Harrison veio numa leva de homenagens a Lennon em seu aniversário. Mal Evans, notável da Apple, abordou nomões do rock como Donovan e Janis Joplin para que enviassem lembranças. Lennon chegou a ouvir a música no estúdio, quando foi visitar George. O autor de Something, vale dizer, foi obrigado a dar crédito aos autores de Congratulations na vinheta, ou ganharia um belo dum processo – coisa corriqueira no dia a dia da Apple, por sinal.
SÓ QUE como todo mundo sabe, o clima nos Beatles, e em especial na Apple, estava pela hora da morte, com todo mundo brigando e, em especial, Paul McCartney irritadíssimo com o fato de ter que engolir Allen Klein no controle dos negócios do grupo. Allen, tido como empresário espertalhão e cumpridor cruel da pequenas cláusulas de qualquer contrato, tinha (vá lá) uma missão espinhosa pela frente: organizar a Apple, fazer o dinheiro aparecer nos cofres do grupo e garantir uma gestão mais interessante para a banda. Demitiu a maior galera e foi colocando seu pessoal no lugar.
PAUL, que queria os parentes da mulher Linda (os Eastman) no controle da banda, detestou ter que trabalhar com Klein, que viera para o grupo por ideia de Lennon e fora aceito por todos os colegas. Para aumentar seu desgosto, Lee e John Eastman, pai e irmão, respectivamente, de Linda, não conseguiram ficar nem como advogados do grupo – Klein limou ambos.
FOI KLEIN, por sinal, quem ajudou a desencavar o projeto de Get back, disco-filme engavetado que depois ganharia o nome de Let it be, e cuja produção tinha sido cenário de várias brigas entre os quatro beatles. Allen ainda continuou tendo poder até mesmo sobre as carreiras solo dos quatro, já que Paul, para poder sair da banda, precisou processar os colegas (que depois processaram-se mutuamente).
EM ENTREVISTAS, entre o surgimento de Klein na vida beatle e o lançamento de All things must pass, Harrison dizia que tinha percebido que “qualquer pessoa poderia ser Lennon & McCartney”, e via que a solução para os Beatles era aceitar que se tratava de uma banda formada por quatro pessoas, e não apenas um grupo dominado por dois caras. “Tudo que temos a fazer é aceitar que somos indivíduos e que temos temos tanto potencial quanto cada um”, afirmava. Dizia também que se dava bem com Lennon e Ringo e “fazia o possível” para viver bem com Paul, seu ex-colega de escola.
AINDA ASSIM, All things must pass pode ser considerado um produto direto de Klein, apenas pela entrada na produção de Phil Spector, que produzira Let it be (e cujos arranjos de cordas em The long and winding road fizeram Paul McCartney escrever uma carta furibunda ao empresário). Phil foi à mansão de Harrison (a gótica Friar Park) escutar o material do disco e ficou bastante impressionado. Só disse que (compreensivelmente) o recital do beatle foi “interminável”, dada a quantidade de material acumulado.
SPECTOR, um produtor que costumava andar armado (e comparecia ao estúdio com um berro no bolso), não foi, evidentemente, uma figura que trouxe muita estabilidade às gravações. Bebia bastante antes da maratona de estúdio, e muitas vezes deixava Harrison cuidando do disco sozinho. Numa ocasião, caiu no chão no meio do trabalho e quebrou o braço. Acabou afastado.
MÃE. Harrison precisou interromper as gravações do disco em alguns momentos para visitar sua mãe, que estava com câncer, e muito doente. Louise Harrison morreu em 7 de julho de 1970, aos 59 anos.
ALIÁS E A PROPÓSITO, o trabalho demorado e as interrupções nas gravações preocuparam a EMI, que dada altura, achou que o disco estava ficando caro demais. Acredita-se que as gravações tenham ido de maio a outubro de 1970, apesar da EMI não ter registros detalhados da data. Testemunhas dizem que possivelmente a pré-produção começou em 20 de maio de 1970, no mesmo dia da estreia mundial do filme Let it be.
ALÉM DO MATERIAL que foi para o disco triplo, Harrison deixou mais de vinte canções gravadas. Algumas delas só apareceram mesmo no relançamento de 50 anos do disco, que saiu há pouco. E várias apareceram num piratinha que ficou famoso, Beware of ABKCO, com as canções que estavam sendo consideradas para o disco. O álbum bootleg tem também Beware of darkness com o primeiro verso alterado para “beware of ABKCO” (“cuidado com a ABKCO”), daí o nome do disco.
ALIÁS E A PROPÓSITO, e você deve saber, ABKCO era a empresa do indesejado empresário Allen Klein. A versão não-lançada era um desabafo de Harrison.
FEZ SUCESSO? Bom, All things must pass é considerado por uma porrada de críticos como o melhor disco lançado por um ex-beatle, e números apontam para o fato de que também é um dos mais vendidos, até pelo contraste da situação (um disco triplo, caro, e que platinou várias vezes). Harrison conseguiu o topo da lista de álbuns e de singles simultaneamente na Billboard. Durante vários anos, George foi considerado o beatle mais bem sucedido na carreira solo, inclusive no Brasil.
E TEVE BANGLADESH. No domingo, 1º de agosto de 1971, foram realizados os Concertos para Bangladesh (às 14h30 e 20h00), no Madison Square Garden, em Nova York. A ideia dos shows partiu do músico indiano Ravi Shankar, que abordou Harrison com a ideia de fazer algo para ajudar o povo bengali, refugiado do Paquistão Oriental, durante a Guerra de Libertação de Bangladesh. O filme gerou um disco triplo, o segundo lançado por Harrison em um curso espaço de tempo (saiu no Natal de 1971), e um filme, lançado pela Apple Corps.
SHANKAR esperava que os concertos arrecadassem 25 mil dólares, mas a coisa foi aumentando bastante quando os nomões do rock que George Harrison chamou foram aderindo: Badfinger, Ringo Starr, Eric Clapton, Leon Russell, Bob Dylan. Os dois shows arrecadaram US$ 243.418,50, dados à Unicef. Boa parte dessa grana foi mantida numa conta de custódia durante dez anos, porque Klein se esqueceu de registrar o evento como um benefício da Unicef. Na hora de lançar o conjunto de três discos (bastante caro, por sinal), todo mundo queria uma parte: lojistas, gravadoras dos artistas (como a Columbia, de Bob Dylan). Antes mesmo que a caixa chegasse ao mercado, já havia discos piratas com os shows. Ainda assim os três discos venderam bastante e foram sucesso de crítica.
AH SIM, E TEVE o plágio: Harrison enfrentou os tribunais (mais uma vez…) porque a empresa Bright Tunes Music Corporation, que detinha os direitos das canções de Ronnie Mack reclamava das semelhanças entre My sweet lord e He’s so fine, do autor, gravada pelas Chiffons. Isso rolou em 10 de fevereiro de 1971, e no mesmo ano, uma cantora country chamada Jody Miller gravou a mesma canção, só que incluindo efeitos de slide guitar (!). O processo foi se arrastando, e ainda envolveu maracutaias de Klein (que tentou comprar a Bright Tunes e ainda ofereceu informações confidenciais sobre o sucesso financeiro de My sweet lord).
ALIÁS E A PROPÓSITO, até mesmo as Chiffons gravaram My sweet lord, em 1975, com a ideia de chamar atenção para o processo.
O LITÍGIO foi se arrastando até os anos 1990, mas até lá George ainda compôs This song, ironizando o processo e (vá lá) graças às malandragens de Klein, conseguiu até mesmo os direitos de He’s so fine.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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